Comparativo Audi A4 Avant x Mercedes C300 Estate - Há vida além dos SUVs

Se você é um dos felizardos que tem algo entre R$ 200 mil e R$ 300 mil para comprar seu carro novo, é bem capaz que você leve um SUV para sua garagem. Afinal, o que não falta é opção de utilitário bacana nesta faixa de preço - e a maioria das pessoas gosta da imponência e status que eles dão, sem falar que não enroscam na lombada nem na entrada do prédio. Mas, antes de fechar negócio, uma pergunta: você já deu uma olhada nas peruas que você também pode comprar com essa grana? Não? Então aqui estão dois (belos) exemplos: Mercedes Classe C Estate e Audi A4 Avant.

Uma observação: desta vez não se trata de um comparativo comum. Afinal, a Mercedes só traz ao Brasil a versão C300 de sua station, que é cerca de R$ 65 mil mais cara que a representante da Audi. A marca dos anéis importa somente a versão Ambiente, com motor 2.0 turbo de 190 cv, que seria equivalente à C200. No entanto, isso não invalida o duelo, pois elas se equivalem em muitos quesitos, e a Audi está longe de ser "fraquinha". Por fim, a Avant pode receber diversos opcionais e chegar perto do preço da compatriota.

Espaço e praticidade

Embora tenham cerca de 4,7 metros de comprimento, elas são as opções médias de peruas das marcas alemães (Ainda existem a Mercedes Classe E Estate e a Audi A6 Avant). Ambas oferecem bom espaço interno com seus mais de 2,8 metros de entre-eixos, mas não tanto quanto a gente poderia esperar. Isso porque a Mercedes tem tração traseira, o que inclui um enorme túnel central na parte de trás para passar a transmissão. Na Audi também há um volumoso túnel central, por conta das versões com tração integral (nesta versão é só dianteira). Em resumo, são carros para quatro pessoas. No meio, somente crianças pequenas. 

No entanto, os quatro passageiros vão muito bem acomodados. Os bancos são grandes e bastante cômodos, sendo de couro na Mercedes e de couro Alcântara (tipo camurça) na Audi. Há apoio de braço central nos dois carros e saída de ar exclusiva para o banco traseiro, mas só a A4 traz ajuste da ventilação na traseira (no Mercedes é controlado na frente). Na frente, novamente a Audi é melhor. O banco oferece melhor apoio para o corpo e a direção e os pedais são perfeitamente centralizados, enquanto na Mercedes o volante é levemente deslocado à esquerda, como no Classe C sedã. 

Em termos de ergonomia, outro triunfo da A4. Os comandos estão todos onde se espera, as saídas de ar atravessam praticamente topo do painel e a alavanca de câmbio tem formato anatômico para o motorista apoiar o punho e mexer no touch pad, onde você escreve com o dedo a letra ou número que deseja (recurso também disponível na Mercedes). A tela da multimídia não é sensível ao toque, mas sua interface é mais amigável e fácil de usar. O desenho do painel ficou bem high-tech ao associar três telas: do cluster digital configurável (Audi Virtual Cockpit), da multimídia e do ar digital de 3 zonas. 

A Mercedes ainda insiste numas tradições que não agradam a todos. A alavanca de câmbio na coluna onde normalmente fica o limpador de para-brisa é uma delas. Não tem uma vez que eu não dirija um Classe C na chuva e não engate Neutro quando quero limpar o vidro. Também não é a melhor ideia ter uma terceira alavanca na direção para o piloto automático, abaixo da seta. Para complicar, o sistema multimídia não tem tela sensível ao toque e a interface não é das simples de usar. Enquanto testávamos a C300 aqui, porém, na Alemanha a Mercedes mostrava a versão reestilizada do modelo, que ganhou cluster digital (o atual ainda é analógico) e uma nova multimídia. Não deve demorar para chegar, e pode corrigir algumas destas falhas. 

Em termos de espaço para cargas, a Mercedes tem um problema: boa parte do porta-malas de 490 litros é ocupado pelo estepe (veja foto com o estepe na galeria ao final da reportagem). Já o compartimento da Audi tem 505 litros e acomoda o estepe embaixo do assoalho. Por se tratar de uma versão mais simples, no entanto, a A4 fica devendo a tampa traseira elétrica (presente na Mercedes). Nela, apenas o bagagito é elétrico, da mesma forma que na rival. 

Acabamento e equipamentos

Como pode ser observado pelo estilo dessas peruas, a Mercedes é mais clássica e a Audi, mais esportiva. Isso fica claro também na cabine, que na Classe C tem forração de couro preto que contrasta com peças de alumínio e apliques em preto brilhante. Como tradição, os ajustes elétricos dos bancos dianteiros ficam na porta, em oposição aos botões nas laterais do banco no Audi. Também só a C300 vem com regulagem elétrica do volante. 

Na A4 o ambiente é mais esportivo. Começa pelos bancos e laterais de porta em couro Alcântara e segue pela iluminação com LEDs azuis em diversas partes da cabine. O ambiente na Audi é mais moderno, mas é difícil apontar qual dessas peruas tem o acabamento mais apurado, já que ambas são muito bem executadas. Tendo a gostar mais dos materiais da A4 no painel e console central, enquanto nas laterais a C300 impressiona melhor com seus botões de toque metalizado, como os dos vidros elétricos. Chama a atenção também a leveza das portas da Mercedes, feitas de alumínio, muito fáceis de manusear. 

