A SsangYong completaria, em 2017, 22 anos de operação no Brasil. Completaria, pois a marca coreana teve "capítulos" no nosso país, sendo o primeiro de 1995 a 1998 e a segundo, de 2001 a 2015. Em 2018, se iniciará o terceiro capítulo dessa história, agora nas mãos de uma nova importadora, com novos produtos e uma proposta que, se cumprida, poderá colocar a marca de nome complicado em uma melhor posição no país. Para saber qual é esta estratégia, fomos até Salto, interior de São Paulo, conhecer a sede da SssangYong Brasil e andar nos carros que serão vendidos a partir de 2018.
Na verdade, a sede da empresa é conhecida. A operação da SsangYong está nas mãos da Venko, importadora que trouxe a Chery ao Brasil antes do inicio da operação oficial, no período de 2009 a 2012. Ou seja, a marca coreana está nas mãos de uma empresa que já conhece o mercado brasileiro e a forma como devem ser trabalhados os preços, versões e pacotes de equipamentos para obter bom resultado nas vendas. O discurso otimista da Venko promete 50 concessionárias pelo país até o fim de 2018 (inclusive com assistência técnica e peças para os modelos vendidos nas passagens anteriores) e cerca de 3 mil unidades vendidas anualmente.
Para isso, as apostas estão em quatro modelos: a picape Actyon Sports, o SUV compacto Tivoli e sua versão alongada, o XLV, e o SUV médio Korando. A picape e o Korando já são nomes conhecidos por aqui, mas voltam com diversas mudanças. Haverá também o SUV Rexton, em sua nova geração, com lançamento previsto para o Salão de São Paulo de 2018.
Pudemos andar nos quatro carros que serão lançados no começo de 2018. Mas a SsangYong não divulgou os pacotes de equipamentos, as versões (serão duas de cada modelo) e nem os preços, pois espera o fim das negociações do Rota 2030 para traçar estes caminhos. Segundo a empresa, estes carros foram utilizados para homologação, então pequenas diferenças poderão existir nos carros definitivos.
O Tivoli é a maior aposta da SsangYong para cá. O SUV compacto vem para brigar com uma turma de peso, como Honda HR-V, Jeep Renegade, Nissan Kicks e Hyundai Creta. Tentará ser uma opção aos compradores do tão aquecido segmento. Para isso, terá duas versões que se diferenciarão no pacote de equipamentos, mas não no conjunto mecânico. O Tivoli usa motor 1.6 a gasolina, da própria SsangYong, com 128 cv (a 6.000 rpm) e 16,3 kgfm (a 4.600 rpm), para levar os 1.300 kg de peso em ordem de marcha. Ligado a ele, o câmbio automático de 6 marchas, fornecido pela Aisin, envia a força para a tração apenas dianteira. Em termos de porte, ele mede 4,20 m de comprimento, 1,80 m de largura, 1,59 m de altura e 2,60 m de entre-eixos, com 423 litros de porta-malas.
Rodar com o Tivoli me lembrou do Hyundai Creta 1.6, que testamos recentemente. Os números de potência e torque parecem pouco para levar o Ssangyong, principalmente na estrada. Na cidade, ou em trechos de menor velocidade durante o test-drive, ele boas saídas. Mas, em ritmo rodoviário, perde força e pede mais ação no acelerador e reduções de marchas no bom (e sem trancos) câmbio da Aisin. Por outro lado, a suspensão e direção (elétrica com 3 níveis de condução - normal, comfort e sport) estão bem calibrados, mesmo para o piso mais judiado do Brasil. É um carro na mão, com boa resposta para quem está dirigindo. Porém, o isolamento acústico deixa passar o barulho do motor quando ele está em rotações mais altas, o que acontece bastante na estrada.
A boa impressão se repete no acabamento, sem peças desalinhadas ou de baixa qualidade. Lembra justamente os Hyundai, também coreanos. O desenho, tanto do interior quanto do exterior, irá gerar algumas discussões por aí, como já acontecia com a SssangYong anteriormente. O espaço interno é bom, mas não grande como no Creta, nem apertado como no Renegade. O porta-malas tem piso elevado, mas há um grande esconderijo para alguns objetos debaixo da cobertura.
O XLV é uma versão "alongada" do Tivoli. Segundo a marca, ele foi projetado para quem precisa de mais espaço no porta-malas. Então, ele mede 4,44 m de comprimento, com toda a adição no balanço traseiro (as demais medidas são as mesmas), para priorizar o espaço de bagagens: 720 litros é o resultado.
