É inegável que, das marcas de origem chinesa, a Chery está um passo à frente das demais no processo evolutivo. Após a compra da operação brasileira pela Caoa, os modelos da marca passaram a contar com um centro de desenvolvimento local e uma equipe de engenheiros com vasto conhecimento dos carros da Hyundai - exceto pela linha HB20 e Creta, feitos pela própria Hyundai Brasil. Esse know-how fica evidente ao analisarmos a nova linha da Caoa Chery, como o Arrizo 6 que testamos nesta oportunidade.
Antes de falar do Arrizo 6 em si, é interessante ressaltar a aposta da empresa no segmento dos sedãs médios, que anda em baixa. É um indício de que a ideia da Caoa é consolidar a marca em diferentes categorias, e não apenas investir nos SUVs da moda. O Arrizo 6 usa a mesma plataforma e powertrain do irmão menor Arrizo 5, porém numa carroceria maior e mais imponente. Com 4,67 m de comprimento, Arrizo 6 é pelo menos 3 cm mais comprido que Civic e Corolla, o que lhe rende um porta-malão de 570 litros (contra 470 l do Toyota e 525 l do Honda). Mas o entre-eixos curto (2,65 m) não esconde sua base de modelo inferior (é a mesma medida do Arrizo 5), contra 2,70 m dos japoneses. Isso, porém, não significa que o espaço para as pernas no banco traseiro seja ruim - é apenas um pouco menor que nos rivais.
Algumas partes técnicas também são mais simples que na dupla nipônica. A suspensão traseira usa eixo de torção contra o sistema independente de Civic e Corolla, enquanto a coluna de direção só ajusta em altura, mas não em profundidade. Já a transmissão CVT com simulação de 9 marchas faz boa figura contra os concorrentes e o motor 1.5 turbo entrega mais que os 2.0 japoneses em termos de desempenho, ainda que seus números sejam discretos: 150 cv e 21,4 kgfm, contra 177 cv e os mesmos 21,4 kgfm do Corolla.
A "receita chinesa" de entregar mais por menos aparece no preço: com valor promocional de R$ 98.400 (contra R$ 108.750 oficial), o Arrizo 6 fica posicionado cerca de R$ 10 mil abaixo das versões de entrada de Civic (LX) e Corolla (GLi), e vem bem mais equipado. Conta, por exemplo, com teto solar, chave presencial, botão de partida, rebatimento elétrico dos retrovisores, freio de estacionamento eletrônico, central multimídia com tela de 9" e ar-condicionado com comandos sensíveis ao toque, além de sistema de câmeras 360 graus para auxílio de estacionamento.
É sem dúvida um pacote tentador se pensarmos que o Arrizo 6 tem coisas que só encontramos no Civic Touring de R$ 140 mil, como o teto-solar e o motor 1.5 turbo. Hora então de encontrar onde a Chery fez "milagre" para chegar neste valor agressivo.
Se a primeira impressão é a que fica, posso dizer que, parado, o Arrizo 6 impressiona muito bem. A carroceria tem vão justos entre as peças, as portas emitem um som abafado ao fechar e o acabamento interno tem detalhes que remetem a carros premium, como o couro com tramas em forma de quadradinhos nos bancos e a iluminação em LED azul que percorre a linha central do painel. Também chama a atenção pelos botões que lembram o dos Audi, como nos vidros elétricos e nas teclas tipo teclado do console central, além da borda metalizada nas saídas de ar (uma exclusiva para a traseira) e caixas de som. Mas nem tudo que reluz é ouro: o ar-condicionado não tem função automática (não há graduação por temperatura) e as câmeras do sistema 360 graus deixam a desejar pela resolução baixa.
No uso, gostei mais do cluster digital central com diversas informações (tem até temperatura dos pneus, além da pressão) que da multimídia em si, com comandos um pouco confusos - exceto quando no modo Apple Carplay. O toque dos materiais do painel (emborrachado) e volante (couro) é agradável e a suspensão macia transmite solidez ao passar por imperfeições, absorvendo bem os impactos antes de chegar à cabine. Ao mesmo tempo, a direção é leve e, embora um pouco sonsa em termos de comunicação, não compromete em uso normal. Só não gostei do pedal de freio, que poderia ser um pouco mais firme. Nas frenagens de emergência (durante o teste de pista), o sistema também mostrou variação na aplicação de força de frenagem em cada roda, ocasionando oscilações incômodas da carroceria que reduziram o equilíbrio da manobra.
