Definir Mini em duas palavras? Charme e Esportividade. É assim há 60 anos. Ou, pelo menos, era. Nascido como modelo popular e econômico da British Motor Corporation (BMC), o Mini se transformou em carro da moda na efervescente Londres da década de 60 ao ser adotado como meio de transporte de gente fashion como os integrantes dos Beatles, a estilista Mary Quant (inventora da minissaia) e o ator Peter Sellers.
Mas o principal é que o carrinho também foi adotado por John Cooper (1923-2000), dono da Cooper Car Company, construtora que já havia revolucionado o automobilismo ao tirar o motor da dianteira dos Fórmula 1 e passar todo o conjunto mecânico para a posição central, atrás do piloto, onde está até hoje.
Foi John Cooper quem percebeu o potencial esportivo do Mini em competições e desenvolveu kits de preparação para o modelo popular da BMC, que passou a dominar os ralis da época, superando carros muito maiores e mais potentes. Entre tantas provas, os Mini ganharam o Rali de Monte Carlo três vezes, em 1964, 1965 e 1967. O filme “The Italian Job” (no Brasil, “Um golpe à Italiana"), de 1969, ajudou a consolidar pelo mundo essa imagem do Mini como carro ágil e bom de curva.
Damos um salto de seis décadas nessa história e chegamos ao lançamento da nova geração do Mini no Brasil. O evento realizado na cidade serrana de Campos do Jordão (SP), na semana passada, prometia grande diversão nas estradinhas sinuosas da região. O Mini hoje já está na quarta geração produzida sob o controle da BMW (a partir de 2000) e é um carro bem maior e mais potente que aquele que correu em Monte Carlo 60 anos atrás.
Confesso que, ao ver a novíssima geração no Salão de Pequim, em abril passado, achei o modelo estranho como uma réplica modernizada do Lifan 320 (aquele carro chinês que imitava o Mini…). Agora, depois de passar algumas horas com o modelo 2024, seu estilo “Mini-malista” desceu melhor. Limparam tanto as linhas que até as saídas de escape foram escondidas… Deve ser complicado desenhar um carro novo preso a tantas referências das gerações anteriores.
Quem curte tradições automotivas gostará de saber que o novo Mini é feito na centenária fábrica de Oxford - a mesma de onde saiam os Morris Minor e Oxford, tão comuns nas ruas brasileiras na década de 50. E é nessa linha que os Mini são produzidos desde 1959.
Como na geração anterior (2014–2024), o motor é o B48 de quatro cilindros, 2 litros, com turbocompressor twin-scroll (um curinga do grupo BMW), mas a potência subiu de 192 cv para 204 cv. O torque máximo melhorou um pouquinho, indo de 28,5 kgfm para 30,6 kgfm.
Inicialmente, a nova geração do Mini (nome-código F66) chega aqui com carroceria hatch de duas portas e motor a combustão. Sua versão 100% elétrica só começará a ser importada mais para o final do ano, quando a fábrica de Oxford tiver condições de atender à demanda (por enquanto, a único Mini elétrico de nova geração no Brasil é o modelo Countryman). Já os Mini Cooper hatch de quatro portas, bem como os conversíveis e os brabos JCW (sigla de John Cooper Works) devem ficar para o ano que vem.
A plataforma básica não mudou: é a mesma UKL1 de antes, com idênticos 2.495 mm de entre-eixos. Houve, contudo grandes alterações na geometria e na calibragem da suspensão, especialmente no eixo traseiro, que teve seus pontos de ancoragem mais centralizados no monobloco.
Na prática, o que percebemos é um rodar mais domesticado e (bem) menos duro que antes. Durante o test drive de lançamento, nos perdemos por alguns caminhos pessimamente pavimentados, com direito a muitos buracos e valetas - mesmo assim, todas as nossas obturações continuam no lugar! E olha que os pneus estão até um pouquinho mais largos: 215/45 R17, contra os 205/45 R17 de antes.
Mesmo mais suave, o Mini continua a ser bem equilibrado nas curvas, sem inclinações ou balanços indesejados. O acelerador abre rápido, dando vida à condução. E tem o ronquinho gostoso do motor a combustão (que será trocado por sons artificiais na versão elétrica). Com 204 cv para levar um carrinho de 1.285 kg, o desempenho só poderia ser muito bom, com 0 a 100 km/h em 6,6 s e máxima de 240 km/h, segundo a frieza dos números fornecidos pelo fabricante.
A Mini, desde sempre, apregoa seu “go-kart feeling”, um acerto feito para quem ama dirigir. O prazer ao volante, especialmente em caminhos sinuosos - em teoria - é o que norteia os projetistas da marca. E é aí que está o grande problema desse novo Mini Cooper S. Procuramos atrás do volante as aletas para trocar as marchas e não encontramos. “Ué… deve haver uma maneira de controlar manualmente esse câmbio automatizado de sete marchas e duas embreagens… Não é possível que tenham se esquecido disso!”
Também buscamos uma alavanca e… nada. O máximo que que há é um seletor no painel para alterar entre D e L, para que o motor trabalhe em rotações mais elevadas. Sabe-se lá porque, simplesmente resolveram não pôr no Mini Cooper S as aletas atrás do volante - um equipamento disponível até no prosaico Fiat Argo…
A verdade é que a ausência do paddle shift tira metade da graça de conduzir esse carrinho com enorme potencial de diversão. E mais: em um percurso cheio de curvas, a gente acaba sobrecarregando os freios. Por sorte, a direção com assistência elétrica continua bem direta e comunicativa. O volante, aliás, tem pequeno diâmetro, aro grosso e parece ter três raios mas, na verdade, só tem dois. O “raio inferior” é uma tira de tecido. Bem diferente!
Os bancos dianteiros são ótimos, especialmente na versão Top, com desenho esportivo, muito apoio lateral, ajustes elétricos e até massagem. A posição de guiar é ótima, bem baixinha. E acho que nem é preciso dizer que o espaço para quem vai no assento traseiro é mínimo - o que é uma característica do carro (e não um defeito). Item de série desde a versão de entrada Exclusive, o teto panorâmico ajuda a evitar a sensação de claustrofobia.
A parte superior do tablier é revestida por uma espécie de malha grossa, o que também dá um resultado original. Bem no meio do painel há uma tela redonda de 24 cm de diâmetro, grande como um prato de jantar. Tem altíssima definição (Oled), digna de smartphone de última geração, e nada menos que seis opções de visualização - todas com leitura absolutamente caótica, confusa.
A inspiração para esse prato no meio do painel vem do velocímetro Mini original. Calhou de vermos um modelo de 1959 durante a apresentação - sim, o carrinho trazia um instrumento redondo fazendo as vezes de painel minimalista, mas com o diâmetro de um pires e leitura mais clara que agora.
Sob o “pratão” de Oled do Mini 2024, temos ainda uma barrinha horizontal onde se controlam as funções de condução mais importantes, como freio de estacionamento, seletor do câmbio, ignição, modos de condução e controles do sistema de áudio (Harman/Kardon, na versão Top). Essa barrinha também é inspirada no Mini de 1959.
O que salva, na versão Top, é que o Mini atual traz um head-up display - é por ali que a gente acaba se orientando todo o tempo. A Top traz ainda recursos de navegação com realidade aumentada, visão em 360° e controle de cruzeiro ativo. Seus faróis são de Led matricial com funções adaptativas. Os preços são até condizentes para um carrinho de nicho tão charmoso: R$ 240 mil na versão Exclusive e R$ 270 mil na Top. Mas custava terem posto o paddle shift?
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