Enquanto o Ka hatch e o HB20 se engalfinham lá na frente, alternando entre a segunda e terceira colocações do mercado nacional, é graças à versão Sedan que a Ford vem superando a Hyundai entre os compactos no volume de vendas. Daí a aposta maior no Ka três-volumes para a linha 2019, com a chegada do esperado câmbio automático e da inédita versão de topo Titanium, que de certa forma vem ocupar o lugar do Fiesta Sedan mexicano.
Para o primeiro duelo do Ka Sedan Titanium aqui no Motor1.com, nada melhor que chamar seu principal rival de mercado, o HB20S Premium. Também é a chance de comparar o Ford automático ao Hyundai, uma vez que o HB20 hatch ficou de fora de nosso comparativo dos automáticos de entrada (Ka x Etios x Onix x Gol) por custar caro. Aqui entre os sedãs a disputa de preço é mais equilibrada: o Ford sai por R$ 70.990 e o Hyundai por R$ 72.290, ambos em suas versões mais completas.
A mudança do Ka envolveu estrutura, mas não alterou em nada as medidas do carro. Assim, o modelo segue com espaço interno apenas razoável para a categoria. É um pouco melhor que o HB20S no banco traseiro e na largura interna, mas perde na frente devido ao painel volumoso. De todo modo, revela-se suficiente para uma família jovem com dois filhos, incluindo fixações Isofix para cadeirinhas no banco traseiro (também disponível no Hyundai). E ainda mantém um artifício que vem sumindo dos sedãs: a tampa do porta-malas com braços pantográficos, que não invadem a área das bagagens. Mas, em termos de volume, ele praticamente empata com o rival: 445 litros contra 450 litros do Hyundai.
Os reforços na carroceria do Ka Sedan, porém, tiveram efeito no conforto do modelo. Ele ficou notavelmente mais silencioso e suave de suspensão, além de ter ampliado a segurança em impactos laterais. Até mesmo a batida de porta do modelo ficou mais consistente, aumentando também a sensação de qualidade. Por dentro, o compacto da Ford manteve a solução legal da prateleira no painel e recebeu duas entradas USB iluminadas bem acessíveis (à frente do câmbio), além da multimídia em posição elevada, de fácil acesso. Os bancos também ficaram mais confortáveis, enquanto o volante segue devendo o ajuste de profundidade, embora não fique distante do motorista.
No HB20S, o painel mais baixo e menos volumoso deixa o condutor com maior sensação de espaço. O volante ajusta em altura e profundidade, mas entrega pegada mais fina que o do rival. Os bancos têm apoio razoável, mas a regulagem de altura por roldana muda apenas a inclinação do assento, um sistema inferior à alavanca do Ford que sobe o banco todo. A ergonomia do Hyundai também é um pouco pior, com os botões dos retrovisores elétricos no painel e o botão do computador de bordo perto do cluster, que tiram a atenção do motorista para manuseá-los.
Em relação ao Ka, o HB20S é um pouco mais acanhando no banco traseiro. O porta-malas tem praticamente o mesmo tamanho, mas sua boca maior facilita a entrada e retirada de bagagens e objetos maiores. Legal no Hyundai é o porta-objetos dianteiro com tampa, que permite esconder, por exemplo, o celular e a carteira de olhares indiscretos. Já a multimídia também fica em posição elevada e de fácil acesso, porém, diferente do Ka por ser embutida no painel, com as saídas de ar ao lado.
Por se tratar de uma versão Titanium, a expectativa por uma cabine mais caprichada no Ka acaba frustrada. Recursos bacanas como a chave presencial igual à do Fusion e o botão de partida no painel contrastam com faltas sentidas, como a dos faróis com acendimento automático, sensor de chuva e do ar-condicionado digital, lembrando que o Fiesta Sedan Titanium tinha até teto solar na última configuração importada. Os bancos de couro e os apliques em black piano no acabamento não combinam com o plástico rígido e de aspecto pobre que domina a cabine. Ao abrir as janelas dianteiras, por exemplo, é possível notar o painel da porta se mexer.
Neste aspecto, o HB20S ainda faz melhor figura. Seus plásticos são de qualidade claramente superior aos do Ford e, além disso, há maior porção de revestimento nas portas dianteiras. O couro dos bancos também é mais bonito, na cor cinza e com melhor aspecto que o do rival. O mesmo vale para o quadro de instrumentos, um destaque do HB20 desde que ele foi lançado. Na linha 2019, todas as versões receberam o cluster do hatch R-Spec, com uma tela maior para o computador de bordo (incluindo velocímetro digital) e um LED vermelho que acompanha os ponteiros do velocímetro e do conta-giros. Neste ponto a reforma do Ka deixou a desejar, mantendo o simplório quadro de instrumentos e a antiga grafia verde para o computador de bordo, embora numa telinha um pouco maior neste modelo Titanium.
