Assim que me acomodei no banco tipo concha do novo Si, logo me lembrei do nosso especial de esportivos que reuniu a geração anterior do cupê da Honda contra os principais rivais para uma divertida manhã na tortuosa Estrada dos Romeiros. Na ocasião, o Si foi o preferido de quase todos os avaliadores envolvidos, principalmente por conta da diversão ao volante, mesmo não tendo a pegada dos concorrentes turbinados. O cenário agora é a pista de Sodegaura, a cerca de 70 km de Tóquio, onde Motor1 Brasil teve a oportunidade de ser uma das primeiras mídias nacionais a colocar as mãos na nova geração do Si. Desta vez com turbo. 

O que é?

Versão cupê da décima geração do Civic, o modelo de 2 portas tem design ainda mais invocado que o do sedã. O destaque, claro, fica por conta da traseira curta e com um grande aerofólio que acompanha o desenho das lanternas. Para completar, a Honda posicionou a estilosa saída de escape no centro do carro. Se a dianteira do Civic "comum" já era esportiva, a traseira compacta fechou o pacote que o Si precisava. Na América do Norte a Honda oferece o Si também na versão sedã, mas para o Brasil ele virá exclusivamente no modelo cupê. A ideia, acertada, é destacá-lo do sedã feito em Sumaré (SP). 

Honda Civic Si impressões no Japão

Internamente o Si segue a escola do modelo anterior, sem grande refino no acabamento, apenas com visual mais esportivo. A iluminação do painel e multimídia troca o azul do Civic comum pelo vermelho, enquanto os pedais e manopla do câmbio são de alumínio. Ar digital de duas zonas e freio de estacionamento elétrico são novidades em termos de equipamentos. Os bancos mantêm o formato concha do Si anterior e, assim como antes, ficam devendo forração mais sofisticada. Do jeito que está, parece simples demais para o preço que o carro vai custar. De resto, materiais e montagem seguem o nível do Civic nacional. 

Se a cabine não surpreende, o motor também já é conhecido dos brasileiros. Trata-se do novo 1.5 turbo com injeção direta que equipa a versão Touring do sedã, com modificações para render mais. Assim, a potência salta dos 173 para 208 cv, enquanto o torque pula de 22,4 para 26,5 kgfm. No Si anterior, que tinha motor 2.4 aspirado, eram 206 cv e 23,9 kgfm a 4.400 rpm. Ou seja, o novo tem apenas 2 cv e 2,6 kgfm extras, mas essa força surge logo a 2.100 rpm e se mantém até 5.000 rpm. A desvantagem, no caso do 1.5 turbinado, é que o Si perdeu aquele motor girador das gerações anteriores - agora o limite de giros do propulsor é de "apenas" 6.500 rpm. O antigo Si nacional tinha um 2.0 que passava dos 8 mil giros.

Característica mantida dos Si foi o câmbio manual de 6 marchas, que segundo a Honda teve os engates encurtados em 10%. Ainda não foi desta vez que a marca passou a oferecer uma versão automática ou automatizada de dupla embreagem para seu esportivo, o que poderia ampliar o mercado do modelo. Mas é a filosofia da casa para carros esporte, que também se repete no endiabrado Civic Type R. Esportivo Honda sem pedal de embreagem? Somente o supercarro NSX.

Honda Civic Si impressões no Japão

Em relação ao Civic Touring, o Si ganhou discos de freio dianteiros maiores, suspensão mais rígida (30% na dianteira e 60% a mais na traseira) e buchas sólidas na dianteira e traseira, além de braços de controle ultra rígidos na dianteira, vindos do Type R. Pela primeira vez há dois modos de condução, Normal e Sport, que variam rigidez da suspensão (os amortecedores são adaptativos) e o peso da direção, que originalmente já é mais firme que a do Touring. 

Para valorizar a agilidade, o Si coupé ficou menor e mais leve nesta geração. Mede 4,50 metros comprimento (5 cm a menos) e pesa 1.310 kg (contra 1.359 kg do anterior). Em compensação, a distância entre-eixos aumentou de 2,62 m para 2,70 m (mesma do Civic sedã), com ganhos na estabilidade em altas velocidades e também no espaço para as pernas no banco traseiro. Já o porta-malas praticamente manteve o tamanho: 337 litros contra 330 de antes.    

Como anda?

Para este primeiro contato com o novo Si a Honda nos levou até o autódromo de Sodegaura Forest, uma pista privada com 2,4 km e 14 curvas - na medida para saborear as reações do cupê numa tocada esportiva. Com apenas 4 voltas no Si (mais 6 no Type R e 4 no NSX, que falaremos a respeito em outra oportunidade), o jeito foi chegar já "socando a bota". E a primeira coisa que notei foi como é fácil tocar o Si rápido, assim como era na geração anterior. 

