A Kia já participava do segmento de utilitários-esportivos muito antes deles serem moda. Nos anos 1990, o primeiro Sportage era um SUV "raiz", com direito a chassi separado da carroceria, eixo rígido na suspensão traseira. motor a diesel e tração 4x4 com reduzida. Veio ao Brasil na mesma época que a famosa van Besta e ajudou a construir o nome da marca por aqui com sua simplicidade e robustez.
As boas vendas acompanharam as três gerações seguintes, que foram se tornando menos off-road e mais urbanas. Ganhou apelo especial nas duas últimas, que tiveram o design elaborado por ninguém menos que Peter Schereyer. As cotas de importação impostas nos últimos anos pelo regime Inovar Auto, porém, tiraram quase por completo a competitividade do Sportage em nosso mercado, assim como dos demais modelos da Kia. Em 2017, foram emplacadas apenas 3.639 unidades do Sportage, menos do que o Jeep Compass emplaca em apenas um mês. Agora, a marca pretende reverter isso.
Não que a Kia tenha pretensão de vender Sportage como a Jeep vende Compass, que é produzido em Pernambuco, mas a empresa sediada em Itu (SP) quer aproveitar este 2018 para se reerguer. E uma das principais apostas é, claro, está no segmento de SUVs. Além de recolocar o Sportage no jogo entre os modelos médios, vai trazer o compacto KX3 no segundo semestre.
Mas agora vamos focar no Sportage. Aqui, colocamos a versão de topo EX com o pacote de equipamentos básico (parece confuso, mas já explico) diante do Compass Night Eagle, que é baseado no Longitude flex, mas ganha visual diferenciado e mais equipamentos. Será o importado páreo para o líder?
O Sportage atual é a quarta geração do modelo. Apesar de lembrar bastante a terceira encarnação em linhas gerais, ele cresceu em comprimento (+35 mm) e em entre-eixos (+30 mm), justamente para aumento do espaço interno. Não que o anterior fosse apertado, mas para enfrentar uma turma de peso, como o próprio Compass, oferecer melhor acomodação aos passageiros ajuda na hora de convencer o tipo do cliente de SUV médio.
Entre os bancos da frente, um elevado console central cria dois ambientes separados para motorista e passageiro, ambos com bancos grandes e confortáveis. Entre no Kia e encontre espaço para a chave presencial, carteira e celular no console, além de um profundo porta-objetos embaixo do apoio de braço. Só causa certa estranheza o monte de botões abaixo da central multimídia, para o controle de funções do sistema e da climatização, além do antiquado freio de estacionamento por pedal (elétrico, apenas no pacote mais caro).
O Compass não tem console central alto, e seus bancos não são tão confortáveis quanto os do Sportage. O Kia acomoda melhor os ocupantes. Enquanto o Jeep tem encosto traseiro mais ereto e assento menor, o Sportage se destaca pelo encosto com nove regulagens de inclinação, que serve tanto para achar a melhor posição quanto para aumentar (ou diminuir) o espaço no porta-malas. O piso traseiro também é mais plano, mas um terceiro passageiro terá que conviver com um apoio de braços nas costas (feito para uso em dois ocupantes) em qualquer um dos carros.
No porta-malas, esta versão do Sportage traz o estepe integral, com o mesmo tamanho das demais rodas. Ou seja, é perceptível que ele perde um pouco de espaço, já que o assoalho do compartimento fica em posição elevada. Segundo a Kia, o Sportage leva 503 litros nesta configuração, ainda assim, maior que os 410 litros do Compass. Porém, o Jeep passa a impressão de acomodar mais bagagens, por causa da maior profundidade. O Kia volta a ter a vantagem com menor altura da base e maior abertura da "boca", facilitando o acesso de objetos maiores ou mais pesados.
O Kia Sportage impressiona por dentro. Visualmente, apela ao lado emocional com o volante de base reta e o console central elevado com uma bela alavanca de câmbio. Em qualidade de materiais, ambos estão bem parelhos, usando plástico emborrachado suave ao toque em diversas áreas, além de detalhes em preto brilhante e aço escovado para quebrar a monotonia.
