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Isotta Fraschini Tipo 6: um hipercarro de Le Mans para ser usado nas ruas

Híbrido só tem lugar para um, rende perto de 1000 cv e pesa menos de uma tonelada

Isotta Fraschini Tipo 6 Strada no centro de Milão

A Isotta Fraschini, aristocrática marca italiana que teve seu apogeu nos anos 1920, ensaia seu retorno em alta velocidade. Quem lê a lista dos inscritos para as 24 Horas de Le Mans de 2024 encontra um protótipo chamado Isotta Fraschini Tipo 6 LMH-C. Que história é essa de um nome do passado ressurgir numa prova onde a tecnologia dá as cartas?

Vamos lá: a Isotta Fraschini original foi fundada em Milão, em 1900, por Cesare Isotta e os irmãos Antonio, Oreste e Vincenzo Fraschini. Era, inicialmente, uma agência de carros e oficina mas, num instante, passou a produzir seus próprios automóveis esportivos e para corridas.

Fez também caminhões e motores para aviação - mas se afirmou para valer como fábrica de carros de altíssimo luxo, em especial os Tipo 8. Nos EUA, era o automóvel do superastro do cinema mudo Rodolfo Valentino. No Brasil, era a marca favorita da cantora lírica Gabriella Besanzoni e do industrial Henrique Lage: o casal milionário morava no palacete onde hoje é o Parque Lage, no Rio de Janeiro, e teve nada menos do que quatro Isotta Tipo 8.

A companhia italiana sobreviveu à Segunda Guerra, mas não durou muito tempo depois disso. Em 1949, quando fez um acordo com a nossa Fábrica Nacional de Motores, para produzir caminhões no Brasil, a Isotta Fraschini já estava quebrada. Depois de umas poucas unidades montadas, a FNM teve que recorrer à Alfa Romeo para manter a produção, mas isso é outra história.

Tentativas de volta

Desde o fim da Isotta Fraschini original, já houve algumas tentativas de reviver a marca. Nos anos 1990, o nome foi usado em um cupê e em um conversível com motores Audi V8 e W12, mas foram feitos apenas uns poucos protótipos.

Em 2018, foi a vez de empresários de Milão formarem uma nova Isotta Fraschini Milano Fabbrica Automobili, com a ideia inicial de produzir um sedã elétrico de altíssimo luxo. Depois de uma mudança societária, porém, decidiram que a reestreia da marca seria com um hipercarro para disputar provas do Campeonato Mundial de Endurance da FIA (WEC).

O projeto foi tocado pela Michelotto Automobili, que tem um belo currículo nas pistas e em ralis desde os anos 70 e já colaborou na adaptação de diversos Ferrari de rua para uso em competições. Sua parte aerodinâmica foi desenvolvida pela Williams Grand Prix Engineering (que hoje está na Fórmula 1 por meio da equipe Williams Racing).

Competizione

No início de 2023, a nova Isotta Fraschini apresentou no Automóvel Clube de Milão o Tipo 6 LMH Competizione, Trata-se de um hipercarro híbrido com tração integral: o eixo dianteiro leva um motor elétrico de 272 cv de potência, alimentado por uma bateria de íon-lítio de 900V. Atrás do piloto vai um V6 a gasolina, de 3 litros, com um único turbo - pelo regulamento da WEC, sua potência é limitada a 707 cv. Com monocoque de fibra de carbono, o carro pesa apenas 1.030 quilos (o mesmo que um Fiat Argo 1.0…), o que dá uma relação peso potência de 1,05 kg/cv.

Vale dizer que o motor V6 foi desenvolvido na Alemanha pela HWA Engineering, cuja sigla vem de Hans-Werner Aufrecht. Este veterano preparador não apenas é o presidente da empresa como, simplesmente, é a letra “A” da sigla AMG (companhia fundada por Aufrecht em 1967 e vendida para a Mercedes-Benz em 1999). O motor elétrico também é fornecido pela HWA.

O câmbio sequencial de sete marchas e o diferencial são fornecidos pela Xtra, a fabricante de todos os conjuntos de transmissão usados na Nascar, entre outras categorias. As suspensões são por duplo braço triangular e os discos dos freios, obviamente, são de fibra de carbono, com pinças de seis pistões na frente e quatro atrás. A ideia é vender o protótipo a equipes de endurance e a qualquer um com dinheiro suficiente para correr com um Isotta Fraschini.

O carro estreou no Mundial de Endurance em março de 2024, com o trio de pilotos formado por Jean-Karl Vernay (francês, de 36 anos) e os jovens Carl Bennett (tailandês, 19 anos) e Antonio Serravalle (canadense, 22 anos). Na prova Qatar 1812 Km, o Isotta teve que abandonar a corrida por problemas na suspensão dianteira, ficando com o 17º lugar entre os 19 competidores da categoria Hypercar. Em abril, nas 6 Horas de Ímola, conseguiu ir até a bandeirada final, mas também ficou na 17ª colocação. Em maio, foi a vez de um 15º lugar nas 6 Horas de Spa-Francorchamps. Depois de Le Mans, o Tipo 6 deve vir a Interlagos para as 6 Horas de São Paulo, no dia 14 de julho.

Pista

Para quem ainda não estiver satisfeito com o Tipo 6 Competizione, há a versão Pista, também para uso em autódromos mas sem as limitações de BoP (Balance of Performance) da FIA, que tenta manter alguma paridade entre os diferentes carros que disputam o WEC ajustando limites e parâmetros como potência, peso, gerenciamento do motor e aerodinâmica.

Assim, a relação peso potência vai a 0,98 kg/cv e o carro pode ir de 0 a 200 km/h em 4,5 s. Quer ser o rei do track day? O Tipo 6 Pista é o seu carro. A produção será limitada a 25 unidades.

Strada

A Isotta Fraschini já mostrou também o Tipo 6 Strada que, como o nome sugere, é homologado para uso em rodovias. No lançamento, o hipercarro rodou de Milão até Sanremo cruzando as ruas estreitas das cidades, trânsito pesado e 260 quilômetros de estrada.

É, basicamente, a versão Competizione, mas trazendo algumas alterações para obter a homologação para uso em vias públicas. A distância ao solo foi aumentada e há menos apêndices aerodinâmicos - o mais visível é a ausência da enorme asa traseira. O tanque é um pouco maior (100 litros contra os 90 litros da versão Competizione) e as rodas são de 19” na frente e 20” atrás (no Competizione e no Pista, as quatro são de 18”). A iluminação, toda com Leds, é feita para uso na rua e, claro, há lugar para instalar as placas.

De resto, o carro é capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 2,8s ou de 0 a 200 km/h em 6s, com máxima em torno dos 370 km/h. O interior é típico de um protótipo de corridas: apenas um lugar (com pouco conforto), volante de competição com incontáveis botões para ajustes e comandos, nenhum mimo eletrônico ou central multimídia. Um dos poucos “luxos” é um retrovisor por câmera, já que não há vigia traseira. Vale avisar que o Tipo 6 mede 5 metros de comprimento por 2 metros de largura: guiá-lo no trânsito da Itália não deve ser lá muito fácil.

A produção total dessa versão de rua será de 12 carros, cada um custando € 3,2 milhões (ou R$ 18,4 milhões pelo câmbio atual). É o preço de se usar nas ruas um hipercarro das 24 Horas de Le Mans e que será o centro de todas as atenções por onde passar.

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