O sedã da marca coreana também traz alguns itens que deveriam vir no Ka topo de linha, como o volante revestido de couro, o ar digital e os faróis com acendimento automático, além dos retrovisores externos rebatíveis eletricamente. A falha da Hyundai se dá na ausência dos controles de estabilidade e tração, itens de série no Ford, e dos airbags do tipo cortina (são quatro bolsas no HB20S contra seis do Ka Sedan no total).
Novidade muito aguardada no Ka, a central multimídia Sync 3 com tela de 6,5" é fácil de navegar e possui recursos interessantes, como comandos por voz, integração com o aplicativo Waze e uma câmera de ré com boa resolução. Já o sistema da Hyundai responde com uma tela maior (7") e a TV digital, embora fique devendo a câmera de ré - só vem com os sensores traseiros, também oferecidos no Ford.
Como aconteceu no Ka hatch, a união do novo motor 1.5 3-cilindros ao câmbio automático ficou "redondinha" no Sedan. Exceto por uma leve vibração em marcha lenta, o propulsor mostra funcionamento suave e silencioso, enquanto a transmissão tem trocas ágeis e sem solavancos. O resultado é um carro muito agradável, principalmente na cidade, e com fôlego suficiente para manter a velocidade de cruzeiro e fazer ultrapassagens seguras na estrada.
Para ajudar, a carroceria mais rígida permitiu à Ford recalibrar a suspensão, chegando a uma rodagem sólida e confortável, com pouco repasse das imperfeições do piso para a cabine. Da mesma forma, a direção elétrica reprogramada ficou mais firme em altas velocidades e mais leve em baixa, nas manobras. Acelerando, fica clara a vantagem dinâmica do Ka sobre o HB20, que transmite maior segurança nas retas e principalmente nas curvas, sem falar no freio mais eficiente e com pedal firme.
Calibrado para conforto, o sedã da Hyundai tem a suspensão macia demais especialmente na traseira, um ajuste que deixa o terceiro volume um tanto "solto" nas curvas. Ao mesmo tempo, a direção ainda com assistência hidráulica foi programada para leveza em baixas velocidades. Em contrapartida, na estrada o volante fica leve demais. E o conforto em pisos ruins é afetado pelo balanço da suspensão, que também acusa mais os impactos que a do Ford. Por fim, os freios também apresentam um pedal mais sensível, além de exigirem um espaço de parada maior nos nossos testes.
Passando ao desempenho, a maior potência do 1.5 do Ka (136 contra 128 cv) não foi suficiente para superar o torque do 1.6 (16,5 contra 16,1 kgfm) e o menor peso do HB20S (1.086 contra 1.135 kg). Vale lembrar que a conversa entre o motor e o câmbio do coreano também merece destaque, com mudanças rápidas e muito suaves (mais até que as do Ford). Não há modo esportivo como no rival, mas seu modo manual com trocas pela própria alavanca é melhor de usar que os botõezinhos na alavanca do Ka.
Em relação ao nosso último teste do HB20S, quando ele ainda tinha uma caixa de 4 marchas, o atual de 6 posições mostrou melhora em todas as medições - seja de performance ou de economia. A aceleração de 0 a 100 km/h baixou de 10,9 para 10,4 segundos, enquanto a retomada de 80 a 120 km/h melhorou de 8,4 para 7,7 segundos. Já as médias de consumo saíram de 6,5 e 10,2 km/l, na cidade e estrada, respectivamente, para 7,2 km/l e 11,5 km/l - sempre com etanol.
Como aconteceu em nosso teste do hatch, o cilindro a menos não significou consumo baixo para o Ka Sedan. Se na estrada a média foi um pouco melhor que a do rival, com 11,8 km/l, na cidade o Ford não passou de 7,0 km/l. Mas a performance foi favorecida, com números de desempenho muito próximos do HB20S em nossas medições: 0 a 100 km/h em 10,8 segundos e retomada de 80 a 120 km/h em 8,0 s cravados - 0,4 s e 0,3 s mais lento que o Hyundai, respectivamente. Na prática, eles andam muito parecidos, mas o Ford poderia ter sido mais econômico.
