Assim que colocamos as mãos na MT-07 fora do circuito fechado onde aconteceu o evento de lançamento, nossa ideia era fazer um cara-a-cara com a nova Honda CB 650F. Afinal, são duas nakeds de cilindrada média e pensadas para o uso urbano, porém com a diferença de a Yamaha ter dois cilindros e a Honda, quatro. Bastaram algumas voltas com a MT, no entanto, para sentirmos que na verdade a nova Yamaha não é exatamente uma rival da CB 650, pois sua facilidade de pilotagem e tamanho compacto estão mais para a CB 500F, bicilíndrica - ela fica no meio termo entre as duas Honda. Fora isso, também há outras rivais à espreita, como a Kawasaki ER-6n, que apesar de já ter alguns anos de estrada ainda está no coração dos que apreciam uma bicilíndrica fogosa na cidade e esperta na estrada. Resolvemos então fazer mais do que um simples comparativo, e em vez disso mostrar como se sai a MT-07 quando confrontada com cada uma das concorrentes. Se você está pensando numa naked de R$ 24 mil a R$ 33 mil, sua escolha pode estar aqui!
Camaleoa
Analise friamente a ficha técnica da MT-07 e você não verá nada de espetacular: chassi de aço, suspensão de garfos comuns na dianteira, acelerador por cabo... ou seja, nada dos refinamentos trazidos pela irmã maior MT-09. Mas a verdade é que a 07 é uma moto apaixonante, principalmente na cidade. Se o conjunto é feijão com arroz, o tempero da Yamaha fez a diferença na receita, e o resultado é saboroso.
Ainda que não use alumínio na estrutura, a nova MT pesa somente 182 kg (em ordem de marcha) nesta versão com ABS avaliada. E com uma largura de magros 745 mm, ela é praticamente uma street 250 no caos urbano - até o ângulo de esterço agrada para uma naked. Acaba que você tem nas mãos uma moto pequena no tamanho e grande no motor, um bicilíndrico de exatas 689 cc capaz de entregar 75 cv e, o mais importante, 6,9 kgfm de torque. Um propulsor que, aliado às primeiras marchas curtinhas do câmbio de seis velocidades, faz da 07 uma verdadeira espoleta. Impressiona como sobra força em qualquer regime de rotação ou marcha escolhida, fazendo jus ao Master of Torque que esta Yamaha carrega no nome.
Poucas motos são tão boas de tocar na cidade quanto a Kawa ER-6n, na opinião deste escriba, mas a 07 acaba de deixar a rival para trás ao oferecer respostas ainda mais ágeis com um conforto inigualável. A nova MT traz da 09 o conceito de suspensões de curso mais longo (130 mm) e acerto relaxado, de modo que a buraqueira cotidiana passa suave por baixo do piloto, ao mesmo tempo em que o câmbio é mais macio e preciso, e a embreagem é mais leve. Por fim, a moto se mostra parceira demais nas mudanças rápidas de direção, bailando entre os carros com facilidade. Em resumo, não preste atenção nos radares e você perderá sua CNH em menos de uma semana...
OK, que a MT-07 é boa companheira urbana a gente já imaginava, mas e na estrada, é divertida o suficiente? A resposta é um sonoro sim. Claro, não espere dela pique para acompanhar as quatro cilindros nos retões da vida, mas a tocada leve e as retomadas vigorosas vão fazê-lo andar na cola de motos maiores em estradinhas de serra - só vai depender de você! Outra coisa bacana da 07 para a estrada é o conforto do banco em formato de cela, bem mais macio e anatômico que o da MT-09. Já a garupa foi renegada mais uma vez: um toquinho de banco, e sem alças laterais para se segurar.