Embora significativamente mais cara, a Mercedes não tem nenhum equipamento extra que impressione. Ambas contam com teto-solar panorâmico (opcional na Audi), faróis full LED, controles de estabilidade e tração, airbags frontais, laterais e de cortina, câmera de ré e ajuste dos modos de condução, entre outros itens. A C300 tem a mais a tampa traseira elétrica e o ajuste da direção também elétrico, além do airbag para o joelho do motorista. A A4 Avant testada veio com o kit S-Line, que inclui rodas aro 19" (contra 17" da Mercedes) e outros componentes esportivos, como a soleira das portas.           

Ao volante

A perua com a estrela na grade traz a última geração de transmissões da marca, a 9G-Tronic de 9 marchas (substitui a anterior 7G-Tronic), ligada ao motor 2.0 turbo que rende 245 cv e 37,7 kgfm de torque. Na Audi a pegada é mais sobre eficiência energética, com o motor 2.0 turbo trabalhando em ciclo Atckinson (período de expansão é maior que o de compressão), além de ter injeção indireta (para baixas rotações) e direta (para altas). A potência e o torque são mais comedidos, 190 cv e 32,7 kgfm, mas em compensação a Avant é mais leve (1.460 contra 1.595 kg) e seu câmbio S-Tronic de dupla embreagem e 7 marchas não tem que tocar um conversor de torque. 

Em movimento, a conservadora Classe C e a esportiva A4 trocam de personalidade. A Mercedes é mais arisca em suas reações, com uma traseira que gosta de participar ativamente das curvas (no modo Sport) e uma suspensão mais firme. Mesmo com rodas aro 17", ela transmite mais os impactos do piso para a cabine do que a Audi com aros 19". Não que a Avant passe incólume em nossas ruas: com esse jogo de rodas maiores e pneus mais largos do kit S-Line, ela perde um pouco da suavidade que tanto me agrada na versão básica (eu ficaria com as 17" originais). O comportamento da perua de Ingolstadt é mais neutro e previsível, com tendência a sair de frente no limite, mas sem a mesma diversão da Classe C e sua tração traseira. Ambas trazem sistema de direção elétrico com volante leve e ágil, sem perder a conectividade com o condutor. Já nas frenagens a Avant mostrou se superior, ajudada também pelos pneus mais largos. 

Ao cravar o pé direito no acelerador, a C300 fez valer sua maior potência e torque, chegando aos 100 km/h em 7 segundos, contra 8,2 s da rival. Mas nas retomadas o câmbio mais rápido da Audi aproximou os resultados. Na prática, você terá um carro veloz e silencioso na estrada, além de muito capaz nas ultrapassagens, seja qual for a escolhida. A A4 peca apenas quando se usa o modo Efficiency de condução, que valoriza a economia e deixa as respostas um tanto lentas - chega a irritar no trânsito, pois perde a agilidade para aproveitar os espaços. Melhor deixar em modo Comfort no dia-a-dia. A Mercedes responde bem em todos os modos, com menor diferença de temperamento entre eles. 

Como esperado, a Avant foi melhor em consumo, mas por pouco. A nova transmissão de 9 marchas da Mercedes provou ser bastante eficiente neste ponto, deixando as marcas da C300 próximas às da rival mesmo com o motor entregando 55 cv a mais. As médias foram de 12,5 km/l entre cidade e estrada para a Audi, e de 11,7 km/l para a Mercedes. 

Compra e manutenção

A Mercedes traz a C300 Estate ao Brasil com pacote fechado de equipamentos, que inclui teto-solar panorâmico, tampa traseira com abertura e fachamento elétricos, ajuste elétrico da direção, bancos em couro, faróis full LED, 7 airbags e sistema de estacionamento automático "parktronic" - tudo por R$ 265.900. Conta também com plano de manutenção com preços fixos, num total de R$ 4.400 para as três primeiras revisões.   

Já a A4 Avant Ambiente parte de R$ 198.990, mas pode receber uma série de itens opcionais: teto-solar panorâmico (R$ 11.000), head-up display (R$ 7.000), sistema de som Bang&Olufsen (R$ 8.000) e o kit S-Line (R$ 12.000), além do pacote de assistência ao motorista com piloto automático adaptativo, assistente de manutenção em faixa, farol alto com facho automático e sensor de estacionamento dianteiro (R$ 14.000). No carro completo, estamos falando de R$ 250.990 - número mais próximo da Mercedes, sendo que a A4 fica mais equipada que a rival, mas segue com menos motor. 

Se mesmo completa a Audi ainda custa menos para comprar, na hora de manter ela tem as revisões um pouco mais salgadas, ficando em R$ 5.115 a conta total das três primeiras manutenções. Não obtivemos cotações de seguro para nenhuma das duas peruas, por se tratarem de carros de alto valor e que podem ter alta variação da apólice de acordo com o perfil do segurado. 

Conclusão

Não compre SUV sem dar uma olhada nessas sedutoras alemãs. A Mercedes faz mais o estilo conservador, mas tem o diferencial da tração traseira e do motor mais forte, embora perca em espaço, conforto e equipamentos (quando comparada à rival com todos os opcionais). No fim das contas, a Audi atrai mais, seja pelo design esportivo ou pelo interior tecnológico, sem contar que atende melhor aos anseios de uma família - o que, afinal, é a essência das peruas.     

Fotos: Rafael Munhoz

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