Ao vivo, o novo Passat é bem mais interessante do que nas fotos. Esta foi a primeira sensação que tive ao encarar a nova geração do sedã topo de gama da Volkswagen, que está chegando ao Brasil. Eleito o Carro do Ano 2015 na Europa, tem como argumentos ser construído sobre a plataforma MQB e equipado com a versão atualizada do motor 2.0 TSI. Confesso que fui surpreendido pelo desempenho, conforto e nível de tecnologia presentes no modelo.
O que é?
Oitava geração do Passat, modelo que já teve mais de 22 milhões de unidades produzidas em todo o mundo, chega ao nosso mercado trazendo várias novidades, algumas herdadas da Audi, divisão mais sofisticada do grupo. Para começar, o Passat 2016 tem porte mais imponente, impressão dada pela largura e entre-eixos alongados, enquanto que a altura foi reduzida e o comprimento se manteve praticamente o mesmo (menos 2 mm somente).
Se o anterior era tido como conservador, o novo Passat é diferente. A começar pela dianteira, que inaugura a nova identidade da marca por aqui. Segundo a VW, a inspiração dos filetes veio da primeira geração do Passat, aquele de 1977 com faróis redondinhos, mas que agora com um grande friso superior que se integra ao conjunto óptico. Por falar neles, a versão Highline que dirigimos vem equipada de série com faróis de LEDs com tecnologia de projeção, além das luzes de condução diurnas com 32 LEDs. As setas, bem largas, são formadas por 12 LEDs. O conjunto também dispõe do recurso Dynamic Light Assist (Assistente de Luz Dinâmico, DLA) que detecta veículos trafegando em sentido contrário ou à frente e alterna automaticamente entre os fachos alto e baixo, evitando ofuscamento.
Na lateral, um vinco forte dá uma certa musculatura que se acentua na parte traseira, conferindo mais imponência ao sedã. As maçanetas foram posicionadas exatamente na linha deste vinco, o que, segundo a marca, indica a precisão do estilo. Já a traseira traz nova tampa do porta-malas, com seção inferior côncava. As linhas são elegantes e integram bem o para-choque e o formato das lanternas. Por falar nelas, também são de LEDs com acabamento levemente escurecido na versão Highline. Fecha o visual as duas saídas de escape com contornos trapezoidais cromados.
Como anda?
Tomo o assento e ajusto eletricamente a posição para dirigir. Revestido de couro, o banco possui bordas mais ressaltadas, ideais para contornar curvas em velocidades mais arrojadas. Uma parte interessante dos carros da Volkswagen, em especial dos médios para cima, é a ergonomia. A similaridade com o Golf VII está em diversos pontos, como o volante, formas do console central, freio de estacionamento eletrônico, manopla de câmbio, comandos do ar-condicionado, central de infotainment e o acabamento em black piano.
O negócio começa a ficar mais sofisticado a partir da divisão criada pela faixa de alumínio na parte central. Logo acima está um relógio analógico, que dá um certo requinte ao ambiente, mas o que chama a atenção são as saídas de ventilação horizontais, que atravessam quase todo o painel. Por falar nas saídas de ar, destaque para o sistema de climatização de três zonas, sendo as tradicionais duas dianteiras e uma para o banco traseiro.
A cereja do bolo fica por conta do quadro de instrumentos totalmente digital (somente na versão Highline equipada com o pacote Premium). Derivado do utilizado pelo Audi TT, o chamado Painel Digital Programável tem uma tela de 12,3 polegadas com resolução de 1.440 x 540 pixels que permite visualizar diversas informações do veículo, configurações, sistema de som e de navegação - tudo em alta definição. Para facilitar a visualização do trajeto, é possível reduzir o tamanho dos mostradores para dar mais espaço ao mapa, que pode ser mostrado em 2D ou 3D.
