Comparativo Honda HR-V, Hyundai Creta e Nissan Kicks - Reagrupamento
A vida mansa do HR-V acabou após a estreia do Creta e a nacionalização do Kicks
No começo de 2017, reunimos Jeep Renegade, Honda HR-V, Nissan Kicks e Hyundai Creta para desenhar como ficaria a briga dos SUVs compactos. Naquele momento, o mercado conhecia o novo concorrente coreano e esperava outras novidades que apareceriam meses depois, como o EcoSport renovado. De lá para cá, o Honda HR-V ganhou uma nova versão topo, a Touring, com mais equipamentos (e mais cara). O Nissan Kicks passou a ser produzido no Brasil, agregando versões mais baratas e tomando belo fôlego nas vendas. Já o Creta ganhou mais espaço do que a própria Hyundai esperava, com direito a duas novas versões no catálogo. Veja abaixo como ficaram as vendas dos principais modelos do categoria no mês de dezembro passado, que mostram a tendência para 2018:
MODELO | VENDAS DEZEMBRO 2017 |
Hyundai Creta | 5.099 unidades |
Honda HR-V | 4.267 unidades |
Nissan Kicks | 3.713 unidades |
Jeep Renegade | 3.345 unidades |
Ford EcoSport | 3.193 unidades |
Em franco crescimento, o Creta quase derrotou o HR-V nas vendas totais de 2017, mesmo com o processo de abastecimento das concessionárias no começo do ano. O Nissan Kicks teve um período de entressafra do modelo mexicano para o nacional, mas desde que começou a ser produzido em Resende (RJ) vem crescendo quase todo mês. Em novembro passado, houve praticamente um empate entre Creta, HR-V e Kicks nos emplacamentos - os três na casa das 4 mil unidades.
Reagrupamos então os SUVs compactos que, na nossa visão, disputarão a liderança do segmento em 2018. Representados por suas versões de topo com preços na faixa dos R$ 100 mil, oferecem equipamentos, estilo e espaço para convencer seus compradores. Mas, qual o melhor? A única coisa que podemos adiantar é que, como nas vendas, a briga foi acirrada.
Espaço e praticidade
Durante o período de testes, precisei escolher um deles para fazer uma viagem curta com cinco adultos. Acabei ficando com o Hyundai Creta Prestige, mesmo ele tendo o menor em entre-eixos, com 2,59 m ante os 2,61 m de seus oponentes. Dos três, é o que melhor acomoda o pessoal do banco traseiro, com o maior vão para as pernas e para os ombros, além de ser o único com saída de ar-condicionado para a segunda fileira. Tudo bem, não foi uma viagem exatamente confortável para os três de trás, porém, seria um pouco pior no Honda HR-V e consideravelmente mais apertada no Nissan Kicks, que acomoda bem quatro passageiros adultos, mas complica quando há um quinto elemento que não seja uma criança.
Caso precisasse de mais espaço para cargas, poderia ter escolhido o HR-V. Com pouca desvantagem no espaço traseiro, seria útil para levar algum objeto maior ou mais alto. Usando a plataforma do hatch/minivan Fit, que tem o tanque sob o banco do motorista, é o único com a modularidade do banco traseiro, abrindo um grande espaço com a elevação dos assentos traseiros. Para levar malas, a vantagem também é do Honda, embora quase haja um empate técnico: 437 litros, contra os 432 l do Kicks e 431 l do Creta. Positivamente, todos possuem duas ancoragens Isofix para cadeirinhas infantis.
Se não houvessem passageiros no banco de trás ou alguma carga maior que duas malas, como normalmente viajo, o Kicks seria a opção. Na primeira fileira, é o SUV que melhor acomoda motorista e passageiro, principalmente no espaço das pernas, além de outras qualidades que falarei mais adiante. O Creta é o menor, e o HR-V tem um console central alto que, mesmo sendo legal por criar dois ambientes separados, tira um precioso espaço da dupla da frente.
Em comum, os três têm ao seu favor o porte. Como não são grandes, cabem bem nas vagas de shopping, garagem de prédios e vagas nas ruas - diferentemente de quem compra um SUV médio, como o Compass ou Equinox, que já passa por algumas limitações.