Entre os itens de série, estão os controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampas, sistema multimídia, ar-condicionado de duas zonas, bancos de couro, rodas aro 18" e partida por botão. O preço do Tivoli é estimado entre R$ 85 mil a R$ 100 mil, enquanto o XLV (de Exciting Lifestyle Vehicle) deverá custar de R$ 90 mil a R$ 105 mil, com 3 anos de garantia. Serão vendidos com opção de carroceria em duas cores, com o teto em cor diferente.
O SUV Korando volta reestilizado e de olho nos compradores do Jeep Compass, principalmente das versões a diesel. No lugar do antigo motor Mercedes-Benz, o Korando agora adota um motor próprio da SsangYong, 2.2 turbodiesel, com 178 cv (4.000 rpm) e 41 kgfm de torque (de 1.400 a 2.800 rpm). Sempre com tração AWD (de distribuição automática) e câmbio automático (Aisin) de 6 marchas, apostará em uma linha que usa o carro em diversos terrenos.
Se por um lado ele tem a força do motor turbodiesel, por outro não oferece as mesmas respostas de direção do Tivoli. Não é ruim, mas perde um pouco do refinamento ao não ter os modos de condução da caixa elétrica. Em compensação, a tração integral trabalha rápido para manter a trajetória mesmo em curvas mais fechadas, enquanto a suspensão é bem equilibrada no sentido de absorver os impactos do solo e segurar a rolagem da carroceria. Não o testamos em ambiente fora de estrada, mas oferece até bloqueio do diferencial para situações mais complicadas.
Como no Tivoli, o acabamento segue com boa qualidade e certo capricho, mas o design irá dividir opiniões. Em medidas, o Korando exibe 4,41 m de comprimento, 1,83 m de largura, 1,67 de altura e 2,65 m de entre-eixos, com porta-malas de 486 litros. A posição de dirigir, mesmo elevada, é confortável e não cansa, com bancos que apoiam bem o corpo e têm boa densidade de espuma. Em termos de dirigibilidade e desempenho, é o melhor SsangYong dos avaliados.
O lançamento acontecerá em 2018 (provavelmente junto com o Tivoli), em duas versões, com preços estimados entre R$ 135 mil e R$ 150 mil, também com 3 anos de garantia. Em termos de equipamentos, traz aquecedor e refrigeração dos bancos dianteiros, teto-solar, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampas, partida sem chave, câmera de ré e frontal e sistema de freios a disco nas 4 rodas, assim como o Tivoli e XLV.
Esta picape também é bem conhecida do público brasileiro. Com design, na época, bem controverso, se destacava pelo motor Mercedes-Benz, como o Korando. O estilo mudou pouco, ficando mais harmônico, mas o motor deixa de ser alemão e passa a ser o mesmo 2.2 do SUV acima. São 178 cv (4.000 rpm) e 41 kgfm de torque (de 1.400 a 2.800 rpm), mas com sistema de tração 4x4 com engate por botão (tração traseira quando no 4x2). O câmbio também é o Aisin de 6 marchas.
A picape foge (bastante) dos SUVs em quase todos os sentidos. No interior, o acabamento é mais simples, com desenho bem mais confuso e "diferente". O mesmo vale para as respostas de direção e suspensão, mais moles e longos, mas que pretendem atender quem conduz a picape em situações fora de estrada. Em comum com o Korando, está a resposta do motor: com turbo lag bem evidente, o torque vem a 2.500 rpm como uma "patada" quase de uma vez só. Não condiz com a linha que a ficha técnica desenha para o torque, mas foi o que senti durante a avaliação.
No mercado, a Actyon Sports quer entrar na turma da Fiat Toro (diesel), com preços entre R$ 120 mil e R$ 135 mil, em duas versões. Possui 4,99 m de comprimento, 1,91 m de largura, 1,78 m de altura e 3,06 m de entre-eixos. Apesar disso, o espaço traseiro é pequeno. A caçamba pode levar até 720 kg. Na lista de itens de série, há controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampas, partida sem chave e teto-solar. Chega também em 2018, ainda no primeiro trimestre.
A SsangYong vem mais forte para sua nova empreitada. Basta definir um leque de valores e itens de série realmente competitivos e mais baratos que os concorrentes já existentes, principalmente para compensar a má fama que a empresa adquiriu após sair do país em duas ocasiões. A Venko sabe que o público brasileiro tem certo preconceito com novas marcas, mas deve usar o que aprendeu com a Chery. Agora resta esperar os lançamentos definitivos e os testes completos dos modelos.
Fotos: divulgação e autor
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