Opinião: Fiat enfim mostra que pode resgatar os bons tempos
Compacto conceitual que celebra os 120 anos da marca deixa esperança sobre futuros compactos
Passei boa parte da minha infância e adolescência dentro de um Fiat. Confesso não lembrar muito do pioneiro 147 porque eu era muito novo, mas do Uno (aliás, dos Unos, porque foram vários na família) eu não tenho como esquecer. O formato quadradinho que valorizava o espaço interno, os para-choques integrados à carroceria, o quadro de instrumentos com comandos "satélites" e, claro, o cinzeiro móvel que corria pelo painel eram alguns dos diferenciais que faziam dele um carro à frente de seu tempo - na época, a década de 80.
De fato, a Fiat sempre se notabilizou por seus compactos. Desde os tempos do 500 original, que motorizou a Itália, até o 500 moderno, que ajudou a criar a moda vintage, a marca italiana teve hatches que fizeram história. O próprio Uno foi um deles, tão inovador para seu tempo que foi lançado no Cabo Canaveral, nas instalações da NASA. Antes dele, o 147 já trazia motor dianteiro transversal numa época em que praticamente só havia o VW Fusca e suas derivações nas ruas. Mais à frente, o Punto revolucionaria o design dos hatches compactos.
Acontece que depois do renascimento do 500, em 2007, a Fiat parecia ter perdido a mão. OK, o Uno de segunda geração, lançado em 2010, teve seus toques de originalidade, mas ele mesmo foi se perdendo com o tempo. Lá fora, a Fiat foi se apagando como marca, a ponto de na própria Itália ela ter perdido mais de 30% de mercado de um ano para cá. Dentro do Grupo FCA, com a queridinha Jeep tomando conta dos SUVs e com status de marca global, a Fiat estava deixando os fãs preocupados. Afinal, nada no horizonte indicava a volta dos bons tempos.
Cabine com diversos itens personalizáveis e a dica do ursinho: este conceito vai inspirar o novo Panda
Nesta semana, porém, a Fiat mostrou que ainda tem sangue (italiano) nas veias. Com a apresentação do conceito Centoventi no Salão de Genebra, a marca celebra seus 120 anos da forma que mais sabe: criando um compacto inovador e carismático, capaz de fazer os admiradores terem uma ponta de esperança a respeito do futuro. A começar pelo próprio conceito do carro, que visa oferecer diversas possibilidades de uso num único veículo: trocando para-choques, capota, caixas de roda e acabamento externo (são quatro opções de cada), você pode ter um conversível, um aventureiro ou mesmo um carro de "firma", do tipo furgão e com escada no teto.
Por dentro, também há 120 acessórios criados pela Mopar que permitem deixar a cabine da forma que você quiser, alternando itens como o sistema de som, porta-objetos e até o quadro de instrumentos. Detalhe: algumas destas peças podem ser impressas em 3D. Depois é só encaixar no carro, pois segundo a Fiat esses componentes são "plug and play". Para completar, o quadro de instrumentos pode ter uma tela de 10" ligada ao smartphone do condutor, enquanto a multimídia usa uma telona de 20".
No conjunto mecânico, uma solução interessante promete deixar o carro mais acessível. Sabendo que grande parte do custo de um carro elétrico está nas baterias, a Fiat criou um sistema de baterias modulares. De fábrica, o Centoventi vem com uma única bateria que fornece autonomia para 100 km. Acha pouco? OK, você pode comprar (ou alugar) até mais três baterias e aumentar a autonomia para 400 km. Por fim, uma quinta bateria opcional que vai abaixo do banco do motorista garante mais 100 km, totalizando 500 km de rodagem. E esta última pode ser destacada e carregada em casa, como numa bike elétrica moderna.
Claro que o Centoventi ainda é só um conceito, mas certamente que muitas dessas ideias serão usadas na próxima geração do Panda, prevista para 2020 na Europa - a própria Fiat brincou com essa possibilidade deixando um ursinho dentro do conceito. Quem conhece o Panda sabe do parentesco dele com o nosso Uno. E de acordo com nossos colegas do site Autossegredos a Fiat está desenvolvendo uma nova geração do Uno para o fim de 2020. Se ambos herdarem a proposta lúdica e visual do Centoventi, ainda que com motores a combustão (na Europa deve haver versão eletrificada desde o lançamento), pode ser um passo certeiro da marca na direção do sucesso de outros tempos.
Para terminar, mais um indício: pelo tamanho do conceito, com 3,68 metros de comprimento por 1,74 m de largura e com entreeixos de 2,43 m, ele se encaixa direitinho na lacuna entre o Mobi e o Argo...
Galeria: Fiat Concept Centoventi
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