Há alguma razão lógica para a Maserati construir o Levante, o primeiro utilitário esportivo a surgir vindo de um fabricante italiano de carros de alto desempenho? Pergunte isso para algum contador de Modena e a resposta é clara: as fabricantes precisam de capital para continuar a construir os superesportivos, e os SUVs são o caminho.
Quando testo SUVs de marcas que normalmente não os teriam (leia-se marcas de esportivos), minhas expectativas tendem a ser baixas. O desafio não é fazer um "jipão", mas uma bela e natural extensão da marca. E a Maserati, como a Rolls-Royce e a Lamborghini, provavelmente pensou em como fazer isso e calar quem pergunta o tempo todo o motivo destas marcas insistirem em utilitários esportivos.
Pensando assim, fui com o Levante para uma estreita estrada cheia de curvas na serra de Monterey, a Nürburgring da Califórnia (Estados Unidos). Na primeira curva, em subida e com raio negativo, reduzi as marchas e deixei o motor de origem Ferrari cantar, com a melodia invadindo o interior enquanto evito o precipício que me ameaça sem nenhuma proteção. O Levante contorna as curvas da mesma forma que um sedã do mesmo tamanho, e não se abala com as mudanças de elevação, curvas abertas e fechadas. Tudo isso enquanto eu estou cercado de couro com toque suave, como os de bolsas e luvas carissímas, e com 20 centímetros de distância do solo.
Estradas como esta são feitas para levar esportivos ao limite, o que a faz perfeita para a primeira volta do Levante. Assim que fiz a segunda curva, reduzi da segunda para a primeira marcha, o motor gritou e o escapamento deu alguns estouros, todos perceberam: ele é apenas um Maserati maior. E extremamente prazeroso.
Uma linha de cintura alta dá ao Levante estilo e presença, causando olhares de dúvida se ele tem o tamanho de um Macan ou de um Cayenne. (É o segundo).
O Levante chega em um momento de mudanças no mercado de SUVs. Lembra do Kubang, a primeira tentativa da Maserati de ter um SUV compacto? Ele foi mostrado há cinco anos, equivalente a uma vida inteira de um veículo. Considerando que era importante para a marca ter um SUV rústico e agressivo para ter autenticidade, tudo mudou. O ponto de diferenciação entre as fabricantes está em como eles conseguem colocar a essência dos demais modelos da linha em um carro mais alto. A transformação aconteceu, por exemplo, com o Mercedes-Benz Classe M, que ajudou a definir o estilo do segmento, e mudou para um carro mais refinado, o GLE. O vocabulário que define um SUV está mudando.
O Levante continua a tradição da Maserati de batizar seus carros com nome de famosos ventos. Se você não é um meteorologista, pode ficar impressionado por saber que "Levante" se refere ao vento do Mediterrâneo associado a sistemas de alta pressão. É seguir uma tradição com um produto nada tradicional. Alguns compradores do Levante estarão preocupados com a história, que teve a colaboração da Daimler Chrysler em seus tempos áureos: um projeto europeu coordenado por americanos (pela marca pertencer ao grupo FCA). Ao menos eles terão um enorme tridente na grade, o que transforma o Levante em um objeto italiano de desejo.
Trazendo muito do Porsche Cayenne em termos de desenho e função, o Levante é totalmente Maserati, mas parece que se inspira em alguns concorrentes. Isso ajuda a explicar o porquê de ele parece mais um Ghibli Wagon que um Toyota Land Cruiser. E ele faz mais do que simplesmente parecer um Cayenne: ele se sente como um, também, quando você abre a enorme porta dianteira e se acomoda como se fosse um sedã. Uma linha de cintura alta dá ao Levante um status e presença, causando olhares de admiração e dúvida se ele tem o tamanho de um Cayenne ou de um Macan. É o último. Apesar do tamanho externo, a capacidade de carga no porta-malas fica pouco abaixo do BMW X5 e Porsche Cayenne - mas os proprietários não irão usar o Levante para isso.
Um olhar mais atento ao design revela lindos cortes e superfícies por fora, e um acabamento requintado por toda a cabine.
