O leitor assíduo do Motor1.com deve lembrar que o VW Virtus foi o vencedor do nosso último comparativo de sedãs compactos, seguido pelo Honda City e pelo Fiat Cronos. Então por que o novato Toyota Yaris está enfrentando o City e não o Virtus? Simples, a Toyota fez um carro para combater o rival da Honda. Isso fica claro pelas medidas, escolhas de motor e câmbio e posicionamento de versões. Sem menosprezar as demais concorrentes, a real é que Toyota e Honda travam uma briga particular por clientes. E o Yaris é a aposta da marca para vender compactos, digamos, mais recheados. Enquanto o Etios faz o papel de carro de entrada, caberá ao Yaris ser a opção da "turma do meio", ou seja, aquela pessoa que já passou do Etios mas ainda não tem bala para o Corolla. Justamente onde o City atua na Honda.
Para esse comparativo reunimos as versões topo de linha, Yaris Sedan XLS e City EXL, com preços na faixa dos R$ 80 mil. Medindo pouco mais de 4,40 metros de comprimento, os dois também são semelhantes no motor 1.5 aspirado e na transmissão automática CVT, além de virem equipados com ar digital, bancos de couro e central multimídia, entre outros itens. E agora, qual o melhor dos sedãs compactos japoneses?
O Yaris brasileiro bebe na fonte da versão tailandesa, partindo de uma evolução da plataforma do Etios. Possui a mesma distância entre-eixos do Etios Sedan, com 2,55 m, e repete a solução do assoalho plano para melhor acomodação dos passageiros do banco traseiro. O projeto resolve algumas falhas do Etios, como o painel de instrumentos à frente do motorista (central no compacto de entrada) e o comando dos retrovisores elétricos na porta do motorista, em vez de no painel. Mantém, porém, o volante que despenca quando liberamos a trava de ajuste, e segue sem regulagem de profundidade.
Os bancos são razoavelmente cômodos e os principais comandos ficam facilmente à mão, como a multimídia em posição elevada e o ar digital que une uma tela para visualização com botões físicos para facilidade de uso. O volante é o mesmo do Corolla, que por sua vez é igual ao do Etios, trazendo, nesta versão, os botões do som e do piloto automático, além de borboletas para trocas manuais de marcha. A posição de dirigir não é ruim, mas poderia ser melhor se o volante ajustasse em profundidade. Para meu biotipo, fico com os braços esticados enquanto as pernas estão OK.
Com o banco dianteiro ajustado para um motorista de até 1,80 metro, o espaço atrás é bom para adultos, seja para as pernas ou para a cabeça. Três pessoas atrás irão apertadas nos ombros, mas uma criança no lugar do meio viajará sem problemas. Já o porta-malas não é pequeno, mas, com 473 litros, fica longe do City (536 litros) e mais ainda do irmão Etios Sedan (562 litros).
Passando ao City, ele transmite maior refinamento. A direção ajusta em altura e profundidade (além de não despencar na hora da regulagem), enquanto os bancos são totalmente revestidos de couro (no Yaris as laterais do assentos dianteiros são de tecido). Os comandos são todos bem localizados, não exigindo esticar o braço ou desviar a atenção para nada - exceto pelo botão que aciona o computador de bordo, posicionado no próprio quadro de instrumentos.
Mesmo com o tanque de combustível debaixo do banco, uma herança da plataforma do Fit, a posição de dirigir do City é muito boa - podendo ficar mais baixa que a do rival. Os bancos também são mais largos e cômodos que os do Yaris. Os ocupantes do Honda desfrutam de maior espaço, seja na frente ou atrás, além de contarem com um console mais largo entre os bancos dianteiros, com diversos porta-objetos. Parece ser mais largo por dentro, quando na verdade sua carroceria é até mais estreita que a do Toyota. Ainda que não tenha o assoalho traseiro totalmente plano (há um túnel central baixinho), o City oferece mais espaço para as pernas, graças ao entre-eixos de 2,60 m (4,5 cm maior que o do rival).
Por fim, o Honda vence no porta-malas, não somente na capacidade como também pela facilidade de ter duas alavancas para rebater os encostos do banco traseiro (veja nas fotos acima). No Yaris é preciso fazer a operação de rebatimento diretamente no banco, dentro da cabine.
Para um carro que deseja ser "premium", o Yaris deixa a desejar no acabamento. Ele segue o mesmo padrão de materiais do Etios, com excesso de plástico rígido brilhante e poucas aplicações de tecido nas portas. Peca também na forração simplória do teto e do porta-malas, com apenas uma fina camada de tecido sobre uma placa de madeira. Ao menos a tampa traseira vem totalmente forrada, como no Honda.