Feita para diversão solitária, a 07 se encaixa perfeitamente no perfil de quem procura a primeira moto de alta cilindrada. Tem baixa altura do assento (805 mm), de modo que mesmo baixinhos ou mulheres na casa dos 1,60 m conseguem colocar o pé no chão sem grandes problemas. Além disso, a maciez da suspensão evita aqueles sustos ao cair nos buracos, algo comum para quem anda de naked. E, diferente da MT-09, a irmã mais nova tem acelerador de comando suave, sem brutalidade nas respostas.
Os mais experientes também encontrarão prazer na 07, revelando sua faceta camaleoa de se adaptar ao ambiente. Acelere com vontade nas primeiras marchas e logo sentirá a frente subindo - ela empina fácil nas saídas fortes. E, mesmo macia, a naked japonesa se mostra muito bem centrada nas curvas, sendo muito fácil apontar a trajetória escolhida e acelerar na saída sem sustos - lembrando que os pneus Bridgestone 120/70 R17 na dianteira e 180/55 R17 na traseira são os mesmos da MT-09, uma máquina significativamente mais potente. E quanto aos freios? Eficientes, mordem a contento e o ABS não é "desesperado", mas nada de especial. Na estrada o motor de dois cilindros vibra menos que o esperado e tem fôlego de sobra para viajar bem acima do limite permitido - olha a multa de novo! A máxima registrada em pista fechada ficou na casa dos 190 km/h de painel.
Da 09 a novata herdou a mesma capacidade do tanque, de apenas 14 litros. Mas aqui isso não chega a ser um fator tão limitador, pois a 07 tem consumo mais contido. Durante nossa avaliação, registramos de 18 a 21 km/l de média - o que daria uma autonomia de viagem ao redor dos 270 km. Mas, se enrolar o cabo, o consumo cai para a casa dos 16,5 km/l e a autonomia volta a ser um problema. Se estiver longe de postos, vale observar a luzinha ECO que aparece no painel quando pilotamos de forma econômica e tentar mantê-la acesa.
Por falar em painel, a 07 traz um quadro de instrumentos todo digital, no estilo da 09. A diferença é que este é maior e mais vistoso, além de ficar centrado à frente do piloto - deslocado à direita na 09. Há bastante informação disponível, como consumo médio, marcha engatada, conta-giros por barrinhas (com marcação da condição ideal de torque para fazer as mudanças de marcha), relógio, temperatura do ar, luzes espia e velocímetro. Só achei que sua posição é muito baixa, fazendo com que o piloto tenha de desviar a atenção do trânsito para observá-lo.
Mas se um dos poucos problemas que encontramos foi a posição do painel, é sinal que a 07 tem muito a agradar ao consumidor. E o preço é de briga: por R$ 26.990 (ou R$ 28.490 com ABS), ela estreia mais barata que a maioria das rivais, amparada ainda pelo seguro da Yamaha em parceria com a Cardif por R$ 3 mil. Para a decisão final, agora vamos ver como ela se sai frente a frente com a concorrência. Confira!
MT-07 X CB 650F
A nova CB 650F não é a Hornet, mas não demorou para que ela assumisse a liderança de vendas das nakeds, batendo até a irmã menor (e mais barata) CB 500. E o sucesso não é sem razão, pois a Honda fez uma moto quatro cilindros acessível não só em termos financeiros (chegou custando menos que a Hornet) como também de facilidade de pilotagem (com mais torque disponível em baixas e médias rotações).
Ao lado da MT-07, a CB se destaca pela suavidade e ronco do "quatro bocas", que sobe de giro liso até 9 mil rpm - acima disso tem funcionamento um pouco áspero. Na estrada aberta acelera com vigor maior que a rival, se valendo de seus 12 cv extras (87 cv no total), mas não mostra o mesmo vigor do bicilíndrico da Yamaha nas retomadas (a Honda tem torque de 6,4 kgfm a 8.000 rpm contra 6,9 kgfm a 6.500 rpm da MT-07).
A CB é firme em altas velocidades e vai bem nas curvas, mas não é tão amiga do piloto nas mudanças rápidas de trajetória. Câmbio e embreagem são suaves, enquanto a suspensão é mais firme que a da 07 - boa para acelerar, um pouco dura no dia-a-dia. O garupa tem um pouco mais de espaço na CB, só que também sente falta das alças.
