Lembro como se fosse ontem a primeira vez que experimentei a dupla formada pelo motor 2.0 turbo e a transmissão de dupla embreagem do Grupo Volkswagen. O ano era 2006 e o carro em questão era o Audi A3 de segunda geração, que estávamos avaliando em Miami (EUA) na versão Sportback quatro portas que logo chegaria importada ao Brasil. Fiquei impressionado com a patada do propulsor, e mais ainda com a rapidez do câmbio nas trocas, visto que era a primeira vez que dirigia um double clutch. Antes desta transmissão, qualquer carro automático era sinônimo de perda de desempenho. Este A3, não! Ele era mais rápido que a versão manual que também conduzimos na ocasião.
O mais incrível é que quase 10 anos depois essa dupla continua a encantar. Depois daquele A3, ela se espalhou por diversos carros do grupo alemão, desde esportivos como o Audi TT até sedãs de família como o Jetta - logo ele que ainda carrega o velho 2.0 8V flex na versão de entrada, de parcos 120 cv. Por isso, caro leitor, compre um Jetta pela traseira: se não tiver o logotipo TSI estampado na tampa, esqueça. Isso já valia para o modelo anterior, de 2011, e vale ainda mais para esse de agora, linha 2015, que chega acompanhado de leves retoques.
Antes de entrar no mérito do desempenho, a boa notícia: em tempos de Corolla e Focus aspirados top de linha a quase R$ 100 mil, ver o Jetta TSI tabelado a R$ 93.990 faz o diabinho do seu pensamento abraçar o anjinho. Isso mesmo, 211 cavalos e 28,6 kgfm de torque (acompanhados de um ronco instigante) em um sedã desse porte por essa grana soam como pechincha nesses tempos bicudos, de forma que nem é preciso muito convencimento com a esposa - basta abrir o imenso porta-malas e mostrar que cabe as tralhas da prole inteira naqueles 510 litros de capacidade. Ela nem vai desconfiar que você está levando um GTI travestido de carro de família...
Dúvida? Basta ver o tempo do sedã na prova de 0 a 100 km/h: 7 segundos cravados! Foi apenas o,3 s acima do que registramos com o Golf GTI, e muito abaixo de qualquer outro sedã médio até R$ 100 mil. Não que você vá sair acelerando por aí com sua família, mas é reconfortante saber que uma retomada de 80 a 120 km/h leva apenas 4,5 s, o que se traduz em extrema confiança nas ultrapassagens. E, por ser um carro potente, o Jetta TSI também tem "chão" e freios à altura, vestindo ótimos pneus Michelin 225/45 em rodas aro 17" com discos generosos. Na prova de frenagem, o sedã percorreu pouco mais de 39 metros até a parada completa, vindo a 100 km/h - outra boa marca.
Mas o TSI não é todo sobre desempenho. Tudo bem que a suspensão (McPherson na frente e multilink atrás) não oferece a maciez de um Corolla nos buracos, mas até que o Jetta não maltrata os ocupantes em pisos ruins - o carro é firme sem ser duro mesmo com os pneus de perfil baixo. E o consumo melhorou em relação ao anterior, chegando a 9 km/l na cidade e 13,6 km/l na estrada, com gasolina - Jetta flex só o 2.0 aspirado. Já o câmbio DSG de seis marchas, com embreagens banhadas em óleo, concilia rapidez nas trocas esportivas (modo Sport) com suavidade numa condução tranquila, em Drive. E também deixa você se divertir fazendo as trocas manuais pelas borboletas no volante, pois a transmissão aceita reduções com giro alto e realiza as mudanças ascendentes num piscar de olhos.
Lá estava eu falando das qualidades do Jetta como familiar e... acabei voltando à esportividade. Fato: o TSI é o sedã médio dos entusiastas. Só para fechar o assunto, também agrada sua tocada em curvas, especialmente as de raio longo e em velocidade elevada. Nas mais travadas, ele obviamente não tem a agilidade de um Golf, mas também não há do que reclamar. Pouca transferência de peso nas frenagens, baixa rolagem da carroceria e direção muito bem calibrada, ágil e de peso correto, fazem parte do pacote. No limite a tendência é de sub-esterço, mas a traseira se mantém pregada, sem sustos. Ah, e o ESP é de série para o caso de abusos - atuando firme quando você acelera demais e alonga a trajetória.