Lado a lado, o City parece mais caro. A Honda usa plásticos de melhor qualidade, menos brilhantes e de toque mais agradável, sem falar nos apliques em cinza escuro que fazem melhor figura que o preto brilhante usado no Toyota. Também revela melhor cuidado nas portas, com boa porção de couro, enquanto no Yaris há apenas uma faixa de couro onde se apoia o cotovelo.
De forma a compensar a simplicidade inerente ao projeto, a Toyota lotou o Yaris de equipamentos. Nesta versão XLS há diversos itens exclusivos em relação ao City, como a chave presencial e partida por botão, os controles de tração e estabilidade, o retrovisor interno fotocrômico, os sensores de chuva e iluminação e até o teto-solar (que nem o Corolla possui). Também só o Yaris possui airbag para os joelhos do motorista, totalizando 7 bolsas infláveis, contra 6 do Honda.
Outro destaque do Yaris é a tela TFT dentro do quadro de instrumentos, que pode mostrar diversas funções do carro, como computador de bordo e velocímetro digital. É mais legal que a telinha redonda de LCD que o City usa para fim semelhante. Também menos interessante é o ar digital do Honda, que tem os comandos todos na própria tela, sem botões físicos, o que dificulta o manuseio com o carro em movimento. Quanto à multimídia, os dois possuem centrais com tela de 7" sensível ao toque. A do City tem a interface um pouco mais lenta e complicada de usar, mas a recepção das rádios é ruim no Yaris. Ambos possuem câmera de ré, mas nada de sensor de estacionamento.
A mais que o Yaris, o City traz os faróis full-LED, que proporcionam excelente iluminação à noite, e as rodas aro 16", contra os faróis com lâmpadas convencionais e as rodas aro 15" do Toyota. A maior falta, porém, fica por conta do controle de estabilidade, que é oferecido no Fit e inexplicavelmente ficou de fora das novidades do City 2018.
Ao contrário do que pode se esperar, o Yaris não lembra o Etios em movimento - o que não é exatamente um elogio nem uma crítica. Explico: a Toyota elevou a suspensão do Yaris nacional em 13 mm na comparação com o modelo tailandês, mudança que exigiu recalibração de molas e amortecedores. "A prioridade era conforto", explica Eduardo Bennacchio, chefe de engenharia da Toyota do Brasil. Isso explica também a opção pelas rodas aro 15" com pneus de perfil mais alto (185/60 R15), enquanto a maioria dos rivais usa aros 16" (que seriam minha opção) e até 17".
De fato, a rodagem do Yaris é macia e silenciosa, chegando a lembrar, guardadas as devidas proporções, o Corolla. Mas não espere a mesma sensação de "carro na mão" que o Etios entrega, pois o novato deixa a carroceria oscilar mais em desvios rápidos ou mesmo nas retas, quando em velocidades elevadas. Nas curvas, a tendência de sair de traseira fica evidente mesmo sem forçar muito, exigindo a intervenção do ESP. Além da suspensão macia, nesse caso também os pneus não ajudam, pois eles são estreitos e suas laterais altas dobram com facilidade. Por fim, as frenagens poderiam ser melhores. Além de a parada vindo a 100 km/h requerer 42,2 metros, contra 40,4 m do City, o sistema apresentou fadiga durante o teste já a partir da segunda medição (são quatro no total, duas em cada sentido).
Bem melhor que no Etios é a direção. Enquanto no irmão de entrada é preciso girar muito o volante para ter uma resposta (3,83 voltas de batente a batente), no Yaris o volante é mais direto (3,28 voltas). Além de ágil, a direção é leve nas manobras e suficientemente firme em velocidades de viagem, sem comprometer a dirigibilidade. Ainda assim, o City é melhor neste aspecto, sendo um pouco mais leve na cidade e com melhor comunicação em curvas. Da mesma forma, o Honda tem a suspensão mais bem acertada. Ele roda um pouco mais firme e sacoleja menos nas imperfeições, absorvendo melhor os impactos no geral. Com entreeixos mais longo, também é um carro mais "calmo" na estrada, viajando mais assentado ao solo.
A vantagem volta a ser do Yaris no desempenho, embora por pouca margem. O motor 1.5 da Toyota tem duplo comando com variador na admissão e escape, mas rende menos: 110 cv de potência e 14,9 kgfm de torque com etanol, contra 116 cv e 15,3 kgfm do Honda, que tem comando simples também variável. A diferença, porém, é garantida pelo CVT mais eficiente do Yaris, que responde mais rápido que o rival nas solicitações do acelerador, principalmente em baixas velocidades. No City parece haver um breve hiato entre a pisada no pedal direito e a redução da relação de transmissão, o que acontece na maioria dos CVT. O resultado é que o Toyota se mostra mais solícito na cidade, como mostrou na retomada de 40 a 100 km/h em 8,6 segundos, ou 1 segundo à frente do Honda.
