Desde setembro de 2020, a Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) está atuando no segmento de extra-pesados com os Meteor (28.460 e 29.520) e Constellation (33.460). A movimentação se fez necessária após a empresa deixar de oferecer a MAN no Brasil. A motorização, porém, ainda é a da marca descontinuada.
Apesar de muito capazes, os preços da linha Meteor partem de R$ 822.000 e seu uso acaba sendo mais exigido por grandes transportadoras, que atendem à crescente demanda para o escoamento de produtos do agronegócio no interior do Brasil. Mas e os caminhoneiros autônomos que precisam de uma capacidade maior, mas não têm o caixa para aguentar quase um milhão de reais de investimento?
Neste caso, a Volkswagen passou a oferecer no final de 2021 o Constellation 25.460. Sua principal vantagem está em utilizar o grande motor MAN D26 de 13 litros e seis cilindros em linha, mas em um chassi 6x2. Isso o torna mais versátil que o 33.460, 6x4 e mais voltado a aplicações fora-de-estrada. Seu preço inicial também ajuda: R$ 630.000, quase R$ 200.000 mais em conta que o Meteor de entrada. A Volkswagen espera direcionar o novo Constellation 25.460 para transportes gerais, como bebidas, tanques e contêineres.
O que ele traz?
Olhando de forma mais geral, o 25.460 é basicamente um Meteor de chassi, mas com a cabine do Constellation, mais simples. Isso traz algumas melhorias. O próprio chassi é reforçado tanto ao redor do motor quanto no suporte da quinta roda. A cabine em si troca o amortecimento por molas dos Constellation menores por bolsas de ar e a lanterna traseira passa a ser de LED. Até mesmo o isolamento acústico foi retrabalhado, com a instalação de duas placas metálicas nas laterais do motor para reduzir o ruído.
Os únicos opcionais são as rodas de alumínio (ALCOA) e os defletores de ar. Todas as unidades do Constellation 25.460 saem de fábrica com ar-condicionado, climatizador de teto, porta-objetos sob a cama e cinto de segurança integrado ao banco. Este último vale explicar a importância: como o assento do motorista em caminhões costuma ter amortecimento pneumático, há movimento para cima e para baixo.
O cinto preso na coluna e no chão fica fixo e acaba roçando no motorista conforme o banco sobe e desce. O incômodo acaba virando imprudência, com os motoristas deixando de usar o equipamento. Um cinto integrado ao banco, além de mais cômodo, é mais seguro. Continuando na parte de segurança, o caminhão conta com freios ABS para os tambores nos 3 eixos do cavalo mecânico, distribuição eletrônica de frenagem, controle de tração e assistente de partida em rampa.
O Constellation 25.460 tem 7,21 metros de comprimento, 2,49 m de largura (com espelho, 2,98 m), 3,53 m de altura e 3,60 m de distância entre o eixo dianteiro e o de tração. Entre o dianteiro e o último eixo são 4,85 m de distância. A Volkswagen declara 9.575 kg de peso em ordem de marcha para o cavalo mecânico.
No entanto, o peso bruto total combinado (PBTC), que leva em consideração o caminhão, a carreta e a carga útil, é de 56.000 kg. O peso é suportado por molas metálicas, sendo parabólicas na dianteira e semielípticas na traseira. As rodas têm 22,5 polegadas de diâmetro e são calçadas por pneus 295/80.
Assim, a carga útil é de 46.425 kg. Para ajudar a parar menos na estrada, o caminhão utiliza dois tanques de alumínio, totalizando 940 litros para armazenar diesel. O sistema de Arla 32 tem um tanque separado com capacidade de 100 litros. Apenas a título de curiosidade: o propulsor usa 40 litros de óleo e 45 litros de líquido de arrefecimento.
Agora para a estrela do novo Constellation 25.460: o motor MAN D26. São seis cilindros em linha e 12.419 cm³ de deslocamento. O turbodiesel é capaz de entregar 460 cv de potência a 1.800 rpm e 234,5 kgfm de torque entre 950 e 1.400 rpm. A única opção de transmissão é automatizada ZF Traxon de 12 velocidades. O diferencial final tem relação de 3,08:1, com opção de de 2,85:1.
Como anda?
Infelizmente não foi possível conduzir o novo Volkswagen Constellation 25.460. Para isso é necessária habilitação E, para veículos combinados. Mas, mesmo de carona na boleia, já dá pra sentir a capacidade do caminhão. Ele estava puxando um total de 35 toneladas entre cavalo, carreta e carga.
Saímos de São Bernardo do Campo (SP) com destino à Guararema (SP) pelo Rodoanel e Rodovia Ayrton Senna e o 25.460 acelera sem dificuldade alguma com a carga pesada. Nas ladeiras, a transmissão otimiza a escolha de marcha e reduções para a economia, mas o motorista pode fazer as reduções manualmente na alavanca. Como são muitas marchas, há opção para reduzir ou subir uma ou duas marchas de uma só vez.
O grande elogio mesmo para o novo Constellation fica para o conforto da cabine. Ruído mesmo, apesar de estar rodando a 90 km/h, vinha apenas dos grandes espelhos externos que acrescentam meio metro à largura total do caminhão. Dentro da boleia, foi possível manter uma conversa em voz relativamente baixa com o instrutor que estava tocando o bruto.
Já andei em carro popular que não tinha esse nível de isolamento. O ar-condicionado se encarregou de gelar a cabine rapidamente, apesar do grande volume. Mesmo no banco do passageiro, que não tem amortecimento próprio, o Constellation não passa muitos solavancos para dentro, graças em parte às bolsas de ar que isolam a cabine do chassi.
Claramente há alguns sacrifícios, pois a diferença de preço em relação ao Meteor é grande, apesar do mesmo conjunto mecânico. Os acabamentos da cabine são de plástico rígido, bem mais simples. Da mesma forma, a cabine da linha Constellation tem 2,3 m de largura interna e um pequeno ressalto no assoalho para o motor. O Meteor tem 2,5 m de largura e assoalho plano.
Conclusão
A Volkswagen tem agora uma boa arma para expandir sua participação no segmento de extra-pesados. O Constellation 25.460 é mais acessível e flexível, o que pode agradar mais os caminhoneiros autônomos. E pelo que pude perceber na carona do caminhão, não perdeu nada em capacidade.
A Volkswagen argumenta sempre que quem tem um Constellation é apaixonado pelo caminhão. Até aí, minha mãe também fala que eu sou bonito e essa não é necessariamente a realidade. Porém, mesmo meses após sua apresentação oficial, o 25.460 estava chamando muito a atenção dos caminhoneiros.
Dentro da concessionária de onde iríamos iniciar o trajeto, dois motoristas já pediram para ver o caminhão por dentro e tirar fotos. Na parada para o almoço em Guararema, o caminhão ficou estacionado por meia hora e, quando voltamos, estava cercado por gente conferindo a novidade de perto. Então a aprovação do público ele já tem.