Não são apenas as pessoas que estão em casa durante a quarentena para frear o aumento de casos do Covid-19 no Brasil. Com a paralisação forçada, os automóveis também ficam guardados por longos períodos - e isso pode ser um problema se você não tomar os cuidados necessários antes, durante e até depois do isolamento.
"Até 15 dias parado, os sistemas do carro, como motor, transmissão e até bateria suportam sem problemas", diz o consultor técnico Renato Ghetti, da RB Consultoria Automotiva. Os mais zelosos podem até desligar a bateria do carro como uma prevenção, mas é preciso seguir algumas regras para não ter um prejuízo no futuro. Segundo o Ghetti, é importante desligar os dois polos da bateria (positivo e negativo), nunca apenas um deles. Sistemas como alarmes e rastreadores consomem a bateria mesmo quando o carro está desligado.
Pode parecer besteira, mas a primeira coisa a se fazer antes de guardar o carro é lavá-lo. Em períodos mais longos, principalmente em locais descobertos, sujeiras como fezes de pássaros, chuva ácida e frutos podem corroer o verniz da pintura e criar manchas que só são corrigidas com uma repintura. E se você acha que uma capa ou qualquer proteção sobre o carro resolverá isso, cuidado.
"A capa ou qualquer outra coisa sobre o carro, se em uma garagem aberta, pode se tornar uma estufa e prejudicar pintura ou até mesmo acelerar o processo de corrosão de algumas partes do carro pela temperatura gerada", explica o consultor. No interior do carro, a atenção deve ser com lixo e restos de comida, que podem causar odores difíceis de se remover depois de um tempo mais longo com o carro fechado.
Após a lavagem, o abastecimento também é importante. Segundo Ghetti, qualquer combustível atual suporta de 2 a 3 meses no tanque sem prejudicar o sistema de injeção ou ignição quando for dar a partida. Mas, atenção: carros que ficarem parados por mais tempo precisam dos combustíveis de alta octanagem oferecidos por algumas redes. Aproveite para calibrar os pneus, sempre com a pressão máxima indicada no manual do carro para cargas, nunca acima. Você pode danificar o pneu.
Se você é mais cuidadoso com seu carro, vale seguir algumas dicas durante o isolamento - até pode ser uma forma de se distrair. A cada cinco dias, vá visitar seu carro e, se não desligou a bateria, dê a partida. Cerca de 30 minutos são suficientes para o motor atingir a temperatura de funcionamento e de lubrificação, além de circular o sistema de arrefecimento e de correias e tensores. Não acelere, deixe o carro em marcha-lenta, e observe se sua garagem for fechada. Caso for, coloque ao menos a traseira do carro para fora, evitando a intoxicação pelo monóxido de carbono, fatal ao ser humano.
Se seu carro for manual, engate todas as marchas. Se for automático, coloque em todas as posições e movimente ao menos para frente e para trás. "Se possível, ande com o carro ao menos dentro da garagem do prédio para lubrificar rolamentos de rodas e homocinéticas, afim de evitar ruídos posteriores. O mesmo vale para os pneus não se deformarem", explica Ghetti. O mesmo vale para o sistema de direção. Vire as rodas para os dois lados.
Para o ar-condicionado, vale a observação de não o manter ligado na partida do carro, ao menos nos primeiros minutos. Com o ar ligado, a temperatura do motor demora mais para ser atingida por acionar ventoinhas do radiador. Quando motor atingir a temperatura de trabalho, aí sim ligue o ar-condicionado para a lubrificação do compressor, embreagem do compressor e mangueiras e tubulações.
O mundo voltou ao normal e é hora sair para a rua. Se você seguiu as recomendações acima, basta calibrar os pneus para a pressão de uso e abastecer o carro com combustível novo, além de verificar nível de óleo e arrefecimento dentro do prazo de troca de óleo ou qualquer manutenção, como a revisão programada - diversas marcas estão inclusive estendendo estes prazos nesta época. Aproveite para, mais uma vez, lavar o carro.
Mas se você foi ligar seu carro e ele deu o clássico sinal de que a bateria morreu, não force. Diversas marcas de baterias oferecem socorro em casa, assim como as seguradoras. Se a bateria for nova, ela volta a seu estado original apenas com a recarga do motor. Caso contrário, você pode fazer a transferência de energia (a famosa "chupeta"), seguindo sempre a regra de ligar os polos positivos e negativos corretamente.
Antes de qualquer coisa, consulte o manual do seu carro para saber qual o procedimento correto para esta transferência. Alguns veículos têm pontos específicos no cofre do motor, principalmente os modelos de maior eletrônica embarcada, não podendo ser feita diretamente pela bateria. Isso pode causar defeitos em módulos e sensores que, em alguns casos, são bem caros. Mais uma vez, consulte o manual do proprietário ou a fabricante do veículo em caso de dúvidas.
Fotos: autor/Motor1.com
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