A marca Nissan se tornou mais conhecida no Brasil a partir da reabertura das importações, na década de 90. O que poucos sabem é que, nos anos 50, já havia veículos Nissan no país - e alguns deles foram montados por aqui.
A marca japonesa produzia carros desde 1933 e seus primeiros modelos chegaram aqui em 1951. Eram os caminhões Nissan 180, enviados por iniciativa do governo japonês e postos no mercado pela Mario Barros do Amaral S.A. (que também vendia os ingleses Land Rover em São Paulo).
Em 1955, a representação da marca japonesa passou à Varam Motores, que já montava, em São Bernardo do Campo, carros e caminhões da americana Nash. De propriedade do comendador Varam Keutenedjian, um armênio radicado em São Paulo, a firma também tinha linhas de montagem para automóveis Fiat, tratores Ferguson, motos BMW e até geladeiras Kelvinator.
Em 27 de abril de 1956, o jornal O Globo noticiava o crescimento da indústria automobilística e contava maiores detalhes: "O plano da Varam está em fase final. (...) A fábrica, num terreno de 587.000m³, tem uma área coberta de 30.000m³ (edifício principal), além de outro prédio, de 8.000m³, onde serão produzidos os jipes Nissan e, talvez, caminhões Nissan-Minsei a óleo diesel."
"Fundada em 1937 pelo grupo Keutenedjian, a Varam Motores tem sido a montadora dos caminhões e carros de passeio das linhas Nash e Fiat. Com as dificuldades criadas pela política cambial, a linha de montagem da empresa foi muito prejudicada e, atualmente, a firma não está produzindo os veículos Nash. Voltou então suas vistas, há um ano, para as viaturas japonesas da linha Nissan, sem se desinteressar, todavia, das representações Nash e Fiat."
"No primeiro ano de produção (1955-1956), por motivo das restrições cambiais, foram montados apenas 400 jipes Nissan. Agora, todavia, já estão concluídos os planos de fabricação da viatura japonesa e, brevemente, deve ser iniciada a produção - 3 mil veículos por ano."
No início da montagem no Brasil, em 13 de janeiro de 1955, o jipe da Nissan já era montado com algo entre 35% e 40% das peças nacionais. Segundo os planos de fabricação, o índice de nacionalização logo chegaria a 52%.
O jipe em questão era a primeira geração do Patrol (também chamada de 4W60). Exibia linhas muito semelhantes às do rival Jeep Willys, mas era bem maior em tamanho: o entre-eixos era de 2,20m, contra os 2,05m do rival americano.
Seu motor NAK Tipo A, a gasolina, de seis cilindros, com válvulas laterais, 3.670cm³ e 75cv, tinha uma história curiosa: originalmente equipava os carros da Graham-Paige, fábrica americana que, em 1935, vendera estamparias, máquinas e direitos de produção à iniciante Nissan. Segundo o fabricante, sua média de consumo era de 8km/l.
Em sua edição de fevereiro de 1955, a revista Automóveis e Acessórios festejou a estreia: "Pelas suas características, o Nissan Patrol é um veículo altamente versátil, adaptando-se perfeitamente às condições de serviço em qualquer terreno, principalmente para trabalho nas zonas rurais."
Vale lembrar que, nos anos 50, era grande o número de imigrantes japoneses na agricultura paulista, o que contaria pontos para o êxito do modelo. O Patrol nacional poderia ter feito o mesmo sucesso de outro 4x4 nipo-brasileiro: o Toyota Land Cruiser, depois rebatizado de Bandeirante.
A Varam Motores, porém, desistiu de investir no negócio. Suas suntuosas instalações na Via Anchieta foram alugadas, em 1958 (e depois vendidas) para a Simca produzir o Chambord.
Nos anos seguintes, essa mesma fábrica - que ficava bem em frente à Volkswagen - passou a produzir os carros e caminhões Dodge, até que a VW assumiu o controle da Chrysler do Brasil. A fábrica foi demolida em 1990, e hoje o terreno abriga um centro de distribuição das Casas Bahia.
Em 1990, com a reabertura das importações, os veículos da Nissan voltaram ao Brasil - inicialmente, por meio da concessionária KTM, em São Paulo. Somente em fevereiro de 2002 - 47 anos após o lançamento do Patrol da Varam - é que Nissan veio a ter outro modelo montado no país: era a picape Frontier, produzida com 60% de nacionalização nas instalações da Renault, em São José dos Pinhais, no Paraná. E, em 2014, a marca japonesa inaugurou sua fábrica própria, em Resende, no Estado do Rio. A inauguração foi com o compacto March.
Restam pouquíssimos sobreviventes dos "Patrol nacionais" dos anos 50. Por falta absoluta de peças, a maioria sofreu grandes adaptações ao longo das décadas.
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