Você torce o nariz quando pensa em motores de 3 cilindros? Não imagina um utilitário esportivo compacto com motor 1.0?Ainda tem receio de motores turbo? Bem, se você respondeu sim para ao menos uma delas, está na hora de começar a rever seus conceitos.
A tendência mundial é cada vez mais utilizar motores menores e eficientes que entregam mais potência e menor consumo graças ao emprego de muitos recursos tecnológicos disponíveis atualmente. Com o novo regime automotivo, a tendência é de que a indústria nacional passe por uma fase de importantes mudanças com carros e motores mais modernos.
Atualmente no Brasil há pouquíssimas opções realmente modernas, que façam uso por exemplo, de injeção direta, desativação de cilindros, turbocompressor de alta eficiência, Start/Stop, comando de válvulas variável, bloco e cabeçote em alumínio entre outras soluções tecnologicamente avançadas.
Os motores modernos são mais leves e tem melhor dissipação de calor, o que contribui diretamente no consumo, além de gerar maior potência específica, mais torque e menor nível de aspereza e vibrações.
A evolução é muita lenta, na maioria das vezes com atualizações pontuais em motores antigos. Enquanto bloco e cabeçote em alumínio, turbo e comando de válvulas variável tem aplicação baixa em nosso mercado, o sistema Start/Stop e injeção direta ainda é algo raríssimo só encontrado em segmentos superiores. Já desativação de cilindros então nem se fala.
As novidades chegam lentamente, e há algumas exceções: Peugeot 308/408/3008/508 e Citroën DS3 com motor 1.6 Turbo THP de 165 cv de origem BMW são exemplos de motores modernos. A dupla Hyundai/Kia com o motor 1.0 de três cilindros e 80 cv, que embora não seja a última palavra em tecnologia, pode ser considerado atual e eficiente com boas soluções técnicas.
Enquanto isso, algumas opções modernas ainda não foram adotadas em nosso país, seja por conta de custos ou pelo fato do "consumidor" não aceitar um menor em determinado segmento. Entre as opções estão os excelentes Chevrolet Ecotec 1.4 16v Turbo de 138 cv, Ford EcoBoost 1.0 três cilindros com 100 ou 125 cv, Fiat MutiAir Turbo 1.4 16v de 160 cv e TwinAir 0.9 com apenas dois cilindros mas que entrega 85 cv e 14,7 kgf/m de torque; Volkswagen 1.2 TSi de 105 cv e 1.4 TSi de 120 ou 140 cv, só pra citar alguns.
Veja o caso do Chevrolet Cruze que poderia contar com a opção Ecotec 1.4 Turbo de 138 cv a gasolina que entrega torque máximo de 20,4 kgf/m a apenas 1.850 rpm. Além de eficiente, este propulsor se mostra mais econômico em relação ao Ecotec 1.8 16v de 144 cv que abastecido com etanol entrega 18,9 kgfm a 3.800 rpm. Nos bastidores, ouve-se que nas clínicas realizadas com consumidores alvo, este motor 1.4 Turbo foi amplamente rejeitado.
A nova geração do SUV Ford EcoSport é outro bom exemplo. Em diversos mercados, como a Europa, China, Índia e Austrália, será vendida com o motor EcoBoost 1.0 de 125 cv e 17,3 kgf/m de torque máximo a 1.300 rpm. Para ficar claro, este motor 1.0 entrega desempenho superior ao "nosso" Sigma 1.6 16v, que gera 115 cv com etanol e torque máximo de 15,9 kgf/m a 4.750 rpm.
Em um dos eventos que participamos, perguntamos e ouvimos de um executivo da Ford que um possível "EcoSport 1.0 EcoBoost" estava totalmente fora de cogitação no Brasil por que o consumidor deste carro não aceita um veículo "deste porte equipado" com motor 1.0. Mais uma vez, a culpa foi jogada nas "clínicas".
O resultado disso torna ainda mais fácil e justifica a escolha das montadoras por darem "um tapa" no motor atual para entregar um desempenho ligeiramente melhor, ao invés de investir de forma definitiva e trazer o que realmente é moderno.
Algumas fabricantes começam a se mexer e devem mostrar resultados nos próximos anos. Para os modelos de entrada, pelo menos, o futuro caminho na direção dos motores de 3 cilindros. A Volkswagen e Ford já trabalham no desenvolvimento de seus novos propulsores para equipar o futuro Up! e Novo Ka, respectivamente. Também há rumores de que a Chevrolet esteja desenvolvendo uma nova família de motores de 3 cilindros.
O novo regime automotivo cira a oportunidade de se iniciar um novo ciclo onde os fabricantes que não se mexerem para atualizar seus produtos podem ficar para trás. Além da tributação mais pesada, o consumidor poderá analisar melhor sua compra exigindo e dando prioridade ao que for mais moderno e eficiente.
Mas, por favor, antes de torcer o nariz para um motor menor, analise o seu desempenho e eficiência.
Galeria: Downsizing: Estamos preparados para aceitar motores menores e mais modernos?