E não é que os chineses chegaram lá? Cerca de dez anos após os primeiros carros vindos da China chegarem ao Brasil, eis que o Tiggo7 estreia com padrão de qualidade comparável às marcas mais tradicionais. Quarto lançamento da Chery desde que a operação brasileira foi adquirida pelo Grupo Caoa, o novo SUV sino-brasileiro mostrou que não deve nada aos concorrentes em termos de acabamento e performance neste nosso primeiro teste instrumentado - pelo contrário. A meta é enfrentar Jeep Compass, Hyundai ix35 e Kia Sportage.
O caminho da Chery até o Tiggo7 não foi fácil. E nisso foi fundamental a intervenção no projeto por parte da Caoa, que já acumula longa experiência na produção de SUVs da Hyundai no Brasil. Os Tiggo 5X e Tiggo 7 são feitos exatamente na mesma linha de montagem do ix35 e do New Tucson, em Anápolis (GO). Isso se reflete no padrão de montagem semelhante ao dos SUVs coreanos, o que fica evidente ao entrarmos no modelo da Chery. O acabamento utiliza materiais até melhores que os da Hyundai, uma boa medida para quem precisa impressionar à primeira vista.
O acerto mecânico também foi feito no Brasil. Embora o motor seja chinês (Acteco, subsidiária da Chery) e a transmissão seja alemã (da Getrag), a Caoa desenvolveu diversos sistemas localmente, com engenheiros vindo principalmente da Ford e da Mitsubishi. A plataforma T1X e o conjunto mecânico são compartilhados com o Tiggo 5X, incluindo a suspensão independente nas quatro rodas (multilink na traseira) e a direção elétrica, porém com calibração específica. Isso porque o Tiggo7 é maior e mais pesado: medindo 4,50 m de comprimento e pesando 1.500 kg, ele tem porte de Compass.
O motor é um 1.5 turbo de quatro cilindros, mas sem injeção direta, que rende 147/150 cv de potência e 21,4 kgfm de torque de 1.750 a 4.000 rpm. Já o câmbio é um automatizado de dupla embreagem e 6 marchas, sempre com tração dianteira. A versão que andamos era a top de linha TXS, que vem com rodas aro 18" e pneus 225/60 - a T, de entrada, vem com aros 17".
Como esperado de um carro de origem chinesa, o Tiggo7 também quer conquistar pelo recheio. De série, o SUV traz central multimídia com tela de 9" e conexões Apple CarPlay e Android Auto, câmera de ré, chave presencial e partida por botão, controles de estabilidade e tração com assistente de partida em rampa, dois modos de condução, luzes diurnas e lanternas de LED, ar-condicionado digital, freio de estacionamento elétrico, tela de LCD de 4,8" para o computador de bordo e monitoramento da pressão e temperatura dos pneus (individual). A versão TXS adiciona ar digital de duas temperaturas, bancos de couro (dianteiros aquecidos), banco do motorista com ajustes elétricos e teto-solar panorâmico, além da câmera 360 graus para manobras, entre outros itens.
O test-drive promovido pela Caoa no lançamento previa um trajeto de cerca de 150 km de bate-e-volta entre a capital paulista e o interior - o que, em nosso caso, foi complementado com um "pulinho" até a pista onde realizamos as medições instrumentadas. Saímos com quatro pessoas a bordo, comigo ao volante. A primeira impressão foi positiva, reforçada pelos bancos espessos e confortáveis, e pelo acabamento apurado. Há diversas influências de marcas premium, como o console central e os botões dos vidros semelhantes aos da Audi, e as laterais de porta e caixas de som que lembram os Mercedes. Já o grafismo do painel é parecido com o que a BMW fez no novo Série 3, embora o Tiggo7 tenha instrumentos analógicos com uma tela LCD de 4,8" central, enquanto no carro alemão é tudo digital. Essa tela exibe velocímetro digital, indicador de combustível e dados do computador de bordo, incluindo um útil monitoramento individual da pressão e temperatura dos pneus.
Na parte central do painel se destaca a multimídia com tela de 9", que possui conexões Apple CarPlay e Android Auto. Apesar da tela vistosa, o sistema não é dos mais intuitivos nem rápidos de usar, além de travar em algumas situações enquanto usávamos o Waze via celular. Um recurso legal fica por conta da câmera 360 graus para manobras, que inclui mostrar na multimídia a imagem do lado direito do carro quando se dá a seta para este lado - como nos Honda mais caros. O banco do motorista tem ajustes elétricos e os dianteiros podem ainda ser aquecidos. Uma falha de ergonomia é a ausência de regulagem da direção em profundidade (só ajusta em altura), embora o volante tenha boa pegada e fique próximo das mãos, o que minimiza o problema.
