Quando o HB20 ainda era um embrião, em 2009, executivos da Hyundai já vinham ao Brasil saber o que fazia do VW Gol o campeão de vendas por tanto tempo. A missão deles, não escondiam, era criar um compacto exclusivo para o mercado nacional e que fosse capaz de bater o best-seller da Volkswagen. Mas talvez nem mesmo o mais otimista dos coreanos imaginasse que o HB fizesse tanto sucesso em tão pouco tempo e, ao lado do Chevrolet Onix (que também chegou em 2012), desbancasse o então eterno líder.
A resposta da VW tardou, mas não falhou. O Gol 2017 aposta em duas frentes que deram certo em seus rivais: motor 1.0 3-cilindros (HB20) e conectividade (Onix com seu Mylink). De quebra, ganhou um interior mais caprichado e leves retoques visuais, para dar um ar de novidade. Em nossa primeira avaliação ficou evidente o melhor desempenho e, principalmente, o baixo consumo de combustível do hatch de coração novo. Mas será o suficiente para a revanche em cima do HB20?
Aproveitamos que o compacto da Hyundai também foi atualizado recentemente (embora muito de leve) e reunimos os dois em suas versões 1.0 intermediárias - Gol Comfortline e HB20 Comfort Plus. Na verdade nossa intenção era juntar também o Onix e o Ka, mas o hatch da GM vai mudar em breve (reestilização e adoção do Mylink de segunda geração) e a Ford alegou não ter mais o modelo em sua frota de imprensa. A briga, então, será mano a mano.
Uma das apostas da VW está no preço do Gol, que foi reduzido em média 2,5%. A versão Comfortline sai por R$ 42.690, trazendo como itens de série ar-condicionado, direção hidráulica, vidros dianteiros elétricos, trava elétrica, rodas aro 15" com pneus 195/55, faróis de neblina, chave-canivete, abertura elétrica da tampa traseira, iluminação do porta-malas, computador de bordo e rádio Media Plus com Bluetooth e comandos no volante. Já o HB20 Comfort Plus sai por R$ 43.745, mas vem com alguns extras: ajuste da coluna de direção, retrovisores elétricos com seta embutida e vidros elétricos também nas portas traseiras. O sistema de som é semelhante, com entrada USB, comando no volante e Bluetooth. Fica devendo somente os faróis de neblina, em relação ao rival. No Gol, a central multimídia de 5" polegadas é opcional, enquanto no HB é oferecida como acessório.
Lado a lado, o Gol não esconde a idade de seu projeto original, apesar da recente aplicação de botox. A reforma visual da VW foi eficiente, a ponto de não parecer uma adaptação sobre uma carroceria já datada, mas a modernidade do HB20 se impõe como um todo. Ele tem perfil mais dinâmico e linhas mais limpas, com destaque para a nova grade trapezoidal - que parecia ser o que faltava ao modelo. O Gol ficou melhor especialmente de traseira, com lanternas maiores e vincadas, lembrando o Polo europeu. No Hyundai, não entendemos porque as versões mais baratas não receberam a nova lanterna do modelo reestilizado... Haja economia!
Parecer um carro de categoria superior foi a meta tanto da Hyundai quanto da VW na parte interna de seus compactos. Enquanto o HB20 reproduz em formato reduzido o painel do Elantra, incluindo os belos mostradores envoltos por copinhos, no Gol 2017 a inspiração veio do Golf. Painel mais retilíneo com saídas de ar horizontais, volante, quadro de instrumentos com relógios maiores, aplique com inserto imitando aço escovado... Nem parece um Gol! Ao menos até você olhar para os painéis de porta e ver que eles continuam os mesmos do "G5" original, pobres de acabamento e com um porta-objetos que mal cabe uma caixa de óculos.
Observando mais atentamente, dá para sacar que o novo painel do Gol não "conversa" com o restante da cabine. Os bancos são os mesmos de antes, desconfortáveis (falta apoio para as coxas e o encosto é muito reto) e com ajuste de altura que só muda a inclinação do assento, além dos botões dos vidros elétricos traseiros no painel. O HB também tem seus pênaltis, com o mesmo problema de ajuste de altura do banco do motorista (feito por uma roldana) e o botão do computador de bordo alojado no painel (acesso ruim). Mas o desenho interno e o acabamento seguem o mesmo padrão por inteiro, deixando o ambiente mais agradável que no VW.
Espaço e porta-malas são equivalentes, acomodando quatro adultos com conforto ou cinco com algum aperto atrás. Com o carro cheio, porém, o HB20 sente demais o peso e a suspensão traseira bate seca com facilidade em nossas ruas desniveladas - algo que a Hyundai deveria ter corrigido na mudança do ano passado. O Gol, embora mais "durinho", lida melhor com o piso local. Focada no conforto, a engenharia coreana deixou a suspensão macia e a direção hidráulica bem levinha nas manobras, parecendo até um sistema elétrico (que só existe no aventureiro HB20X). No VW, a direção (também hidráulica) é bem mais pesada e o câmbio, embora tenha engates curtos e precisos, não tem a mesma suavidade do Hyundai.
