Em 1976 a Fiat se preparava para inaugurar sua fábrica no Brasil e iniciar uma nova fase na indústria automotiva. O modelo de estreia por aqui seria um compacto baseado no europeu 127 e, que após diversas modificações e adaptações, chegou batizado de 147.
A história começa com o Fiat 127 italiano, lançado em 1971, e que foi muito bem recebido na Europa. O modelo inclusive recebeu diversos prêmios foi o carro mais vendido no Velho Continente em 1975. Nessa época já estava em andamento o projeto da fábrica brasileira da Fiat, e para inaugurá-la, a marca optou por desenvolver um hatchback baseado no best-seller Europeu.
O pequeno Fiat chegava ao Brasil com a difícil missão de competir no segmento de entrada e enfrentar o veterano Fusca, até então líder absoluto de vendas, além da Brasília e o Chevette. Na Europa o 127 utilizava um motor de 903 cc de conceito mais antigo, mas para o 147 brasileiro a Fiat optou inicialmente pelo motor 1.050 cc.
Apresentado no Salão do Automóvel de 1976, o compacto possuía mecânica mais moderna que os VW refrigerados a ar e se destacava pela estabilidade e economia de combustível. O motor quatro cilindros com cabeçote em alumínio acionado por correia dentada era transversal (primeiro carro nacional nesta configuração) e entregava 57 cv (SAE) de potência máxima. Desta forma, o modelo da marca italiana conseguia acelerar de 0 a 100 km/h em torno de 20 segundos e alcançar velocidade máxima de 135 km/h (números praticamente iguais aos dos rivais VW Brasília com motor 1.6 de dupla carburação e GM Chevette com motor 1.4).
A suspensão era independente nas quatro rodas, robusta e estável para época. Compacto, ele media 3,63 metros e possuía entreeixos de apenas 2,22 metros. Seu peso de apenas 790 kg facilitava no uso urbano e contribuía para o baixo consumo.
O interior acomodava bem quatro adultos, graças a posição mais vertical do volante e o assoalho praticamente plano na traseira, o que aproveitava melhor o espaço. O painel de instrumentos era básico e contava com luz de alerta para o baixo nível de combustível e também para a temperatura. O porta-malas tinha boa capacidade auxiliado pelo fato do estepe ficar alojado na frente, junto ao motor.
No início, o Fiat 147 não foi bem aceito, pois era considerado pequeno. Também havia o problema da baixa durabilidade da correia dentada e isso sem falar do câmbio, que apresentava certa dificuldade para o engate de algumas marchas. A Fiat se esforçava para sanar os problemas, e pouco a pouco, o pequeno 147 foi ganhando mercado.
Em 1977, já haviam as versões L, GL e Furgoneta, mais rústica destina a frotas. Nesse ano, o 147 adota a para-brisa laminado como item de série (inédito no segmento) e chega a versão esportiva Rallye, que contava com faixas pretas na lateral, faróis auxiliares, entrada de ar no capô, rodas esportivas, spoiler e um novo motor 1.3 de 61 cv (SAE). Internamente, destaque para o cinto de segurança dianteiro de três pontos e painel mais completo, inclusive com conta-giros.
No ano seguinte, foi lançada a pioneira versão pick-up, a primeira derivada de um carro de passeio por aqui. Era capaz de transportar razoáveis 650 litros em sua caçamba e suportava carga máxima de 380 kg.
A Fiat continuava com suas inovações e no ano de 1979 lançava o 147 movido a álcool. Foi nada menos do que o primeiro carro movido a combustível vegetal no mundo. O motor era o 1.3 litro de 56 cv (líquidos) que entregava desempenho geral superior ao da versão a gasolina.
Para a linha 1980, o 147 passava por sua primeira reestilização, adotando uma nova frente, dessa vez a mesma usada pelo Fiat 127 europeu. A mudança trouxe novos faróis, luzes de posição e piscas nas laterais, grade frontal maior, capô redesenhado e pará-choques em plástico polipropileno.
A versão de topo GLS também tinha o painel de instrumentos mais completo, como no Rallye, inclusive com relógio e manômetro de óleo. O acabamento interno era todo em carpete, tinha encostos de cabeça no banco traseiro, desembaçador traseiro de série e servofreio completavam as opções. Já a versão Rallye também recebia modificações visuais e carburador duplo, passando a 72 cv de potência e fazendo de 0 a 100 km/h em 17,5 segundos com máxima de 144 km/h.
Ainda em 1980, a Fiat lançava a versão perua Panorama, que tinha teto em dois níveis e capacidade de carga de até 1.440 litros com o banco traseiro rebatido. Nesse ano, o furgão Fiorino ganhava diversas opções de configurações, inclusive com a cabine mais alta.
Após a reestilização, o Fiat 147 emplacou de vez e assumiu a inédita liderança em vendas no ano de 1981. Pela primeira vez em quase três décadas, o carro mais vendido não era um Volkswagen. Nessa época, a Fiat já exportava a perua Panorama e o 147 com o nome de 127D, ambos movidos à diesel e destinados à Europa.
Em 1983 a Panorama ganha uma nova frente e marca passa a oferecer o Fiat Spazio, uma versão mais refinada do 147 com visual diferente e acabamento superior. O Spazio tinha faróis e grade dianteira maiores (antecipando o estilo que seria adotado pelo Fiat Uno, lançado em 1985), para-choques envolventes, lanternas novas, vidro traseiro maior, molduras laterais além de repetidores nos para-lamas completando o visual externo.
No interior, tudo novo. Bancos com acabamento superior, novos revestimentos, painel mais envolvente e também a introdução do console central. Além disso, todos os modelos com motor 1.3 passavam a ter câmbio de cinco marchas reais, com ganho em consumo e nível de ruído na estrada.
Ainda nesse ano, as versões GLS e Rallye são substituídas pela Top e Racing. A versão Top vinha com limpador traseiro, banco bipartido e podia contar com teto solar entre outros itens enquanto a Racing tinha visual mais atual para substituir a Rallye. A Fiat também fez alterações no câmbio para melhorar os difíceis engates que eram alvo de críticas desde o lançamento do carro.
Também em 1983 a Fiat lançava o sedã Oggi, nas versões CS e CSS (esta com motor 1.4 de desempenho mais forte), que foi produzido por dois anos e não emplacou em vendas, sendo substituído pelo então Fiat Prêmio.
Em agosto de 1984, era lançado o Fiat Uno, novo carro mundial da marca que trazia inovações e espaço interno sem precedentes na época, mas adotava o mesmo conjunto mecânico e suspensão semelhante ao 147.
No ano de 1986, com o consolidação do Fiat Uno no mercado, a história do 147 chegava ao fim. Ele foi criticado no início, mas mudou conceitos na nossa indústria automotiva e trouxe muitas inovações. Foi eleito o Carro do Ano pela revista Autoesporte em 1978. Na Argentina, por exemplo, a aceitação foi tão boa que ele continuou a ser produzido até 1996.
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Galeria: Carros para sempre: Fiat 147 - Econômico e eficiente, ele marcou o início de uma nova fase