Junto com a popularização do automóvel no inicio do século XX, as picapes substituíram o uso de tração animal e se tornaram símbolo de trabalho principalmente no campo. Mais recentemente, passaram a conciliar trabalho e lazer, abrindo uma opção mais versátil que os SUVs. Não à toa, ao que tudo indica as picapes serão a próxima tendência do mercado mundial. Não que os SUVs perderão a majestade, mas as grandes fabricantes estão se preparando para lançar novidades nos segmentos de picapes compactas e médias - vide VW Tarok e Mercedes Classe X, por exemplo.
Além de líderes de vendas em suas categorias, Toyota Hilux e Fiat Toro são referências em seus segmentos. Mas elas não se diferenciam apenas em tamanho e preço, mas principalmente em termos de construção. Enquanto a Fiat usa estrutura monobloco vinda de um carro de passeio (o Jeep Renegade), a Toyota nasce a partir de um chassi de longarinas - mais pesado, mas mais resistente.
Reunimos a dupla em suas versões com motores turbodiesel, câmbio automático e tração 4x4 (a configuração favorita dos picapeiros) para ver onde cada uma se destaca e concluir até que ponto uma picape compacta pode (ou não) suprir a necessidade de uma picape média.
Uma picape é uma picape justamente pela caçamba. Seja apenas para levar objetos mais leves e volumosos ou cargas pesadas, é o que faz a diferença para o verdadeiro comprador do segmento. Em comum, Toro e Hilux (nas versões turbodiesel) podem levar até 1.000 kg de carga útil. Pelo próprio porte, a caçamba da Hilux é maior, com 1,57 m de comprimento e 1,64 m de largura, contra 1,33 m e 1,36 m (respectivamente) da Toro - lembrando que a lei diz que a altura máxima da carga é de até 4,40 m, independentemente do porte da picape.
A Toro apresentou ao mundo a tampa traseira bipartida e com abertura lateral, um de seus maiores argumentos de venda. De fato, ela facilita a carga e descarga, principalmente de objetos mais pesados, além de ter a trava elétrica para proteger (ao menos um pouco) os objetos. A Hilux tem tampa tradicional, que além de pesada não possui nenhuma trava elétrica mesmo na versão SRX. Para travá-la, é preciso pegar a chave e trancar pela fechadura, mesmo que já tenha travado as demais portas. Para a alegria dos picapeiros, ambas possuem protetor de caçamba, capota marítima e ganchos para amarração nas versões de topo.
Mas hoje as picapes precisam ser multitarefa. Se um dia bastava uma cabine simples com um banco inteiriço para três pessoas, hoje a mesma picape que carrega 1 tonelada de carga precisa levar as crianças para a escola. Elas não são as opções mais espaçosas do mercado, sendo menores que alguns SUVs, mas carregam até cinco passageiros com relativo conforto. Se a Hilux leva uma boa vantagem na caçamba, não leva o mesmo no interior, principalmente no banco traseiro. São 95 mm a mais de entre-eixos, mas isso não se reflete no espaço, principalmente no banco traseiro. Os bancos da Toyota são maiores e mais confortáveis, além haver mais espaço para os ombros que na picape da Fiat.
A lista de vantagens da Hilux continua com a saída de ar-condicionado para a segunda fileira e dois úteis ganchos no encosto do banco dianteiro, para levar sacolas e bolsas sem que elas "andem" pelo interior. Ainda pensando no conforto e bem estar, os cinco ocupantes possuem cinto de segurança de três pontos e encosto de cabeça, além de isofix em duas posições do banco traseiro.
"Então, a Hilux é melhor em tudo?". Não. Justamente pelos seus mais de 5 metros de comprimento, conviver com a Toyota na cidade é bem mais complicado que com a Fiat. Desde achar uma vaga para estacionar (mesmo com câmera de ré) até tomar cuidado em ruas estreitas são tarefas mais árduas com a Toyota. A Toro, com porte próximo ao do Jeep Compass, é mais sociável.
Vantagem: Toyota Hilux
A tendência das picapes mais luxosas e parecidas com um carro em acabamento e equipamentos teve a Hilux da geração anterior como uma de suas percursoras. Desde então, ela pôde ser comparada ao sedã Corolla sem passar vergonha. Apesar de não ter painel emborrachado, usa plásticos texturizados de boa qualidade, misturados com doses leves de cromado e piano black em pontos estratégicos, além de montagem correta. A versão SRX trouxe com a linha 2019 as colunas e teto na cor preta, como no Yaris hatch.
