No fim da década de 70, a Volkswagen deu início a um projeto de engenharia exclusivo para o mercado brasileiro. Seriam modelos com motor dianteiro dentro do conceito de "família" - algo bem moderno para a época. Uma única plataforma básica, com adaptações, deu origem a um pequeno hatch (o Gol, em 1980), a um sedã (o Voyage, em 1981), a uma station wagon (a Parati, em junho de 1982) e, por último, a uma picape (a Saveiro, já no final de 1982).
Esses carros faziam parte da família BX e representavam uma importante transição para a marca alemã no Brasil: o velho Fusca com seu motor traseiro "a ar" ainda era o campeão de vendas no país, mas o fabricante estava preparando a substituição do besouro e uma evolução para os novos tempos.
A perua Parati também substituiria um modelo com motor traseiro refrigerado a ar: a Variant II. De quebra, deveria conquistar órfãos da Brasília que quisessem um carro mais espaçoso que o Gol.
Inicialmente, a nova station wagon da Volks seria batizada de Angra. Aí, alguém da marca se tocou que o público poderia criar associações maldosas entre a perua e a usina atômica de Angra dos Reis. Resolveram, então, rebatizar o modelo com o nome de outra cidade do litoral sul-fluminense.
O desenho era um primor, capaz de agradar tanto a chefes de família quanto a playboys. Como ditava o mercado brasileiro na época, a Parati saía apenas em versão duas portas. Apesar das linhas retas e vincos na carroceria, o modelo transmitia leveza e jovialidade - qualidades raras em peruas.
Muito desse estilo vinha das primeiras gerações do VW Polo alemão (lançado em 1975). Já a tampa do porta-malas e as lanternas eram réplicas em escala das usadas nas Passat Variant, também alemãs. Bem verticais, essas luzes traseiras pareceram moderníssimas na época.
Em um tempo de importações proibidas e somente quatro grandes fabricantes no país, a Parati chegou com uma missão de curinga: sozinha, tinha que enfrentar a Chevrolet Marajó, a Fiat Panorama e até as pesadonas Ford Belina e Chevrolet Caravan (a VW Quantum só chegaria às lojas em 1985).
A parte dianteira era idêntica à do Voyage, tanto visual quanto estruturalmente. Na traseira, a suspensão tinha braços mais reforçados. Detalhe: Voyage e Parati tinham o mesmo comprimento (4,06 m) e a mesma distância entre-eixos (2,35 m).
Apesar de compacta, a perua tinha uma grande tampa traseira que permitia arrumar a bagagem com facilidade. Com carga até o teto, o porta-malas tinha 620 litros de capacidade. Precisando mais, podia-se baixar o encosto traseiro.
Em 1982, o Gol ainda tinha o motor boxer refrigerado a ar. Sua irmã Parati, contudo, já trouxe desde o início o motor de quatro cilindros em linha e refrigerado a água do Passat e do Voyage. Com 1.471 cm³, rendia 78 cv.
Esse motor "1.500", contudo, durou pouquíssimo. Apenas dois meses após o lançamento, foi substituído pelo "1.600" a álcool, também do Passat. Tinha potência de 98 cv brutos, o suficiente para a nova perua alcançar os 155 km/h e ir de 0 a 100 km/h em 14 segundos - marcas muito boas para o Brasil de 1982.
O câmbio de quatro velocidades era outro componente que vinha do Passat e do Voyage (apenas em 1984 é que a Parati ganharia quinta marcha). Assim, o consumo era considerado apenas regular. Com álcool - combustível que estava em franca ascensão em 1982 - a Parati fazia uns 7,5 km/l na cidade e uns 11 km/l na estrada.
Como no Voyage e no Gol, a perua tinha suspensão McPherson na dianteira e eixo de torção com molas helicoidais na traseira. Para melhorar o conforto do motorista, a Parati foi o primeiro modelo da família BX com amortecedor de direção. E a segurança era aprimorada com válvulas equalizadoras nos freios traseiros, que reduziam as possibilidades de uma travada com o porta-malas carregado.