Nos dois casos, ultrapassar a barreira dos R$ 70 mil não é uma boa notícia. Esse valor permite, por exemplo, partir para modelos maiores e de projetos mais recentes, como VW Virtus e Fiat Cronos, ou até mesmo as versões de entrada do Toyota Yaris Sedan e do Honda City. Não é à toa que a maior parcela das vendas do HB20S (53%) está nos modelos intermediários, entre R$ 55 mil e R$ 65 mil. É nesta seara também que a Ford fará sua maior aposta, entregando a versão SE Plus do Ka Sedan, que já vem com a desejada multimídia e os faróis de neblina, mas com calotas nas rodas e tecido nos bancos.
Acontece que a Ford deixou o ESP e os airbags laterais e de cortina exclusivos para a versão Titanium, bem como as rodas de liga. A conta de R$ 70.990 fica ainda R$ 1.350 mais cara com a pintura metálica Cinza Moscou do carro testado, mas ainda assim é inferior à do Hyundai, de R$ 72.290. Pelo menos a marca coreana cobra menos pela pintura metálica (R$ 650), chegando a um valor total de R$ 72.940 para um carro igual ao da reportagem - contra R$ 72.340 do Ford.
Se na compra eles praticamente se igualam, no pós-venda o HB20S sai na frente pela garantia de 5 anos, contra 3 do Ka. E a Hyundai também cobra um pouco menos pelas três primeiras revisões (10, 20 e 30 mil km), com R$ 1.172 ante R$ 1.276 da Ford. Já o Ka Sedan compensa na contratação do seguro, que em nosso perfil padrão (homem 35 anos, casado, morador da zona oeste de São Paulo) ficou na média de R$ 2.800, contra R$ 3.200 do HB20S.
A Ford demorou, mas o reposicionamento do Ka Sedan já começa a surtir efeito nas vendas. Neste mês de setembro, por exemplo, o modelo aparece como terceiro sedã mais emplacado do país na lista da Fenabrave, atrás somente do Prisma e do Virtus, mas à frente do HB20S e do Cronos. Sobre o produto em si, é inegável a evolução do três-volumes compacto da Ford, que passa de coadjuvante para uma forte opção a ser considerada no segmento.
A vantagem diante do HB20S neste comparativo, porém, se deu mais nos aspectos dinâmicos, além dos itens extras de segurança. Nada que a Hyundai não possa trabalhar na reformulação de seu modelo, prevista para 2020.
Fotos: Paulo Trindade e autor
Ford Ka Sedan Titanium | Hyundai HB20S Premium | |
MOTOR | dianteiro, transversal, 3 cilindros, 16 válvulas, 1.497 cm3, comando duplo variável, flex | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 1.591 cm³, 16 válvulas, comando duplo variável na admissão, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 128/136 cv a 6.500 rpm; 15,6/16,1 kgfm a 4.750 rpm | 122 cv/128 cv a 6.000 rpm / 16,0 kgfm a 4.500 rpm/16,5 kgfm a 5.000 rpm |
TRANSMISSÃO | automática de 6 marchas, tração dianteira | automática de 6 marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO |
independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve de aro 15" com pneus 195/55 R15 | liga-leve aro 15" com pneus 185/60 R15 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira, com ABS e ESP | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS |
PESO | 1.135 kg em ordem de marcha | 1.086 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.275 mm, largura 1.695 mm, altura 1.525 mm, entre-eixos 2.490 mm | comprimento 4.230 mm, largura 1.680 mm, altura 1.470 mm, entre-eixos 2.500 mm |
CAPACIDADES | porta-malas 445 litros; tanque 51,6 litros | tanque 50 litros; porta-malas 450 litros |
PREÇO |
R$ 70.990 |
R$ 72.290 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | |||
---|---|---|---|
Ford Ka Sedan | Hyundai HB20S | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 4,9 s | 4,6 s | |
0 a 80 km/h | 7,5 s | 7,2 s | |
0 a 100 km/h | 10,8 s | 10,4 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em S | 8,7 s | 8,0 s | |
80 a 120 km/h em S | 8,0 s | 7,7 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 39,7 m | 42,2 m | |
80 km/h a 0 | 25,3 m | 26,5 m | |
60 km/h a 0 | 14,3 m | 15,0 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 7,0 km/l | 7,2 km/l | |
Ciclo estrada | 11,8 km/l | 11,5 km/l |
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