O novo Renault 4 é a maior atração do estande da marca do losango no Mondial de l’Auto 2024, o salão de Paris, que termina neste domingo. Na França e em muitos outros países, o pequeno SUV elétrico estreia acompanhado por um grande apelo nostálgico — algo que os rivais chineses ainda não conseguem superar.
Seu nome e suas linhas evocam o Renault 4 original, um modelo extraordinariamente popular que teve 8.135.424 exemplares fabricados entre 1961 e 1992. Para os brasileiros, contudo, o “R4” original é um ilustre desconhecido, já que nunca foi vendido por aqui. Falar sobre as características técnicas desse modelo e contar um pouco de sua história é uma bela desculpa para cair na estrada.
Renault 4 E-Tech electric apresentado em Paris
O exemplar que “testamos”, digamos assim, é da versão 4L e foi produzido na Colômbia, em 1977. Pertence a Diego Speratti, fotógrafo argentino residente em Colonia del Sacramento, no Uruguai. Não podíamos desperdiçar a oportunidade de fazer uma viagem internacional no Renôzinho, em um bate e volta a Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.
As dimensões compactas e as linhas arredondadas da carroceria fazem o 4L parecer uma versão break dos Renault Dauphine e Gordini. Sua mecânica, porém, vai na parte dianteira — no exemplar do Diego são 1.022 cm3 mas, na Colômbia, o modelo chegou a trazer o motor Cléon-Fonte de 1.289 cm³, gêmeo do que era usado no primeiro Corcel brasileiro (até o ronquinho é o mesmo). Na França, a cilindrada ia de 747 cm3 a 1.108 cm3.
Renault 4 _1967–74 - Câmbio à frente do motor
À frente do motor, bem no bico do carro, vai a caixa de marchas. A alavanca do câmbio de quatro velocidades parece um cabo de guarda-chuva saindo do painel.
O 4L tem ótimo espaço interno para um modelo de apenas 3,66m de comprimento (2 cm mais curto do que um Kwid). Mesmo no banco de trás não há aperto. No porta-malas, sobra lugar para a tralha.
Uma curiosidade: nos Renault 4, a distância entre eixos no lado direito (2,44m) é maior do que no lado esquerdo (2,39m). Isso se deve ao peculiar desenho da suspensão traseira por barras de torção.
O Renault 4 do Diego (Foto - Jason Vogel)
E assim fomos pelas planas estradinhas do Uruguai a 75km/h, média considerada ideal pelo dono do Renault. A esta velocidade, o carro foi suave, silencioso e econômico, fazendo 16 km/l sem ajuda de injeção eletrônica ou qualquer outro recurso tecnológico moderno.
E o povo olhava embevecido para a pintura supercolorida, feita especialmente para um casamento na Colômbia. Sim: Diego comprou o 4L quando morava na Colômbia e trouxe o carro de lá — rodando — quando se mudou para o Uruguai.
Falha de projeto? Só o calor: as janelinhas de correr não dão conta de refrescar o interior. No verão carioca, os ocupantes morreriam de desidratação. Um teto solar cairia muito bem (algumas versões francesas traziam este opcional).
A robustez e a simplicidade são pontos fortes. Depois de uma hibernação de seis meses, “nosso” 4L enfrentou os 1.700km desta viagem sem qualquer pane. Ou quase, já que o motor de arranque parou de funcionar. A cada partida era preciso empurrar — e foi assim, ante o olhar incrédulo dos fiscais aduaneiros, que cruzamos a fronteira de Uruguaiana.
Renault 4 Pablo Escobar (1)
O Renault 4 foi concebido no final dos anos 50 como um carro baratinho e econômico para concorrer com o Citroën 2CV. Também serviu para substituir o Renault 4CV (conhecido no Brasil como “Rabo quente”), que já estava em fim de carreira.
Lançado no Salão de Frankfurt de 1961, o Renault 4 foi o primeiro carro de passeio da marca francesa a trazer tração dianteira. Acabou por superar todas as expectativas de seu fabricante, sendo produzido em 12 países, ao longo de 31 anos, sem grandes modificações. Para sermos mais exatos, foram 33 anos, já que países como o Marrocos e a Espanha continuaram a montar o R4 até 1994.
Papa Francisco e seu Renault 4 no Vaticano
Na França, o modelo ficou conhecido pelo nome de “Quatrelle”, modo local de pronunciar 4L — denominação da mais conhecida de suas versões. Na antiga Iugoslávia era o “Katrca”. Em Portugal e na Espanha, “Quatro latas”. Na Colômbia, onde foi feito de 1970 a 1992, o carro até hoje é chamado de “Pichirilo” ou “Amigo fiel”.
Esse companheiro mecânico foi produzido ainda em países tão diversos quanto Argentina, Iugoslávia, Austrália, México e Portugal. Seu público era o mais variado possível: o cardeal Jorge Mario Bergoglio, hoje Papa Francisco, teve um. O chefão do narcotráfico Pablo Escobar também — e de corridas!
Um Renault 4 terminou o Paris-Dakar de 1980 em 3º lugar geral (1)
A derivação mais famosa do Renault 4 era um furgãozinho fechado (à moda dos nossos Fiat Fiorino). Entre 1961 e 1963, foi feita uma versão pé-de-boi ultrabásica chamada Renault 3. Havia ainda o Plein Air, um R4 transformado em jipinho todo aberto, produzido na França entre 1968 e 1970. No Uruguai, quando teve que ser nacionalizado por força da lei, o Renault 4 recebeu uma curiosa carroceria de picape cabine dupla, com o nome Mini.
Leve e resistente, o Renault 4 chegou a obter ótimos resultados no Rali Paris-Dacar: tripulado pelos irmãos Claude e Bernard Marreau, foi o segundo colocado em 1979 e terceiro em 1980. Para a prova, era adaptado com um kit de tração 4x4 feito pela companhia francesa Sinpar (foto de abertura).
Mesmo sem grandes adaptações, o modelo com tração dianteira é capaz de enfrentar desafios todo-terreno. A cada ano, desde 1998, universitários da França participam do Rally Raid 4L Trophy, que cruza desertos no Norte da África. Nada menos do que 2.300 participantes (em 1.150 carros!) entraram na última edição, em fevereiro passado.
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