Quando a Volkswagen divulgou os preços do Virtus no evento de lançamento, lembro de ter ouvido, ao fundo da platéia, a frase "putz, prefiro um Corolla GLi" quando na tela apareceu o slide com os R$ 79.990 da versão Highline. Ainda mais depois de a marca mostrar o valor dos opcionais, que elipsam o novo sedã compacto a R$ 85.590 quando totalmente equipado.
O mesmo aconteceu na área de comentários aqui do Motor1.com. Vocês, leitores, nos levam a este comparativo que, com certeza, será polêmico. De um lado, o VW Virtus Highline completão, com direito a painel de instrumentos em TFT e rodas de 17", contra o Toyota Corolla GLi e seu aparelho de som, digamos, clássico, mas porte de carro médio. Qual a sua aposta? E qual o seu escolhido?
Durante o tempo em que fiquei com o Virtus, diversas pessoas pediram para conhecê-lo de perto. Curiosamente, a primeira coisa que eles fazem é abrir a porta traseira para ver o espaço na segunda fileira. Com entre-eixos de 2.651 mm, o sedã do Polo tem exatamente a mesma medida do atual Jetta, um sedã médio, e isso desperta a curiosidade de quem tem uma família com filhos. De fato, a acomodação do novo sedã compacto é uma das melhores em seu segmento.
Mesmo quando comparado com o Jetta, o Corolla leva vantagem no espaço interno. Contra o Virtus, a maior diferença está na acomodação lateral. Enquanto o VW sente uma certa dificuldade com três adultos no banco traseiro, o oriental oferece mais conforto, tanto em espaço quanto na posição e construção do banco. Apenas o passageiro do meio precisa conviver com um apoio de braços no encosto, mas encontra um piso plano para "compensar". O mesmo acontece na primeira fileira, onde motorista e passageiro se acomodam melhor e mais confortavelmente, ainda mais por conta dos bancos maiores. É o bônus de ser um carro médio.
Mas a vantagem do Corolla some quando o assunto é porta-malas. São 470 litros contra 521 do Volkswagen, que ainda tem a tampa com abertura automática e, no Highline, um piso com altura regulável em três posições. O VW ainda leva pela profundidade do habitáculo, que permite carregar objetos mais compridos e poder fechar a tampa sem dificuldades. No Corolla, o compartimento é mais alto e largo.
Estes são os quesitos que mais separam Corolla GLi e Virtus Highline. O sedã médio, mesmo sendo a versão de entrada, tem acabamento que agrada ao toque. No painel, quase todas as peças são de toque macio, até mesmo na parte cinza, com uma imitação de couro que chega até próximo dos controles do ar-condicionado. De tempos para cá, as marcas japonesas aprenderam que o acabamento precisa ser cuidado mesmo em versões de acesso. A Toyota trabalhou isso na reestilização do Corolla, feita em 2017.
Na lista de equipamentos, porém, fazem falta pequenos itens que são importantes no dia a dia, principalmente em um carro que ultrapassa os R$ 90 mil. A central multimídia é uma delas. Não que a unidade que equipa os Corolla mais caros seja ideal (tem operação lenta e interface um pouco confusa), mas ver aquele rádio (com Bluetooth, CD e USB, ao menos) com uma pequena tela azul e diversos botões causa estranheza em um mundo cada vez mais touch screen e conectado. Também não espere por sensor de estacionamento traseiro ou câmera de ré na hora de estacionar os 4,62 m do sedã.
O Virtus é o oposto. No acabamento, traz bastante plástico rígido (um dos pontos mais criticados na nova família Polo), com pontos suaves ao toque apenas no tecido das portas. Na versão Highline, ao menos tem uma peça pintada em cinza atravessando o painel que melhora o visual, mas ainda fica longe da qualidade do Corolla. Porém, seu desenho agrada mais que no Toyota, inclusive pela central multimídia posicionada no topo do painel, facilitando a visualização e o uso.
