Comparativo Ford Ka Freestyle vs. Chevrolet Onix Activ e Hyundai HB20X - Tirando o atraso

Esta não é a primeira vez que a Ford lança uma versão aventureira do Ka. De olho na fatia que o Chevrolet Onix Activ e o Hyundai HB20X representam em suas gamas, o Ka Trail tentou uma investida, mas ele era simples demais para cair no gosto deste público. Lição aprendida, a Ford aproveitou para desenvolver com mais tempo um novo produto, que aqui está. É o Freestyle, que além de inaugurar o novo visual do hatch para a linha 2019, é o primeiro Ka a trazer o câmbio automático de seis marchas e o novo motor 1.5 de 3 cilindros.  

Já tivemos a oportunidade de dirigir o Ka Freestyle. Mas, desta vez, voltamos ao campo de provas da Ford em Tatuí (SP) com os rivais Onix Activ e HB20X (ambos já da linha 2019) para ver se a "demora" do Ka resultou em um aventureiro melhor ou se a novidade do oval azul será apenas mais um no segmento dos aventureiros. Também é uma boa prévia para ver como o Ka "normal" se comportará diante de seus concorrentes mais representativos quando as demais versões forem lançadas, em agosto, já que boa parte das novidades trazidas pelo Freestyle estarão no restante da linha, inclusive este conjunto de motor e câmbio.

Espaço e praticidade

Como o EcoSport, o Ka mudou mais onde não se vê. Apesar de uma boa quantidade de mudanças estruturais e em componentes, como coxim de motor e recalibração de suspensão e direção, o Freestyle não representa uma nova geração do Ka. Nada muda no aspecto de espaço ou plataforma. Diante dos concorrentes, o compacto da Ford ainda tem as menores dimensões de carroceria. O espaço interno é bom, mas, para isso, sacrificou o porta-malas com apenas 257 litros - consideravelmente menor que seus oponentes aqui reunidos.

O HB20X é o mais confortável para o motorista e passageiro dianteiro, com bancos maiores e maior espaço para as pernas. O Onix Activ insiste em uma posição de dirigir exageradamente alta, além de ter os bancos mais curtos e estreitos do trio. A alavanca de freio de mão quase encostada no banco do motorista mostra que falta largura interna ao Chevrolet. Enquanto o HB20X é o menos cansativo para se dirigir, o Onix Activ fadiga o condutor bem mais cedo. O Ka Freestyle fica no meio termo entre os dois. 

No banco traseiro, Onix Activ e HB20X ficam bem próximos, com vantagem para o hatch de Gravataí (RS). O Ka é bom, mesmo com 37 mm a menos no entre-eixos se comparado ao Chevrolet e 9 mm a menos que o Hyundai, mas como já dito, penalizou o porta-malas para fazer isso. Falha do HB20X é ainda não trazer cinto de segurança de três pontos e encosto de cabeça para o passageiro central do banco traseiro, algo que o Onix Activ colocou em sua lista de equipamentos na linha 2019 e o Ka já oferece desde 2017. Nos três, há fixação Isofix para cadeiras infantis nas extremidades. Ka e HB20X usam encosto bipartido (60/40). 

Boa novidade do Ka Freestyle é a chegada do SYNC 3. A tela flutuante de 6,5" no alto do painel é sensível ao toque e se alinha aos concorrentes em termos de conectividade. Diferentemente dos rivais, foi instalada em posição "flutuante", que facilita o uso dos comandos e visualização das informações (no HB20 fica embutida no painel, mas também em posição elevada). O Onix, ao contrário, tem o MyLink2 mais baixo e exige maior desvio de atenção da via para operação. Até o botão do volume do som está no lado direito, longe das mãos do motorista. Os três têm comandos no volante e possuem espelhamento de smartphones (Apple CarPlay e Android Auto), mas a tela do Onix Activ e HB20X são maiores, com 7", e a do Hyundai ainda tem TV digital - embora seja o único sem câmera de ré. 

Acabamento e equipamentos

Não, você não está vendo coisas. O painel do Ka Freestyle adota cor marrom, assim como no tecido dos bancos, que se mistura com couro sintético. O mesmo tom está aplicado no couro dos bancos do HB20X. Só o Onix Activ se livrou do chamativo laranja no interior na linha 2019. Preferiu usar um cinza azulado mais discreto quando você opta por uma cor da carroceria que não seja o Laranja Burning, que mantém o interior colorido. Na brigas das cores internas, fico com o Chevrolet e sua sobriedade. Além disso, os materiais do Onix evoluíram com o tempo e hoje têm aparência melhor do que os usados no Hyundai e, principalmente, no Ford. 

Mesmo assim, o HB20X segue com a melhor montagem dos três, além de uma construção que aparenta maior solidez. O Ka Freestyle melhorou se comparado ao anterior, mas ainda não impressiona quem olha, principalmente em termos de materiais. Era esperado um conjunto de mudanças maior, como aconteceu com o EcoSport, mas a Ford se limitou a colocar a nova central multimídia no alto e não mudou nem mesmo o simples quadro de instrumentos. O Onix Activ ainda traz algumas peças desalinhadas, mas vem evoluindo a cada ano/modelo. 

