Se as vendas de veículos leves muito abaixo do esperado já tinham ligado o sinal de alerta no começo deste ano, agora a luz de emergência acendeu. O resultado dos três primeiros meses de 2022 é o pior dos últimos 16 anos, ameaçando o desempenho do ano inteiro, que pode fechar significativamente abaixo de 2 milhões se a curva de queda não for revertida.
Após o choque da pandemia em 2020 seguido de um ano chocho que andou de lado em 2021, veio o pior janeiro dos últimos 14 anos, depois o pior fevereiro em 17 anos e o pior março em 18 anos.
A soma de 374,5 mil emplacamentos de automóveis e comerciais leves no primeiro trimestre de 2022 representa queda de quase 25% sobre o mesmo período de 2021 e é o volume mais baixo desde 2006.
Março, com 134,9 mil emplacamentos, teve o melhor resultado do ano até agora, 9,6% acima de fevereiro, mas porque o mês teve mais dias úteis. Na comparação mais justa com março de 2021, houve expressiva queda de 24% nas vendas.
Nem mesmo a redução do IPI sobre veículos, anunciada no fim de fevereiro, reaqueceu o mercado em março, possivelmente porque provocou reduções insignificantes nos preços aos consumidores, em torno de 1% a 2%. Para piorar, o governo divulgou a possibilidade de reduzir ainda mais o imposto na última semana do mês, o que não aconteceu, mas incentivou parte dos consumidores a esperar mais para comprar com preços melhores.
Até o momento, as indicações são de que não é mais só a falta de carros, causada por falta de componentes eletrônicos, que está puxando os volumes para baixo. A retração da economia também está batendo no mercado de veículos.
O preços dos carros e dos financiamentos seguem em elevação, ao mesmo tempo em que a inflação corrói a renda da população, o desemprego continua alto, o cenário político em ano de eleições aumenta as instabilidades e a confiança segue em baixa. Todos esses fatores negativos somados apontam para quedas dos negócios e do PIB em 2022.
O primeiro trimestre costuma sempre ser o de mais baixo volume em comparação com os outros três de cada no ano, mas faz tempo que o resultado não era tão ruim.
Se o ritmo continuar assim, será difícil atingir a projeção dos distribuidores representados pela Fenabrave ou dos fabricantes associados à Anfavea. Respectivamente, as duas entidades estimaram em janeiro passado a venda de 2,06 milhões ou 2,14 milhões de veículos leves em 2022, em crescimento de 4,4% ou de 8,4% sobre 2021.
Para chegar ao volume projetado, nos próximos meses a média de vendas precisa superar 530 mil unidades a cada trimestre, volume cerca de 42% superior ao registrado no primeiro trimestre. Será possível?
José Maurício Andreta Jr., presidente da Fenabrave, acredita que sim. “Decidimos manter nossas projeções feitas em janeiro e só vamos revisar em junho ou julho, porque agora a chance de errar é muito grande por causa das muitas incertezas que temos. Mas sou otimista, o IPI reduzido é uma boa notícia e acredito que as vendas vão crescer, o mercado deve se recuperar nos próximos meses”, avalia.
Apesar dos contraventos da economia derrubando a renda e o poder de compra dos consumidores, Andreta Jr. sustenta que a demanda por carros no país ainda está acima da oferta.
“Os fabricantes enfrentam muitos problemas de falta de chips e por isso existem filas de espera por vários modelos. Isso indica que há espaço para vender mais”, pondera Andreta Jr.
O nível de estoque nas concessionárias em março equivalia a 22 dias de vendas, índice considerado ainda abaixo do normal de 30 a 40 dias de vendas, mas já pouco acima dos 19 a 20 dias dos últimos dois meses.
Segundo Andreta Jr., ele mesmo concessionário de dez marcas de veículos, os carros mais difíceis de encontrar no momento são os mais baratos, porque os fabricantes não estão produzindo. “Com a falta chips, não tem para todos e os componentes logicamente são direcionados aos modelos mais caros”, diz.
Refletindo uma possível substituição de veículos muito caros por formas mais baratas de mobilidade pessoal, o mercado de motos finalmente empinou, com altas surpreendentes de vendas, aparentemente superando a falta de componentes que estava limitando a produção em Manaus (AM).
Em março, os 110 mil emplacamentos de motos – volume superior aos 108 mil automóveis vendidos – representaram altas expressivas de 46,8% sobre fevereiro passado e de impressionantes 76,7% na comparação com o mesmo mês de 2021. No primeiro trimestre foram licenciadas 274,7 mil unidades, em forte crescimento de 33,7% em relação ao mesmo período do ano passado.
“As vendas estão aquecidas. Com o combustível mais caro, temos observado muitas pessoas migrando do carro para o segmento de duas rodas. Além disso, as motos já se consolidaram como instrumento de trabalho nos serviços de entrega”, avalia o presidente da Fenabrave.
Entre os importadores de automóveis, a maioria situada em faixa de preço superior que parecia estar descolada do restante do mercado, o desempenho das vendas este ano também é sofrível.
As 11 marcas associadas à Abeifa venderam 1,2 mil veículos importados em março, resultado 21% melhor que o de fevereiro, mas 33% abaixo do registrado no mesmo mês do ano passado.
