Pai do Maverick e do Pantera, Tom Tjaarda morre na Itália aos 82

Morte de um dos designers mais importantes do mundo passa quase batida. Mas não para quem ama automóveis

Tom Tjaarda's creations Tom Tjaarda's creations

Minha recordação mais antiga de minha paixão por carros é um De Tomaso Pantera branco da Matchbox que eu carregava para todos os lugares. Eu costumava brincar com ele ou apenas admirar suas linhas enquanto meu pai montava, na unha, um Chevrolet Chevette que foi comprando aos poucos, no ferro-velho, numa época muito ruim de grana que enfrentamos. Eu o ajudava entregando as ferramentas que ele me pedia durante a montagem. O Chevettinho era instrumento de trabalho, que meu pai usava para exercer o ofício de vendedor. Devo a ele e ao pai do Pantera não só meu gosto por carros, mas também minha profissão. Por isso torci para que a despedida do pessoal do Autofans.be não fosse real. A notícia da morte de Tom Tjaarda não estava em mais lugar nenhum. "Recebemos a notícia de outros jornalistas belgas em nosso Facebook, que se despediram deles e expressaram suas condolências à famílila. A página da Wikipedia sobre ele também já foi atualizada. Não temos uma fonte única, mas pessoas que o conheciam e estavam próximas dele quando ele morreu", disse Sven Geiregat, editor do site. Tom Tjaarda, pai do De Tomaso Pantera, do Ford Maverick e do Fiat 124 Spider, entre tantos dos carros mais bonitos do mundo, não estava mais nele. Se você nunca ouviu falar do cara, me permita contar um pouco sobre ele.

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Tjaarda nasceu Stevens Thompson Tjaarda Van Sterkenberg em Detroit em 23 de julho de 1934. Ele era filho de Joop Tjaarda van Starkenburg, que adotou o nome de John Tjaarda quando chegou aos EUA, em 1923. Considerando que ele também era pai do Lincoln Zephyr, e um designer de renome, Tom estava bem encomendado desde a mais tenra idade. Ainda que o convívio com seu pai talvez tenha sido limitado, já que ele se divorciou da mãe, Irene Thompson, em 1939.

A carreira de Tom Tjaarda teve início em 1958, pouco depois de ele se formar arquiteto pela Universidade de Michigan. Um de seus professores sugeriu que ele trabalha para a Carrozzeria Ghia e o então menino achou a ideia ótima. Mudou de mala e cuia para Turim e desenhou o Innocenti 950.

 

 

Em 1961, Battista "Pinin" Farina, de olho no talento de Tjaarda, levou-o para trabalhar em seu estúdio. Foi deste período que surgiram modelos como o Fiat 124 Spider, recentemente renascido sobre a plataforma do Mazda MX-5 Miata, o Ferrari 365 California e o Chevrolet Corvette Rondine, o único Corvette a ter carroceria de aço. Essa beleza ao lado da qual ele aparece na foto principal desta homenagem.

 

 

Em 1968, Tjaarda voltou para Ghia, onde desenhou o De Tomaso Pantera que, em escala bastante reduzida, se tornaria meu carrinho preferido. Por lá, Tjaarda também projetou o Maverick. Não se sabe se há relação entre as duas coisas, mas a Ford acabaria comprando a Ghia em 1970. E Tjaarda se tornaria, com isso, o criador de modelos como o primeiro Ford Fiesta.

 

 

Tjaarda deixou a Ghia em 1977, tornando-se consultor de design da Fiat até abrir sua própria empresa, a Dimensione Design, em agosto de 1984. A empresa mudou de nome em 2003, para Tjaarda Design. Em seus últimos anos, o designer se dedicou a ser jurado em diversos concursos de veículos clássicos. Com câncer, Tjaarda se tratou no hospital Humanitas Gradenigo, em Turim, até seu falecimento, no dia 1º de junho.

 

 

Ele deixa Paola Bronzino, sua esposa. Eles não tiveram filhos. Seu funeral será na igreja Beata Vergine delle Grazie, em Crocetta, Turim, no dia 5 de junho, às 10h (horário local), e seu corpo será cremado no Tempio Crematorio, às 11h35, conforme o obituário publicado no jornal italiano La Stampa.

 

 

Meu Pantera branco sumiu da minha casa inexplicavelmente. Procurei por anos onde ele poderia estar. Desconfio até hoje de uma vizinha sacana que pode ter roubado meu carrinho. Até poderia comprar um novo, mas não seria a mesma coisa. Como até podemos ter designers capazes de coisas tão belas quanto as que Tjaarda criou, mas ninguém será capaz de substituí-lo. Deixo apenas meu agradecimento a este cara. E o desejo de que, por meio desse texto, aqueles que não o conheciam tenham a chance de saber tudo que ele fez. Obrigado, Tom, de coração. 

Fotos: arquivo Motor1.com

 

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