O mesmo acontece na lista de equipamentos. O Virtus conta com ar-condicionado automático, retrovisor fotocrômico, partida e abertura de portas por chave presencial, acendimento automático dos faróis, sensor de chuva, central multimídia com Apple CarPlay e Android Auto e painel digital em TFT, apenas para citar os principais diferenciais. Há câmera de ré e sensor de estacionamento dianteiro e traseiro. O Corolla tem direção elétrica, ar-condicionado analógico, computador de bordo, conjunto elétrico e... só.
Na parte de segurança, ambos trazem controles de tração e estabilidade (junto com o assistente de partida em rampas), e airbags frontais e laterais, mas apenas o Corolla tem airbags de cortina e de joelho para o motorista (totalizando 7 bolsas), enquanto o Virtus responde com items como detector de fadiga e frenagem automática pós-colisão. No Latin NCap, ambos são 5 estrelas, mas a nota do Virtus é melhor na proteção adulto (32,56 pontos contra 29,60 pontos) e o Toyota para as crianças (44,88 versus 43,00). Ambos trazem fixação Isofix para cadeirinhas infantis no banco traseiro.
Entendemos quem gosta do Corolla e, por diversas vezes, o troca por outro mais novo. Não tem motor turbo, não é o mais dinâmico sedã do mercado ou o mais prazeroso, mas sempre me surpreendo com seu conforto ao conduzir. A versão GLi é a única da linha que mantém o motor 1.8 (144 cv e 18,6 kgfm de torque) ligado ao mesmo câmbio CVT com simulação de 7 marchas das versões 2.0. Mas, caso não soubesse disso, não sentiria diferença para o motor maior. Traz a mesma suavidade de funcionamento e mantém a ótima conversa entre motor e câmbio do mais potente (que tem 154 cv e 20,3 kgfm).
Não é o tipo de carro que coloca um sorriso no rosto de quem o dirige, mas seu público busca justamente o que ele oferece de sobra. Fique muitas horas ao volante e não se sinta cansado, ou não precise "domar" o seu carro a cada aceleração. Linearidade e suavidade são as palavras chaves do Toyota. Mas, mesmo assim, foi mais rápido que o VW em todas as provas de aceleração e, inclusive, mais rápido que o Corolla 2.0 até os 80 km/h, com empate técnico nas retomadas, além de ser mais econômico.
Mas como a comparação é com o Virtus, o Corolla 1.8 não conseguiu ter a mesma eficiência do 1.0 turbo de 3 cilindros e injeção direta. Com 8,5 km/l, o Volkswagen foi mais econômico na cidade, assim como na estrada com seus 12,5 km/l. Outro ponto que faz a diferença para este consumo é o peso, já que o sedã médio é cerca de 100 kg mais pesado que o rival menor.
Passando ao Virtus, ele tem perfil mais jovem tanto no desenho quanto ao volante. Mesmo com amplo espaço interno, sua tocada é melhor até que a do próprio Polo, com respostas rápidas da direção elétrica e da suspensão - que vai mais longe quando exploramos o limite, com a ajuda de sistemas como o bloqueio de diferencial. Também tem ótima posição de dirigir, característica dos projetos da plataforma MQB. Porém, a conversa do motor 1.0 TSI com o câmbio automático de 6 marchas não é tão afinada quanto no Corolla. Há alguns trancos e desentendimentos entre eles, o que tira um pouco do charme deste projeto mundial. O Toyota também filtra melhor as imperfeições do asfalto e, com isso, triunfa quando o assunto é conforto.
O Corolla perdeu recentemente a versão GLi de R$ 79.990, destinada ao público PCD. Com isso, este GLi com bancos em couro e rodas de 15" passou a ser o mais barato da linha, por R$ 92.690. São R$ 7.100 a mais que o Virtus Highline com todos os equipamentos opcionais, inclusive o painel de instrumentos em TFT e as rodas de 17".
