Num mercado com tantas opções de carro compacto, a saída do marketing das montadoras no Brasil foi criar um mote para cada modelo. E assim hoje temos o compacto descolado, o econômico, o acessível, o esportivo e, além de uma série de outros, o espaçoso. Este último é indiscutivelmente o Renault Sandero, um carro que, costumo dizer, foi projetado para quem gosta mais de gente do que de carro. Se você deseja um hatch pequeno com espaço para cinco ocupantes e ainda o maior porta-malas da categoria (320 litros), nem precisa continuar lendo o texto - basta ir à uma revenda da marca francesa e escolher a versão que cabe no seu bolso. Mas, se tamanho não é tudo para você, fica a pergunta: será que o Sandero evoluído tem outros atributos para encarar a nova concorrência?
Após conviver com o novo Sandero Dynamique 2015, eu diria que a Renault jogou para a torcida. Ou seja, mexeu onde o consumidor vê, mas manteve quase igual aquilo que a gente sente. O hatch começa o teste agradando aos olhos. A nova identidade de design da marca deixou o Sandero bem mais bonito e imponente do que antes. Na frente, destaque para o losango da marca em evidência, enquanto os faróis menores deram um perfil mais agressivo. A lateral perdeu aquele vinco em forma de sorriso em favor de linhas mais robustas. Na traseira, as lanternas horizontais deram a impressão de um carro mais assentado ao chão.
Lá dentro, o quadro de instrumentos agora se apresenta com aros cromados e a parte central do painel traz aplique em black piano com molduras cinza escuras, de bom gosto. A central multimídia com GPS dá um toque de modernidade à cabine, sem falar no ar-condicionado automático, com botões agradáveis de comandar. E o melhor é que levar estes dois itens, mais o sensor de estacionamento, custa apenas R$ 1.430 no único pacote de opcionais desta versão. Os bancos também impressionam bem, com formato anatômico e um interessante tecido azul por debaixo da forração cinza escura com microfuros, que causa belo efeito visual.
Fica claro o esforço da Renault para dar um ar mais refinado ao Sandero, mas infelizmente essa primeira impressão não vai muito longe. Vou ajustar a altura do volante e, paft!, ele despenca. Ainda não foi dessa vez que a marca arrumou este inconveniente, assim como também não aplicou acabamento de tecido nas portas, todas cobertas com um plástico rígido que risca facilmente. O botão de ajuste dos retrovisores finalmente foi para perto do motorista, na parte esquerda do painel. Mas o comando "um toque" das janelas que é bom, nem para o motorista! E os botões dianteiros dos vidros de trás não ficam nas portas, e sim na parte central do painel. Para completar, observamos funcionamento irregular do sistema multimídia, com as músicas dando "soquinhos" em áudio streaming, via Bluetooth.
Ao volante, pouca coisa muda do Sandero que conhecemos. A embreagem ganhou curso menor agora, enquanto os amortecedores parecem ter recebido um pouco mais de carga. As bitolas largas garantem boa estabilidade nas curvas, mesmo com a suspensão macia. Aliás, os pontos fortes de antes estão todos lá: com elevada altura do solo e suspensão robusta, o Renault é quase um "jipe" ao atropelar buracos, valetas e quebra-molas pelo caminho. Da mesma forma, os impactos são muito bem digeridos antes de chegar aos ocupantes. Sim, o Sandero gosta de gente, lembra? Cinco adultos viajam com boa liberdade de movimentos numa cabine que supera o espaço de muito hatch médio.
O motorista, porém, não fica tão satisfeito quanto os passageiros. Enquanto a concorrência está toda adotando direção elétrica, a Renault ainda mantém o sistema hidráulico no Sandero, com uma calibração um tanto lenta nos desvios e pesada nas manobras. Enquanto os rivais estão chegando com novos motores 1.6 de até 130 cv, a marca francesa insiste no velho 1.6 8 válvulas de limitados 106 cv. Isso sem falar que o câmbio mantém os engates longos (especialmente o da quinta marcha) e a alavanca segue com uma vibração que já foi superada há tempos pelos concorrentes. Parado no semáforo, você consegue ver a alavanca tremendo.
Na cidade, o bom torque de 15,5 kgfm logo a 2.850 rpm proporciona condução agradável, sem que haja necessidade de ficar esticando marcha ou reduzindo em qualquer ladeira. Pise fundo, no entanto, e o motor responderá com mais barulho e vibração do que performance propriamente dita. Mas, justiça seja feita, os números obtidos pelo Renault em nosso teste foram melhores do que o esperado. A aceleração de 0 a 100 km/h, por exemplo, foi feita em 11,7 s - praticamente o mesmo tempo do Peugeot 208 1.6 16V, de 122 cv -, enquanto as retomadas se fizeram valer do bom torque em baixa. O consumo também ficou em níveis razoáveis, com médias de 7,8 km/l na cidade e 10,7 km/l na estrada, usando etanol. Em resumo, o Sandero não faz bonito, mas cumpre seu papel.
Achou que pegamos muito pesado com o novo Renault? No começo também achamos, afinal, essa versão Dynamique completinha tem preço bom (R$ 43.820) pelo recheado pacote de equipamentos oferecido - há até "piloto automático e limitador de velocidade. Mas com o tempo de uso percebemos que o projeto, embora renovado, não esconde sua origem de baixo custo. O Sandero é um carro honesto e agora ficou mais bonito, mas, a não ser que sua prioridade seja espaço, por cerca de R$ 45 mil existem compactos mais interessantes no mercado.
Por Daniel Messeder
Fotos Rafael MunhozMotor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 8 válvulas, 1.598 cm3, comando simples, flex; Potência: 98/106 cv a 5.250 rpm; Torque: 14,5/15,5 kgfm a 2.850 rpm; Transmissão: câmbio manual de cinco marchas, tração dianteira; Direção: hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS; Rodas: liga-leve aro 15" com pneus 185/65 R15;Peso: 1.055 kg; Capacidades: porta-malas 320 litros, tanque 50 litros; Dimensões: comprimento 4.060 mm, largura 1.733 mm, altura 1.536 mm, entreeixos 2.590 mm
Aceleração
0 a 60 km/h: 5,1 s
0 a 80 km/h: 8,1 s
0 a 100 km/h: 11,7 s
Retomada
40 a 100 km/h em 3a: 10,5 s
80 a 120 km/h em 4a: 11,6 s
Frenagem
100 km/h a 0: 40,7 m
80 km/h a 0: 25,4 m
60 km/h a 0: 13,9 m
Consumo
Ciclo cidade: 7,8 km/l
Ciclo estrada: 10,7 km/l
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