O trecho escolhido para o nosso contato foi majoritariamente de estrada. Impulsionado pela versão atualizada do motor 2.0 TSI com 220 cv, o mesmo do Golf GTI e do Audi A3 Sedan nacional, o novo Passat ganha velocidade rapidamente. Este motor, terceira geração da família EA888, combina injeção dupla (multiponto e direta) ao turbocompressor para utilizar o melhor tipo de injeção para cada situação (consumo ou desempenho). Combinado ao câmbio DSG (dupla embreagem) de seis marchas, o Passat vai da imobilidade aos 100 km/h em 6,7 segundos e pode atingir velocidade máxima de 246 km/h - dados de fábrica.
Apesar dos quase 4,8 metros e 1,5 tonelada, o Passat se revelou um carro muito ágil, que pode ficar ainda mais instigante ao acionar o modo Sport no DCC (Controle Dinâmico do Chassi). Também dá para alternar entre os modos de condução ‘Comfort’, ‘Normal’, ‘Eco’ e ‘Individual’ por meio de um botão no console central. No modo Sport foi necessário segurar bem o pé direito para não avançar em velocidades germânicas. Bastava uma leve afundada no acelerador para o carro responder com vontade. Vale lembrar que o ganho de torque em relação ao 2.0 TSI anterior foi de 7 kgfm, ou seja, agora ele tem à disposição nada menos do que 35,7 kgfm liberados a apenas 1.500 rpm.
Em curvas, o Passat mostra que seu novo físico está mais jovem do que nunca, oferecendo muita segurança e estabilidade que impressionam. Os segredos deste desempenho muito mais esportivo do que o padrão "tiozão" são explicados pelo ajuste dinâmico da suspensão feito pelo DCC, que controla as válvulas dos amortecedores de forma eletrônica, e também pelo sistema XDS+ (bloqueio eletrônico do diferencial), que atua como função integrada ao controle eletrônico de estabilidade (ESC) para melhorar o comportamento dinâmico do carro.
Segundo a VW, o novo sistema aumenta a agilidade e diminui a necessidade de movimentação do volante por meio de intervenções seletivas nos freios das rodas internas às curvas, nos dois eixos. Em termos práticos, o XDS+ é capaz de reduzir significativamente as saídas de frente ao mesmo tempo em que melhora a tração. Outro avanço que se reflete na qualidade de condução é a maior rigidez da carroceria, fruto da utilização de aços de ultra-alta resistência e conformados a quente em 27% da estrutura.
Na estrada também foi possível testar a evolução de outros sistemas presentes, como o ACC (Controle Automático de Velocidade e Distância), que agora também monitora veículos trafegando na faixa da esquerda em rodovias e não deixa realizar ultrapassagens pela faixa da direita (veja o detalhe dentro do conta-giros na imagem acima). O funcionamento é lógico e prático: quando acionado sem carro à frente, o ACC deixa o Passat atingir a velocidade programada (até o limite de 160 km/), mas se identificar que há veículo na faixa da direita, mostra no painel a "situação proibida" e segura a velocidade para que a ultrapassagem não ocorra de forma ilegal. Chega a ser engraçado o carro te "impedir" de fazer uma manobra, mas vale lembrar que o motorista tem sempre a prioridade sobre os desmandos dos sistemas.
Outra novidade é o Front Assist (Sistema de monitoramento frontal) com o City Emergency Braking, que, por meio de um sensor por radar na frente do carro, monitora constantemente a distância dos veículos à frente e pré-condiciona o sistema de freios (aproximando as pastilhas aos discos de freios e aumentando a pressão o sistema hidráulico) quando identifica uma situação crítica. Após alertar o motorista por meio de sinais (visual ou sonoro), o sistema automaticamente gera força de frenagem para tentar evitar uma colisão. Se ainda assim o motorista não reagir, o Front Assist freia o carro automaticamente para proporcionar mais tempo para reação.
Outros sistemas de segurança presentes são o City Emergency Braking, capaz de parar o carro completamente em velocidade abaixo de 30 km/h se houver perigo de colisão, e o Sistema de Frenagem Automática Pós-Colisão, que aciona automaticamente os freios do veículo após uma batida, para impedir que ele continue andando e provoque novas colisões.
