É sempre complicado tirar de linha um modelo que agrada muito seus consumidores. O novo Honda City Hatchback chega com a dupla missão de encarar a concorrência, cada vez mais refinada e completa para não perder mais espaço para os SUVs, e satisfazer donos do queridinho Fit, que se despede do país depois de quase 2 décadas de serviços.
Depois de conhecer o novo Honda City Hatch na fábrica em 2021, agora tivemos nosso segundo contato de apenas um dia, dessa vez ao volante e com um pouco mais de tempo, mas o suficiente para cravar: é surpreendente. Vamos nessa que eu explico.
Versão hatchback da nova geração do City, configuração inédita no Brasil, chega posicionado pela Honda como “hatch compacto premium”. Na prática, não quer dizer que se encaixa na mesma prateleira de Mercedes-Benz, BMW e cia, mas que entrega mais em refinamento de construção e equipamentos que seus concorrentes.
Recebemos a versão Touring, a mais completa, mas antes que você imagine, já aviso que o motor é o mesmo 1.5 aspirado que entrega 126 cv de potência, mas vou falar dele adiante. O visual é um dos destaques. A dianteira é quase a mesma do sedã, se diferenciando apenas pelo acabamento da grade dianteira do tipo colmeia enquanto no modelo 3 volumes são frisos horizontais. No restante, mesmos faróis Full-LED, capo e pára-choque.
Na lateral, os mesmos vincos do sedã estão presentes aqui na versão hatch. As rodas com acabamento diamantado e interior pintado na cor preta são comuns para as duas configurações. A diferença óbvia está na curvatura do teto com a junção da traseira. Na minha opinião, lembra um pouco o Classe A, ainda mais pelos formatos horizontais da lanternas, em LEDs, que invadem bem a tampa do porta-malas. É normal vermos em sedãs derivados de hatch, mas a história foi inversa e o resultado ficou bacana.
Passando ao espaço interno, donos de Fit podem até duvidar, mas a solução encontrada pela Honda me pareceu muito interessante. Começando pelas perdas, o porta-malas aqui no City hatch é quase 100 litros menor que o do Fit, mas calma. Ao me acomodar no banco traseiro, a primeira surpresa. Tem mais espaço ali que o Fit e até o próprio sedã. Com entre-eixos maior que o monovolume, e posicionamento dos bancos ligeiramente mais atrás que o sedã, há um generoso espaço para as pernas. Muito mesmo. Claro, o teto mais baixo é o segundo ponto que perde para seu irmão que saiu de linha.
Também está presente no novo Honda City hatch o sistema Magic Seat, o qual permite levantar os assentos traseiros e criar um grande espaço para transporte de objetos. Além disso, ao rebater os bancos traseiros, os assentos se deslocam para frente criando uma base plana com melhor aproveitamento de espaço. Chega a 1.168 litros de volume, superando os 1.045 litros disponíveis no Fit na mesma condição. Quem já teve um carro com este sistema sabe como é prático e útil. Ah, e mesmo sem rebater nada, ainda dá para usar o espaço abaixo dos assentos para guardar um objeto, como uma mochila por exemplo.
A Honda foi pragmática. Enquanto a maioria dos concorrentes oferece opções com motor turbo, o novo City hatch chega com o propulsor 1.5, evoluído e com mais tecnologia, mas somente aspirado que rende até 126 cv e torque de 15,8 kgfm (15,5 kgfm com gasolina) a 4.600 rpm sempre associado à transmissão automática tipo CVT que simula 7 marchas. Mas antes de acelerar, vamos ao acabamento.
Se você já teve um City antes vai notar que o sarrafo subiu. O painel ainda traz plástico rígido, mas é perceptível a evolução de qualidade dos materiais. Mudou tudo, novas saídas de ar, nova central com tela de 8 polegadas com Apple Carplay e Android Auto integrados sem a exigência de cabos. Essa multimídia é bem mais rápida, ótima definição, mas os gráficos carecem de um pouco mais de identificação da marca.
Naquela mesma região você notará os novos comandos do ar-condicionado. Eu até gostava da solução com os botões touch e precisei de tempo para aceitar essa nova solução. No fim das contas a qualidade te conquista, com aquele toque no uso que demonstra bem os “clicks” ao girar. Um detalhe é que ao girar o botão para aumentar a temperatura, a iluminação na base fica vermelha enquanto ao diminuir fica azul, mas é sutileza que você verá mais à noite.
Passando ao painel de instrumentos, agora ele conta com uma tela digital TFT 7" de alta resolução no lado que esquerdo onde se acessa diversas informações do carro e é altamente personalizável. O visual é sóbrio, direto e de certa forma elegante. É semelhante ao que está no Accord e estará no novo Civic 11 e nova geração do HR-V.
Mas indo ao que interessa, pela primeira vez você pode ligar o City por botão. Quem já conhece o carro (na versão sedã, claro), sabe que ele já era bom para o uso diário na cidade. Agora nesta nova geração, nesta nova configuração hatch, ele ficou ainda melhor. Obviamente não está no patamar do Civic, mas você notará o mesmo refinamento e qualidade na construção no sentido de solidez, baixo nível de ruído e conforto. Ainda é um City, com seu eixo de torção no eixo traseiro, motor que cumpre a sua missão, etc.
Dirigindo na cidade chamou a atenção o bom acerto da suspensão, confortável, a direção elétrica precisa, baixo nível de ruído e o desempenho. A Honda destacou na sua apresentação que mesmo enfrentando os rivais turbo, o City oferece a maior entre eles. Mas existe um trunfo nesta decisão pragmática da Honda: o câmbio CVT.
Eu fiquei extremamente surpreso com a combinação desempenho x consumo. Na cidade, andando em condições normais, trânsito leve a moderado, o marcador apontava 14 km/litro, com gasolina. Lembrando, não é turbo e é automático. Passando para rodovia, sem trânsito, também me chamou a atenção o bom desempenho e a estabilidade. Aproveitei também para testar rapidamente o piloto automático adaptativo e o sistema de permanência em faixa. Rodando entre 100 km/h e 120 km/h, o consumo indicou a generosa marca de 20 km/litro, sem precisar forçar a barra.
Essa é a parte complicada da história. Não há dúvida nenhuma, e pude comprovar, que o City subiu e nível neste nova geração. Subir de nível, não significa subir de segmento, que fique claro. Muitos equipamentos de série, qualidade de construção perceptível, bom espaço interno, com exceção do porta-malas, e o consumo, que na minha opinião, é excelente para um carro automático.
Em relação aos rivais, o City está um nível acima em termos de qualidade e rodagem, mesmo sem motor turbo. Uma alusão, o City entrega a mesma superioridade em relação aos rivais que o Civic entrega em seu segmento. Direção mais precisa, rodar suave e aqui uma suspensão confortável. O que complica tudo é o preço, ou melhor, esse novo patamar de preços. Os preços são de R$ 114.200 para a versão EXL e R$ 122.600 para Touring, bem acima dos rivais.
Tirando o preço, a minha resposta final para quem está interessado é que o City consegue atender com sobras donos do Fit. Em relação aos rivais, está em um nível superior (não segmento, nível), mas o preço inclui na etiqueta a marca Honda e sua confiabilidade, mercado, etc.
Resumindo em uma palavra, o novo City Hatchback é um carro surpreendente, principalmente pelo desempenho do motor 1.5 aspirado e seu consumo. Nós vamos comprovar essa primeira impressão em breve no nosso teste completo, mas já dá para dizer que a Honda acertou no carro. Resta saber se o consumidor vai aceitar o preço.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
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