Um dos primeiros SUVs com proposta mais urbana que utilitária, o RAV4 chegou ao Brasil em 1999 ainda em sua primeira geração, mas foi a segunda (de 2001 a 2005) e a terceira (de 2006 a 2012) que tornaram o modelo mais conhecido por aqui. A mais recente tinha muitas características que depois foram replicadas no atual Corolla, porém, o preço elevado e a pobre lista de equipamentos fizeram dele um mero coadjuvante no segmento de SUVs médios.
Agora, a quinta geração promete passar uma borracha no passado recente. Se o primeiro RAV4 revolucionou ao apostar na racionalidade da construção monobloco, enquanto seus rivais Suzuki Vitara e Kia Sportage ainda usavam chassi (o nome Recreational Active Vehicle sugeria um carro mais recreativo do que propriamente off-road), o novo modelo inova por oferecer apenas motorização híbrida. Desta forma, ele traz um conjunto com nada menos que 222 cv de potência e ainda consegue consumo acima de 17 km/litro, como comprovamos neste teste. Ah, e desta vez ninguém vai reclamar de falta de itens de comodidade e segurança.
O novo RAV4 chega importado do Japão em duas versões: S e SX, sendo esta última a que você vê aqui. O SUV já vem de série com ar digital de duas zonas, rodas aro 18", bancos dianteiros com ajuste elétrico e ventilação, chave presencial, faróis full-LED, partida por botão, 7 airbags, controle de estabilidade e tração, assistente de partida em rampas, central multimídia com tela de 7” sensível ao toque, painel de instrumentos com display TFT de 7”, freio de estacionamento eletrônico, e sensores de estacionamento dianteiro e traseiro.
A versão SX ainda adiciona teto solar panorâmico, abertura e fechamento da tampa do porta-malas elétrica (com sensor debaixo do para-choque traseiro), carregador wireless para smartphones, paddle-shift para trocas manuais de marcha e o pacote de segurança Safety Sense, que inclui sistema pré-colisão frontal, alerta de mudança de faixa com condução assistida, farol alto automático e controle de cruzeiro adaptativo.
Como típico Toyota, apesar de totalmente novo, o RAV4 é facilmente identificado como um SUV do Corolla, seja pelos materiais ou pela disposição dos comandos - menos o velho reloginho digital, que agora foi incorporado na multimídia. Se por fora a dianteira aposta num desenho mais agressivo que não agrada a todos (eu curti), o interior é familiar aos demais carros da marca e antecipa o que veremos em breve no novo Corolla, como volante, cluster e alguns outros componentes.
Embora seja um SUV de quase R$ 190 mil, o interior é apenas bem-acabado, sem luxos. O painel é feito em espuma injetada e as portas têm forração de couro, mas há falhas bobas como falta de cobertura plástica na junção da porta com o painel (que deixa o metal aparente ao lado da quina do para-brisa) e ausência de iluminação nos comandos da porta (exceto o vidro elétrico do motorista). A luz do porta-malas também deixa a desejar. Ou seja, se você procura algo mais refinado, o primo rico Lexus UX 250h também é híbrido e faz melhor figura neste sentido.
Ainda por dentro, o RAV4 surpreende pelo espaço. Por se tratar de híbrido, era esperado que tivesse assoalho elevado ou o porta-malas reduzido. Mas, graças à plataforma TNGA que já previa a eletrificação, nada disso afeta o SUV. Embora tenha 4 motores (1 a combustão e 3 elétricos), ele oferece o mesmo espaço de um modelo somente a combustão. Isso significa ampla liberdade de movimentos para dois adultos no banco traseiro (três ficam mais justos) e mais um porta-malão de 580 litros, que ainda tem a comodidade da tampa elétrica que pode ser aberta ao se passar o pé sob o para-choque.
Na frente, a posição de dirigir é elevada sem exageros, proporcionando boa visibilidade geral, enquanto o novo volante oferece boa pegada e diversos comandos integrados. Também merecem citação os botões grandes e emborrachados do ar-condicionado, que facilitam o uso. A multimídia, porém, segue como ponto fraco dos Toyota. Apesar da tela em posição elevada e dos diversos botões de atalho nas laterais, o sistema exibe funcionamento lento e o display fica devendo uma resolução melhor - um verdadeiro contraste com o cluster digital colorido. Para completar, também não há conexão Android Auto nem Apple CarPlay, somente espelhamento de celular.
