Você já imaginou dirigir um carro que ao invés de poluir, purifica o ar? Se não imaginou, pode acreditar que já existe um veículo com tecnologia capaz de "despoluir" o ar que respiramos. Em nossa viagem para conhecer a nova geração do HB20 na Coreia do Sul, fizemos uma escala no centro de desenvolvimento da Hyundai para entender, ver e dirigir o que a montadora projeta para um futuro.
Vale pontuar que ao dizer futuro, estamos falando em aplicação em larga escala, pois a solução já existe e está à venda. Estamos falando do Hyundai Nexo, um SUV elétrico que é abastecido por células de combustível a hidrogênio.
Na visão da Hyundai, a solução de propulsão para o futuro vai variar entre as regiões, recursos naturais e infra-estrutura. Diferente do Brasil, onde a geração de energia elétrica vem majoritariamente de fontes renováveis, muitos países precisam utilizar outras formas para atender sua demanda. Na Coreia do Sul, 60% da eletricidade vem de usinas termelétricas, 30% de nucleares, 7% de hidrelétricas e 3% de outras fontes, como solar e éolica. Isso gera uma densa camada de poluição que é facilmente vista pelos dias cinzas da metrópole sul-coreana. Além da poluição local, ventos da China também trazem partículas no ar e complicam ainda mais a situação.
Neste ambiente, carros a combustão ou elétricos a bateria não resolve o problema. Também não possuem uma solução alternativa mais limpa, como o etanol brasileiro.
A pressão do governo coreano, e também de outros na Europa, por soluções para redução da poluição é apenas um dos motivos que levaram à Hyundai a criar o chamado "Hydrogen Vision", projeto amparado em em quatro pilares:
A grosso modo, este sistema utiliza o resultado da fusão do oxigênio com hidrogênio para gerar energia, e assim a armazenar nas baterias para então alimentar o motor elétrico. Algumas características deste processo tornam o carro a hidrogênio a solução efetiva no combate e redução da poluição. A primeira é o fato de que o oxigênio, captado do ambiente poluído, precisa ser purificado a tal ponto em que tenha 99,9% de pureza. Isso significa que o carro vai sugar ar sujo e despejar ar limpo pelo cano de escape. Até mesmo a água que o sistema expelir é pura e limpa.
De acordo com Soonil Jeon, diretor chefe do núcleo de Fuel Cell da Hyundai, "uma frota de 100 mil veículos a hidrogênio rodando durante duas horas em Seul seria o suficiente para purificar o ar que 8 milhões de habitantes consomem em uma hora".
Em relação à eficiência, também há vantagem do sistema na comparação direta com o motor a gasolina. O motor movido a eletricidade gerada pela célula de combustível é duas vezes mais eficiente, da fonte da energia até a roda. Isso até mesmo considerando o fato de que o processo de produção do hidrogênio não seja totalmente limpo. O plano é aplicar a tecnologia nos veículos mais poluidores, ou seja, caminhões e ônibus.
O desafio é tornar o carro movido a célula de combustível mais barato. O Hyundai Nexo custa o equivalente a US$ 70 mil, mas os interessados na Coreia recebem um subsídio de 50% do valor pelo governo. É uma das formas encontrada pelo poder público para incentivar o desenvolvimento e uso de veículos deste tipo.
Na visão da Hyundai, o carro elétrico movido à bateria está mais voltado para pequenas distâncias, com autonomia limitada. Já os carros à hidrogênio terão a vantagem ter autonomia maior, e por isso, terá como foco os SUVs e veículos comerciais.
O primeiro carro movido a hidrogênio feito em série pela Hyundai foi o Tucson em 2013. Produzido em escala limitada, somou 1.000 unidades vendidas. Adaptado de uma versão a combustão convencional, possibilitou à montadora sedimentar o caminho para o seu mais moderno e eficiente modelo, o Nexo.
O Nexo é um SUV de porte semelhante ao New Tucson, espaçoso e com visual futurista. É construído sobre uma plataforma única, feita sob medida para a nova geração de carros movidos a hidrogênio. Com três tanques posicionados embaixo do assoalho, possui estrutura reforçada e bateria de íon-lítio no porta-malas. A sua capacidade de abastecimento é de 6,3 kg de hidrogênio, contra os 5,6 do Tucson, com um compartimento que pesa 16 kg menos.
As células de combustível (que convertem o hidrogênio em eletricidade) também são menores. As células de combustível geram 95 kilowatts de potência, combinados com a habilidade da bateria de entregar 40 kW, o que significa um total de 135 kW para o motor.
O primeiro contato com o Nexo foi no Campo de Provas da Hyundai em Namyang e a condução limitada em duas grandes retas. Ao entrar na cabine, chama a atenção o conjunto digital formado pelo painel de instrumentos e a central de informação e entretenimento. O console central é flutuante e recheado de botões e várias soluções que poderemos ver em breve em outros carros. Um deles é o uso de cameras nos retrovisores que projetam a imagem no painel de instrumentos.
No restante, é um carro elétrico normal. No lugar de alavanca, um botão para selecionar o D e iniciar a condução. O bom torque de 40,2 kgfm impulsionam os 1.873 kg do SUV com vigor, mas a pegada não é esportiva. Dados da montadora indicam que vai de 0 a 100 km/h em 9,3 segundos e os 163 cv de potência permitem atingir 179 km/h de velocidade máxima. Sem nenhuma irregularidade na pista para avaliar a suspensão, apenas pude notar que a carroceria inclina bem ao fazer uma curva com mais vontade, indicando sua vocação voltada para o conforto. O ruído interno não difere de outros carros elétricos, destacando apenas o barulho de vento e a rodagem de pneus.
No fim das contas, o Nexo é um SUV 100% elétrico com duas vantagens fundamentais sobre os elétricos movidos a bateria: o tempo de abastecimento dos tanques de hidrogênio é feito em cinco minutos e a autonomia pode chegar a 610 quilômetros. Com entraves, estão a rede de abastecimento limitada e o alto custo para ampliar essa infra-estrutura. O governo coreano promete a instalação de mais 300 postos de hidrogênio espalhados pelo país. Já a Hyundai já fechou parceria com a Audi para a liberação de algumas patentes, além de colaboração com grandes grupos produtores de hidrogênio, como a Air Liquide.
É uma solução, ainda cara, mas inteligente e capaz de purificar o ar. Como toda nova tecnologia, é cara e assim precisa de tempo para ganhar mais espaço. Como dito no começo, cada região encontrará a sua tecnologia para resolver o seu problema. Na Coreia do Sul, o hidrogênio é o caminho.
Por Fábio Trindade, de Seul, Coreia do Sul
Viagem a convite da Hyundai Motor Brasil
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