O Inovar-Auto pode ter trazido benefícios, mas teve vários pecados. Um deles pode até ser punido pela OMC (Organização Mundial do Comércio): protecionismo. O maior problema para a indústria, porém, foi seu curto alcance. Inclusive em termos de tempo. Aprovado em 2012, ele termina no final de 2017. Para um segmento que trabalha com prazos de 5 anos apenas para o desenvolvimento de um produto, em muitos casos, foi pouco. É por isso que a Anfavea fala agora em uma "Rota 2030". Em outras palavras, um plano de longo prazo que substitua o Inovar-Auto para garantir competitividade internacional às fabricantes de carros instaladas no Brasil.
"O Brasil tem negociado uma série de acordos de livre comércio, principalmente com nossos vizinhos, mas também com a União Europeia. Se este acordo vingar sem que a indústria brasileira seja competitiva, o que teremos é uma desindustrialização do Brasil. A produção será substituída por importações. Precisamos estar em pé de igualdade, com produtos que possam ser vendidos em qualquer mercado", diz Antonio Megale, presidente da Anfavea.
Um termômetro dessa competitividade é o mercado chileno. Aberto a importações de qualquer país, ele tem uma enorme quantidade de modelos fabricados na Europa à venda. Modelos muitas vezes similares aos fabricados no Brasil, que está muito mais próximo. E poderia chegar a preços mais competitivos àquele mercado. Não fosse nossa estrutura tributária, as leis que mudam ao sabor do vento e os altos custos de logística nacionais. Talvez seja mais caro mandar automóveis cordilheira acima do que em um navio que cruza o Atlântico.
O substituto do Inovar-Auto, tenha o nome que for, vai mirar em maior produtividade, redução de custos, pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias e principalmente no setor de autopeças. "Temos de capacitar os fornecedores a venderem não só para a indústria brasileira, mas também para exportar componentes e atender outros mercados. É preciso reforçar a cadeia de autopeças", diz o executivo.
Como a Argentina também tem planos ambiciosos para sua indústria, Megale diz que gostaria de criar uma complementariedade entre as indústrias de autopeças brasileiras e argentinas. O ambiente mais especializado evitaria choques de interesse entre os países, mas também dependeria de um bom relacionamento entre os vizinhos e do reforço do Mercosul. No governo de Cristina Kirchner, a Argentina barrou a entrada de milhões de produtos brasileiros em seu mercado, inclusive automóveis e componentes. Dependendo do mandatário do momento, a estratégia pode funcionar. Ou não...
É por isso que a Anfavea também quer um reforço de segurança jurídica no pacote, com leis estáveis e de longo prazo. É o que falta ao país para receber investimentos de grande porte: regras claras e que não mudem de um governo para o outro. Ou seja, a tal da "previsibilidade" que Megale fala desde que assumiu a Anfavea.
Além disso, há também a questão da infraestrutura. É preciso ter uma rede de transporte robusta e de baixo custo. Navegação de cabotagem, para não depender apenas de nossas péssimas rodovias. Ferrovias de boa qualidade, grande capacidade e capazes de chegar dos centros produtores até onde estão os clientes. Em outras palavras, capilaridade. Com menos burocracia.
Se o plano endereçar estas demandas, ou pelo menos uma boa parte delas, talvez já se crie um ambiente propício a transformar o Brasil em algo que ele luta desde sempre para ser: um grande mercado consumidor de automóveis e também uma plataforma de exportação. Mas talvez não seja o suficiente para justificar ou estimular investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Resta saber como o substituto do Inovar-Auto fará essa mágica. Acompanharemos de perto.
Fotos: divulgação e arquivo Motor1.com
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