Em uma relação de irmãos, sempre há um favorito, independente do que os pais falam. No caso de Fastback e Pulse, a mãe Fiat deu mais atenção ao mais novo, como um visual diferente e mais moderno, interior mais refinado e, desde que nasceu, uma versão com o motor 1.3 turbo e nenhuma com o 1.3 aspirado. O Pulse se tornou Abarth antes, mas o Fastback não demorou para, como diz o marketing da marca, ser picado pelo escorpião.
O Fiat Fastback Abarth trouxe um visual mais discreto, saída de escape dupla, sendo uma ponteira em cada lado, e rodas de 18" - opcionais no Pulse. A receita é a mesma para ambos, com a calibração específica do conjunto de motor T270 e câmbio automático de 6 marchas, ronco mais encorpado e ajustes em direção, suspensão e freios para justificar a assinatura Abarth completa, não apenas o By Abarth, que segue em linha ao menos por enquanto.
As mudanças feitas para o Fastback ser um Abarth são as mesmas feitas no Pulse. Não há uma mudança estrutural na base MLA, mas todo o conjunto de suspensão é específico, com molas e amortecedores até 21% mais rígidos, barra estabilizadora mais grossa, eixo traseiro específico, altura 5 mm mais baixa e caixa de direção mais direta. Os parâmetros de alinhamento da suspensão dianteira também foram retrabalhados.
Como o Fastback já carregava o motor 1.3 turbo no seu catálogo, não tem uma mudança no conjunto de freios, com discos ventilados de 305 mm na dianteira e os polêmicos tambores na traseira. As rodas de 18" ganham 0,5" na largura, com 7,5", menor peso e vestem a mesma medida dos pneus, 215/45, em um composto diferente do by Abarth.
Só que o Fastback Abarth não seguiu a receita completa no visual, e isso pode ser bom. Como sozinho o SUV-cupê já é bem chamativo, não há o excesso das faixas laterais ou dos apliques laterais destacados, pelo contrário, foram pintados na cor do carro para se tornarem mais discretos. Poucos detalhes vermelhos aparecem e os logos da divisão se limitam ao dianteiro, nos para-lamas e na traseira. As rodas de 18" são bem raiadas, em preto e uma leve linha vermelha nas bordas.
Por dentro, é semelhante ao Pulse Abarth, com os bancos em couro preto e costuras vermelha, detalhes em vermelho, uma plaquetinha de identificação no painel e, algo que está na linha 2024 do Pulse, o acabamento em imitação de fibra de carbono em tecido reveste a linha central do dashboard. O painel de instrumentos de 7" e a central de 10,1" recebem grafismos específicos da linha Abarth, com mais informações disponíveis, como acelerômetro e pressão do turbo.
Como já disse, este não é o primeiro Fastback com o motor 1.3 turbo, o T270. Não há mudanças nos números, com 180/185 cv (5.750 rpm) e 27,5 kgfm (1.750 rpm), que são os destaques desse motor com variador de fase no escape e o MultiAir (variador de fase e abertura) na admissão e injeção direta. O câmbio automático de 6 marchas também não muda seu hardware, com a mesma relação já aplicada no Fastback T270.
O que muda é o acerto eletrônico, principalmente do câmbio. Mesmo no modo normal, é perceptível que ele é mais responsivo, com mais reduções e segura mais as marchas antes da troca. Seu papel é manter o Fastback acordado, mas em alguns momento rola um exagero, já que naturalmente o conjunto já deixa o carro bem esperto - não em poucos momentos ele mesmo se perde, dá alguns trancos e sobe a marcha logo depois de uma redução.
Ainda assim, é um bom carro de uso diário. Apesar da assinatura esportiva, o Fastback Abarth não é mais desconfortável que suas versões normais e, mesmo mais baixo, tem boa altura do solo. O câmbio acordado demais e, em alguns momentos o escape, acabam incomodando um pouco, mas não tiram as qualidades do SUV cupê. Os 8,7 km/litro (etanol) são aceitáveis na sua categoria e potência e só não é melhor pela ausência do start/stop e justamente pela calibração do motor e câmbio. Mas curiosamente, foi melhor que o by Abarth (8,3 km/litro) em nosso teste de 2022, um provável refinamento de produto. Na estrada, os 12,6 km/litro foram os mesmos.