Honda Civic Si impressões no Japão

Um pouco daquela coisa lúdica de levar as rotações às alturas se perdeu no novo Si, mas em compensação a resposta do acelerador está mais contundente desde baixos giros - mérito do turbo. Não é mais preciso esperar o motor "encher" para o Civic mostrar a que veio. É verdade também que não há mais o mesmo ronco do anterior, mas o escape ainda emite um som agradável para um motor turbo. 

À minha frente, o instrutor num Type R parecia não querer deixar o Si mostrar todo seu potencial, então comecei a cutucá-lo para acelerar mais - no que fui atendido apenas poucas vezes. O jeito então foi dar um pouco de espaço e deixar para chegar mais forte nas entradas de curva. O Si continua com uma direção bastante direta e comunicativa, o que ajuda a apontar a dianteira onde se quer. Também é possível sentir bem as informações do piso, aumentando a confiança. Como havia chovido na manhã do teste, a pista estava com alguns trechos molhados e, na parte de relevo, com poças suficientemente grandes para fazer o carro deslizar. 

Foi o tempero perfeito para provar o equilíbrio do Si, que não perdia a compostura mesmo quando entrava no piso escorregadio em velocidade. Uma leve saída de frente era facilmente corrigida pela direção rápida, enquanto os freios mostraram boa mordida e pedal firme, além de nenhum sinal de fading - mesmo sendo usado direto por um grupo de jornalistas. Evoluída no novo Civic, a dinâmica ficou ainda mais apurada no Si, com baixíssima inclinação da carroceria nas curvas e desvios, além de movimentos longitudinais muito controlados. Ajudam também as rodas aro 18" com largos pneus 235/40, que mostraram boa aderência no circuito. Outro ponto alto é o câmbio, que já era ótimo, e agora está com os engates ainda mais fáceis e precisos (além de curtos), com a alavanca quase sendo "puxada" para a marcha seguinte. Por sua vez, a embreagem manteve o pedal leve e com boa sensibilidade.

Honda Civic Si impressões no Japão

Em resumo: se a gente já gostava do Si anterior (lembra do especial de esportivos que comentei?), o novo tem tudo para manter a escrita. Ganhou a força que faltava em baixa e uma dirigibilidade ainda mais fácil e divertida. Esperamos apenas que a Honda do Brasil não invente de aumentar a altura da suspensão como fez no modelo anterior, sob pena de prejudicar o estilo e também a ótima estabilidade do cupê. 

Quanto custa?

Apesar do pouco tempo ao volante, ficou clara a evolução do Si. Precisaremos esperar nosso teste instrumentado para sabermos exatamente se ele ficou mais rápido nas acelerações, mas nas retomadas é quase certo que os tempos serão reduzidos. Também é notável a melhora dos freios, enquanto a suspensão e a direção, que já eram afiadas, foram ainda mais aprimoradas. A questão é que, em se tratando de mercado brasileiro, o novo Si terá um público bem específico. 

Honda Civic Si impressões no Japão

Preços ainda não foram definidos, pois o carro só chega no fim do primeiro semestre do próximo ano - virá importado do Canadá. Mas, pelas nossas conversas com o pessoal da Honda, não espere nada abaixo de R$ 150 mil (talvez até um pouco mais), grana suficiente para levar um VW Golf GTI com motor 2.0 turbo, câmbio automatizado DSG e mais equipamentos (o preço dele parte de R$ 132.250). Até a chegada do Si, porém, o Golf terá passado por uma leve reestilização e também pode sofrer alteração nos preços. 

De todo modo, não deixa de ser reconfortante saber que a Honda não vai abandonar o segmento dos esportivos no Brasil. Com o Si a caminho, agora nos resta sonhar com a vinda também do Type R! 

Por Daniel Messeder, de Tóquio

Viagem a convite da Anfavea       

Honda Civic Si 2018

MOTOR dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.498 cm3, comando duplo, turbo e injeção direta, gasolina
POTÊNCIA/TORQUE 208 cv a 5.700 rpm / 26,5 kgfm de 2.100 a 5.000 rpm
TRANSMISSÃO manual de 6 marchas; tração dianteira
SUSPENSÃO independente McPherson na dianteira e multilink na traseira
RODAS E PNEUS alumínio, aro 18", pneus 235/40 R18
FREIOS discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS e EBD
PESO 1.310 kg em ordem de marcha
DIMENSÕES comprimento 4.505 mm, largura 1.798 mm, altura 1.409 mm, entre-eixos 2.700 mm
CAPACIDADES tanque 56 litros; porta-malas 337 litros
PREÇO R$ 150.000 (estimado)

 

Galeria: Honda Civic Si (Tokyo 2017)

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