Há um consenso no mercado de que o Citroën C4 Lounge é um carro injustiçado – tanto que apareceu na nossa lista de 10 modelos que mereciam vender mais. Renovado para 2018, o sedã médio adota as mesmas linhas já utilizadas na versão chinesa, além de ganhar equipamentos como nova central multimídia e painel de instrumentos digital. Para o bem e para o mal, manteve seus atributos mecânicos e aposta na racionalidade, com preços que partem de R$ 93.420 e chegam a R$ 102.790.
Alterações foram tão sutis que a Citroën nem se preocupou muito com o test-drive. Nossa breve avaliação feita na Argentina se limitou a cerca de 40 km num trajeto de 90% em linha reta na estrada. Ainda bem com o motor 1.6 THP de 173 cv e o câmbio automático de 6 marchas não tiveram qualquer reajuste. Nem mesmo a suspensão, uma de suas maiores fraquezas, foi alterada.
O que mudou, afinal? Somente o estilo, fruto de uma cooperação entre os estúdios de design em São Paulo, Paris e Xangai. Teve os faróis como ponto principal, trazendo luzes diurnas em LED, que foram posicionadas de forma a ficarem separadas do resto dos faróis pela haste cromada da grade. Os faróis agora são Full-LED na versão topo de linha e, segundo a marca, foram desenhados para que o projetor ficasse guardado como uma “joia em um estojo”. O para-choque tem uma segunda grade bem longa. As luzes de neblina agora têm contorno cromado em C, seguindo a identidade visual da fabricante. Por foto, pode não parecer legal. Acredite, é bem melhor pessoalmente.
A cabine também foi renovada. Trouxe novos materiais de acabamento, com plástico emborrachado por todo o painel. Recebeu a central multimídia com tela de 7” usada em modelos mais atuais da empresa. Como o sistema também controla o ar-condicionado, ficou com poucos botões físicos. O painel de instrumentos também mudou, agora totalmente digital, embora com uma tecnologia menos sofisticada. Não é personalizável, mantendo os mesmos dados nas mesmas posições, com exceção das informações na parte inferior, dadas pelo computador de bordo (como consumo instantâneo e quilometragem).
Se você já andou no C4 Lounge antes da reestilização, irei te poupar o trabalho. É a mesma coisa. Apesar dos longos testes, com carros de desenvolvimento rodando entre Argentina e Brasil, a marca não fez qualquer mudança na mecânica. Segundo a Citroën, conforto é algo que os clientes gostam e não quiseram mexer nisso. Uma pena, pois a suspensão poderia ter ficado melhor. Continua mole demais, deixando a carroceria oscilar bastante em ondulações. Não chega a afetar a estabilidade, mas também não dá confiança para entrar mais rápido nas curvas. Segue com a direção eletro-hidráulica, mais pesada do que a concorrência.
A motorização continua a ser um ponto a favor. Usado em diversos carros do Grupo PSA no Brasil, o 1.6 THP (turbo e injeção direta) de 173 cv mostra porquê é o queridinho da empresa. Está ficando antigo e a PSA trabalha em uma versão atualizada, o 1.6 PureTech. Mas, enquanto isso, o THP cumpre bem o papel. Acelera bem e resolve facilmente o problema que o peso de 1.512 kg do sedã poderia causar. O câmbio automático de 6 marchas, feito pela Aisin, trabalha melhor no modo Sport, com trocas de marcha mais rápidas e reduções mais espertas. No modo normal, pode ser um pouco lento para entender o que o motorista quer. Faltaram as borboletas atrás do volante para trocas manuais, somente disponíveis na alavanca da transmissão.
Rodando com gasolina argentina, o computador de bordo marcava 8.8 l/100 km, o que dá 11,4 km/l. Estava no modo normal, sem ligar a função Eco e o tempo todo em uma rodovia praticamente vazia, a 130 km/h (a velocidade máxima das estradas que passamos). Não é ruim, mas poderia ser melhor.
Uma decepção foi o painel digital. O cluster de instrumentos do modelo pré-reestilização tinha o problema de usar uma proteção plástica que fazia muitos reflexos, atrapalhando a leitura. A nova tecnologia só reduziu o problema ao invés de eliminá-lo. Além disso, é um pouco simples e, em algumas coisas, até estranho. O conta-giros funciona como uma barra na parte de cima, só que ela sobe de 1.000 em 1.000 rpm, então perdemos alguns detalhes como a quantos giros o motor está em velocidade de cruzeiro ou nas trocas de marcha. Tem outra barra Eco para indicar se estamos dirigindo economicamente ou não. Só que ela enche se estamos abusando e esvazia se economizarmos combustível, ao contrário da maioria dos sistemas.
Faltam equipamentos, enquanto outros poderiam ser melhores. Perdeu o sensor de ponto cego, antes oferecido na versão Exclusive. Também ficou sem os sensores de estacionamento, utilizando somente uma câmera de ré. Pode ser uma estratégia, oferecendo o item em pacote opcional no futuro. A central multimídia é bem funcional, rápida e fácil de usar. Porém, colocar os comandos do ar-condicionado nela não foi uma boa escolha, pois complica quando precisamos mexer na temperatura ao mesmo tempo que precisamos olhar para o GPS, além de aumentar o tempo escolhendo opções na tela.
A ideia da Citroën é que o Lounge 2019 tenha bom custo-benefício. A marca argumenta que, por R$ 102.790, a versão topo de linha do sedã é mais equipada do que seus concorrentes e que eles precisariam colocar pacotes opcionais para terem um nível semelhante de itens – o que joga o preço bem acima. Eles, claro, "esquecem" que muitos dos rivais trazem algumas tecnologias que não aparecem no C4 Lounge, como start-stop para auxiliar na economia ou sensor de estacionamento.
Será vendido em três versões. A mais barata é a Live, por R$ 69.990, voltada para vendas diretas e PCD. Perde algumas coisas, como as rodas aro 17”, o navegador da central multimídia, a câmera de ré e o sensor de chuva. Ainda assim, por esse preço, merece a atenção de quem quer um bom modelo PCD. A intermediária Feel, por R$ 93.420, também tem bons argumentos, como a adição dos airbags laterais e sensores de chuva e crepuscular. Outra boa estratégia da Citroën é não oferecer opcionais, mantendo os preços como estão na tabela.
A Citroën tenta mudar a imagem da marca com aposta maior no pós-venda. O Lounge tem 3 anos de garantia e, como o programa “Novo, de novo”, a recompra está garantida após dois anos e meio, permitindo que o cliente troque-o por outro Citroën novo. Para evitar problemas com concessionárias, a marca dispõe do sistema Citroën Advisor, uma plataforma online que permite avaliar o atendimento e que pode ser consultada por qualquer um pelo site.
A boa relação custo-benefício e o esforço da Citroën para acabar com o pesadelo do pós-venda que atrapalha a imagem da empresa fazem com que o Citroën C4 Lounge fique mais atraente, principalmente nas versões básicas. O desafio será mudar a mente dos possíveis clientes e manter-se relevante em um segmento que passará por renovações em breve, além de sobreviver à chegada do primeiro SUV compacto da fabricante, o C4 Cactus, que estreia ainda em 2018.
Por Nicolas Tavares, de Buenos Aires, Argentina
Fotos divulgação
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