A 650 da Honda é opção certa à MT caso você pegue bastante estrada, onde o motor é mais instigante e o tanque de 17,3 litros garante ampla autonomia - o consumo gira em torno dos 20 km/l. A Yamaha fica mais à vontade na cidade, com seu propulsor de torque imediato e dimensões e peso menores. Também é preciso considerar que a CB 650F custa significativamente mais: R$ 30.378 na versão STD e R$ 32.683 com ABS, ou ainda R$ 33.207 na versão com ABS e cor branca, vermelha e azul.
MT-07 X ER-6n
A naked média da Kawasaki é a que mais se aproxima da MT-07 no papel e na prática. Até mesmo o ronco grave do bicilíndrico é parecido entre as duas. O motor de exatas 649 cc da Kawa entrega 72,1 cv de potência e 6,5 kgfm de torque a 7 mil rpm, também comandado por um câmbio de seis marchas. Em relação à Yamaha, a ER-6n requer um pouco mais de força na condução: ela é mais pesada (206 kg) e tem comandos mais duros, seja de embreagem, seja de câmbio ou seja de freios.
Da mesma forma, a Kawa é mais resistente às mudanças de direção e tem a suspensão mais firme, entregando um pouco menos de conforto na cidade. Vantagem aparece nas estradinhas de montanha, locais onde a ER-6n mostra precisão cirúrgica nas curvas, com menos balanço que a 07. Também é melhor na questão do garupa, já que seu banco traseiro é consideravelmente maior e ainda conta com amplas alças para o passageiro.
Em termos de desempenho geral, a MT-07 abre um pouco de distância nas acelerações e retomadas, por ter mais torque e ser mais leve, mas em velocidade final elas são bem parelhas. Para quem preferir a ER-6n, boa notícia é que ainda há unidades 2014 à venda por R$ 26.390 na versão com ABS. O modelo SE 2015 também com ABS sai por R$ 30.990, mas nesse caso a Yamaha é mais negócio.
MT-07 X CB 500F
Por concepção, a CB 500F seria a Honda mais próxima da MT-07. Mas a marca da asa optou por fazer um modelo de temperamento mais dócil, extraindo 50,4 cv de potência e 4,55 kgfm de torque a 7 mil rpm do motor de 471 cc. É o suficiente para agilidade na cidade, mas não chega a empolgar na estrada. Facilidade de adaptação para diversos tipos de pilotos é seu ponto forte, com banco a somente 785 mm do solo e comandos muito leves, sejam eles de câmbio, embreagem ou freios.
De comportamento suave, o motor bicilíndrico manda bem no consumo: de 19,2 km/l a 22,2 km/l em nossas andanças, o que garante boa autonomia com o tanque de 15,7 litros. Menos agressiva que a MT-07, leva melhor o garupa ao entregar um banco um pouco maior e alças para segurar. Também pode conquistar pelo preço, o mais baixo entre as nakeds de média cilindrada: R$ 23.053 na versão standard e R$ 24.625 no modelo com ABS. Vale ficar atento ao valor cobrado nas revendas, no entanto, geralmente maior que os sugeridos pela Honda.
Se puder gastar um pouco mais, a MT-07 entrega bem mais emoção e desempenho, além da suspensão mais confortável. É imbatível na agilidade urbana e também mostra acabamento mais refinado, com comandos de melhor tato e aparência que os da Honda. Na estrada, também leva vantagem pelo fôlego do motor. Como deu para perceber, a nova Yamaha fica bem posicionada contra as principais rivais, e tem tudo para embolar o segmento.
