O ano era 1996 e a Fiat lançava o Palio. Com status de carro mundial, o hatch fruto do projeto 178 estreava nas versões 1.5 e 1.6 16V, para assumir o lugar do Uno como carro de entrada da marca italiana. A princípio, enquanto não chegavam as versões 1.0, o Uno foi mantido somente como Mille e ganhou a versão Young, que deveria ser a derradeira. Deveria, mas...
O Palio foi um sucesso de vendas, mas o Uno (ou Mille) continuou nas lojas. Veio reestilização do Palio uma, duas, três, quatro vezes... E o Uno lá, resistente, com direito até a uma dianteira remodelada, de gosto duvidoso, mas nem assim ele deixava de ter seu público. Em 2010 veio um Uno totalmente novo, mas o velho Mille, advinha, seguiu firme. E assim foi até o fim de 2013, quando a Fiat enfim foi obrigada a tirá-lo de produção por conta da obrigatoriedade dos freios ABS e airbags frontais nos carros novos a partir de 2014. Foi a mesma "causa mortis" da VW Kombi, que era fabricada no Brasil desde 1957. Se não fosse pelo governo, talvez os dois ainda estivessem por aí.
Essa "tática" não é uma exclusividade de Fiat e Volkswagen. A Chevrolet fez o mesmo com o Corsa Sedan, de 1995, rebatizado como Corsa Classic (depois só Classic) após a chegada da nova geração do Corsa, em 2002. E assim foi até 2016, quando já existiam o Prisma do Onix (o primeiro Prisma era do Celta) e o Cobalt. Ou seja, o Classic fez a proeza de enterrar o Corsa Sedan, que foi lançado para ser seu sucessor.
A Ford também já bebeu nessa fonte. Quando trouxe a nova geração do Fiesta, importada do México, em 2011, ela batizou a novidade de "New Fiesta" e manteve o antigo, feito no Brasil, em produção. Em 2013 o New Fiesta foi nacionalizado, mas isso também não alterou a vida do Fiesta antigo, que passou a ser conhecido como "Fiesta Rocam". Os dois Fiestas dividiram as concessionárias até o lançamento do novo Ka, em 2014, pois o New Fiesta não tinha a versão 1.0 que era a base das vendas do Fiesta Rocam.
Uma "newcomer" que logo aprendeu os costumes locais foi a Hyundai, pelas mãos da Caoa. Devido ao sucesso do primeiro Tucson, ela chegou ao cúmulo de vender três gerações do SUV ao mesmo tempo em nosso mercado. O velho Tucson (de 2005), o ix35 (2010) e o New Tucson (2016). Nem mesmo a chegada do Creta, feito no Brasil pela própria Hyundai a partir do fim de 2016, fez a Caoa desistir do velho Tucson imediatamente. Foram mais alguns meses até que o velho SUV descansasse em paz. O ix35, porém, ainda continua.
Agora a Chevrolet se prepara para lançar um novo sedã compacto e, como primeira ação, convoca a imprensa para dizer que o Onix Sedan não substituirá nenhum modelo atual. Mesmo ele tendo o mesmo porte do Cobalt. "Quem mata carro é o mercado", diz um interlocutor da marca, que também dá a entender que o Cobalt será reposicionado na linha 2020 para atender quase que exclusivamente aos frotistas. Ou seja, a linha de sedãs da GM ficará com Prisma Joy, Prisma, Cobalt, Onix Sedan e Cruze.
Pensa que acabou? Só que não. Quem também vai entrar nesta onda no ano que vem é a Nissan, que trará a nova geração do Versa importada do México e, vejam só, vai manter o modelo atual fabricado em Resende (RJ) nas lojas junto com a novidade.
Mas, afinal, por que as montadoras fazem isso no mercado brasileiro? Simples: poder aquisitivo. Em geral, um novo projeto evolui em materiais, equipamentos e tecnologia, trazendo maior valor agregado e consequentemente maior custo para o veículo (sem falar em todo o investimento necessário na fábrica para receber o novo produto). Para conseguir encaixar isso nos bolsos minguados do brasileiro, das duas uma: ou capa-se o projeto novo da maioria de suas evoluções ou lança-o numa faixa superior de preço - em alguns casos, claro, também é uma forma de faturar mais em cima do fator novidade. Como nem todo mundo pode pagar o preço do lançamento, mantém-se o modelo antigo (e mais barato) como opção. É uma estratégia que até a Apple vem fazendo com os Iphones...
Fotos: divulgação e arquivo Motor1.com
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