É quando exigimos mais do conjunto, por sinal, que o Arrizo 6 mostra suas limitações. Ele se comporta muito bem em uso cotidiano, do ponto A ao B, mas, quando apontamos mais forte numa curva, por exemplo, percebemos que ele não tem a dinâmica dos japoneses. A carroceria inclina acentuadamente e logo o controle de estabilidade entra forte, desestimulando uma condução, digamos, mais animada. Ainda que não seja esta a proposta de um sedã médio, mostra que ainda tem pontos a escalar para chegar no patamar do Toyota ou do Honda.
Dito isso, o motor 1.5 turbo se defendeu bem nas provas de desempenho, ajudado pelo câmbio CVT moderno, daqueles que não ficam patinando nas saídas. Embora tenha o mesmo torque do Corolla, o Arrizo 6 pulou na frente tanto nas acelerações (0 a 100 km/h em 9,1 s) quanto nas retomadas (40 a 100 km/h em 6,4 s), mostrando agilidade no dia a dia urbano e boa força para ultrapassagens na estrada. Pena que o fato de usar um motor de menor cilindrada (1.5 contra 2.0) não se refletiu no consumo, em parte por culpa de não usar um sistema de injeção direta (ainda adota injeção multiponto). Com médias de 6,8 km/litro na cidade e 10,4 km/litro na estrada (sempre com etanol), ele gastou mais que os 2.0 dos japoneses (veja tabela comparativa de testes abaixo).
Modelo (testes com etanol) | Arrizo 6 | Corolla | Civic |
Aceleração 0 a 100 km/h | 9,1 s | 9,7 s | 9,9 s |
Retomada 40 a 100 km/h | 6,4 s | 7,5 s | 7,4 s |
Frenagem 100 km/h a 0 | 38,4 m | 38,3 m | 38,0 m |
Consumo cidade | 6,8 km/litro | 7,1 km/litro | 7,8 km/litro |
Consumo estrada | 10,4 km/litro | 11,3 km/litro | 11,2 km/litro |
Curiosidade desta caixa CVT é o acionamento manual da nona marcha, que serve como overdrive na estrada para baixar o giro do motor. Se o motorista deixar a alavanca em Drive, ele simula somente até a oitava marcha. Para usar a nona, é preciso colocar a alavanca na posição manual e acionar manualmente a última marcha - e não há opção de borboletas no volante como nos japoneses. Também senti falta de um modo de condução "normal", que fique entre o "econômico" (um tanto chocho) e o "esportivo" (que anda bem mas deixa o consumo alto).
Diversos carros bons já tentaram sem sucesso tirar o protagonismo de Corolla e Civic na categoria dos sedãs médios. Hoje mesmo temos produtos interessantes como VW Jetta e Chevrolet Cruze nesta briga, embora sem incomodar os japoneses nos números de venda. Não creio que o Arrizo 6 seja o carro a conseguir essa proeza, mas, caso a Caoa mantenha o modelo abaixo dos R$ 100 mil, certamente que poderá atrair não somente pelo custo-benefício, mas também pelas qualidades do produto. O origem chinesa, neste caso, não compromete o resultado final.
Fotos: Autor/Motor1.com e divulgação
MOTOR | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.499 cm3, turbo, injeção multiponto flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 147/150 cv a 5.500; 21,4 kgfm a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio CVT com simulação de 9 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira, eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve aro 17" com pneus 205/50 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.364 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.675 mm, largura 1.814 mm, altura 1.493 mm, entre-eixos 2.650 mm |
CAPACIDADES | tanque 48 litros; porta-malas 570 litros |
PREÇO | R$ 98.400 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (etanol) | ||
---|---|---|
Arrizo 6 | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 4,3 s | |
0 a 80 km/h | 6,4 s | |
0 a 100 km/h | 9,1 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 6,4 s | |
80 a 120 km/h em S | 6,1 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 38,4 m | |
80 km/h a 0 | 24,4 m | |
60 km/h a 0 | 13,9 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 6,8 km/litro | |
Ciclo estrada | 10,4 km/litro |
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