Na hora de fazer a revisão, o Virtus tem uma vantagem de cara. Desde o lançamento, tanto Polo quanto o sedã nas versões Highline já são vendidos com as três primeiras revisões básicas gratuitas, enquanto o Corolla irá pedir uma despesa de R$ 1.336,04. Se cobradas, as revisões do VW totalizariam R$ 1.216,20.
Na hora do seguro, o Virtus também é mais barato. Em nosso perfil padrão (homem, 35 anos, casado, morador da zona oeste de São Paulo (SP), o VW teve uma apólice média de R$ 3.050, enquanto o Corolla ficou na faixa dos R$ 4.150. Vale lembrar que o VW ainda está em seu primeiro ano de vendas, então a apólice poderá variar (para mais ou para menos) no futuro conforme o que acontecer com as unidades seguradas no período.
Em busca de conforto, mais espaço e porte superior? O Corolla tem uma lista de equipamentos "justa", mas anda mais e tem um perfil que atende melhor o comprador de um sedã familiar. Mas, quando colocamos na ponta do lápis, o Virtus, mesmo completão, é consideravelmente mais barato, tanto na compra quanto no pós-venda, sendo inclusive mais econômico. É realmente uma questão de perfil a escolha entre esta dupla. Dentro do meu uso e minhas preferências, levaria o VW para casa. Mas não descartaria o Corolla sem antes fazer uma boa avaliação.
Fotos: Mario Villaescusa
Toyota Corolla GLi | Volkswagen Virtus Highline | |
MOTOR | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.798 cm3, comando duplo variável, flex | dianteiro, transversal, três cilindros, 12 válvulas, 999 cm3, injeção direta de combustível, turbo, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 139/144 cv a 6.000 rpm; 17,7/18,6 kgfm a 4.800 rpm | 116/128 cv a 5.500 rpm; 20,4 kgfm a 2.000-3.500 rpm |
TRANSMISSÃO | CVT com simulação de 7 marchas, tração dianteira | Automática de 6 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO |
independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve aro 16" com pneus 205/55 | liga leve aro 17" com pneus 205/50 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira, com ABS, ESC | discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira, com ABS, ESC |
PESO | 1.295 kg em ordem de marcha | 1.192 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.620 mm, largura 1.775 mm, altura 1.475 mm, entre-eixos 2.700 mm | comprimento 4.482 mm, largura 1.751 mm, altura 1.472 mm, entreeixos 2.651 mm |
CAPACIDADES | porta-malas 470 litros; tanque 60 litros | tanque 52 litros, porta-malas 521 litros |
PREÇO |
R$ 92.690 |
R$ 79.990 (como o testado R$ 85.590) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | |||
---|---|---|---|
Toyota Corolla 1.8 | VW Virtus 1.0 200TSI | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 4,4 s | 4,8 s | |
0 a 80 km/h | 6,7 s | 7,3 s | |
0 a 100 km/h | 9,7 s | 10,5 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em S | 7,4 s | 8,2 s | |
80 a 120 km/h em S | 6,8 s | 7,5 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 43,0 m | 42,7 m (pista molhada) | |
80 km/h a 0 | 26,4 m | 26,8 m (pista molhada) | |
60 km/h a 0 | 14,9 m | 15,2 m (pista molhada) | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 7,8 km/l | 8,5 km/l | |
Ciclo estrada | 11,9 km/l | 12,5 km/l |
RECOMENDADO PARA VOCÊ
Toyota: compradores do Corolla GR ainda querem o manual
Após 12 anos, HB20 chega à Argentina com motor descartado no Brasil
Flagra: será esse o Toyota Corolla mais potente da história?
Ram tem até R$ 68 mil de bônus e taxa 0% para as picapes Rampage e 3500
Sedãs em agosto: Toyota Corolla tem mais de 70% de participação nos médios
Yamaha colabora com anime futurista Tokyo Override da Netflix
Teste Toyota Corolla GR-Sport 2024: o gato de caça