Por Daniel MessederFotos: Mario Villaescusa e Rafael Munhoz
Ficha técnica – Yamaha MT-07
Motor: dois cilindros em linha, 8 válvulas, 689 cm3, injeção eletrônica, gasolina, refrigeração líquida; Potência: 75 cv a 9.000 rpm; Torque: 6,9 kgfm a 6.500 rpm; Transmissão: câmbio de seis marchas, transmissão por corrente; Quadro: aço, tipo Diamante; Suspensão: garfos telescópicos na dianteira (130 mm de curso) e monocross com link na traseira (130 mm de curso); Freios: disco duplo na dianteira (282 mm) e disco simples na traseira (245 mm);Pneus: 120/70 R17 na dianteira e 180/55 R17 na traseira; Peso: 179 kg/182 kg (ABS); Capacidades: tanque 14 litros; Dimensões: comprimento 2.085 mm, largura 745 mm, altura 1.090 mm, altura do assento 805 mm, entreeixos 1.400 mm
Ficha técnica – Honda CB 650FMotor: quatro cilindros em linha, 16 válvulas, 649 cm3, duplo comando no cabeçote (DOHC), injeção eletrônica, gasolina; Potência: 87 cv a 11.000 rpm; Torque: 6,4 kgfm a 8.000 rpm; Transmissão: câmbio de seis marchas, transmissão por corrente; Quadro: dupla trave de aço tipo Diamond; Suspensão: garfos telescópicos convencionais (120 mm de curso) na dianteira e balança de alumínio monoamortecida na traseira (128 mm de curso); Freios: disco na dianteira (320 mm) e na traseira (240 mm), com ABS opcional; Rodas: alumínio aro 17″ com pneus 120/70 na dianteira e 180/55 na traseira; Peso (seco): 192 kg (194 kg com ABS); Capacidades: tanque 17,3 litros; Dimensões: comprimento 2.110 mm, largura 775 mm, altura 1.120 mm, altura do assento 810 mm, entre eixos 1.450 mm
Ficha técnica – Kawasaki ER-6nMotor: dois cilindros em linha, 4 válvulas por cilindro, 649 cm3, injeção eletrônica, gasolina, refrigeração líquida; Potência: 72,1 cv a 8.500 rpm; Torque: 6,5 kgfm a 7.000 rpm;Transmissão: câmbio de seis marchas, transmissão por corrente; Quadro: tubos duplos de aço;Suspensão: garfo telescópico na dianteira (125 mm de curso) e balança monoamortecida (135 mm de curso) na traseira; Freios: disco duplo em formato margarida na dianteira (300 mm) e disco simples em formato margarida na traseira (220 mm), com ABS; Pneus: 120/70 aro 17 na dianteira e 160/60 aro 17 na traseira; Peso: 206 kg; Capacidades: tanque 16 litros; Dimensões:comprimento 2.110 mm, largura 770 mm, altura 1.110 mm, altura do assento 805 mm, entreeixos 1.410 mm
Ficha técnica – Honda CB 500FMotor: dois cilindros em linha, 8 válvulas, 471 cm3, injeção eletrônica, comando duplo no cabeçote, refrigeração líquida; gasolina Potência: 50,4 cv a 8.500 rpm; Torque: 4,55 kgfm a 7.000 rpm; Transmissão: câmbio de seis marchas, transmissão por corrente; Quadro: estrutura tipo diamond frame de aço; Suspensão: garfo telescópico na dianteira (120 mm de curso) e pró-link na traseira com ajuste da pré-carga da mola (119 mm de curso); Freios: disco tipo margarida na dianteira (320 mm) e disco na traseira (240 mm), com ABS opcional; Pneus:120/70 aro 17 na dianteira e 160/60 aro 17 na traseira; Peso: 192 kg; Capacidades: tanque 15,7 litros; Dimensões: comprimento 2.075 mm, largura 780 mm, altura 1.060 mm, altura do assento 785 mm, entre-eixos 1.410 mm
Galeria de fotos: Yamaha MT-07 x Honda CB 650F
Galeria: Avaliação: nova Yamaha MT-07 encara Honda CB 650F, ER-6n, CB 500F...