Ao saber que trabalho avaliando carros, as pessoas adoram fazer perguntas do tipo: Qual carro você compraria com R$ 100 mil? E com R$ 500 mil? E com um R$ 1 milhão? É difícil ter uma resposta na ponta da língua, principalmente considerando que há modelos completamente diferentes um do outro conforme o orçamento vai aumentado. Mas, vamos lá, este Porsche Macan GTS me fez lembrar dessas perguntas. E o melhor é que ele me fez ter uma resposta. Tabelado a R$ 458 mil, ele seria meu carro de R$ 500 mil. Por que? Acompanhe o teste a seguir.
Acho que (quase) todo entusiasta imagina ter um Porsche na garagem - e comigo não é diferente. Na época de solteiro, um Cayman seria meu escolhido, especialmente o GT4, considerando usar a motoca durante a semana (quando não tiver avaliando algum carro) e me enfiar nuns track days com ele nos fins-de-semana. Agora casado e com filho pequeno, o GT4 vai ter esperar - como se eu tivesse bala pra um. Mas esse Macan GTS, hummmm, me atende perfeitamente.
Vejamos: primeiro, ele é um SUV. Daí já ganho a esposa, que se sente "empoderada" ao dirigir vendo o mundo de cima, e tenho espaço de sobra para o baby. OK, não tem espaço de sobra, pois o vão para as pernas no banco de trás é apenas razoável, e o túnel central é bem volumoso, mas acomoda facilmente a cadeirinha infantil e mais um adulto do lado. Outro ponto importante é o porta-malas. O do Macan leva 500 litros, suficiente para as tralhas de uma criança e as malas do casal, ou as compras do mês. E ainda tem a tampa elétrica, lógico, para facilitar o trabalho dos papais.
O GTS tem até uma virtude inesperada pelo lado família: é suave e silencioso ao rodar. Equipado com amortecedores reguláveis, este Macan se revela bastante civilizado no trato com nosso piso e os obstáculos urbanos, como buracos, tampas de bueiro rebaixadas, entradas de garagem e lombadas, mesmo calçando rodas aro 20" e pneus de perfil baixo. São tês modos de amortecimento, variando entre macio, firme e duro. Também é possível mudar o peso da direção e as respostas de motor e câmbio, além do ronco do motor. Deixe tudo no modo Comfort e pode emprestar o Macan para a vovó ir ao shopping com o netinho. O GTS responde tranquilamente, como se fosse um SUV de passeio.
Entendidos, porém, saberão que por baixo da carroceria SUV tem um Porsche. Além do focinho de 911, o Macan GTS não disfarça seus enormes discos de freio dentro das rodas pretas (360 mm na frente e 330 mm atrás), além de produzir um ronco invocado quando supera as 4 mil rpm (especialmente com o modo de escape esportivo acionado, o que se faz por um botão no console). O V6 biturbo de 3.0 litros é de origem Porsche, o mesmo usado no Macan S, com variação nos comandos de admissão e escape (que a marca chama de Vario Cam Plus) e injeção direta. Mas aqui no GTS os turbos trabalham com 1,2 bar de pressão (0,2 bar a mais que no S), além do sistema de admissão ter sido redesenhado. O resultado é um total de 360 cv de potência e 51 kgfm de torque, ou 20 cv e 4,1 kgfm a mais que o S.
Invejosos dirão que não passa de um Audi SQ5 com roupagem Porsche. Bem, os dois partem da mesma plataforma MLB do Grupo VW, mas somente o Macan vem com a transmissão de dupla embreagem PDK (automático convencional no Audi) e um sistema de tração integral Haldex, como o usado nas versões 4 do 911 Carrera: ele se baseia na tração traseira, mas pode mandar força para as rodas dianteiras (até 100% dependendo da condição) por meio de uma embreagem multidiscos por comando eletrohidráulico. O SQ5 usa o sistema Torsen, baseado na dianteira com envio força para as rodas de trás quando necessário.