No geral, a Parati era tão estável quanto o Voyage. Muito mais justinha, confortável, silenciosa e divertida que a Variant II - os novos tempos haviam chegado para a VW do Brasil.
Na cabine, Parati, Voyage e Gol eram irmãos gêmeos, com bancos dianteiros bem anatômicos e com regulagem milimétrica do encosto. Dito hoje, parece pouco. Na maioria dos carros da época, contudo, era difícil encontrar a posição ideal de dirigir.
Como opcional, havia até cinto retrátil de três pontos. Mas, naquele tempo, eram raríssimos os brasileiros que usavam o cinto de segurança (visto como frescura de gringos).
A versão mais completa foi batizada de GLS (que, na época, era apenas a sigla de Gran Luxo Super). Trazia até conta-giros, mas faltava o termômetro de água - item considerado indispensável para muitos motoristas de então.
A primeira plástica aconteceu em maio de 1987, quando a Parati já havia se consagrado a perua mais vendida do Brasil. As novidades incluíam frente rebaixada, para-choques envolventes de plástico, grade com barras mais largas, novos faróis e lanternas dianteiras e, como destaque, um rack com traves desmontáveis (novidade que havia surgido com a Quantum).
Na época, a brasileira Parati tentou a sorte no exterior. Entre 1987 e 1991, a perua (juntamente com o Voyage) foi exportada para os Estados Unidos e o Canadá, com o nome Fox Wagon. Para ser vendida na América do Norte, recebeu mais de 2 mil modificações. Entre os equipamentos inexistentes aqui, havia até injeção eletrônica...
Nos anos seguintes, a primeira geração da Parati ganhou ainda diferentes quadros de instrumentos, uma caprichada (e esperta!) versão GLS 1.8, outra mais básica com o motor Ford CHT 1.6 (nos tempos da aliança Autolatina) e, também, outra cirurgia plástica na frente, em 1991.
Apesar de tantas modificações, no meio da década de 90 as linhas puras e angulosas já mostravam a idade avançada da Parati original. Em setembro de 1994, a Volks mostrou a segunda geração do Gol, com desenho tão arredondado que ganhou o apelido de "Bolinha". O irmão Voyage não passou à nova fase: foi precocemente aposentado em 1996 (e só voltaria à ativa 12 anos depois, como um carro todo diferente, dotado de motor transversal).
Já a Parati, que ainda era a líder de vendas entre as peruas nacionais, teve direito a uma segunda geração, lançada em outubro de 1995. Como no Gol, a plataforma antiga recebeu várias modificações e a carroceria foi inteiramente trocada por outra, de contornos mais redondos. Em 1998 - enfim! - a Parati ganhou uma versão de quatro portas. E tome novas opções: houve até uma com motor 1.0 turbo.
E vieram tantas versões com nomes em inglês que ficava até difícil decorar: Track & Field, City, Crossover, Surf, Titan, Trend, Sunset, Summer - era uma salada! Com os retoques de 1999 ("G3") e de 2005 ("G4"), a outrora jovial perua foi se mantendo no mercado até se tornar uma "velhinha plastificada".
A Parati, contudo, não teve direito a uma geração realmente nova quando o Gol mudou de cabo a rabo, ganhando motor transversal e plataforma muito mais moderna. A transformação nem fazia sentido pois, naquela altura, a Volkswagen já trazia da Argentina a station wagon SpaceFox. Os dias da Parati - outrora a perua mais vendida do Brasil - estavam contados.
Quando a Parati deixou de ser produzida, em junho de 2012 (exatos 30 anos após seu lançamento), muita gente imaginava que sua fabricação já havia sido encerrada há tempos. Ao todo, foram feitas aproximadamente 900 mil Parati - que, muito robustas e fáceis de manter, ainda serão parte da paisagem brasileira por muitos anos.
Nesta edição do Semana Motor1.com, destacamos a confirmação do novo Fastback para o futuro SUV cupê da Fiat além de antecipar informações a respeito. Também foram destaques a chegada do Creta N Line, especificações do novo Honda ZR-V que será vendido no Brasil, Fiat Cronos 2023 e o SUV elétrico BMX iX3.
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