Se a sensação ao dirigir é parecida com a do Jetta 2.0 TSI? Nada a ver. O novo Passat, apesar de maior e mais largo, é mais rápido e oferece uma condução mais refinada em termos de suspensão, direção e conforto acústico. Além de ser construído sobre uma plataforma mais moderna, dispõe de muito mais tecnologia embarcada que o sedã médio.
Quanto custa?
A versão mais em conta, a Comfortline, será vendida por R$ 144.500. Traz de série bancos dianteiros com aquecimento e regulagem elétrica do encosto do motorista, seis airbags (dianteiros, laterais e tipo cortina), ar-condicionado Climatronic com três zonas, iluminação em LED na região dos pés, relógio analógico no painel, sistema Kessy (acesso ao veículo sem uso de chave e partida por botão no console), sistema de infotainment Discover Media com tela sensível ao toque de 6,5” e Volkswagen App-Connect (Android Auto, Apple CarPlay e MirrorLink), porta-luvas refrigerado, apoio de braços central dianteiro com porta-objetos, volante multifuncional em couro, computador de bordo e controlador automático de velocidade, rodas de liga leve de 18 polegadas com pneus Continental (235/45 R18) e o sistema Easy Open (abertura do porta-malas por meio de sensor posicionado sob o para-choque traseiro acionado ao passar o pé). O único opcional é o teto solar elétrico, que custa R$ 5.400.
Painel analógico é item de série nas duas versões
O modelo topo de gama, Passat Highline, tem preço de tabela de R$ 151.300. Além dos itens oferecidos na versão Comfortline, adiciona bancos dianteiros com ajuste elétrico, aquecedor e apoio lombar com massageador para o motorista; memória para o banco do motorista e função “easy entry” – que recua automaticamente o banco para ampliar a área de acesso ao veículo e o retorna à posição original; câmera traseira de auxílio ao estacionamento e retrovisores externos elétricos com memória do lado do motorista.
Somente na Highline os faróis são totalmente em LEDs com sistema DLA (Assistente de Luz Dinâmica para o facho alto) e o volante inclui as borboletas para troca de marchas. Os bancos são revestidos em couro Nappa.
Painel digital faz parte do pacote Premium para versão Highline
O teto solar (R$ 5.400) também é item opcional, assim como o pacote Premium (R$ 4.900), que integra o sistema de infotainment Discover Pro com tela de 8 polegadas e som Dynaudio Confidence de 700 watts (com 11 alto-falantes); sistema Pro-Active, Park Assist 3.0, Controle de Cruzeiro Adaptativo (ACC), Painel Digital Programável (Active Info Display) e Assistente de Mudança de Faixa (Side Assist).
Com a onda de sedãs médios premium ganhando RG brasileiro, a Volkswagen aposta no farto recheio tecnológico para deixar o novo Passat como uma opção interessante frente a medalhões como BMW Série 3 e Mercedes Classe C. Equipamentos, refinamento e desempenho são itens que o modelo esbanja, além de trazer no peito a medalha de Carro do Ano 2015 conquistado no exigente mercado europeu. O problema é que, por aqui, convencer o cliente a gastar essa grana num sedã de marca generalista não costuma ser fácil. Parafraseando uma comediante, credenciais o novo Passat têm de sobra, só lhe falta o glamour...
Por Fábio Trindade
Fotos: autor e divulgação
Ficha Técnica – Volkswagen Passat 2.0 TSI Highline 2016
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.984 cm³, turbo, injeção direta e indireta, gasolina; Potência: 220 cv de 4.500 rpm a 6.200 rpm; Torque: 35,7 kgfm entre 1.500 e 4.400 rpm; Transmissão: câmbio automatizado DSG de dupla embreagem (imersos em óleo) e seis marchas, tração dianteira; Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e independente multilink na traseira; Freios: discos nas quatro rodas com ABS e EBD e XDS; Rodas: aro 18″ com pneus Continental 235/45 R18; Peso: 1.499 kg; Capacidades: porta-malas 586 litros, tanque 66 litros; Dimensões: comprimento 4.767 mm, largura 1.832 mm, altura 1.476 mm, entre-eixos 2.791 mm;
Fotos: Volkswagen Passat 2.0 TSI Highline 2016
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