A Toro não fica atrás. Quando foi lançada, um dos pontos mais elogiados foi justamente o acabamento, com elementos do Jeep Renegade e soluções como o quadro de instrumentos com tela de 7" (apenas nas versões Volcano e Ranch) e ar-condicionado de duas zonas. As portas têm forração exclusiva para a picape, com um puxador "diferenciado", que esconde os comandos dos retrovisores em certos momentos. Toro e Hilux trazem o mesmo nível de acabamento desde as versões de entrada.
Falando em versões, vamos falar de equipamentos. Nas mais caras (SRX e Ranch), elas trazem itens como bancos em couro, piloto automático, painel de instrumentos com tela TFT colorida (4,2" na Toyota e 7" na Toro) para funções do computador de bordo, retrovisores externos com rebatimento elétrico, ar-condicionado automático (duas zonas na Toro), sistema de partida e abertura de portas com chave presencial e sistema multimídia - itens que um dia já foram exclusividades dos carros de luxo. Mas vale uma observação (e bronca) em conectividade. Além da tela pequena da Toro (5"), a Hilux tem sistema lento e confuso de operar, além de nenhuma das duas possuir espelhamento para smartphones.
Em segurança, uma leve confusão no catálogo da Fiat. Enquanto as versões Freedom e Volcano podem ter sete airbags como opcional, a Ranch tem apenas os frontais. De resto, ambas trazem controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampas, assistente de descida e luzes diurnas em LEDs - na Hilux, ainda há os faróis e neblinas em LEDs.
Vantagem: Toyota Hilux
Pela origem trabalhadora, por décadas as picapes foram construídas apenas com a arquitetura de carroceria sobre chassi por conta da robustez do conjunto ao uso severo e com carga. Em 1978, a Fiat lançou a 147 Pickup, a primeira picape compacta. Com construção monobloco, como no 147 hatch, ela foi precursora de um segmento que depois conheceria nomes famosos como ao VW Saveiro, GM Chevy 500 e Ford Pampa.
A 147 Pickup deve estar orgulhosa da Toro. A evolução nos materiais e nos métodos de construção permitiram que a Toro, feita em monobloco, tenha a capacidade de carga de 1 tonelada, como a Hilux. Mesmo assim, as picapes maiores ainda se manterão "clássicas" por diversas questões e particularidades, como mostram as projeções de novas gerações que não abrirão mão do chassi. E elas cresceram consideravelmente em comparação com suas antecessoras - que tinham dimensões próximas às da...Toro!
Não é um exagero chamar a Toro de "SUP" (Sport Utility Pickup), como a Fiat fez na época do lançamento. Afinal, sua plataforma é a mesma dos Jeep Renegade e Compass e muitas peças são compartilhadas, inclusive o conjunto mecânico composto pelo motor 2.0 turbodiesel (170 cv e 35,7 kgfm de torque) com transmissão automática de 9 marchas e tração nas 4 rodas com controle automático. Essa proximidade com os SUVs é um dos grandes trunfos da picape produzida em Pernambuco.
Não poucas vezes a gente se esquece que está ao volante de uma picape. Não há o "pula-pula" característico das picapes com feixes de mola na traseira (a Toro usa o sistema multilink com molas helicoidais) e mesmo quando abusamos em curvas ela mantém a trajetória sem muito drama, como nos SUVs da Jeep. O mesmo vale para o sistema de direção elétrica, com respostas diretas e boa comunicação com o condutor sem perder o conforto na hora de manobrar, por exemplo.
Mas você já deve ter ouvido de "picapeiros raiz" que a Toro não é picape. A discussão surge quando comparamos, além das dimensões, a capacidade fora-de-estrada com, por exemplo, a Hilux. Além de ser a única das duas com blocante no diferencial traseiro e caixa reduzida (a Toro utiliza a primeira marcha, bem curta, para esta função), a Toyota tem 31 graus ângulo de entrada (24,8" na Fiat) e possui vão livre de 286 mm (202 mm na Toro), só perdendo no ângulo de saída (26 contra 29 graus) pelo maior balanço traseiro.
Mesmo que o tempo tenha deixado a Hilux mais "gourmet", ela ainda é uma picape como manda o figurino. Está lá o feixe de molas na traseira, que ao mesmo tempo dá mais robustez ao conjunto mas incomoda os passageiros do banco traseiro quando passa em alguma ondulação ou buraco. Com uma distribuição de peso maior na dianteira, arrasta facilmente nas curvas, lembrando ao motorista que ela não é derivada de um carro de passeio - e não deve ser dirigida como tal.