Acabamento e equipamentos
Mesmo sendo o mais antigo dos três, o HR-V é o que mais agrada por dentro. O painel conta com uma cobertura suave ao toque e detalhes cromados, enquanto as portas também têm material macio, além do couro no console central. Onde as mãos tocam, há uma suavidade que não encontrávamos em um Honda nacional até o lançamento do SUV. Nos comandos, temos iluminação em todos os botões. Deixa a desejar no quadro de instrumentos, analógico com uma simples tela no canto direito, que parece pobre diante dos oponentes. Destoa do restante do conjunto, trazendo sequer um velocímetro digital, e ainda tem o comando do computador de bordo num botão no próprio painel, prejudicando a ergonomia. Coisas herdadas do Fit.
Sair do HR-V para o Creta serve para ver como concorrentes diretos podem ser diferentes. Se o Hyundai tem uma bela tela colorida no meio do painel de instrumentos que agrada o olhar, ele não tem material suave ao toque no painel - pelo contrário, lembra muito o HB20 neste aspecto. Nem mesmo a faixa plástica colorida no meio do painel, imitando a cor marrom dos bancos, melhora essa impressão. Também não condiz com um carro de R$ 100 mil os botões das portas sem iluminação, apenas sinalizando o do vidro do motorista. Por fim, a iluminação azul nos botões do ar-condicionado e de outros comandos cansa a visão, principalmente na estrada escura. É um problema que já observei no HB20.
Entre os dois, está o Kicks. O painel e as portas são de plástico rígido, mas o couro complementa o conjunto nas duas áreas. Além disso, o material do Nissan é visualmente e "sensorialmente" melhor que o usado no Creta. Impressiona bem o volante de três raios com base reta, que garante toque mais esportivo num segmento tão monótono. Também agrada pelo quadro de instrumentos parcialmente digital, que permite variar as informações do lado esquerdo do mostrador. O Nissan tem ainda os bancos mais confortáveis, seguido pelo Honda e pelo Hyundai na lanterna.
Em termos de conectividade, o trio segue a receita básica com toques pessoais. No Creta, a central já é a conhecida do HB20, com tela de 7" sensível ao toque, GPS integrado e Apple CarPlay e Android Auto. O HR-V também usa tela de 7", porém tem navegador de internet integrado e uma interface mais bonita e fácil de operar que a do Creta. Já o Kicks apostou em uma central com Android nativo, na qual os aplicativos são rodados independentemente de um celular, sendo necessária apenas a conexão com a internet. É como um tablet.
Como são versões topo de linha, os três trazem boa lista de equipamentos. Em comum, todos possuem direção elétrica, ar-condicionado automático de uma zona, bancos de couro, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, retrovisores elétricos com rebatimento também elétrico, piloto automático (menos no Kicks), abertura de portas e partida com chave presencial (menos no HR-V), central multimídia (com sistema Android no Kicks e espelhamento nos demais), 6 airbags (frontais, laterais e de cortina) e rodas de aro 17".
No Kicks SL, o mais barato dos três, há as câmeras 360º para auxílio em manobras e o painel de instrumentos com tela de 7" configurável. Como opcional, o assistente de frenagem de emergência é uma exclusividade no segmento. O HR-V Touring é o único com faróis de LEDs, lanternas em LED, freio de estacionamento elétrico, sistema auto hold (que trava o freio no congestionamento) e retrovisor interno fotocrômico. No Creta Prestige, as atrações ficam por conta do banco do motorista com ventilação e da iluminação de curva, recurso que acende uma lâmpada direcionada no farol principal.
Ao volante
Lembra que falei que teria escolhido o Kicks para a viagem por outros motivos? Um deles é sua dirigibilidade. Não, não é o mais rápido dos três, porém é o que mais agrada pelo equilíbrio do conjunto e pela conversa entre motor, câmbio, suspensão e direção. Afinal, os donos de SUVs compactos estão mais preocupados com conforto do que como o seu carro acelera de 0 a 100 km/h.