Só que o Fastback, como um todo, engana um pouco quem o vê de fora. Seus 4.425 mm de comprimento e 2.532 mm de entre-eixos até podem impressionar com a ajuda do design, mas o espaço interno é acanhado. Na frente, é bom para os dois ocupantes, separados pelo alto console central, mas no banco traseiro, dois adultos já sentem o espaço para as pernas e levar três ocupantes é bem mais complicado. Ao menos são 516 litros de porta-malas.
Quando você chegar na concessionária da Fiat em busca de um dos compactos com esse motor 1.3 turbo, terá três opções: o Pulse Abarth por R$ 149.990; o Fastback by Abarth de R$ 155.990; e o Fastback Abarth, este mesmo, por R$ 160.990. Os pacotes de equipamentos são semelhantes, com assistências e tecnologias.
Em "gás total", o Fastback cresce bem, mas é perceptível que a suspensão com foco em conforto faz o SUV parecer que tem mais potência do que o necessário em alguns momentos. A frente levanta e prejudica um pouco a comunicação entre motorista e carro. Não é algo exagerado, mas uma suspensão mais firme, como o esperado para o Pulse Abarth, faz falta.
Este trecho eu escrevi no primeiro teste do Fastback by Abarth. De fato, era muito motor para um ajuste de suspensão e direção pensado para usar um motor 1.0 turbo de até 130 cv - na época, o Pulse Abarth ainda não era realidade nas lojas. Isso não acontece em nenhum dos dois Abarth, que foram calibrados para isso e precisam atender clientes que, de fato, compraram os esportivos.
Nesse ponto, o Fastback me deu a mesma sensação que o Pulse Abarth. A suspensão mais firme fez uma boa diferença, assim como a direção mais direta e um vetorizador de torque mais presente. No modo Poison, acionado pelo volante, o acelerador fica bem sensível e o câmbio, já acordado, fica ainda mais esperto. As trocas de marchas são acompanhadas de pipocos no escape e até o controle de estabilidade está mais permissivo.
Em 7,8 segundos, ele chega aos 100 km/h - 0,2 s a menos que o by Abarth e 0,3 segundo a mais que o Pulse Abarth, mais leve e testado com rodas de 17" - e segue crescendo com saúde. Colocar um motor desse em um carro de 1.299 kg funciona pra isso e a engenharia teve o cuidado de permitir que vá até 220 km/h, segundo dados oficiais, com saúde. Em linha reta, passa segurança pra ir até lá. Eu pediria uma posição mais baixa para dirigir, menos SUV, algo mais parecido com um hatch, já que um hatch Abarth não deverá existir tão cedo.
Se vale a pena pagar os R$ 5.000 a mais que o by Abarth? Com certeza! Ele entra e sai das curvas com bem mais velocidade e comunicação, dobrando bem menos a carroceria e o motorista tem sempre uma boa comunicação com o carro. Ataque as curvas de forma mais rápida e o vetorizador de torque auxilia e, se precisar dos freios, respondem rápido - até demais no dia a dia, com um pedal bem sensível. Em uma estrada de serra e curvas fechadas, só senti que o Fastback chega ao limite um pouco antes do que o Pulse Abarth chegou no mesmo lugar.
É nisso que vamos ao segundo ponto: vale os R$ 11 mil a mais que o Pulse Abarth? Só se o visual te agradou mais no Fastback, já que o Pulse parece ser um pouco mais disposto a desaforo quando andando rápido, principalmente pela distribuição de peso que a traseira mais longa do Fastback acaba prejudicando. Não estamos falando de muita diferença, mas quem já teve contato com os dois, pode sentir.
O Fastback Abarth é mais um com o doce veneno da Abarth, divisão que a Fiat acertou ao investir no Brasil. Caíram no gosto dos compradores, que já estão em track days pelo país e ainda os usam no dia a dia, além de formas mais acessíveis (não disse baratas...) de se ter um esportivo na garagem. O Fastback é o mais bonito dos dois por ser mais discreto, mas o Pulse é mais acertadinho no segundo do relógio. Vai de gosto e do seu poder de compra e negociação.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Fiat Fastback Abarth T270
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