Teste Renault Kwid Outsider 2023: O que é o pop?
Pode não ser o carro mais refinado do mercado, mas melhora pontos críticos do "novo popular"
Um dos grandes ensinamentos do marketing é sempre acompanhar as tendências do mercado e de seus clientes. Se atualizar e melhorar é praticamente uma obrigação quando o seu cliente pede por isso, seja de forma clara ou deixando isso entre as linhas apenas o deixando de lado por um concorrentes. E isso se aplica para produtos premium ou não.
Já estamos até um pouco cansados de mostrar como os automóveis no Brasil (e acredite, no mundo) ficou mais caro. Junto, o comportamento do consumidor também mudou e, já que está pagando mais caro, procura mais. E nessa conta colocamos conectividade, o "lifestyle" de SUV e até um pouco de segurança e economia de combustível. E o Renault Kwid 2023 é quase o melhor exemplo disso tudo.
O topo do básico
O Kwid Outsider é o mais caro do mais barato. Explicando, a versão mais cara do carro mais barato do Brasil custa R$ 67.690, ou R$ 7.800 mais que a de entrada, a Zen. Inclusive o primeiro ponto de mudanças do mercado aparece aqui, com o Kwid perdendo a versão Life, sem ar-condicionado e direção elétrica, que chegou a representar apenas 1% das vendas nos últimos tempos. Percebeu a primeira mudança de comportamento? Ao menos um "kit dignidade" virou exigência.
Desde que foi lançado em 2017, o Kwid é oferecido como "o SUV dos compactos" por sua altura do solo e um estilo que remete ao segmento, como apliques dos para-lamas. Na Outsider, é reforçado pelos skidplates na dianteira e traseira e um rack de teto que não pode ser utilizado para colocar carga, e isso fica bem claro em uma mensagem estampada nele. A equipe de design entendeu isso ao colocar a dianteira com faróis em duas partes no Kwid, algo característicos de SUVs, e que acabou caindo bem ao pequenino.
De um design bem simplório na dianteira, o Kwid adotou até luzes diurnas em LEDs e faróis de dupla parábola. Deu um jeito de carro mais caro ao subcompacto e até brinca com as proporções. Na traseira lanternas com a assinatura noturna em LEDs e o parachoque levemente redesenhado são as mudanças e, nas laterais, as tão pedidas rodas de liga-leve de 14". Ainda é o simples Kwid, mas já passa uma sensação melhor a quem o observa.
Por dentro, o Kwid Outsider tem tecido dos bancos exclusivo e desenhado, um toque de cuidado no projeto. O painel de instrumentos tradicional foi trocado por um conjunto em LEDs, com uma tela central que exibe um grande velocímetro e informações do computador de bordo, mas que você precisa apertar um botão no próprio painel para cada uma delas. Não é uma tela de alta definição, mas já passa uma sensação mais moderna que o antigo, bem simples de ponteiros e com uma tela de computador de bordo também menos trabalhada.
Outro ponto que mostra a preocupação é a sua central multimídia. A tela de 8" até impacta pensando no tamanho do carro em geral, mas seu software ainda é o antigo da Renault. Ao menos temos Apple CarPlay e Android Auto com fios, em uma entrada bem instalada na parte baixa do painel, mas a câmera de ré fica devendo (e muito) em resolução, assim como apenas 2 alto-falantes no alto do painel. Dos Renault do passado, o comando satélite na coluna para o rádio.
Urbanóide melhorado
Nessa onda de clientes mais exigentes em um carro que já não custa abaixo dos R$ 60 mil, a Renault precisou pegar o Kwid e rever muita coisa. Se antes ele até se justificava sua falta de refinamento por ser barato, o mercado cobrou isso a partir do momento em que ele perdeu espaço para o Mobi, por exemplo. A engenharia teve que trabalhar.