No Compass, o destaque fica para a multimídia de 8,4" que concentra diversas funções. Nesta parte, o Kia traz tela de 7" (na minha opinião, pequena para o desenho do painel), mas ambos possuem espelhamento (Apple CarPlay e Android Auto). Falando em equipamentos de conforto, tanto Jeep quanto Kia trazem ar-condicionado de duas zonas, câmera de ré, bancos em couro preto, abertura de portas e partida com chave presencial, saídas de ar-condicionado para o banco traseiro, sensores de chuva e luz, retrovisor interno fotocrômico e coluna de direção com regulagem de altura e profundidade, assim como regulagem de altura do banco do motorista (elétrico apenas no Kia).
A Kia mantém uma velha estratégia. Mesmo comercialmente, ainda batiza os pacotes de equipamentos por códigos. Por exemplo, este testado por nós é o Kia Sportage P.787, que ainda tem o P.255 acima dele. Fica confuso para o cliente, que precisa se atentar ao catálogo antes de fechar a compra. O Compass, por exemplo, utiliza nomes até em seus pacotes de opcionais, para facilitar a vida do comprador.
Se considerarmos ambos em seus pacotes básicos, o Kia traz a mais o teto-solar panorâmico, aviso de ponto-cego (que apita quando há algo na lateral ao acionar a seta), faróis de neblina com LEDs, rodas aro 19", retrovisores com rebatimento elétrico, iluminação de LED no interior, assistente de descida de rampas e seletor de modo de condução (Eco, Normal e Sport), que modifica respostas do câmbio, acelerador e direção elétrica. Inexplicável a ausência do indicador de consumo e autonomia no computador de bordo, itens que constam do modelo em outros mercados.
O Jeep vem de série com os já citados faróis de xenônio, sistema de som assinado pela Beats Audio (com subwoofer), freio de estacionamento elétrico e rodas aro 18". Falta o rebatimento de retrovisores elétrico, porém vem com abertura e fechamento dos vidros com um toque na chave. Com a diferença de preço Sportage, é possível adicionar o teto-solar panorâmico e um pacote de segurança, que adiciona airbags laterais, de cortina e de joelho para o motorista. No Kia, são 6 airbags de série nesta versão.
Se este comparativo fosse um jogo de números, Sportage e Compass terminariam praticamente empatados. Ambos usam motores 2.0 aspirados com 16 válvulas, que geram potência e torque bem próximos (167 cv e 20,6 kgfm no Kia e 166 cv e 20,5 kgfm no Jeep). O câmbio é automático de 6 marchas e a tração é apenas dianteira em ambos, o que os deixa ainda mais próximos. Mas vamos além disso para decidir qual o melhor.
Por uma questão de tempo com o carro, testamos o Sportage com gasolina. Mas observe que, mesmo assim, ele largou na frente do Compass com etanol nas acelerações até 60 km/h, embora tenha perdido no 0 a 100 km/h. A principal diferença entre eles está na configuração do acelerador e do câmbio. Enquanto o Jeep vai para um lado mais focado na eficiência energética, o Sportage só pensa nisso quando o modo Eco está ativado. Nos outros modos, o acelerador responde prontamente a qualquer comando e o câmbio gosta de ver o motor girar, reduzindo as marchas ao menor sinal de perda de fôlego - talvez por isso tenham omitido a informação do consumo no computador de bordo.
Em altas rotações, o motor do Compass fala mais alto, tanto em desempenho quanto em ronco. É possível ouvir em bom som o ar sendo admitido pelo Tigershark. Se a FCA adotasse a mesma solução encontrada no Renegade 1.8, com um botão Sport no painel, poderia fazer diferença. Na retomada de 40 a 100 km/h, por exemplo, ele demora para fazer a redução de marcha, enquanto o Sportage joga a segunda marcha na hora. Nas demais medições, no entanto, o Kia não conseguiria bater a diferença para seu oponente, mesmo se estivesse com etanol.
Desenvolvida na Coreia, a suspensão do Sportage revela boa adaptação ao asfalto brasileiro. Permite um rodar macio e só bate seca em raras situações (as rodas aro 19" não contribuem), mas é perceptível que deixa a carroceria rolar mais, principalmente na transferência de peso para o eixo dianteiro em curvas. O ESP atua de forma adiantada (e brusca), enquanto o Compass pode ser mais explorado e levado ao limite, deixando os controles eletrônicos apenas para situações de risco. Ambos são semelhantes na absorção de impactos, mas o Kia poderia ser um pouco mais dinâmico, pois sua posição de dirigir é mais "esportiva", com banco que pode ficar mais baixo na regulagem, e volante de melhor pegada.
