O Stonic foi o primeiro modelo de uma nova fase da Kia no Brasil. Por muito tempo sem lançamentos marcantes, a representação local apresentou em outubro de 2021 o novo logo da Kia e colocou em pré-venda o Stonic, um pequeno SUV com motorização 1.0 turbo e sistema híbrido-leve de 48 volts, o primeiro de uma série de eletrificados da marca por aqui.
Mas dentro do mercado, ele tem um desafio. Tem porte de Fiat Pulse e preço de Jeep Renegade, o que é um conflito na cabeça de alguns consumidores. Também não tem o pacote de equipamentos, principalmente assistência, tão recheado, mas promete entregar consumo superior com a tecnologia a seu favor. Vale a pena ao menos conhecê-lo?
O Kia Stonic apareceu no Salão do Automóvel de São Paulo em 2018, mas a marca dizia que ele não seria vendido no país e estava apenas "de passagem". Ainda estava no efeito novidade no exterior e, naquele momento, era um carro pequeno diante dos demais SUVs brasileiros. Mas a chegada do Fiat Pulse mostrou que existia um espaço para algo menor.
O Stonic usa a plataforma GB, do grupo Kia-Hyundai, que está (ou estava, no caso do Brasil) no hatch Rio, além da geração anterior do Hyundai i20, primo do HB20, e do atual Soul. São 4.140 mm de comprimento, ou 41 mm menor que o Fiat Pulse, com entre-eixos de 2.580 mm, 1.520 mm de altura e 1.760 mm de largura. No porta-malas, capacidade de 325 litros.
Pequeno motor elétrico é um dos segredos do Stonic
Motor 1.0 turbo é uma versão mais moderna do que está no Hyundai HB20
Seu grade trunfo está no motor. O Stonic usa um motor 1.0 turbo, de 3 cilindros, parecido com o que temos no HB20. Porém, além do variador de fase nos dois comandos, há o variador de abertura na admissão, e o pequeno motor elétrico no lugar do alternador e motor de arranque ligado por correia no virabrequim e alimentado por uma bateria que fica no lugar do estepe no porta-malas com um sistema 48 volts. São 120 cv e 20,4 kgfm de torque, enviados para as rodas dianteira com um câmbio automatizado de dupla embreagem e 7 marchas.
Inegável que o SUV é cheio de estilo. O teto em vermelho é curioso na carroceria branca desta unidades, mas há diversas outras variações no catálogo, de mais chamativas como o amarelo, até discretas como preto e prata. Só que vai ter que pagar de R$ 2.800 a R$ 4.500 se quiser algo além do branco sólido.
E o Stonic merece uma cor. As linhas são bonitas e sem exageros. Os faróis com projetores (halógenos) e luzes diurnas em LEDs acompanham a grade no estilo que já conhecemos dos modelos Kia. Os faróis de neblina são em LEDs e as rodas de 17" complementam um conjunto interessante com os frisos do teto e os apliques nos para-lamas para dar aquele jeitão de SUV a um carro que nasceu de um hatchback.
Por dentro, um acabamento bem montado e sem exageros. Plástico rígido está nas portas e painel, com partes em tecidos, imitação de fibra de carbono, preto brilhante e alumínio. O painel de instrumentos tem uma tela central acompanhado por dois mostradores analógicos, bem tradicional, mas com boa resolução. Ar-condicionado automático e sistema multimídia com tela de 8" espelha smartphones por fios e a partida é por botão, com chave presencial.
Bateria do sistema híbrido fica no lugar do estepe
O sistema híbrido do Stonic é diferente do Toyota Corolla, por exemplo. Ele usa um pequeno motor elétrico auxiliar, de baixa potência, que tem como função, literalmente, empurrar o motor a combustão em situações onde ele mais precisa, como arrancadas, retomadas e permite desligá-lo em velocidades de cruzeiro. Na teoria é lindo, mas e na prática?
É bem perceptível o motor elétrico empurrando o 1.0 turbo principalmente nas arrancadas. Ele apaga o turbolag, aquela demora até o turbo pressurizar o motor e realmente colocar o torque nas rodas. Com o elétrico, é um auxilio que vai bem principalmente na cidade, em situações de trânsito, apesar de em nenhum momento ele movimentar o carro sozinho, diferente dos híbridos comuns. O câmbio de dupla embreagem, mais leve que um automático tradicional, também ajuda nessa agilidade do Stonic.
Aliás, o câmbio é um ponto curioso do Stonic. A programação dele no uso normal sabe que existe um motor elétrico para auxiliar e dificilmente faz reduções exageradas. As trocas são rápidas e suaves, mas é perceptível que é um automatizado em manobras, por exemplo, onde ele se comporta diferente de um automático justamente pelo trabalho da embreagem. Isso levou o Stonic a uma média interessante de 14,2 km/litro na cidade.
Na estrada, como ele se aproveita apenas do modo Velejar, onde o motor é desligado em desacelerações, a média de 15,7 km/litro não é algo que foge do que vemos em outros modelos com gasolina - o Honda City Hatch, 1.5 aspirado sem eletrificação, marcou 16,5 km/litro em nossos testes com esse combustível. Em aceleração, o 0 a 100 km/h em 11,1 segundos o deixou na mesma faixa do Chevrolet Onix e mais lento que o HB20. E isso varia com o seletor de modos de condução, Eco, Normal e Sport.
A dinâmica do Kia Stonic é boa. A direção elétrica foi bem calibrada e responde em velocidades mais altas, assim como a suspensão viaja entre o conforto e dirigibilidade, apesar de um comportamento bem dianteiro quando mais provocado - e esse limite não é tão difícil de encontrar como alguns outros SUVs, mas é aceitável. Porém o SUV não foi feito para os buracos. Ele sofre e reclama em diversas situações mais pesadas, mesmo no asfalto, com batidas secas e barulhos de sofrimento de batentes e borrachas. Acaba passando um pouco para o volante, apesar de deixar os demais ocupantes fora disso.
Só não espere muito espaço interno. Os bancos dianteiros são confortáveis e grandes, mas o espaço traseiro é limitado, como um hatch compacto. Por outro lado, os 325 litros do porta-malas são bons para o porte do Stonic, mas vale a observação: não há estepe, apenas um kit de reparo de emergência, já que a bateria do sistema 48 volts está abrigada onde iria a roda reserva.
Se você é um daqueles que compra carro por tamanho, o Kia Stonic não te serve. Custa R$ 147.990, valor dos SUVs compactos como Jeep Renegade e Honda HR-V. A lista de equipamentos não se destaca, devendo itens de assistência e condução que já impactam nessa faixa de preços. O que ele te oferece? Economia de combustível e estilo de sobra - e algumas promoções nas concessionárias.
Fora o preço e uma lista de equipamentos um pouco tímida, o Kia Stonic é interessante. Econômico, com um porte bom para o uso urbano, estiloso e confortável, é um bom produto que acaba escondido na pequena rede da Kia no Brasil. É um daqueles carros que acabam esquecidos, mas é boa opção se você estiver disposto a gastar por ele e achar onde comprá-lo.
Kia Stonic MHEV
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