Falando em linha 2019, o HB20X adotou o mesmo quadro de instrumentos do R-Spec, com a tela do computador de bordo maior e grafismo atualizado, enquanto o Onix Activ mudou a iluminação de azul para branco em todo interior, o que ficou melhor visualmente e cansa menos os olhos à noite. 

A lista de equipamentos começa bem parecida nos três. Estamos falando de direção elétrica (inclusive, o HB20X é o único HB20 com este tipo de assistência), ar-condicionado, conjunto elétrico (vidros nas quatro portas com um toque, espelhos e travas), sistema multimídia, rodas de liga aro 15" (16" no Hyundai), faróis de neblina, computador de bordo e câmbio automático de seis marchas, sendo que nenhum deles oferece aletas para troca de marchas no volante.

O Hyundai HB20X é vendido em duas versões. A Style blueMedia, como o nome diz, tem a central multimídia, faróis de neblina em forma de projetor, pedaleiras em alumínio, coluna de direção com regulagem de altura e profundidade (o único dos três com a opção de profundidade) e apenas os airbags frontais obrigatórios. Aqui mostramos a Premium, que custa R$ 4.100 a mais e traz os faróis com assinatura em LED e projetores, bancos em couro marrom, maçanetas externas cromadas, ar-condicionado digital automático (único com este equipamento aqui), retrovisores com rebatimento elétrico e sensor de estacionamento traseiro, mas ainda sem câmera de ré. 

O Onix Activ tem os faróis principais e de neblina com lampadas brancas (novidade da linha 2019), piloto automático (que o Ka também oferece), serviço OnStar, aviso de verificação do banco traseiro (um alerta é dado ao motorista quando ele desliga e vai descer do carro para não esquecer objetos, pessoas ou animais), bancos que misturam couro com tecido, sensor de estacionamento e câmera de ré. 

O Ka Freestyle investiu em segurança. É o único com controles de tração e estabilidade (inclusive com sensor de inclinação para prevenção de capotamentos), seis airbags (frontais, laterais e de cortina) e assistente de partida em rampas, além de ter duas portas USB no painel. Poderia ter ganho o ar digital do Fiesta.

Ao volante

A Ford justifica a demora do FreeStyle com o desenvolvimento intenso em termos de direção, suspensão, dirigibilidade e os novos motor e câmbio para que, mesmo chegando por último, o Ka aventureiro se torne referência no segmento dos aventureiros. Não à toa, engenheiros de desenvolvimento da Ford nos acompanharam durante todos os testes, inclusive com unidades do HB20X e do Onix Activ rodando nos mesmos trajetos feitos com o Ka. 

Começando pela estrutura, o Ka Freestyle trouxe reforços para reduzir ruídos (perceptível desde o som da batida de porta, mais firme), mas também para deixar no passado a nota zero no crash test do Latin NCAP. Junto a isso, vieram novos isoladores acústicos na região do cofre do motor e rodas, além de novas buchas de suspensão. Para o motor, um novo coxim hidráulico reduz as vibrações e segura o movimento do propulsor para não chegar à carroceria mesmo em pavimentos ruins, como estradas de terra. Até o para-brisas tem tratamento acústico. 

O resultado é que o Ka Freestyle ficou o mais equilibrado e silencioso de conduzir do trio. Nos extremos, o Hyundai HB20X revela acerto de direção e suspensão voltados extremamente para o conforto. Nas curvas, é o que mais tem tendência a sair de traseira, mesmo em situações onde Ka e Onix apenas deslizam a dianteira como um "aviso" ao motorista. Além disso, quando o Hyundai passa por valetas, cria um efeito chicote no amortecedor traseiro, resultando em desconforto e final de curso da suspensão. A direção, mesmo elétrica, não ganha peso em velocidade mais alta, ficando com pouca comunicação com o motorista na estrada. Mas, como dissemos acima, é o que aparenta ser mais sólido e é o menos cansativo dos três para longas viagens.

O Onix Activ está na outra ponta. Como já falamos algumas vezes, ele recebeu acerto de suspensão mais firme após a reestilização, o que garantiu uma tocada mais estável, com a ajuda da direção elétrica. Até a chegada do Ka, era o melhor aventureiro para dirigir, com respostas boas da direção, dose aceitável de peso do volante e suspensão que torce pouco mesmo com altura do solo elevada. Como comparação, na pista de pedras, a traseira se manteve na mão, só apresentando sobreesterço quando provocado. Bem diferente do Hyundai, que escorrega com certa facilidade e exige mais atenção na hora de dirigir rápido.

Como o Onix Activ é firme, ele acaba sendo o que transmite mais impactos ao interior e, mesmo sendo o mais confortável dos Onix, a traseira quica bastante se comparada à dos concorrentes. A questão é que a Ford usou os dois como referência para fazer do Ka Freestyle um aventureiro melhor, tanto para o asfalto quanto para a terra. E sim, está bem à frente do que era o Ka Trail. 

