Em busca de afirmação no mercado mundial, as marcas chinesas fazem mudanças mais rápido que o normal em seus carros. Daí a surpresa de já termos o Tiggo 5X com frente nova e, agora, o Arrizo 5 com nova transmissão CVT de 9 marchas. Por um lado, pode desagradar a quem comprou um deles no ano passado. Por outro, torna os carros mais competitivos diante da concorrência cada dia mais feroz. Mas, afinal, como ficou o sedã compacto com o novo câmbio? Fomos dirigi-lo para saber.
Sedãs perderam para os SUVs a segunda posição como segmento mais importante do mercado brasileiro em 2019. No entanto, a maior queda é observada na categoria dos médios, que tem o Corolla amassando seus rivais sem dó mês após mês. Em contrapartida, a seara de compactos está em ebulição: teve a estreia acachapante do Onix Plus e a renovação do HB20S, além do ainda recente Virtus. É por isso que a Caoa segue apostando nos três-volumes, tanto que agora renova o Arrizo 5 e já prepara o lançamento do Arrizo 6, este na classe do Corolla.
Nada identifica o Arrizo 5 linha 2021 por fora. A principal mudança fica por conta da transmissão, que já era uma CVT, mas agora tem 9 marchas simuladas, contra 7 da anterior. Não se trata de uma atualização de software, e sim de uma nova caixa com bomba de óleo de dupla ação e que suporta maior torque - 25,5 contra 19,4 kgfm da anterior. Chamada de CVT25, em virtude do torque que aguenta, a transmissão tem a primeira marcha 9% mais curta (2,69 contra 2,39:1) e a última 12% mais longa (0,38 contra 0,44:1), o que se traduz em melhor desempenho nas saídas e retomadas, e menor consumo de combustível na estrada. Produzida por uma ex-subsidiária da Chery na China, ela também dispõe dos modos econômico e esportivo de condução. Pode, inclusive, substituir a caixa Getrag de dupla embreagem e 6 marchas usada nos Tiggo 5X e 7 (que já teve histórico de problemas em carros da Ford), embora a marca desconverse quanto à mudança.
Além das duas marchas extras, o CVT25 tem melhor controle do conversor de torque e um novo óleo para a transmissão, que por sua vez tem dois filtros: um externo, a ser trocado junto com o fluido (40 mil km), e outro interno (que acompanha a vida útil do câmbio). Uma pena a Caoa não ter colocado borboletas no volante para trocas manuais, que são feitas na própria alavanca. Também não custava colocar uma coifa na alavanca, pois o trilho fica exposto à sujeira.
Com a nova caixa, o motor 1.5 turbo ficou livre para entregar toda sua força. Então, se antes o torque do Arizzo 5 era limitado a 19,4 kgfm, agora ele libera seus 21,4 kgfm na totalidade. Já a potência se manteve nos 147 cv com gasolina e 150 cv com etanol, ou seja, a mesma do esportivo Virtus GTS.
A Chery aproveitou para incorporar outras novidades ao Arrizo 5, como o freio de estacionamento eletrônico e o auto-hold, que permite travar o freio com apenas uma pisada, sem necessidade de ficar segurando o pedal para manter o carro parado no trânsito - coisas que nenhum rival direto oferece. O quadro de instrumentos também mudou, agora com novo grafismo e uma tela colorida de 3,5" entre os mostradores analógicos, com diversas funções: velocímetro digital, consumo e até monitoramento da pressão e temperatura dos pneus.
Um trajeto entre a capital paulista e nova Odessa, no interior do estado, nos permitiu experimentar a novidade tanto no trânsito urbano quanto na estrada. E a primeira impressão foi positiva. Logo de cara, gostei por não haver aquele típico "patinamento" do CVT nas saídas, você acelera e o carro parte na hora, sem "delay". Outra coisa que agrada, esta já esperada, é a suavidade de funcionamento, mesmo com a simulação de mudanças - ou ao fazermos as as trocas manualmente pela alavanca. Quem gosta de conforto agradece.
No para e anda, o comportamento é muito bom, sem aquela gritaria do motor ao menor chamado do acelerador. Aliás, o nível de ruído do Arrizo 5 é agradavelmente baixo, exceto quando você resolve pisar fundo. Aí não tem jeito, o conta-giros trava lá em cima (5.500 rpm) e o barulho do motor invade a cabine, mas não é nada que chegue a incomodar.