Pela tabela de preços, o Jeep Compass Night Eagle é mais barato. Custa R$ 122.990 e já vem com bom pacote de itens de série, mas chega a R$ 135.060 para se igualar ao Sportage (como nosso carro das fotos). O Kia traz alguns itens a mais (e outros a menos) por R$ 137.990.
Na hora da revisão, o Sportage é mais barato, porém, precisa visitar a concessionária a cada 10.000 km, enquanto o Jeep suporta 12.000 km. Com garantia de 5 anos (contra 3 do Jeep), o Kia precisará de mais duas visitas extras para continuar na cobertura, mas os preços não estão disponíveis no site da marca. Importante lembrar também da rede de concessionárias menor que a da Jeep.
MODELO | 1 ANO | 2 ANOS | 3 ANOS | TOTAL |
Jeep Compass 2.0 Flex (a cada 12.000 km) | R$ 453,00 | R$ 748,00 | R$ 828,00 | R$ 2.029,00 |
Kia Sportage 2.0 Flex (a cada 10.000 km) | R$ 224,64 | R$ 716,03 | R$ 524,64 | R$ 1.465,31 |
Na cotação do seguro (pelo perfil homem, 35 anos, morador da zona oeste de São Paulo (SP), casado), o Kia também foi mais acessível, como consta abaixo:
MODELO | VALOR DA APÓLICE |
Jeep Compass 2.0 Night Eagle | R$ 12.755,89 |
Kia Sportage EX | R$ 7.494,32 |
O Sportage não é só uma carinha bonita. Traz boas qualidades para o público do SUV médio, como espaço interno e construção caprichada, além de estar próximo do Compass em preço e equipamentos. Fica devendo pela rede de concessionárias limitada, o que é um fator complicador para quem mora em cidades mais afastadas. O Compass ainda é melhor de dirigir e tem melhor relação custo-equipamentos, além das facilidades de ser produzido localmente. Mas a briga é boa, e a Kia voltou com a faca nos dentes.
Fotos: Mario Villaescusa
Kia Sportage | Jeep Compass | |
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.999 cm3, duplo comando com variador na admissão e escape, flex | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.995 cm3, duplo comando de válvulas com variador de fase na admissão, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 156/167 cv a 6.200 rpm; 19,2/20,6 kgfm a 4.700 rpm | 159/166 cv a 6.200 rpm; 19,9/20,5 kgfm a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | Automática de 6 marchas, tração dianteira | Automática de 6 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO |
independente McPherson dianteira e multilink na traseira |
independente McPherson na dianteira e na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve aro 19" com pneus 245/45 R19 | liga leve de aro 18" com pneus 225/55 R18 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS e ESP | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira com ABS e ESP |
PESO | 1.570 kg em ordem de marcha | 1.541 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.480 mm, largura 1.855 mm, altura 1.655 mm, entre-eixos 2.670 mm | comprimento 4.416 mm, largura 1.819 mm, altura 1.638 mm, entre-eixos 2.636 mm |
CAPACIDADES | porta-malas 503 litros; tanque 62 litros | tanque 60 litros; porta-malas 410 litros |
PREÇO |
R$ 137.990 |
R$ 122.990 (R$ 135.060 como testado) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | |||
---|---|---|---|
Kia Sportage (gasolina) | Jeep Compass 2.0 (etanol) | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 4,5 s | 5,2 s | |
0 a 80 km/h | 8,4 s | 8,0 s | |
0 a 100 km/h | 12,5 s | 11,6 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em S | 9,6 s | 11,4 s | |
80 a 120 km/h em S | 8,7 s | 8,8 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 42,1 m | 44,8 m | |
80 km/h a 0 | 26,6 m | 28,1 m | |
60 km/h a 0 | 14,9 m | 15,7 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 9,0 km/l | 5,7 km/l | |
Ciclo estrada | 12,0 km/l | 8,0 km/l |
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