Um olhar mais atento ao design revela lindos cortes e superfícies por fora, e requintada costura por toda a cabine. O acabamento interno é suntuoso sem ser demais, embora você possa encomendar um pacote da Zegna para bancos e portas. Este veio sem as "frescuras". Sim, algumas partes parecem ter vindo do Chrysler 300 ou da Ram 1500, mas lembre-se que estas peças são de origem Mercedes-Benz.
O sistema multimídia é o melhor que existe, com Apple CarPlay e muitas funções integradas na tela sensível ao toque. Contrastando, a interface de controle para o motorista poderia ser mais lógica. Você precisa de um curso básico da Maserati para entender qual a forma mais eficiente de usar o sistema, principalmente de modos de condução, que mais parecem nomes na sua lista de telefones de emergência. Por mais que tenha tentado, não consegui usar o modo Off Road, onde a suspensão é elevada para quase 25 cm, útil para as trilhas com lama no caminho para uma festa de luxo.
Percorri as estradas de Monterey no Levante S com as especificações para os Estados Unidos. Não há muitas mudanças além dos instrumentos serem em milhas e não em quilômetros, e certamente nenhuma mudança em abafadores do escapamento. O Levante estará disponível na versão básica e na S, que tem mais potência e equipamentos. Sob o capô de ambos, o V6 3.0 biturbo com 345 cv e 424 cv na versão S. A Maserati estima aceleração de 0 a 96 km/h em cerca de seis segundos para o Levante e 5,2s para o S, o posicionando os dois como SUVs esportivos. Diferente do Ghibli, o Levante será oferecido apenas com tração integral nos Estados Unidos.
Pise fundo no acelerador e deixe as rotações subirem e o som do escapamento com fúria.
Pise fundo no acelerados e deixe a rotação subir, e o som do escapamento responde com um som furioso, berrando e estourando entre as trocas de marcha. Seja no modo automático, estando ou não no modo Sport, o câmbio de oito marchas faz as trocas com gosto. Pelas onduladas descidas da minha estrada favorita, o Levante sentiu seu tamanho, o que significa que pareceu maior e mais pesado que o esperado. Selecione os dois modos mais esportivos e uma suspensão mais firme surge - um sistema pneumático nas quatro rodas é item de série em qualquer Levante - mas não faz muito para melhorar esta impressão. Independente da escolha da suspensão, o rodar firme copia qualquer ondulação e imperfeição do asfalto. O Rolls-Royce Ghost, não.
Sai do trecho do test drive para levar o Levante para velocidades mais altas, e ele mostrou sólido e firme no uso diário. Direção rápida, com respostas verdadeiras, não virtuais, deixou a pilotagem prazerosa. A mágica vem de um sistema hidráulico, no lugar da elétrica dos concorrentes. No modo I.C.E (algo como o Comfort), o Levante fica mais calmo, deixando as respostas mais suaves e eficientes.
A linha de produtos da Maserati cria uma bolha, o que é um efeito positivo para os entusiastas da marca.
Depois de um curto tempo atrás do volante, você começa a amar o jeito que o Levante tenta te convencer que está dentro de um supercarro. É uma perua alta calibrada pela Maserati. Os entusiastas devem aplaudir a equipe da Maserati, agradecendo.
Se o Levante tem algum defeito, é existencial. Enquanto a Maserati estava fazendo o Levante, algo que aparentemente acontece desde a aparição do conceito Kubang, a competição cresceu e ficou mais forte. O Jaguar F-Pace faz quase tudo que o Levante faz, por praticamente metade de seu preço. Tudo bem que os compradores da Jaguar não irão aos mesmos lugares dos Maserati, mas não dá para negar que eles são similares - principalmente o F-Pace R Sport, com 380 cv - em termos de comportamento de direção e desempenho. A linha de produtos da Maserati, de qualquer forma, vive em uma bolha, o que é bom para seus compradores entusiastas.
Se você está considerando ter um SUV esportivo, coloque o Levante na sua lista se você tem a grana na conta e todos verão seu tridente. A lógica e razão aparecerão com o tempo.
Fotos: Jeff Jablansky / Motor1.com
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