Essas características deixam o HB20 mais confortável na cidade - ressalva feita à suspensão, que embora macia não absorve muito bem os impactos. Fora isso, o motor da Hyundai responde melhor em giros iniciais. Já o novo Gol 1.0 se revelou um interessante estradeiro. Com as marchas mais longas que ganhou agora, o hatch viaja em silêncio e com tanta disposição que mal parece "mil". Em velocidade elevada sua direção é menos sensível, além de a suspensão firme conferir uma estabilidade que o rival não acompanha. Na estrada o volante do HB20 fica leve demais, causando balanço da carroceria mesmo em desvios suaves.
O Gol melhorou muito com a adoção do motor EA-211 de 3-cilindros. Com 82 cv e 10,4 kgfm quando abastecido com etanol (contra 80 cv e 10,2 kgfm do HB), o hatch precisou de 15,7 segundos para chegar aos 100 km/h em nossos testes - enquanto o antigo 1.0 TEC 4-cilindros ficava na casa dos 17 segundos. Só não foi melhor por conta do câmbio alongado: nas provas de aceleração, ficou evidente como existe um "buraco" da segunda (ainda curta) para a terceira (longa), que faz o giro cair muito e o carro perder o pique. Mas a explicação para isso é que a VW priorizou o consumo, fato que também ficou evidente em nossas medições, com média de 13,7 km/l na estrada, contra 12,7 km/l do HB20. Na cidade o VW também levou a melhor, com 9,6 km/l ante 8,4 km/l do oponente - sempre usando etanol.
As respostas mais prontas do HB20 percebidas no uso cotidiano se confirmaram na pista: ele foi de 0 a 100 km/h em 15,3 segundos e abriu boa vantagem nas retomadas, principalmente na prova de 80 a 120 km/h em quarta marcha - na qual venceu com 2,5 segundos de margem. A decepção ficou por conta das frenagens, exigindo quase 45 metros até a parada total quando vindo a 100 km/h. O Gol, com novos discos na dianteira (256 mm contra 239 mm de antes), precisou de apenas 40,9 metros na mesma condição. Outra mancada do Hyundai é a manutenção do velho tanquinho de gasolina para partida a frio do sistema flex, que só as versões 1.6 do HB20 aposentaram.
Dadas as atuais circunstâncias de mercado e imagem, será difícil o Gol voltar a vender mais que o HB20. O hatch coreano caiu no gosto do público e ainda exibe um conjunto melhor, sendo bem equilibrado em design, construção, conforto e eficiência por um preço pouca coisa maior. Mas também é preciso reconhecer que o ex-campeão avançou em pontos importantes, reduzindo a vantagem do rival como produto, e deve reconquistar alguns fãs. Por Daniel Messeder Fotos Equipe CARPLACE
Motor: dianteiro, transversal, três cilindros em linha, 12 válvulas, comando variável na admissão, 999 cm3, flex; Potência: 75/82 cv a 6.250 rpm; Torque: 9,7/10,4 kgfm a 3.000 rpm; Transmissão: câmbio manual de cinco marchas, tração dianteira; Direção: hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS; Rodas: aro 15" com pneus 195/55 R15; Peso: 998 kg; Capacidades: porta-malas 285 litros, tanque 55 litros;Dimensões: comprimento 3.897 mm, largura 1.656 mm, altura 1.464 mm, entreeixos 2.466 mm
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 6,0 s | |
0 a 80 km/h | 10,2 s | |
0 a 100 km/h | 15,7 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em 3a | 14,7 s | |
80 a 120 km/h em 4a | 17,8 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 40,9 m | |
80 km/h a 0 | 26,0 m | |
60 km/h a 0 | 14,6 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 9,6 km/l | |
Ciclo estrada | 13,7 km/l |
Motor: dianteiro, transversal, três cilindros em linha, 12 válvulas, comando variável na admissão, 998 cm3, flex; Potência: 75/80 cv a 6.200 rpm; Torque: 9,4/10,2 kgfm a 4.500 rpm; Transmissão: câmbio manual de cinco marchas, tração dianteira; Direção: hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS; Rodas: aro 15" com pneus 185/60 R15; Peso: 990 kg; Capacidades: porta-malas 300 litros, tanque 50 litros; Dimensões: comprimento 3.920 mm, largura 1.680 mm, altura 1.470 mm, entreeixos 2.500 mm
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 6,1 s | |
0 a 80 km/h | 10,2 s | |
0 a 100 km/h | 15,3 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em 3a | 13,7 s | |
80 a 120 km/h em 4a | 15,3 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 44,9 m | |
80 km/h a 0 | 27,9 m | |
60 km/h a 0 | 15,6 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 8,4 km/l | |
Ciclo estrada | 12,7 km/l |
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