Ao mesmo tempo, a Hilux agrada em viagens mais longas. Apesar do motor 2.8 ter menos potência que Chevrolet S10, Ford Ranger e Nissan Frontier, conversa bem com o câmbio de seis marchas. Em comparação com a Toro, entrega sua força em rotação mais baixa e só não acelera mais rápido porque a Fiat tem a caixa de 9 marchas com relação mais curta nas primeiras. Por outro lado, motor japonês é mais suave e silencioso que o italiano, além de mais econômico na cidade mesmo com peso a mais (ela "desengata" a marcha quando se tira o pé do acelerador, algo que a Toro não faz).
O 2.0 da Toro vibra mais, principalmente em marcha lenta, e o câmbio dá alguns trancos em situações específicas, mas a ajudou a dar um consumo melhor na estrada ao engatar a nona marcha acima dos 110 km/h.
Vantagem: empate
A tabela de preços da Toyota Hilux diesel 4x4 automática começa onde a da Toro 2.0 AT9 termina. Então a diferença de preço entre elas é grande, principalmente considerando o porte e seus respectivos segmentos. Logo, a decisão de compra, se movida por preço, irá depender do orçamento disponível naquele momento.
Na hora da manutenção, tudo dependerá de quanto você roda. Se rodar menos de 20.000 km por ano, a Toro te custará mais ao fim de três anos, mas menos se a revisão for realizada por quilometragem. A Hilux utiliza o tradicional esquema de 10.000 km ou 1 ano, o que acontecer primeiro, e é mais barata no período de 3 anos.
MODELO | 1ª revisão/1 ANO | 2ª revisão/2 ANOS | 3ª revisão/3 ANOS | TOTAL |
Toyota Hilux 2.8 TD (cada 10.000 km) |
R$ 623,19 | R$ 1.035,00 | R$ 1.128,00 | R$ 2.786,19 |
Fiat Toro 2.0 TD (cada 20.000 km) |
R$ 760,00 | R$ 1.236,00 | R$ 1.372,00 | R$ 3.372,00 |
Vantagem: Fiat Toro
Conclusão
Há espaço para as duas no mundo. Se as picapes médio-compactas serão uma nova opção aos SUVs, com proposta mais urbana, o pessoal do campo provavelmente nunca abrirá mão de uma picape média com real capacidade fora-de-estrada e dimensões mais generosas, na cabine e na caçamba.
Fotos: Paulo Henrique Trindade
Fichas técnicas
Fiat Toro 2.0 TD AT9 | Toyota Hilux 2.8 TD AT6 | |
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, 1.956 cm3, duplo comando, turbo, diesel | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, 2.755 cm3, duplo comando, turbo, diesel |
POTÊNCIA/TORQUE | 170 cv a 3.750 rpm; 35,7 kgfm a 1.750 rpm | 177 cv a 3.400 rpm; 45,9 kgfm de 1.600 a 2.400 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automático de 9 marchas, tração nas 4 rodas com controle automático | câmbio automático de 6 marchas, tração nas 4 rodas com caixa reduzida |
SUSPENSÃO |
independente McPherson na dianteira e independente multilink na traseira |
independente duplo A na dianteira e eixo rígido com feixe de molas na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 16" com pneus 225/70 R16 | liga-leve aro 18" com pneus 265/60 R18 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS e EDB | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS e EDB |
PESO | 1.779 kg em ordem de marcha | 2.090 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.915 mm, largura 1.844 mm, altura 1.690 mm, entre-eixos 2.990 mm |
comprimento 5.315 mm, largura 1.855 mm, altura 1.815 mm, entre-eixos 3.085 mm |
CAPACIDADES | caçamba de 820 litros ou 1.000 kg, tanque 60 litros | caçamba de 1.000 litros ou 1.000 kg, tanque 80 litros |
PREÇO |
de R$ 136.490 (Freedom) a R$ 154.990 (Ranch) |
de R$ 161.560 (SR) a R$ 198.190 (SRX 50th) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | ||
---|---|---|
Fiat Toro 2.0 TD AT9 | Toyota Hilux 2.8 TD AT6 | |
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 4,4 s | 5,2 s |
0 a 80 km/h | 7,2 s | 8,3 s |
0 a 100 km/h | 11,2 s | 12,7 s |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 8,6 s | 8,9 s |
80 a 120 km/h em S | 8,1 s | 9,6 s |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 42,8 m | 45,0 m |
80 km/h a 0 | 26,0 m | 28,5 m |
60 km/h a 0 |
14,5 m |
15,8 m |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 9,5 km/l | 10,0 km/l |
Ciclo estrada | 15,0 km/l |
12,0 km/l |
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