A missão da Yamaha Super Ténéré, legítima big trail japonesa lançada em 2011, não era fácil. Afinal, para levar o nome do mito que fez a cabeça de muitos consumidores nos anos 80 e 90 (veja história no final da matéria), era preciso inovar. Mas a tradicional marca dos diapasões não deixou por menos: a moto é cheia de recursos eletrônicos e tem performance de sobra com o motorzão de 1.200 cc e 110 cv.
O preço, para a categoria (e por vir do Japão), até que é razoável: R$ 61 mil. Por este valor, a matriarca da família Ténéré vem recheada de primazias técnicas e eletrônicas. Isso a situa no mesmo patamar das famosas germânicas da BMW e das austríacas KTM.
Assim como a Super Ténéré 750 anterior, que usava motor de 70 cv derivado da linha esportiva FZR, a nova Yamaha também utiliza um motor bicilíndrico. Mas agora o propulsor ficou maior, e garante força extra. São exatos 1.199 cc, orquestrados por duplo comando de válvulas, cabeçote multiválvulas (8V) e duas velas por cilindro. Injeção e ignição eletrônica alimentam tudo isso, de acordo com o modo de entrega de potência escolhido no controle de tração. Pode-se usar o modo “Touring”, no qual a mistura é empobrecida e o ponto de ignição, atrasado – visando menor consumo. Já no “Sporting”, a moto fica arisca e com prontas respostas ao acelerador. Mas também gasta gasolina de acordo...
Com embreagem hidráulica de acionamento macio, a transmissão de seis marchas oferece engates precisos e é um tanto robusta, graças ao eixo cardan – e não corrente. Sinônimo de durabilidade e baixa manutenção – encara bem riachos, areia ou barro –, o sistema causa certa estranheza no início, por conta da traseira erguer um pouco em arrancadas. Mas é questão de se acostumar. Algo prazeroso neste caso.
A performance é garantida na Super: são 110 cv que se fazem presentes a 7.250 rpm, e, o mais importante, há torque de sobra logo acima da marcha-lenta. São incríveis 11,6 kgfm máximos a 6.000 rpm – mais do que um carro atual 1.0 entrega! O câmbio tem relações longas, que fazem o motor ronronar em estradas: a 100 km/h, se está a apenas 3.200 rpm em 6ª marcha.
Com tanque para 23 litros, a "Ténérézona" vai longe sem precisar abastecer. Embora pareça até maior, o reservatório é ladeado por potentes radiadores de água. Os números de performance fazem jus ao seu visual agressivo: a moto crava 100 km/h na casa dos 4 segundos e passa dos 200 km/h com certa tranquilidade e segurança.
No painel de LCD o condutor tem leitura de informações diversas, tais como conta-giros analógico, indicador da marcha em uso, três hodômetros, marcador de combustível, consumo médio e instantâneo, temperatura do líquido do motor, além do modo de potência utilizado e tomada 12V. Destaque também para o conjunto óptico duplo, com iluminação por duas lâmpadas de 55W. O poder de iluminação do farol alto é incrível, e somente nele as duas lâmpadas acendem juntas. Já o banco em dois “estágios” tem capa rugosa e resistente. É largo, favorece até os pilotos mais baixos e adere bem à "retaguarda". A lanterna traseira tem visual minimalista. Bipartida, oferece iluminação por LED.
Com parrudos protetores de mãos, o piloto sente-se amparado. Ponto positivo para os comandos intuitivos e fáceis de acessar, e acabamento/plásticos bem cuidados, quase minimalistas.
On the road
Mesmo para os mais altos, a Super não é que se pode de chamar de prática para o uso urbano. Ainda assim ela vai bem, pois o guidão esterça bastante e passa por cima da maioria dos retrovisores dos carros. Também sobra força em baixos giros para realizar desvios e serpentear pelos veículos.
Mas é na estrada que ela se encontra em casa: o motor vibra pouco, o para-brisa protege o piloto e auxilia a ter pouca sensação de velocidade. Com suspensões dianteiras invertidas e reguláveis, ela é firme e estável em curvas. A traseira com monobraço traz regulagem de pré-carga da mola por manípulo, simples de ajustar.
Na terra, apesar do elevado peso, ela agrada pela forma como digere bem os pisos ruins. Porém, não é o tipo de moto para entrar no mato: se ela tombar e você estiver sozinho, dificilmente terá força suficiente para levantar seus 261 kg. O controle de tração é de grande valia neste tipo de uso, bem como o avançado sistema antitravamento dos poderosos freios a disco – duplos na dianteira.
Em suma, a Super Ténéré é uma moto robusta, completa e que chama atenção por onde passa. Disponível na clássica cor azul real (moto avaliada) e branco, tem um ano de garantia. Ela não deixa a desejar para as famosas BMW, mas em breve terá uma concorrente nipônica à altura. Em breve chega ao Brasil a nova Honda VFR 1200 X, a Crosstourer. Com motor V4 de 124 cv e 12,8 kgfm de torque, a big trail deverá custar pouco mais que a Super, algo próximo de R$ 70 mil. Uma disputa que promete esquentar!
História: a origem do camelo mecânico
Ténéré é um deserto no Saara, sul da Argélia. Belo nome adotado pela Yamaha para designar suas motos com tanques grandes, espaço para maleiros e aptidões para cruzar terrenos difíceis. A primeira Ténéré surgiu em 1983 (XT 600Z) com motor monocilíndrico, baseada na XT 500 preparada que venceu o primeiro rali Paris-Dakar, em 1979.
Daí em diante, a moto ganhou fama mundo afora. Conquistou ruas e estradinhas brasileiras em 1990, apenas um ano depois de ser lançada na Europa. Em 1993 chegou sua versão big, a XTZ 750 Super Ténéré, famosa e adorada até hoje.
Atualmente, há mais duas versões do “camelo mecânico”, além da 1.200 top avaliada: a 250, que descende diretamente da XTZ Lander, e a 660Z, que é a versão “sarada” da XT 660.
Ambas são monocilíndricas, muito embora o escape duplo da 660 possa indicar que se trata de uma bicilíndrica: ela tem um escape para cada válvula de exaustão. Enquanto a 250 sai por R$ 13.100, a intermediária 660 parte de R$ 31.110.
Por Guilherme Silveira
Galeria: Avaliação moto: Yamaha Super Ténéré 1200 - O mito cresceu