Já nas acelerações e retomadas em velocidades mais altas, os dois sedãs registraram praticamente um empate técnico. De 0 a 100 km/h o Yaris marcou 11,5 segundos (11,8 s do City), e na recuperação de 80 a 120 km/h fez 8,3 s (8,4 s no Honda). De modo geral, ambos têm comportamento semelhante, mais voltado ao uso urbano. Por conta do CVT, rodam a maior parte do tempo em giro baixo, com a velocidade crescendo de forma suave e linear, sem qualquer tranco. Mas, nos dois, o ruído do motor incomoda quando exigimos mais do acelerador, pois o giro trava lá em cima e nem mesmo as 7 marchas "virtuais" resolvem a questão. Já quem optar pelas mudanças manuais, nas borboletas no volante, terá respostas até rápidas nas reduções, ajudando no freio motor para entrar mais confiante nas curvas.
Semelhantes no desempenho, eles também se mostraram parelhos no consumo, principalmente na cidade (8 km/l do Toyota contra 8,2 km/l do Honda). Na estrada, o City abriu certa margem, com 12,4 km/l contra 11,9 km/l, sempre com etanol. Rodando a 120 km/h, ambos ficam com o motor trabalhando a cerca de 2 mil rpm.
Como dissemos no começo, a Toyota mirou a tabela do City para compor as versões do seu novo sedã. Mas no caso dos carros avaliados o custo-benefício do Yaris é melhor. Ele custa menos, R$ 79.990 contra R$ 83.400, e leva vantagem nos equipamentos. Além disso, o Toyota tem o custo de revisões um tiquinho mais em conta (sendo que os dois são os mais baratos da categoria), como mostra a tabela abaixo:
MODELO | 1 ANO | 2 ANOS | 3 ANOS | TOTAL |
Toyota Yaris Sedan XLS | R$ 232,44 | R$ 528,00 | R$ 408,00 | R$ 1.168,44 |
Honda City EXL | R$ 274,71 | R$ 412,52 | R$ 488,11 | R$ 1.175,34 |
O Yaris Sedan chega sem dúvida com uma proposta comercial mais agressiva que a do City, nem tanto pelos preços, mas principalmente nos equipamentos. Foi levemente superior em desempenho e tem mais itens de segurança, mas perde em espaço, acabamento e dirigibilidade. No conjunto o City é mais "carro", no sentido literal da palavra, só que cabe à marca dar mais atenção a ele - colocando, por exemplo, o ESP. Caso contrário, o Yaris tem mais chances de se dar bem nas vendas.
Fotos: autor e arquivo Motor1.com
Toyota Yaris Sedan XLS | Honda City EXL | |
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.496 cm3, comando duplo variável, flex | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.497 cm3, comando simples variável, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 105/110 cv a 5.600 rpm; 14,3/14,9 kgfm a 4.000 rpm | 115/116 cv a 6.000 rpm; 15,2/15,3 kgfm a 4.800 rpm |
TRANSMISSÃO | Automática CVT com simulação de 7 marchas, tração dianteira | Automática CVT com simulação de 7 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO |
independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve aro 15" com pneus 185/60 R15 | liga leve de aro 16" com pneus 185/55 R16 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira, com ABS e ESP | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.150 kg em ordem de marcha | 1.137 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.425 mm, largura 1.730 mm, altura 1.490 mm, entre-eixos 2.550 mm | comprimento 4.455 mm, largura 1.695 mm, altura 1.485 mm, entre-eixos 2.600 mm |
CAPACIDADES | porta-malas 473 litros; tanque 45 litros | porta-malas 536 litros; tanque 46 litros |
PREÇO |
R$ 79.990 |
R$ 83.400 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | |||
---|---|---|---|
Toyota Yaris Sedan XLS | Honda City EXL | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 5,6 s | 5,9 s | |
0 a 80 km/h | 8,1 s | 8,4 s | |
0 a 100 km/h | 11,5 s | 11,8 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em S | 8,6 s | 9,6 s | |
80 a 120 km/h em S | 8,3 s | 8,4 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 42,2 m | 40,4 m | |
80 km/h a 0 | 26,3 m | 25,8 m | |
60 km/h a 0 | 14,7 m | 14,2 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 8,0 km/l | 8,2 km/l | |
Ciclo estrada | 11,9 km/l | 12,4 km/l |
RECOMENDADO PARA VOCÊ
Honda inicia vendas dos City 2025; veja preços e equipamentos
Após 12 anos, HB20 chega à Argentina com motor descartado no Brasil
Novo City 2025: Honda separa Sedan e Hatch; veja os preços e o que muda
Ram tem até R$ 68 mil de bônus e taxa 0% para as picapes Rampage e 3500
Honda City terá nova geração em 2028 com 'mudança radical de design'
Yamaha colabora com anime futurista Tokyo Override da Netflix
Honda City reestilizado acelera testes no Brasil e será lançado em breve