Certo, mas o TSI não é só elogios - principalmente quando comparado ao Golf Highline parado ali do lado na concessionária. Não espere do sedã o mesmo refinamento do hatch, sem contar que o Jetta pertence à uma geração anterior de plataforma - mais pesada e não tão eficiente em termos de proteção contra impactos. No Golf, por exemplo, as colunas dianteiras são mais avançadas, de modo que o para-brisa fica um pouco mais distante do motorista. E tem a questão do acabamento. O sedã traz painéis de porta inteiramente de plástico rígido que remetem ao Fox (enquanto o Golf tem até os porta-mapas revestidos com feltro) e materiais mais simples no console central, apesar do painel ser de espuma injetada, macio ao toque. Também a central multimídia (opcional) é mais simples, a mesma encontrada em modelos mais baratos da marca.
Se fosse só pelo interior, o Jetta não justificaria seu preço, mesmo com o novo volante multifuncional emprestado do Golf - bem mais legal do que aquele antigo que já estava até no Gol. As linhas do painel são sóbrias demais e os componentes não transmitem refinamento, perdendo para uma série de rivais em beleza e modernidade. Lado bom é que o espaço traseiro é amplo para as pernas e cabeça, e ainda há saídas de ar exclusivas. Na frente, a posição de dirigir combina com a proposta esportiva, baixa e com volante bem centralizado, enquanto os bancos são firmes e de abas pronunciadas, para não deixar o corpo escorregar nas curvas.
Nesta versão Highline completa, como a testada por nós, os bancos são de couro e os dianteiros podem ser aquecidos (o do motorista tem até ajustes elétricos). Fora isso, o pacote Premium de opcionais adiciona a central multimídia com tela touch screen, entrada sem chave com partida por botão e faróis bi-xenônio que acompanham as curvas, além do retrovisor eletrocrômico, sensores de chuva e de luz e o controlador de velocidade de cruzeiro, totalizando R$ 103.416. O oferecido com opcional livre, o teto-solar fecha a conta em R$ 107.543.
Quanto às mudanças visuais, o Jetta ganhou cara moderna com feixe de LEDs nos faróis para condução diurna em conjunto com a nova grade e para-choque. Mas, pelo que esse TSI anda, o que as pessoas devem reparar mesmo é na lanterna traseira mais estreita...
Por Daniel MessederFotos Rafael Munhoz
Ficha Técnica – VW Jetta TSI 2015
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, comando duplo variável, 1.984 cm³, turbo e intercooler, injeção direta, gasolina; Potência: 211 cv a 5.500 rpm; Torque: 28,6 kgfm a 2.000 rpm; Transmissão: câmbio automatizado de seis marchas, dupla embreagem, tração dianteira; Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e independente multibraço na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS; Rodas: aro 17 com pneus 225/45 R17; Peso: 1.376 kg; Capacidades: porta-malas 510 litros, tanque 55 litros; Dimensões: comprimento 4.659 mm, largura 1.778 mm, altura 1.473 mm, entre-eixos 2.651 mm
Medições CARPLACEAceleração
0 a 60 km/h: 3,5 s
0 a 80 km/h: 4,9 s
0 a 100 km/h: 7,0 s
Retomada
40 a 100 km/h em S: 4,9 s
80 a 120 km/h em S: 4,5 s
Frenagem
100 km/h a 0: 39,2 m
80 km/h a 0: 24,5 m
60 km/h a 0: 13,7 m
Consumo
Ciclo cidade: 9,0 km/l
Ciclo estrada: 13,6 km/l
Galeria de fotos:
Galeria: Teste CARPLACE: Jetta TSI mantém pegada de GTI em corpo de sedã