Como os engenheiros disseram, o Ka Freestyle volta a carregar bastante o "DNA Ford" no acerto dinâmico. O software da direção elétrica foi refeito, dando mais peso e comunicação em movimento, mas sem perder a leveza nas manobras. Lembra que comentei sobre o Onix Activ ser o melhor de dinâmica? O Ka Freestyle tomou esta posição. A suspensão filtra melhor o que vai para o interior, além de permitir maior controle em curvas, mesmo mais fechadas, e transmite confiança superior à do Chevrolet. O coxim hidráulico do motor também tem sua participação neste veredicto, segurando a movimentação do propulsor, sem transmitir para as longarinas estruturais. 

Ao rodar com o Ka, a primeira coisa que procurei foi um "defeito" específico que me deixou bastante incomodado recentemente em outros Ford. No EcoSport com este câmbio automático, seja 1.5 ou 2.0, percebi que ele se mantém acelerado por uma fração de segundo quando se tira o pé do acelerador. Isso é chato principalmente no uso urbano, naquela aproximação de semáforo ou tráfego. Com o Ka não percebi isso. Mas a sensação de que o câmbio "amarra" um pouco o motor, que tivemos na na primeira avaliação, agora se comprovou nos testes instrumentados. 

Mesmo sendo o mais potente dos três (136 cv e 16,1 kgfm de torque), só perdendo em torque para o 1.6 do HB20X (128 cv e 16,5 kgfm), o FreeStyle foi 1 segundo mais lento que o Hyundai na aceleração de 0 a 100 km/h, além de perder até para o Onix na retomada de 40 a 100 km/h. Isso pois o câmbio, mesmo no modo S, às vezes demora para entender reduções e segura para fazer as trocas ascendentes. O Onix Activ fica na lanterna com seu 1.4, mas até o pessoal da Ford admira o que os engenheiros da GM fizeram neste motor, já antigo, mas ainda valente e o mais econômico do trio. Só que ele está no seu limite, sem espaço para evoluir, diferente do 1.5 da Ford e do 1.6 da Hyundai, multiválvulas e com variadores nos comandos (apenas na admissão no Hyundai). 

Em baixas velocidades, o Ka Freestyle responde bem, com boa dose de força nas saídas e suavidade nas trocas de marchas. Neste ponto, lembra bastante o 1.4 da Chevrolet, entregando bastante torque em baixas rotações e aproveitando isso para fazer as mudanças bem cedo. O HB20X é melhor na estrada, mais solto e desenvolvendo velocidades maiores sem esforço. Ainda não usamos o Ka Freestyle em estrada aberta, mas na pista de alta velocidade de Tatuí, continua deixando a impressão de que anda menos que o HB20X. 

Compra e manutenção

Em preços, Chevrolet Onix Activ e Ka Freestyle estão bem próximos. Com apenas R$ 100 separando eles, o novato oferece consideravelmente mais que o GM. Por R$ 67.600, o HB20X tem a versão Style, mas a Premium testada aqui custa R$ 71.700 e, mesmo se considerarmos a básica, seria a menos equipada, com bancos totalmente em tecido (Ka e Onix misturam couro e tecido) e sem piloto automático e câmera de ré.

Nas revisões, o embate fica bem apertado, com vantagem para o HB20X, seguido de perto pelo Ford Ka e Onix Activ. E o Hyundai tem 5 anos de garantia, enquanto o GM e o Ford tem 3 anos, mas o Ka pode ter extensão de até mais dois anos na compra dos pacotes de revisões fechadas, que pode variar de R$ 2.196,00 (4 primeiras) a R$ 2.930,00 (5 primeiras). Uma vantagem do FreeStyle é que a Ford está dando as três primeiras revisões de graça para quem comprar o modelo no período de pré-venda. 

Conclusão

O Ka Freestyle chega depois, mas aproveitou este tempo livre para investir em segurança e dirigibilidade, pontos importantes. Pode não ser o que anda mais, mas é o mais equilibrado, silencioso e bom de dirigir do trio. Além disso, é o mais equipado, com a diferença de preço entre eles totalmente justificável pelo o que traz principalmente em segurança. Peca pelo porta-malas menor e pelo acabamento mais simples, mas isso não impede sua vitória.

Onix Activ e Hyundai HB20X se preparam para ganhar novas gerações em, no máximo, dois anos. Mas, pensando hoje, o Onix é mais equipado que o HB20X de entrada, sendo que a diferença de preço entre eles (R$ 290) se justifica por itens como o piloto automático e o OnStar Já o HB20X Premium é muito caro. Em compensação, o Hyundai leva a melhor em desempenho e construção. Ou seja, o segundo e terceiro colocados ficam a critério do gosto pessoal de quem for comprar. 

Fotos: Paulo Henrique Trindade