O Nissan é o menos potente dos três, usando motor 1.6 aspirado de 114 cv e 15,5 kgfm de torque, uma diferença brutal principalmente se comparado ao Creta, com seu 2.0 de 166 cv e 20,5 kgfm de torque. Por outro lado, é o motor que melhor se entende com o câmbio CVT, com rodagem suave (ele simula marchas) e sem subir demais as rotações. O aproveitamento do torque é bem feito pelo câmbio, especialmente porque boa parte desta força está em baixas rotações. No uso urbano, o Kicks é melhor. O segredo? Baixo peso. São apenas 1.142 kg (menos que os 1.147 kg do VW Polo 1.0 TSI), o que garante, além da relação peso/potência de saudáveis 10 kg/cv, uma leveza na condução que faz a diferença.
O mesmo vale para a direção e suspensão. Com assistência elétrica, a caixa tem bom peso em velocidade de cruzeiro, respostas rápidas e leveza na hora de manobrar. A suspensão consegue aliar conforto e boa estabilidade, aproximando o Kicks de um hatch em termos de tocada. Só a posição de dirigir que é alta demais para meu gosto, mas segue a preferência do público alvo dos SUVs.
Em nossas medições, o Kicks andou bem próximo do HR-V e seu motor 1.8 de até 140 cv e 17,4 kgfm. Cerca de 130 kg mais pesado (1.270 kg), o Honda fica para trás na aceleração de 0 a 60 km/h (5,3 contra 5,2 segundos), mas dá o troco no 0 a 80 km/h (7,6 contra 8 segundos) e mais ainda no 0 a 100 km/h, quando a potência fala mais alto que o peso. Mas o Creta ainda é imbatível em desempenho, deixando o Nissan pequeno no retrovisor e com uma leve vantagem sobre o Honda, mesmo sendo o mais pesado dos três, com 1.399 kg.
Ainda bem que os 166 cv do Hyundai fazem efeito, já que este haras precisa de mais combustível para se locomover. Com média de apenas 6,3 km/l na cidade (etanol), só não para no posto mais cedo que o Kicks (e seus 7,8 km/l) por ter o maior tanque, com 55 litros. Na cidade, o troféu fica com o HR-V, que aproveita o câmbio CVT para manter as rotações bem baixas em uso urbano. Na estrada, o Nissan leva a melhor, com 11 km/l, só parando antes no posto, mais uma vez, pelo tanque pequeno (41 litros).
Falta melhor entendimento entre o motor e a transmissão do Creta. O câmbio automático de 6 marchas reduz frequentemente as marchas quando você não precisa, jogando força em momentos inoportunos e aumentando o nível de ruído dentro da cabine. por outro lado, há situações em que ele não reduz e você precisaria desta redução. Basta ver que, nas retomadas, o Honda ficou bem próximo dele e consumindo consideravelmente menos.
Falando em dinâmica, depois do Kicks, o HR-V é o que mais agrada. Se a suspensão é dura demais para um SUV, ele responde bem nas curvas e, com discos nas quatros rodas, é o que tem a melhor resposta ao pedal de freio. No Hyundai, a frenagem só começa a acontecer efetivamente depois da metade do curso. Ao volante, literalmente falando, a comunicação é melhor no Honda, enquanto o coreano é um pouco anestesiado, porém leve de manobrar.
Compra e manutenção
O Nissan Kicks SL é o mais barato do trio. Custa R$ 95.990, chegando aos R$ 98.390 quando equipado com o sistema de frenagem automática e LED nos faróis. O Hyundai Creta Prestige cobra R$ 102.580 e fica no meio do caminho, sem oferecer opcionais. O Honda HR-V Touring atinge os R$ 107.900, quase R$ 10 mil a mais que o Nissan. Eles se equivalem em equipamentos, com algumas exclusividades, que já falamos acima.
Na hora da manutenção, a tabela dos dos 30.000 km ou 3 anos fica assim:
10.000 KM/1 ANO | 20.000 KM/2 ANOS | 30.000 KM/3 ANOS | TOTAL | |
NISSAN KICKS 1.6 | R$ 419,00 | R$ 575,00 | R$ 419,00 | R$ 1.413,00 |
HONDA HR-V 1.8 | R$ 285,03 (mão de obra grátis) | R$ 433,38 (mão de obra grátis) | R$ 523,03 | R$ 1.241,44 |
HYUNDAI CRETA 2.0 | R$ 230,60 (mão de obra grátis) | R$ 511,70 | R$ 590,60 | R$ 1.332,90 |
Porém, o Creta oferece 5 anos de garantia, então considere mais R$ 1.065,60 pelas duas revisões extras, se você quiser manter a cobertura. O HR-V é o mais barato para manter, ao oferecer as duas primeiras revisões com mão de obra gratuita. O mais caro é o Nissan, que não oferece em nenhum momento a gratuidade na mão de obra.