Na prática, o Macan é mais nervoso quando instigado numa pilotagem esportiva. E, acredite, apesar de ser um SUV, é um legítimo Porsche - mais até que o Cayenne, eu diria, embora ainda não tenha dirigido a nova geração. Antes desse GTS, tive um breve contato com o Macan Turbo e um bom contato com o Macan 2.0, que não é fraco, mas, bem, usa o motor do Golf GTI. O GTS me parece a conta certa entre o conforto para o dia a dia e a esportividade para as horas de lazer. Sem falar em detalhes que particularmente gosto muito: bancos forrados em Alcântara, bem mais legais que os de couro comum, e o conta-giros sobre fundo cinza, que me lembra o cluster de fundo branco usados em carros esportivos quando eu era moleque. Para combinar, os cintos também são da cor cinza. E o logotipo GTS vem bordado nos bancos.
Os três modos de condução (Comfort, Sport e Sport Plus) mudam sobremaneira o comportamento do Macan. No primeiro, como adiantei, você leva os filhos para a escola e vai para o trabalho sem qualquer desconforto - nada de pancada de suspensão, tranco do câmbio ou ruído incômodo. O modo Sport já deixa os sentidos mais em alerta, pois a direção se torna mais pesada e a suspensão enrijece, ao passo que as marchas são "esticadas" antes das trocas. Daí você já começa a notar que está basicamente num hot hatch de tamancos (são 190 mm de vão livre do solo). Que acelera como um Civic Type R.
Impressiona a rapidez das mudanças da transmissão PDK, seja para conforto ou para esportividade. E há, claro, o controle de largada, que ajusta o grau de patinamento das embreagens e a distribuição de torque nas rodas para a melhor aceleração possível. Aí é uma pancada na saída e a cada troca de marcha. Os 100 km/h chegam em apenas 5,1 segundos (0,1 s abaixo do que a Porsche indica), com o V6 biturbo a plenos pulmões ecoando pelas quatro saídas de escape na traseira. Siga de pé embaixo e você verá os 250 km/l (limite eletrônico) chegarem sem demora.
Mas acelerar na reta é uma coisa que outros SUVs podem fazer por você. O que separa o Macan da maioria dos rivais é sua capacidade de frear forte e apontar com equilíbrio na tangente. Ele faz isso tão naturalmente que nem parece um SUV, e em seguida ainda tem o empurrão nas saídas de curva com ampla participação da tração traseira (distribuição que você pode acompanhar pelo visor digital no lado direito do cluster). Com a suspensão no modo mais rígido, a inclinação da carroceria é bastante contida, enquanto a direção é precisa e comunicativa, como se espera de um Porsche. Para completar, o PDK faz trocas bem rápidas e aceita reduções radicais, além de poder ser comandado por belas aletas de metal na coluna de direção, para as mudanças manuais.
Algumas coisas, no entanto, "entregam" que o Macan já dá sinais dos anos. Por exemplo, o console central recheado de botões, ou mesmo o fato de o painel não ser totalmente digital. De fato, o amontoado de botões assusta os desavisados num primeiro instante, mas depois de um tempo é fácil familiarizar com os comandos. É algo que deve mudar na reestilização prevista para 2019, acompanhando o que já aconteceu com o Panamera.
Dito isso, e relembrando da pergunta de que carro eu compraria com R$ 500 mil, o Macan GTS faz valer a expressão "melhor dos mundos". Se você me conhecer e tiver essa dúvida, já sabe: a resposta está na concessionária Porsche mais próxima.
Fotos: autor
MOTOR | dianteiro, longitudinal, 6 cilindros em V, 2.997 cc, 24 válvulas, biturbo, injeção direta, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE |
360 cv a 6.000 rpm; 51,0 kgfm de 1.650 a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | automatizada de dupla embreagem e 7 marchas, tração integral |
SUSPENSÃO | independente de braços sobrepostos na dianteira e traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio aro 20" com pneus 265/45 R20 na dianteira e 295/40 R20 na traseira |
FREIOS | discos ventilados nas quatro rodas, com ABS e ESP |
PESO | 1.970 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.692 mm, largura 1.926 mm, altura 1.609 mm, entre-eixos 2.807 mm |
CAPACIDADES | tanque 65 litros, porta-malas 500 litros |
PREÇOS | R$ 458.000 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | ||
---|---|---|
Macan GTS | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 2,2 s | |
0 a 80 km/h | 3,5 s | |
0 a 100 km/h | 5,1 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 4,3 s | |
80 a 120 km/h em S | 3,8 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 34,7 m | |
80 km/h a 0 | 21,9 m | |
60 km/h a 0 | 12,4 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 5,1 km/l | |
Ciclo estrada | 9,2 km/l |
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