Primeiro ponto, o Kwid sempre deixou muito claro seu nascimento simples. Vibração excessiva, embreagem com acionamento áspero, freios bem deficientes e uma simplicidade excessiva ao abrir mão de um simples conta-giros ou um útil computador de bordo. Os freios foram resolvidos em 2019, com a adoção de discos ventilados na dianteira e servofreios do Sandero, maiores.
Muito se falou sobre o Kwid adotar o motor 1.0 do Sandero, com variador de fase nos comandos de admissão e escape, de 79/82 cv e 10,2/10,5 kgfm de torque. Segundo fontes da marca, o que a empresa usa no Kwid "é o suficiente" para seu porte e peso. O trabalho da engenharia foi refinar o motor que já estava no Kwid, também pelas novas exigências de consumo e emissões, com um sensor de fase e uma nova central eletrônica, com maior precisão, e elevou um pouco seus números: 68 cv e 9,4 kgfm de torque com gasolina (2 cv extras) e 71 cv e 10 kgfm com etanol, uma melhora de 1 cv e 0,2 kgfm.
Na prática, o mais sentido é que o motor vibra menos principalmente em marcha lenta e trabalha mais linear conforme a rotação sobe. O acionamento da embreagem também está melhor, com um pedal macio e sem passar vibrações para o motorista. Ainda não é o mais refinado nesse ponto, mas o Kwid avança bem. Em desempenho, nada que seja sentido na prática, mas uma melhora de consumo considerável em tempos de combustível caro.
Com etanol, o Kwid 2023 chegou a 11,2 km/litro na cidade! Mesmo com um start/stop que raramente entra em ação, a recalibração tirou o subcompacto dos 10,2 km/litro registrados anteriormente em nossos testes. Na estrada, porém, os 12 km/litro são menos que os 14,3 km/litro anteriores - faremos um teste com gasolina em breve. Em aceleração, uma leve melhora em todos os testes, mas nada gritante, como 0,4 segundos no 0 a 100 km/h.
Algo que o Kwid não mudou foi seu perfil urbano. Pequeno, é fácil de ser dirigido até por alguém com pouca experiência pelos comandos leves, principalmente a direção elétrica. A altura livre do solo é outro ponto que ajuda na convivência urbana, assim como os ângulos de entrada e saída bons para encarar o fora-de-estrada urbano chamado valetas e lombadas. A relação de câmbio curta, baixo peso e disposição de torque do motor fazem do Kwid um carro ágil para este uso.
Porém, se seu uso for além disso, vale talvez pensar em um hatch compacto maior, acima dos R$ 70 mil. Apesar do espaço para cinco pessoas homologadas, dois adultos estarão no limite da convivência por longos períodos. No porta-malas, os 290 litros acomodam uma boa quantidade de bagagem, mas se prepare para viajar com as limitações do motor 1.0.
A direção elétrica é leve demais em velocidades de rodovia, por exemplo, assim como o Kwid balança bastante a qualquer golpe de vento. Ao menos agora ele tem os controles de tração e estabilidade, além de assistente de partida em rampas, algo que modelos mais caros que ele ainda não possuem na lista de série.
O novo popular?
É chocante pensar que o Kwid Outsider já custa R$ 67.690, mas basta observar os outros e ver que a situação é crítica quando falamos em preços. Talvez economizaria um pouco e levaria um Kwid Intense (R$ 64.190), que se diferencia basicamente por itens estéticos, mas tentar subir de categoria já vai além dos R$ 70 mil! É este o novo carro "popular"?
Ao menos é um popular com ar-condicionado, direção elétrica, controles de tração e estabilidade, 4 airbags, sistema multimídia, algo que nunca poderíamos imaginar há alguns anos. Ao mesmo tempo, o sonho do carro zero se afasta de uma parcela da população. Sobre o Kwid em si, ele evoluiu como o mercado pediu, apesar de ainda entregar alguns pontos de economia de projeto. Mas a pensar que é uma das opções mais acessíveis nas lojas, deu um bom passo adiante.
Renault Kwid Outsider 2023
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