Motor e câmbio têm boa conversa: o carro é suave em baixas velocidades e esperto na hora de acelerar. Apesar do peso excessivo para um sedã compacto (1.356 kg), o Arrizo 5 ganha velocidade fácil e mostra vigor nas retomadas. Os dados de fábrica parecem refletir com clareza o que sentimos ao volante: aceleração de 0 a 100 km/h em 9,9 segundos (contra 10,8 s de antes) e retomada de 80 a 120 km/h em 6 segundos (contra 7 s de antes) - números que devemos confrontar em breve num teste completo.
Quanto ao consumo e tocada na estrada, uma curiosidade: a nona marcha só é engatada no modo manual. Em Drive, o Arrizo 5 vai até a oitava, marcha que a Chery considera como a mais adequada em termos de desempenho e consumo. Na prática, a 120 km/h, temos o motor trabalhando a cerca de 2.500 rpm em oitava marcha. Passando à nona manualmente, essa rotação cai para 2.100 rpm. O motor trabalha mais folgado, mas a resposta fica mais lenta. É uma opção para longas retas, que o condutor pode optar (ou não) por acionar.
Viajando assim, marcamos cerca de 12 km/litro com etanol, lembrando que estávamos em três pessoas no carro e com ar-condicionado ligado. Ah, e por falar em ar, percebemos que o compressor desliga por uns instantes quando exigimos o acelerador ao máximo. Precisava? Pelos números do Inmetro, as médias com etanol são de 7,6 km/litro na cidade e 9,6 km/litro na estrada, passando a 11,0 e 12,9 km/litro, respectivamente, com gasolina.
O ponto fraco do Arrizo 5 ainda fica para o pobre acerto dinâmico. Numa tentativa de deixar o modelo mais "na mão", a Chery deixou a direção elétrica artificialmente pesada, o que não combina em nada com a proposta de conforto do carro e também não melhora a comunicação com o motorista (além de o volante sem ajuste de profundidade ficar um pouco longe do ideal). A suspensão também não é mais "boba" como antes, mas ainda não oferece a mesma sensação de controle do Onix Plus ou do Virtus - o conforto é OK mesmo nesta versão com rodas aro 17". Por fim, achei que os freios poderiam ser um pouco mais fortes pelo que o sedã anda (e pesa).
Nos demais aspectos, o Arrizo 5 não compromete. O acabamento usa plásticos rígidos, mas a maioria dos componentes aparenta boa qualidade, enquanto o couro dos bancos agrada pelo tato e visual. Diante de Virtus e Onix Plus, ele está num patamar semelhante ou até um pouco superior. Os assentos são confortáveis e o espaço é bom tanto na frente quanto atrás (o entre-eixos de 2,65 m é igual ao Virtus), embora fique devendo saídas de ar dedicadas. Já o porta-malas é pequeno para o segmento, com somente 430 litros.
Conforme evoluem, os carros chineses vão deixando de ter aqueles preços agressivos. É o caso do Arrizo 5 2021, que, apesar de bem mais equipado que a maioria de seus pares, passou a ter preços próximos deles. A versão de acesso RT custa R$ 74.590, já com ESP, multimídia de 7" com Apple Carplay e Android Auto, computador de bordo com tela colorida, sensor de estacionamento traseiro com câmera, piloto automático, rodas aro 16" e bancos de tecido. O modelo top RTS sai por R$ 83.590 e adiciona rodas aro 17", bancos de couro, airbags laterais e de cortina (6 no total) e teto-solar, entre outros itens.
São valores na média de Onix Plus e Virtus, que usam motores 1.0 turbo, e também se embolam com City e Yaris Sedan 1.5 aspirados em suas versões intermediárias. O chinês melhorou como produto e pode convencer a quem deseja mais desempenho e equipamentos, mas, a nosso ver, o carro e a marca ainda têm pontos importantes a progredir, incluindo uma política de atualizações mais criteriosa. Quem garante que uma nova mudança não está próxima?
Fotos: divulgação e autor
MOTOR | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.499 cm3, duplo comando de válvulas com variação na adimissão, turbo, flex |
POTÊNCIA/TORQUE |
147/150 cv a 5.500 rpm; Torque: 21,4 kgfm a 1.750 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automático CVT de 9 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio aro 17" com pneus 205/50 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira com ABS e ESP |
PESO | 1.356 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.532 mm, largura 1.814 mm, altura 1.487 mm, entre-eixos 2.650 mm |
CAPACIDADES | tanque 48 litros; porta-malas 430 litros |
PREÇO | R$ 83.590 |
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