Na hora de fazer o seguro, o Kicks também é o mais caro. No perfil simulado (homem, 35 anos, casado, com garagem em casa, morador da zona oeste de São Paulo (SP), a diferença é considerável, mesmo com ele sendo equipado com o sistema de frenagem automática.
SEGURO | VALOR |
HYUNDAI CRETA PRESTIGE 2.0 | R$ 5.800 |
HONDA HR-V TOURING | R$ 5.400 |
NISSAN KICKS SL | R$ 7.400 |
Conclusão
Difícil não considerar o Hyundai Creta como campeão. No geral, é o que oferece melhor acomodação para a família, melhor desempenho (penalizado por beber mais), boa relação preço/equipamentos e ainda os 5 anos de garantia. Mesmo com o Kicks sendo o melhor para dirigir, é o menor dos três e, quando carregado, irá sofrer com seu motor menor, além de ser o mais caro de manter. Já o HR-V cobra alto por uma lista de equipamentos que não se destaca dos concorrentes, além de já começar a sentir o peso da idade por dentro. Mesmo assim, a diferença entre os três é pequena, e podemos esperar algo assim quando vermos a lista de SUVs compactos mais vendidos em 2018.
Fotos: Mario Villaescusa
Ficha técnica
Hyundai Creta Prestige | Nissan Kicks SL | Honda HR-V Touring | |
MOTOR |
dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.999 cm³, comando duplo variável na admissão e no escape, flex |
dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.598 cm³, comando duplo variável na admissão, flex |
dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.799 cm³, comando simples variável, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 156/166 cv a 6.200 rpm / 20,0/20,5 kgfm a 4.700 rpm | 114 cv a 5.600 / 15,5 kgfm a 4.000 rpm | 140/139 cv a 6.500 rpm / 17,3/17,4 kgfm a 5.000 rpm |
TRANSMISSÃO | automática de 6 marchas, tração dianteira | automática continuamente variável com simulação de marcha, tração dianteira | automática continuamente variável, tração dianteira |
SUSPENSÃO |
independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve de aro 17" com pneus 215/50 R17 | liga leve de aro 17" com pneus 215/55 R17 | liga leve de aro 17" com pneus 215/55 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS e ESP | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS e ESP | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.399 kg em ordem de marcha | 1.142 kg em ordem de marcha | 1.270 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.270 mm, largura 1.780 mm, altura 1.635 mm, entre-eixos 2.590 mm | comprimento 4.295 mm, largura 1.760 mm, altura 1.590 mm, entre-eixos 2.610 mm | comprimento 4.294 mm, largura 1.772 mm, altura 1.586 mm, entre-eixos 2.610 mm |
CAPACIDADES | porta-malas 431 litros; tanque 55 litros | porta-malas 432 litros; tanque 41 litros | porta-malas 437 litros; tanque 51 litros |
PREÇO |
R$ 102.580 |
R$ 95.990 (R$ 98.390 como testado) | R$ 107.900 |
MEDIÇÕES MOTOR1.COM | |||
---|---|---|---|
Hyundai Creta Prestige | Nissan Kicks SL | Honda HR-V Touring | |
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 4,5 s | 5,2 s | 5,3 s |
0 a 80 km/h | 6,8 s | 8,0 s | 7,6 s |
0 a 100 km/h | 9,9 s | 11,6 s | 10,5 s |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em D | 8,0 s | 8,8 s | 8,1 s |
80 a 120 km/h em D | 7,0 s | 8,9 s | 7,3 s |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 39,7 m | 41,9 m | 40,6 m |
80 km/h a 0 | 25,0 m | 26,1 m | 24,7 m |
60 km/h a 0 | 13,9 m | 14,2 m | 13,3 m |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 6,3 km/l | 7,8 km/l | 8,2 km/l |
Ciclo estrada | 10,0 km/l | 11,0 km/l | 10,6 km/l |
Galeria: Comparativo - Hyundai Creta x Honda HR-V x Nissan Kicks
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