No anda e para do trânsito urbano, deu para notar que o motor 1.5 turbo tem boa força em baixas rotações e que o câmbio faz trocas suaves e sem pressa - parece muito mais um automático convencional do que um automatizado de dupla embreagem. Tudo no Tiggo7, aliás, convida a passear. O rodar é macio e o silêncio a bordo impressiona, mesmo quando entramos na rodovia e elevamos o ritmo da viagem para os 120 km/h permitidos. Nesta condição, o motor trabalha a tranquilas 2.500 rpm em sexta, mas ainda assim o consumo não parece ser uma virtude: média de 10,6 km/litro pelo computador de bordo com gasolina, ou 0,3 km/litro a menos do que diz o Inmetro. Nosso teste padrão de consumo será feito oportunamente, mas já dá para dizer que a injeção direta (que reduz o o gasto de combustível) faz falta...
Na segunda parte da avaliação, passei para o banco traseiro. Há espaço suficiente para dois adultos com cerca de 1,80 m viajarem com conforto, ainda com o bônus do descansa-braço central. Como na dianteira, o banco é grande e acomoda bem o corpo. Já o porta-malas é apenas mediano para um SUV deste porte: 414 litros, praticamente o mesmo volume do Compass (410 litros).
De volta ao posto do motorista, deixei nossos colegas no local do almoço e rumei para fazer nossas medições instrumentadas. Também aproveitei para andar um pouco mais rápido numa estradinha cheia de curvas, a famosa Romeiros, onde ficou comprovado que o Tiggo7 realmente foi talhado para o conforto. A suspensão exagera na maciez e deixa a carroceria rolar acentuadamente nas curvas, parecendo um pouco "solta". Já a direção é mais bem acertada, sem ser muito anestesiada ou lenta nas manobras.
Uma vez na pista, o SUV médio da Chery mostrou desempenho superior ao dos rivais. Ele acelerou de 0 a 100 km/h em 10,4 segundos (abastecido com gasolina), contra 11,6 s do Compass e 12,5 s do Sportage. Na retomada de 80 a 120 km/h, foram 7,5 segundos, ante 8,8 s do Jeep e 8,7 s do Kia. Vale lembrar que o Tiggo7 tem dois modos de condução, econômico e esportivo, sendo que o câmbio faz mais reduções no segundo para deixar as respostas espertas. Já as frenagens deixaram a desejar, prejudicadas também pela suspensão que deixa transferir muito peso para a dianteira: longos 46,7 metros até parar quando vindo a 100 km/h.
Até a divulgação dos preços oficiais, havia expectativa de que o Tiggo7 custasse a partir de R$ 100.000 - os famosos R$ 99.990 na versão de entrada. Mas isso não se confirmou porque, segundo apuramos, a Caoa quer que o consumidor enxergue a Chery como uma marca "premium", ou seja, que não precisa de preço baixo para se diferenciar. É uma aposta arriscada que pode, ou não, dar certo. De todo modo, a tabela de R$ 106.990 para a versão T e de R$ 116.990 para a TXS ainda deixa o modelo competitivo diante dos principais rivais, principalmente levando-se em conta os equipamentos. Para efeito de comparação, o Compass 2.0 flex parte de R$ 113.990 na versão Sport e vai até R$ 146.990 na Limited. O Sportage custa de R$ 112.990 a R$ 156.900, enquanto o ix35 anuncia apenas o valor inicial de R$ 110.990.
Em termos de garantia, o Tiggo7 oferece 3 anos de cobertura total, e 5 anos para motor e câmbio. A meta é emplacar cerca de 400 unidades mensais. Claro que a Caoa-Chery ainda precisa de tempo para provar sua confiabilidade, pós-venda e desvalorização no mercado de usados, mas o fato é que agora estamos diante de um produto bem superior ao que conhecíamos dos carros chineses até então. E isso deve surtir efeito.
Fotos: divulgação
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, 1.496 cm3, turbo, flex |
POTÊNCIA/TORQUE |
147/150 cv a 5.500 rpm; 21,4 kgfm a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automatizado de dupla embreagem e 6 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e multilink na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 18" com pneus 225/60 R18 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.500 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.505 mm, largura 1.837 mm, altura 1.670 mm, entre-eixos 2.670 mm |
CAPACIDADES | porta-malas 414 litros, tanque 57 litros |
PREÇO | R$ 116.990 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | ||
---|---|---|
Tiggo7 (com gasolina) | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 5,2 s | |
0 a 80 km/h | 7,2 s | |
0 a 100 km/h | 10,4 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 7,8 s | |
80 a 120 km/h em S | 7,5 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 46,7 m | |
80 km/h a 0 | 29,1 m | |
60 km/h a 0 | 16,3 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 9,7 km/l (Inmetro) | |
Ciclo estrada | 10,9 km/l (Inmetro) |
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