É em movimento, no entanto, que o RAV4 mais encanta. Os três motores elétricos garantem força suficiente (120 cv e 20,6 kgfm) para partir e andar suavemente sem acionar o motor 2.5 a combustão (178 cv e 22,5 kgfm), totalizando 222 cv quando os quatro estão em ação. Na cidade, você consegue fazer muitas coisas somente no modo EV, chegando a superar os 20 km/litro de consumo em algumas situações - quanto mais trânsito, mais ele rende. Nossa média urbana ficou em 17,2 km/litro, usando o modo ECO de condução.
Já na estrada, mesmo no ECO, o motor 2.5 é mais exigido e isso reduziu a média para 15,7 km/litro. Aliás, embora a transição entre os motores não seja sentida, o propulsor a combustão "grita" com vontade nas situações onde é preciso de força, chegando a incomodar pelo ruído na cabine - especialmente porque se trata de um carro que quase não faz barulho no modo elétrico. Mas o que não falta é vontade para arrancar e fazer ultrapassagens. Usando o modo Sport (acionado por um botão giratório ao lado do câmbio), o RAV4 chegou aos 100 km/h em apenas 8,1 segundos e retomou de 80 a 120 km/h em 6,2 segundos. Também impressionou nas frenagens, parando em somente 36,5 metros quando vindo a 100 km/h.
Mesmo com bons números, o RAV4 não tem nenhuma aspiração esportiva - bem diferente do VW Tiguan R-Line 2.0 TSI, por exemplo. O SUV japonês investe numa suspensão macia e na suavidade de rodagem proporcionada pelo câmbio CVT, aliada ainda a uma direção elétrica bastante leve. Os freios, apesar de eficientes, são um pouco borrachudos (como na maioria dos elétricos/híbridos). Em outras palavras, o modelo da Toyota anda bem, mas sua dirigibilidade convida a passear - afinal, estamos num SUV familiar. Ele absorve muito bem os impactos do solo e a direção é ágil, tornando-o muito confortável no uso urbano. Nas curvas, a carroceria inclina de forma acentuada, mas depois que assenta vai bem. Já as transições rápidas de direção são seu ponto fraco: o SUV balança demais e pede a intervenção do controle de estabilidade, que poderia atuar um pouco mais cedo nesses casos.
Na terra, o RAV4 se vale da tração traseira elétrica para complementar a dianteira e torná-lo um 4x4, por meio da tecla Trail à frente do seletor dos modos de condução. Não que o SUV se transforme num devorador de trilhas, pois sua altura livre do solo é baixa (190 mm), mas uma estradinha enlameada do sítio não deverá ser problema.
Em suma, a nova geração do modelo nipônico tem o diferencial do conjunto híbrido para se destacar no concorrido segmento de SUVs médios. Rivais principais em preço passam pelo VW Tiguan R-Line (R$ 187.990), Chevrolet Equinox Premier (R$ 170.390) e Honda CR-V (R$ 194.900), mas fica com o RAV4 a melhor equação entre desempenho e eficiência energética, sem falar no elogiado pós-venda da Toyota. Não à toa que a marca já fala em vender 5 mil unidades do novo modelo no Brasil por ano - e já tem loja com fila de espera...
Fotos: Daniel Messeder/Motor1.com
Ficha Técnica - Toyota RAV4 Hybrid SX
MOTOR | dianteiro, longitudinal, 4 cilindros, 16 válvulas, 2.487 cm3, comando duplo variável, gasolina (combustão) + 3 motores elétricos |
POTÊNCIA/TORQUE | 178 cv a 5.700 rpm; 22,5 kgfm a 3.600 rpm (combustão) + 120 cv e 20,6 kgfm (elétrico); 222 cv de potência total |
TRANSMISSÃO | câmbio automático CVT com simulação de 6 marchas, tração 4×2 (dianteira) e 4x4 elétrica (eixo traseiro com motor elétrico) |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e double wishbone na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 18" com pneus 225/60 R18 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.725 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.600 mm; largura 1.855 mm; altura 1.685 mm; entre-eixos 2.690 mm |
CAPACIDADES | porta-malas 580 litros; tanque 55 litros |
PREÇO | R$ 185.990 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (gasolina) | ||
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Toyota RAV4 Hybrid | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 3,7 s | |
0 a 80 km/h | 5,7 s | |
0 a 100 km/h | 8,1 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 6,6 s | |
80 a 120 km/h em S | 6,2 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 36,5 m | |
80 km/h a 0 | 22,5 m | |
60 km/h a 0 | 12,7 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 17,2 km/l | |
Ciclo estrada | 15,7 km/l |