No acumulado do primeiro trimestre de 2022, as vendas dos importadores da Abeifa somam 3,9 mil carros, resultado que representa expressiva queda de 34,4% sobre os primeiros três meses de 2021.
A Toyota dá com uma mão e tira com a outra. Menos de uma semana após anunciar investimento de R$ 50 milhões para adotar novos processos de manufatura e renovar o sedã Corolla produzido na fábrica de Indaiatuba (SP), a fabricante anunciou que vai encerrar as atividades industriais em São Bernardo do Campo, planta inaugurada em 1962, que está completando 60 anos em 2022.
A fábrica no ABC paulista não produz mais veículos desde 2001, quando o último Bandeirante deixou a linha depois de 40 anos de produção. Mas a planta seguiu fazendo peças para motores, inclusive exportadas para os Estados Unidos.
Em 2015 foram feitos investimentos de R$ 70 milhões para construir novos prédios administrativos da Toyota em São Bernardo, que em 2021 foram desativados e os setores todos transferidos para dentro do complexo de Sorocaba (SP).
Segundo a Toyota, as atividades industriais de São Bernardo e os 550 funcionários da unidade serão absorvidos pelas três fábricas no interior paulista, em Sorocaba (produção do Corolla Cross, Yaris e Etios), Indaiatuba (Corolla) e Porto Feliz (motores).
No ano passado a Toyota encerrou ciclo de investimentos no Brasil que totalizou R$ 6 bilhões na última década. Enquanto ainda trabalha em plano de mais longo prazo, anunciou o pequeno aporte de R$ 50 milhões em Indaiatuba.
Quem quis estar entre os primeiros a comprar o primeiro Jeep eletrificado no Brasil pagou R$ 350 mil pelo Compass S 4Xe importado da Itália. O modelo começou esta semana a ser vendido em 40 concessionárias, mas esgotou em cinco horas o estoque inicial de 240 unidades previsto para durar dois meses, segundo o fabricante.
O valor do Compass 4Xe é R$ 132 mil acima da versão S T270 turboflex produzida aqui. Quem tiver não muito menos dinheiro e bem mais paciência, poderá esperar pela versão híbrida flex do modelo com possível fabricação nacional, que está em testes.
O Compass 4Xe é um híbrido plug-in que pode rodar até 44 km com propulsão 100% elétrica e sua bateria é recarregável na tomada ou pelo motor a combustão 1.3 turbo a gasolina – é o mesmo turboflex de 185 cv, quando abastecido com etanol, já produzido desde o ano passado em Betim (MG) e que equipa as versões T270 de Renegade, Compass e Commander nacionais, além da Fiat Toro. Interessante notar que a Stellantis também exportará para a Europa a versão a gasolina deste motor.
A opção híbrida do Compass tem 240 cv quando são somadas as forças de suas duas motorizações, combustão e elétrica. Segundo o fabricante, o modelo tem autonomia total de até 900 km e sua melhor relação de consumo é de 25,4 km/l. Não que essa economia de gasolina faça grande diferença a quem paga R$ 350 mil num carro, mas dá para gastar e ser ambientalmente menos agressivo.
O VW e-Delivery, primeiro caminhão 100% elétrico desenvolvido e produzido no Brasil, lançado ano passado no mercado brasileiro, começou a traçar sua carreira internacional pelo México, onde foi apresentado a clientes e imprensa locais. Agora o veículo inicia testes de campo no país. A Volkswagen Caminhões e Ônibus pretende começar a exportar o e-Delivery no último trimestre de 2022.
A Mercedes-Benz em associação com seis ONGs e financiamento de € 4,5 milhões do governo alemão, via banco de fomento DEG/KfW, fechou o primeiro ano do projeto #UnindoForças, que tem o objetivo de em três anos oferecer assistência médica a 1 milhão de pessoas em unidades móveis de saúde.
A julgar pelo balanço de atividades em 2021, é possível que a meta seja superada. No ano passado, oito carretas puxadas por caminhões Actros e dois ônibus transformados rodaram 30 mil km e chagaram a 60 cidades brasileiras, somando o atendimento de 171 mil pacientes que realizaram 374 mil procedimentos, como consultas, exames de diversos tipos, além da aplicação de 69 mil vacinas contra a Covid-19.
A Mercedes-Benz cedeu veículos, motoristas e supervisionou a montagem das carretas e ônibus, que foram operados pelas seis ONGs: Cruz Vermelha Brasileira (vacinação covid-19), SAS Brasil (odontologia, oftalmologia, otorrinolaringologia, gastroenterologia, dermatologia, ginecologia e pequenas cirurgias), Renovatio e Luz para Vida (oftalmologia), CIES Global (exames de tomografia e ultrassonografia e cirurgias oftalmológicas) e Sociedade Beneficente Albert Einstein (tomografia, oftalmologia, telemedicina e exames laboratoriais).
Este ano o projeto ganhou mais uma ONG, a Amigos do Bem, que recebeu um caminhão Axor equipado com carroceria baú, que abriga três consultórios. O veículo doado à instituição irá realizar atendimentos médicos e odontológicos em comunidades carentes no sertão nordestino.
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