Collection: Trabant, um sobrevivente da queda do Muro de Berlim
Entre Mercedes-Benz, Audi e BMW, ele atravessou as barreiras e ficou famoso
Literalmente indestrutível, o Trabant foi um símbolo de uma época em que a polarização política estava ainda mais em voga. Enquanto o muro de Berlim era derrubado em 1989 unificando a Alemanha, um dos abismos entre o socialismo e o capitalismo ficou evidente com um automóvel rústico e curioso que estava do lado soviético e que chamava a atenção pela robustez. Sua simplicidade rendeu uma justa fama de carro indestrutível embora inacessível a uma maioria de cidadãos.
Sem a muralha, a DDR (Deutsche Demokratische Republik) ou República Democrática Alemã, socialista, viu do outro lado, um universo de carros como Mercedes-Benz, Audi, BMW, Volvo entre outros, muito mais evoluídos do que os carros básicos fabricados no Leste Europeu, na Rússia e na própria DDR como o “Trabi”, apelido carinhoso do Trabant. Mas que carro era esse que sobreviveu a três décadas quase inalterado em sua ideia original?
Mais um carro para as massas
Do lado soviético, o pequeno Trabant da empresa Sachsenring foi considerado o símbolo do atraso mas também um herói da resistência. Lançado em 1957, era um carro para as massas, uma alternativa ao Fusca e aos NSU, um sedã compacto com motor de apenas 500 cc que fez sucesso. Nesta época a Alemanha produziu muitos minicarros, alguns inclusive com duas ou três rodas, tudo para ajudar a motorizar a Europa arrasada pela guerra. O sucesso do carro do povo, o Volkswagen, inspirava outros produtos que viriam nos anos 1950 como o Trabant.
Meu nome é simplicidade
O Trabant era diminuto com 3,37 m de comprimento, design simples e funcional e carroceria feita com um composto plástico altamente resistente sobre uma estrutura de aço leve. Essa solução foi batizada de Duraplast, um composto de fibra de vidro e plástico que resultava em um veículo leve e ágil. O motor de 500cc era refrigerado a ar com 26cv para alcançar um máximo de 100km/h (com sorte). Com dois tempos, o motor de dois cilindros exigia adição de óleo ao combustível, como nos DKW. Não tinha sistema de bombeamento de óleo e o carburador usava a força da gravidade para que o combustível, a partir do tanque em posição mais alta, pudesse descer para o equipamento e alimentar o motor. Sem bomba de óleo e radiador alem de um sistema de ignição bem simples sua manutenção era extremamente fácil.
O tempo passou, a Alemanha então se dividiu erguendo um muro, e do lado soviético o Trabant seguiu em produção. Para as poucas pessoas que podiam ter um carro, havia o Trabant, os Lada e até os modelos Dacia como opção.
Ao longo de 30 anos foram fabricadas cerca de 2,8 milhões de unidades nas versões sedã e perua do Trabant. Uma boa parte desses carros rodava nos países que compunham a União Soviética como Polônia, Bulgária, Ucrânia e Checoslováquia em um intercâmbio frequente entre as nações de viés socialista.
Além do Trabant, que evoluiu muito pouco a fabricante Sachsenring fabricou caminhões e uma versão “luxuosa” de automóvel, o P240. Era montado na Checoslováquia entre 1956 e 1959 limitado a 300 unidades por ano e que tinha porte de carro médio para a época e motor 2,4 litros seis cilindros em linha. Basicamente era feito para atender o comando dos governos socialistas já que a população em sua maioria, sequer poderia ter acesso a um veículo próprio.
O Trabant era uma das poucas alternativas de mobilidade individual nos países do bloco soviético. Com a queda do regime, há 30 anos, o Trabant era quase um dinossauro diante da evolução dos Carros alemães fabricados do outro lado do muro: não tinha freios a disco, o câmbio não era sincronizado e não contava com injeção eletrônica. Em 1988 a Sachsenring chegou a lançar uma versão com motor 1,1 litro do Volkswagen Polo, mas em 1991, o Trabant sucumbiu ao capitalismo que evidenciou seu atraso.
Por que sobrevivente?
Com o final do regime socialista, o Trabant foi descontinuado mas havia ainda um problema. A carroceria de Duraplast simplesmente não se deteriorava. Muitos veículos foram abandonados nas ruas e nos campos, mas aquele material não tinha reuso. Foi então que cientistas descobriram uma bactéria que se alimentava da fibra e conseguiram aprimorar uma solução para que o Duraplast enfim cedesse à reação para eliminar os cascos e por fim a essa história.
Galeria: Collection - Trabant
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