Eles tiveram o sonho (ou delírio megalomaníaco, em certos casos) de criar carros genuinamente brasileiros. Não faltam teorias da conspiração para explicar seu fracasso, mas será que esses projetos realmente teriam alguma chance no mercado? Conheça aqui algumas dessas ideias exóticas que não foram adiante.
Nos primórdios da indústria nacional, pequenos empresários se lançaram num sonho de produzir carros brasileiros. Foi o caso de Joaquim Garcia, músico e torneiro mecânico da cidade paulista de Jaboticabal. Ele passou os anos 50 fazendo, artesanalmente, cupês e caminhonetes com a marca Joagar. Apenas sete carros foram produzidos (o último em 1960).
Nos anos 60, o empresário Nelson Fernandes tentou criar a Indústria Brasileira de Automóveis Presidente (IBAP). Seria, em tamanho, duas vezes maior que a Volkswagen. Havia planos de se fazer um modelo popular e um furgão mas o primeiro protótipo (em 1966) foi um sedã de quatro portas montado sobre um Chevrolet Corvair. Em 1968, uma nova mudança de prioridades: para atrair acionistas, o modelo inicial seria o Democrata - um cupê de fibra de vidro com motor V6 italiano montado na traseira.
Dois exemplares foram construídos para as campanhas de vendas de Cédulas de Propriedade da IBAP. Outras tantos monoblocos de fibra foram moldados, e as fotos de divulgação eram feitas para dar a impressão que o galpão da empresa, em São Bernardo do Campo, já tinha uma linha de produção em funcionamento. No fim, Nelson Fernandes já falava até em comprar a Fábrica Nacional de Motores, que estava em vias de ser privatizada pelo governo militar. Não demorou e um lote de 500 motores V6 italianos foi apreendido pela alfândega. Ainda em 1968, o Banco Central interveio e o projeto da IBAP foi encerrado.
Em 1981, o empresário paulista Humberto Pereira Dias tentou relançar a Romi-Isetta, microcarro fabricado no Brasil entre 1956 e 1961. Ele pegou um modelo original, alisou a carroceria, pôs os faróis no para-choque dianteiro, adaptou lanternas traseiras e painel de Fiat 147, além de outras "atualizações" no estilo - nascia o protótipo da Diaseta. Sua ideia era vender o carrinho montado ou em kits, que poderiam ser adquiridos até em postos de gasolina... A fábrica em Montes Claros (MG) nunca saiu do papel, mas a única Diaseta construída ainda funciona.
Ninguém sabe quem era o dono da empresa - oficialmente, um "grupo de Lichtenstein bancado por investidores suíços". Fato é que, em 1997, foi anunciado que um "Lotus brasileiro" seria fabricado pela Megastar Veículos em Pindamonhangaba (SP). O estilo plagiava o carro-conceito Volvo ECC. A empresa fez artesanalmente uns 15 sedãs e fechou.
O grupo moçambicano Tricos (representante da SsangYong e da Chana) anunciou que construiria em Tocantins a Fábrica Brasileira de Automóveis (Fabral). Montaria os jipes PS10 Anibal, da marca espanhola Santana. Rebatizados de Jalapão, tinham a carroceria dos Land Rover 109 Series IIA (da década de 60) e motor Iveco. O início da produção seria em 2003, mas a fábrica nunca saiu do papel.
A Obvio! afirmava que fabricaria 50 mil automóveis por ano em Xerém (RJ), gerando 4 mil empregos. Criação de Ricardo Machado, a empresa contava com suporte da californiana ZAP, que teria feito a compra antecipada de 150 mil carros e aplicado US$ 25 milhões no negócio. O projeto, contudo, ia mudando com o passar do tempo, como promessas cada vez mais mirabolantes.
No fim, a "produção" não passou de um protótipo funcional, o Obvio! 828/2, feito em 2005 a partir do Dacon 828 (mais conhecido como Mini Dacon, fora-de-série nacional do início da década de 80). Um modelo completamente novo, chamado 012, chegou a ser apresentado em uma cerimônia no Palácio Guanabara - mas era apenas um mock-up não operacional.
O Vorax seria o primeiro superesportivo brasileiro. No Salão de São Paulo de 2010, foram mostrados um cupê e um conversível exóticos, com mecânica de BMW Série 6. O projeto era do ex-engenheiro da GM Fharys Rossin, bancado por Natalino Bertin Jr, milionário dos frigoríficos. O Vorax custaria R$ 700 mil e seria fabricado em Blumenau (SC).
Motorista em posição central, motor V10 de Dodge Viper e dois turbos - eram 1.007 cv! No início, William Rosset só queria fazer um supercarro para presentear ao pai, Donino Rosset. Em 2012, porém, anunciou planos de vender 50 exemplares, por R$ 2 milhões cada. Era o DoniRosset (ou Amoritz GT), cujo emblema frontal seria feito de ouro e esmeraldas. Não passou de um mock-up, modelo em escala real mas sem mecânica.
Projetado em Cascavel (PR), o triciclo Pompéo (nome emprestado por um de seus criadores, o engenheiro e professor Renato César Pompeu) inicialmente teria mecânica de moto. Depois, vieram planos de fabricar uma versão elétrica, com baterias de íon-lítio. Os preços iriam de R$ 30 mil e R$ 60 mil e a produção teria início em 2012 - o que acabou não acontecendo.
No ano passado, o engenheiro Carlos da Motta, um dos fundadores da Pompéo, apresentou outro triciclo, o Kers Wee. A ideia agora é que seja fabricado em Maringá (PR) e se torne o carro elétrico mais barato do Brasil, por preços na faixa dos R$ 95 mil.
Nos anos 90, Eike Batista fez os jipes JPX em Pouso Alegre (MG). Em 2010, tentou um acordo com a indiana Tata. Depois, falou com o ex-projetista de Fórmula 1 Gordon Murray sobre o microcarro T.25. Por fim, disse que fabricaria compactos elétricos no Super Porto do Açu (RJ). O investimento seria de US$ 1 bilhão e a produção inicial, de 100 mil veículos. Como tantos projetos de Eike, o microcarro brasileiro não passou de um delírio irrealizável.
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