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No tempo em que para-choque era item de luxo

Equipamentos que hoje são comuns já foram anunciados como grandes inovações

Jason Vogel: opcionais esquecidos dos carros

Você acha os carros atuais pouco equipados? Torce o nariz para anúncios que apresentam wi-fi a bordo como vantagem e pensa que todos os automóveis já deveriam trazer este tipo de conectividade? Acha que pacotes de opcionais deveriam vir como itens de série? Pois pesquisar a publicidade de um passado remoto traz surpresas.

Em propagandas com muito texto e nenhuma fotografia (apenas ilustrações), vemos que características técnicas hoje triviais já foram vendidas como enormes vantagens. Mostramos aqui alguns reclames publicados em jornais e revistas brasileiros entre as décadas de 1910 e 1950.

Jason Vogel: opcionais esquecidos dos carros

Partida sem suor

"O automóvel Cadillac não tem manivela" - era assim que a marca americana anunciava seu pioneirismo ao adotar o motor de arranque, uma gigantesca vantagem sobre a concorrência.

Nas duas primeiras décadas do automóvel, usavam-se os músculos para girar a manivela e dar a partida. Além de força, era preciso ter certas manhas e alguma sorte - era bem comum o motor a explosão dar um retrocesso ao ser posto para funcionar, fraturando um braço ou torcendo um pulso do infeliz motorista. Byron Carter, fundador da efêmera fábrica de automóveis Cartercar, de Detroit, sofreu uma lesão ainda mais grave: levou uma manivelada no queixo e o ferimento o levou à morte.

Esse acidente motivou os engenheiros Henry Leland (um dos fundadores da Cadillac) e Charles F. Kettering (da Delco) a inventarem o motor de arranque. Em 1912, a Cadillac estreou a novidade no Model Thirty, de quatro cilindros e 4,7 litros. Imagine o que era pôr esse bicho pra funcionar usando só o muque...

Com o arranque elétrico, já não era preciso ser fortão para dirigir! Um reclame publicado na revista "Fon-Fon" de 5 de julho de 1913 afirmava que o invento ajudaria até a economizar combustível: pelo incômodo e o risco de girar a manivela, muitos motoristas simplesmente não desligavam o motor enquanto o carro estava estacionado por curtos períodos.

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Itens de série: para-choques, 4 freios e até fechaduras!

Um dos anúncios mais surpreendentes é o que alardeia o Chevrolet 1929 como "completamente equipado e prompto para a estrada". Leia-se: o carro trazia um estepe, dois para-choques, quatro amortecedores e... nem era preciso pagar a mais por estes itens!

Já a eterna rival Ford apregoava "freios nas quatro rodas" e "fechaduras contra roubos" como grandes vantagens ao lançar seu Modelo A, em 1928. Explica-se: em seu antecessor, o Modelo T, os freios atuavam apenas no eixo traseiro. Trancar o carro com chave era novidade — em geral, uma travinha tipo pino bastava.

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Flex em 1933

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Avançamos um pouco no tempo e encontramos um anúncio do Chevrolet Pavão 6, de 1933. Um de seus modernos apelos era o "systema Fisher de ventilação", algo que, mais tarde, chamaríamos de quebra-vento. Segundo as propagandas, esta "innovação" evitava a entrada de vento e chuva "sem prejudicar a ventilação ou provocar resfriados". Servia, também, como um eficiente exaustor de fumaça de cachimbos e cigarros. https://youtu.be/ien5VkTxdYE

Outro detalhe no mesmo reclame do Chevrolet 1933 chama a atenção: é o "octane-selector", que permitia alterar o ponto de ignição para obter o melhor rendimento com combustíveis de diferentes qualidades — "mesmo o álcool-motor", enfatizava. Era praticamente um flex da Era Vargas, quando houve esforço para estimular o uso do etanol misturado à gasolina.

Sem Cardã

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Carros com tração dianteira e motor transversal hoje são imensa maioria. Mas, em 1938, ainda eram uma excentricidade técnica que precisava ser bem explicada. A alemã DKW, pioneira no assunto, descrevia como "systema de tracção dianteira, sem eixo transmissor. Motor, embreagem e differencial num bloco único". Mas a ênfase do anúncio era a economia, já que o carro conseguia fazer frugais 14km/l.

Falando em transmissão, a Oldsmobile publicou uma "Apresentação especial" de seu modelo 1946 com câmbio automático — novidade que gerava desconfianças e ainda levaria décadas para ser bem aceita no Brasil. O nome "Hidramático" vinha do pioneiro sistema "Hydra-Matic", marca registrada da General Motors. E o texto exclamava: "elimina completamente o pedal de embreagem!". 

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Diferenciais à mostra

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Ainda na euforia do pós-guerra, chegaram ao Brasil os primeiros Jeep para civis, em 1947. Para explicar a novidade ao público, esses veículos eram expostos nas lojas de forma inusitada: içados por uma corrente, de maneira que os clientes pudessem ver que havia diferencial não apenas no eixo traseiro como também no dianteiro.

Nas ilustrações das propagandas publicadas por aqui, o "carro mais útil do mundo" também era mostrado meio de baixo. Alguns reclames chegavam a exibir apenas o fundo do valente 4x4, expondo seus dois diferenciais, os dois cardans e a caixa de transferência. "A propulsão nas quatro rodas garante-lhe segurança de tração nos campos". Como fora de estrada não era brincadeira de fim de semana, o anúncio sugeria as funções do Jeep: "Ara a terra, destorroa, semeia, ceifa, colhe, pulveriza pomares...".

Monobloco e uniscópio

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A construção das carrocerias também era citação comum na publicidade. Primeiro nos anos 20 e 30, quando as estruturas de madeira foram substituídas por armações de metal. Depois, em 1949, a Nash passou a alardear que seus modelos tinham monobloco (solução adotada por poucas marcas até então). "Unificados por vigamento de aço", chassi e carroceria passavam a formar um só corpo. As vantagens, segundo o texto, eram um carro mais seguro, com mais espaço e visibilidade. Outra novidade da marca era o "Uniscópio", um mostrador redondo sobre a coluna de direção que reunia velocímetro, marcador do tanque, manômetro de óleo e termômetro.  

Injeção direta em 1954

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Na primeira metade dos anos 50, a carioca Bramocar, que importava os ingleses Morris, passou a trazer da Alemanha o compacto Goliath GP700 com "injeção de combustível na câmara de explosão". Sim: este foi o primeiro automóvel do mundo com injeção de gasolina diretamente na câmara de combustão, uma tecnologia desenvolvida pela Bosch.

Curiosamente, na propaganda de 1954, essa informação está perdida entre os dados do modelo. Passados quase 70 anos do anúncio do pequeno Goliath, vivemos tempos de "downsizing" de motores e os fabricantes alardeiam a injeção direta como uma avançada solução tecnológica.

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