Pode não parecer, mas quem nasceu em 1997 já tem 20 anos, maioridade penal e até mesmo habilitação para dirigir. A mesma impressão de que 97 foi ontem vale para o segmento sedãs médios, que passava por uma grande revolução no Brasil. Foi a época da chegada do Chevrolet Vectra B (em 1996) e da nacionalização dos atuais reis da categoria: Toyota Corolla (fim de 1998) e Honda Civic (1997). E foi neste primeiro Honda nascido em Sumaré (SP) que pudemos voltar 20 anos no tempo.
Não é figura de linguagem quando digo que este é o primeiro Civic brasileiro. Basta bater o olho no número de chassi nos vidros e ver o "001" gravado ali. Depois de produzido, o modelo foi guardado pela Honda em local fechado como símbolo desta data e, 20 anos depois, registra apenas cerca de 300 km no hodômetro. Poucas pessoas são autorizadas a dirigi-lo (até mesmo tocá-lo), e tive o privilégio de ser uma delas (ainda que num condomínio fechado no interior de São Paulo). Versão intermediária, este Civic LX é equipado com câmbio automático de 4 marchas, que era "luxo" no Brasil da época, e motor 1.6 16V a gasolina (D16Y7) sem comando variável, que gera 106 cv. No papel, ele é 1997/1997. Na prática, é tão novo que parece 1997/2017.
Como fã de modelos dos anos 1990, fiquei alguns bons minutos apenas admirando este Civic. Por fora, ele se mantém impecável. Responsável pela inauguração da produção nacional, a sexta geração do sedã trazia faróis maiores e linhas um pouco mais tradicionais que a anterior, vendida no Brasil como importada. Percebe-se que o carro é imaculado ao ver que os pneus são os originais e as calotas, mesmo envelhecidas pelo tempo, aparentemente nunca saíram dali. As portas abre e fecham como num carro 0 km na concessionária. Não há qualquer sujeira escondida, nem mesmo no cofre do motor ou perto do estepe, que nunca viu a luz do sol.
Por dentro, o volante de 3 raios é peça rara. Poucos Civic saíram da linha de produção sem airbag, indisponível nesta versão e que se tornaria item de série na linha 1998. Bancos, plásticos, porta-trecos e o revestimento de veludo, tudo remete a entrar numa cápsula do tempo e voltar 20 anos. O conjunto mecânico trabalha como um relógio, inclusive com trocas de marchas mais suaves que em muitos carros novos com caixas mais modernas. Não à toa, o Civic (e o Corolla) deram ao brasileiro a oportunidade de ter um carro automático e "popularizar" esse conforto. Na época, este LX custava R$ 29.900, o equivalente a R$ 102.157 nos dias atuais (um pouco menos que os R$ 105.900 pedidos pelo EXL de hoje). Veja a tabela de preços da época:
VERSÃO | PREÇO EM OUTUBRO/1997 | PREÇO ATUALIZADO (IPCA) |
Honda Civic LXB MT | R$ 25.950 | R$ 88.665 |
Honda Civic LX MT | R$ 27.850 | R$ 95.157 |
Honda Civic LX AT | R$ 29.900 | R$ 102.162 |
Honda Civic EX MT | R$ 33.700 | R$ 115.145 |
Honda Civic EX AT | R$ 35.700 |
R$ 121.979 |
A parte de lataria do Civic 1997 ainda era importada, para então ser soldada e pintada em Sumaré (SP). Em 1998, o setor da estamparia começou a funcionar. Aliás, ver um Civic desta sexta geração nas ruas com a carroceria ruim é missão difícil, mesmo após tantos anos de trabalho nas ruas nada colaborativas do Brasil. O ar-condicionado funciona perfeitamente, assim como o toca-fitas, vidros e retrovisores elétricos e toda e qualquer função desta peça digna de museu. Pena que eu seria perseguido até o fim da minha vida se resolvesse pegar a estrada rumo a São Paulo com ele. Não pela polícia, mas pelo pessoal da Honda.
Em outubro de 1997, a Honda anunciava a inauguração da fábrica de Sumaré (SP) e o nascimento do Civic brasileiro. Este Civic. A sexta geração chegou ao Brasil após a boa aceitação do modelo quando importado. Ao lado do Accord, em 1993, apresentava a Honda automóveis aos brasileiros, que até então só conhecia as motos da marca e um ou outro carro importado independentemente. Lembra do Civic VTi e seu 1.6 aspirado com 160 cv? Foi meu sonho por muito tempo, mesmo sendo já um carro "antigo" na ocasião. Em 1997, o Civic estava disponível em três versões, com motor 1.6 de 106 cv e 1.6 de 127 cv, sendo a mais potente com comando variável no cabeçote. O câmbio era manual de 5 marchas em todas as versões, com a opção do automático de 4 posições.
Gerações do Civic fabricadas no Brasil
6ª geração | 1997 a 2000 |
7ª geração | 2001 a 2006 |
8ª geração | 2007 a 2011 |
9ª geração | 2012 a 2016 |
10ª geração | a partir de 2016 |
Em 1999, foi feito um leve facelift, com mudanças nas lanternas e para-choque dianteiro. A sétima geração chegou em 2001, com visual mais conservador, usando o inédito motor 1.7 de 115 cv, sem variador de comando, e de 130 cv com o VTEC. Seu grande trunfo era o piso traseiro plano, sem o túnel, abrindo mais espaço para as pernas principalmente do quinto passageiro.
A oitava geração foi uma divisora de águas. Lançada em 2007, ficou conhecido popularmente como New Civic. Trazia design totalmente diferente do que existia até então, estreava o painel em dois andares e a mecânica 1.8 de 140 cv. Em maio daquele ano, era lançada a versão esportiva Si com motor 2.0 de 192 cv, o mais potente nacional da época. É, até hoje, um dos carros favoritos por quem procura um esportivo "acessível" e com manutenção mais descomplicada que a dos importados. Por fim, a nona geração chegou em 2014 com design menos arrojado e trazendo o motor 2.0 de 155 cv nas versões mais caras.
A décima e atual geração, lançada em 2016, é a primeira global do Civic. Desta plataforma, saíram também os novos Accord e CR-V, modelos que chegarão ao Brasil em 2018. É o mais ousado dos sedãs médios, com um desenho mais para coupé de 4 portas do que sedã. Mesmo assim, tem bom espaço interno. E a dirigibilidade é referência na categoria. Em comum, todas as gerações adotaram sistemas de suspensão independente nas 4 rodas e uma tocada mais esportiva. No total, já foram fabricados cerca de 630 mil Civic no Brasil, além de mais 20 mil que foram importados. Sem dúvidas, uma carreira de sucesso.
Fotos: Caio Mattos (Honda)
MOTOR | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.590 cm3, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE | 106 cv a 6.200 rpm / 14,2 kgfm a 4.600 rpm |
TRANSMISSÃO | automática de 4 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente com braços sobrepostos na dianteira e traseira |
RODAS E PNEUS | aço aro 14″ com pneus 185/65 R14 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira |
PESO | 1.160 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.450 mm, largura 1.705 mm, altura 1.400 mm, entre-eixos 2.620 mm |
PORTA-MALAS | 460 litros |
PREÇO | R$ 29.900 (outubro de 1997) |
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