Primeiras Impressões: JAC T60 é todo novo, mas mantém velhos problemas
Bom no papel e no preço, SUV chinês deixa a desejar no acerto mecânico
A JAC Motors está em uma encruzilhada. Por um lado, Sergio Habib, o presidente do Grupo SHC, acredita que os carros elétricos irão dominar o mercado nos próximos anos, espelhando o que está acontecendo na China. Só que o Brasil ainda engatinha nesta área, então é preciso trazer modelos a combustão para manter a marca funcionando. O JAC T60 poderia ser o carro que mudaria o rumo da empresa ao entrar em um segmento bem disputado com preço acessível (diante dos rivais), só que não consegue cumprir este papel.
Galeria: JAC T60 2020
O que é?
O JAC T60 não tem nada a ver com o modelo anterior (que por sua vez era uma reestilização do T6). Trata-se do chinês Refine S4, um modelo de porte médio com 4,41 m de comprimento, mesma medida que o Jeep Compass, o líder disparado de vendas do segmento no país.
A falta de um estilo definido dentro da JAC faz com que cada carro tenha uma aparência distinta. No caso do T60, isso é bom, pois ele traz um design atraente. Claro, sempre vamos achar referências a outros carros. E, neste SUV, é difícil não ver o Ford Territory, SUV médio chinês que a marca norte-americana mostrou no Salão do Automóvel de 2018 e promete vender por aqui em 2020. Vale dizer que o S4 Refine e o Territory foram apresentados no mesmo momento em 2018.
Uma coisa que sempre me incomodou nos carros da JAC é a quantidade de acabamentos (ou imitações) da cabine. É imitação de couro, plástico soft touch, plástico rígido, imitação de madeira, peças cromadas... tudo ao mesmo tempo. Surpreendentemente, o T60 é bem sóbrio e não exagera no emprego de materiais diferentes. Junte isso com a costura mais escura (ao invés do vermelho de sempre) e linhas mais harmônicas e temos o melhor interior entre os modelos da marca no Brasil.
Até mesmo os equipamentos impressionam. O T60 traz uma central multimídia com tela de 10,25” ao melhor estilo BMW, que funciona muito bem ao toque e não mostrou nenhuma mania ruim – como o barulho irritante ao mudar de rádio no T40. O painel de instrumentos digital também agrada, mostrando todas as informações com clareza. Os comandos físicos funcionam por toque em um painel logo abaixo, onde também ficam os controles do ar-condicionado.
Alguns tropeços, porém, permanecem. Ao invés de adotar Android Auto e Apple CarPlay, a JAC equipou a multimídia com um sistema chamado EasyConnection (que a marca chama de Easy Link), que imita a interface das funções concorrentes e espelha a tela do celular para a multimídia. Embora seja um avanço em comparação aos sistemas anteriores (que muitas vezes nem funcionavam), ainda não é o ideal. Funcionou a primeira vez, mas depois não consegui mais conectar. Outro problema é que o T60 continua devendo na parte de segurança, com somente os dois airbags frontais. Apenas o T80, modelos mais caro da empresa, vem com mais bolsas infláveis.
Como anda?
No papel, o JAC T60 faz o dever de casa: traz motor 1.5 turbo de 168 cv a 5.000 rpm e 21,4 kgfm de torque entre 2.000 e 4.500 rpm. Seria o suficiente para mover o crossover de 1.365 kg com tranquilidade. Só que no meio do caminho há o câmbio CVT que simula 6 marchas. Os dois não conversam muito bem, com uma lentidão para transmitir a força do motor para as rodas e um funcionamento um tanto quanto ruidoso do conjunto.
Quando o câmbio está no modo normal, ele "troca" as marchas perto de 3.000 rpm, o que ainda deixa os ruídos em um nível aceitável. O contraponto é que falta fôlego nas acelerações e retomadas, não parecendo chegar a 100 km/h em 9,6 segundos como diz a fabricante. Ao colocar a transmissão no modo Sport, o crossover responde melhor, porém segura as marchas até 5.000 rpm, com muito barulho invadindo a cabine.
O segundo problema é a suspensão do carro, com esquema independente McPherson na frente e eixo de torção na traseira. Ela tem um ajuste totalmente voltado para o conforto, algo que ficou nítido quando olhei para o veículo que era guiado por outro jornalista na mesma estrada. Foi fácil notar o quanto a carroceria subia e descia para tentar compensar as ondulações da pista.
Uma suspensão mole significa que ela deixará a carroceria oscilar mais. E, de fato, o JAC T60 inclina bastante nas curvas, mesmo sem forçar. E bastou encontrar uma lombada para sentir o baque caso não reduzíssemos a velocidade para menos de 20 km/h. Isso incomoda principalmente quem viaja no bancos traseiro, em alguns momentos até pulando do assento.
Quanto custa?
O preço pode ser o diferencial mais forte do novo SUV chinês. Por R$ 99.990, o JAC T60 tem uma lista de equipamentos interessante, com painel de instrumentos digital, central multimídia de 10,25”, freio de estacionamento elétrico, luzes diurnas em LED, controle de cruzeiro, ar-condicionado digital e mais. Como opcional, um pacote de R$ 5 mil adiciona teto solar elétrico e bancos com revestimento em couro, fazendo com que a conta chegue a R$ 104.990.
Embora tenha uma lista atraente, há algumas faltas básicas. Por exemplo, o banco do motorista tem ajuste elétrico para distância e altura, mas não para o encosto; ou o volante, que não tem regulagem de profundidade. A JAC acredita que estas ausências são compensadas por itens que dificilmente são vistos no segmento, além do preço mais baixo. O Jeep Compass equivalente seria o Longitude 2.0 Flex, por R$ 132.990. Até mesmo o Caoa Chery Tiggo 7, outro modelo chinês que aposta em um valor mais baixo, sai por R$ 116.990 e fica devendo algumas coisas em relação ao JAC.
A falta de uma calibração adequada para o câmbio e a suspensão do JAC T60 evidenciam que o carro acabou vindo mais por obrigação do que para conquistar clientes do Compass ou mesmo do Tiggo 7. O Grupo SHC está de olho no mercado de veículos elétricos e já confirma a vinda do iEV60, variante elétrica do T60, em maio de 2020 por R$ 209.900, então parece não ter havido muita preocupação de melhorar o T60 a combustão. O que é uma pena, pois ele tinha potencial para ser o símbolo de um novo momento para a marca no Brasil.
FICHA TÉCNICA: JAC T60 2020
MOTOR | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.499 cm³, comando de válvulas variável, injeção direta, turbo, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE |
168 cv a 5.500 rpm; Torque: 21,4 kgfm de 2.000 a 4.500 rpm |
TRANSMISSÃO | automática tipo CVT com simulação de 6 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio aro 17" com pneus 215/50 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira com ABS e ESP |
PESO | 1.365 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.410 mm, largura 1.800 mm, altura 1.660 mm, entre-eixos 2.620 mm |
CAPACIDADES | tanque 50 litros; porta-malas 650 litros |
PREÇO | R$ 99.990 (R$ 104.990 na versão avaliada) |
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