Todo novato em um mercado estabelecido precisa apresentar credenciais convincentes para se firmar. No caso de um automóvel, o que credencia mais do que números estonteantes de desempenho? Que tal 1.065 cv, 183,6 kgfm, um 0 a 100 km/h em 2,4 s e autonomia de 700 km? Tudo isso em um carro elétrico... São esses os dados apresentados pela Faraday Future para seu primeiro carro, o Faraday Future 91, oficialmente revelado na CES (Consumer Electronics Show), em Las Vegas, nos EUA.
Não era sem tempo. A empresa vinha colecionando apenas más notícias, como a saída de alguns de seus principais executivos, a acusação de que não tinha dinheiro para finalizar sua fábrica em Nevada, nos EUA, e a descrença crescente de público e crítica. Nada como um protótipo funcional para afastar, ou pelo menos diminuir, as suspeitas.
O Faraday Future 91 tem 5,25 de comprimento, 2,28 m de largura (provavelmente contando retrovisores, e mesmo assim ele é quase um Hummer H1), 1,60 m de altura e um entre-eixos de incríveis 3,20 m. Tudo graças a sua plataforma, a VPA (Variable Platform Architecture), que varia de tamanho dependendo do pacote de baterias que carrega em sua base. O do FF 91 é de 130 kW e rende os tais 700 km de autonomia que já mencionamos. Como medida, o maior pacote oferecido pelos modelos Tesla tem 100 kW.
A Faraday Future diz que a capacidade de recarga deste pacote é de 500 milhas por hora, ou algo como 805 km de autonomia em apenas uma hora na tomada, obviamente em um carregador rápido, com capacidade de 200 kW. A recarga completa, portanto, levaria menos de uma hora, considerando a autonomia máxima de 700 km. O problema é que não há muitos carregadores tão fortes. Os Superchargers, da Tesla, entregam 120 kW. A empresa terá de investir na construção destes supercarregadores. Enquanto eles não surgem, ela diz que, em uma tomada de 240V, o carro pode recuperar 50% de sua carga em 4,5 horas...
O FF 91 tem portas que se abrem automaticamente, com apenas um toque em qualquer parte de sua superfície. As traseiras são do tipo suicida, com abertura para trás, o que teoricamente eliminaria a coluna B, mas não no novo crossover: ela está lá. A exemplo do Chrysler Portal Concept, o modelo tem reconhecimento facial, mas não se apoia apenas nisso para a abertura das portas. Considerado por sua fabricante o primeiro veículo efetivamente sem chave, o FF 91 usa o FF ID, um aplicativo de celular, para reconhecer seu proprietário e se por em movimento.
Outra das promessas da marca é uma oferta de mais autonomia do que a de qualquer outro modelo concorrente. Ele traz o pacote de sensores ADAS (sigla que a marca não esclarece o que é), composto por 13 radares de longa e de curta distância, 12 sensores ultrassônicos, 10 câmeras de alta definição e um LIDAR (Light Detection And Ranging) retrátil e 3D. Este aparelho usa a reflexão da luz para medir a distância em relação aos objetos que estão ao redor. Tudo muito bonito e interessante não fosse o vexame que o carro deu em sua apresentação, bem diante do CEO da empresa, YT Jia. Confira o vídeo em 1:11:00.
Chamado a estacionar sozinho, ele continuou exatamente no mesmo lugar...
Como dissemos no começo deste texto, um dos maiores desafios da empresa será se credenciar diante do público. E esse tipo de coisa, convenhamos, não ajuda muito a construir uma boa reputação, que o apresentador do evento preferiu chamar apenas de "timidez" do FF 91. Só isso fará com que clientes interessados nos números maiúsculos apresentados pela empresa comecem a fazer reservas pelo carro, abertas a partir de sua apresentação oficial.
Qualquer um disposto a comprar um FF 91 terá de depositar US$ 5.000, com direito a reembolso total caso desista da compra mais adiante. Os 300 primeiros terão a opção de comprar a versão de lançamento do carro, chamado de Alliance Edition, em março deste ano. A empresa apresenta o crossover como um modelo de luxo, com bancos com tecnologia de gravidade zero (como os do Nissan Kicks), e já se fala em um preço final de US$ 150 mil a US$ 200 mil. Os Tesla Model S e Model X custam no máximo US$ 100 mil, uma quantia já bastante salgada, mesmo para o mercado americano.
Resta aguardar a reação do público ao modelo e como andará seu processo de reservas. Dificilmente ele será tão popular quanto o do Model 3, que teve mais de 400 mil interessados, mas isso deve depender mais da capacidade do bilionário YT Jia de mostrar serviço do que de qualquer outra coisa. Terminar a fábrica já será um belo passo. Bem melhor do que meras promessas que podem não se cumprir.
Fotos: divulgação
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