Diz o ditado que "quem foi rei nunca perde a majestade". Pode ser, mas, ao menos entre os SUVs de luxo, o antigo rei Discovery viu seu terreno invadido por um sueco de ideias progressistas, o XC90. Em terras brasileiras, o filho mais abastado da família Volvo foi muito bem recebido e já conquistou nada menos que 502 lares somente em 2017. Nunca a linhagem Land Rover foi tão ameaçada. O Discovery só se manteve como preferido (611 unidades) porque, em junho, a nova geração renovou os argumentos contra o exitoso sueco. E agora, quem vai se sagrar vencedor desta guerra dos tronos?
Brincadeiras à parte, os valores das carruagens aqui avaliadas são típicos da realeza. O novo Discovery é da versão First Edition TD6, tabelada a R$ 469.000. Já o XC60 compareceu no modelo Inscription D5, que custa R$ 479.950. Ambos são equipados com poderosos motores a diesel, tração integral e possuem capacidade para 7 ocupantes, além de virem equipados com uma série de recursos de tecnologia, conforto e segurança.
Mesmo diante do grandalhão XC90, o novo Discovery impressiona pelo tamanho. Na garagem do meu prédio tive de escolher a vaga de qual vizinho eu ia invadir na hora de estacionar, simplesmente porque o SUV é mais largo que a vaga: são 2,07 metros de largura, sem contar os retrovisores, contra 1,92 m do rival. Ambos são bem longos, com quase 5 metros de comprimento (4,97 m no Land e 4,95 m no Volvo), mas é o necessário para ter uma terceira fileira de bancos habitável e ainda sobrar espaço para as bagagens.
A cabine dos dois, como esperado, é fartamente espaçosa. No Discovery o motorista estica o braço em direção ao passageiro e ainda fica longe da porta direita (além dos bancos largos, há um generoso console central). Na segunda fila o que não falta é lugar para esticar as pernas, mas o XC90 leva vantagem pelo assoalho mais baixo. No Land, os joelhos viajam para cima, o que causa desconforto depois de certo tempo. Em compensação, o Discovery é um pouco mais receptivo na acomodação dos passageiros do "fundão", ainda que o ideal é que sejam crianças. O Volvo é mais apertado lá atrás, mas deixa mais espaço para as malas: 314 litros com 7 lugares, contra 258 litros do inglês. Com 5 lugares, o placar fica em 692 x 629 litros para o XC.
Tudo fica mais fácil no Discovery, porém, porque ele tem as três fileiras motorizadas (há um painel cheio de botões na lateral esquerda do porta-malas). Assim, você pode rebater a segunda fila ou erguer os bancos do porta-malas apenas com o toque de um botão, sem fazer esforço. E também só o Land vem com um prolongador do assoalho do porta-malas, também elétrico, que se "deita" automaticamente ao abrirmos a tampa traseira (obviamente elétrica). No Volvo, apenas os bancos dianteiros e a tampa do porta-malas trazem ajustes elétricos. Os botões no porta-malas servem para baixar ou subir a suspensão (a ar) traseira.
"Tanto faz" seria a resposta mais justa para definir a sensação de estar a bordo de um ou de outro, pois ambos recebem os ocupantes com muito luxo e capricho. O XC90 é mais avançado no desenho do painel, com uma central multimídia de 9" em formato de tablet em posição vertical, que elimina diversos botões físicos por funções na tela. O quadro de instrumentos também é totalmente digital e configurável, em linha com os mais recentes lançamentos mundiais.
Já o Discovery segue um conceito mais tradicional, com quadro de instrumentos que mescla velocímetro e conta-giros analógicos com um visor central digital. O painel tem linhas horizontais, sendo a central multimídia de 10" posicionada como na maioria dos carros, entre o sistema de ar-condicionado e as saídas de ar centrais. A ousadia fica por conta do botão giratório que funciona como alavanca de câmbio, como no Evoque.
O acabamento do Volvo é mais minimalista, mesclando madeira, alumínio e couro bege. Os bancos são bastante confortáveis, sendo que os dianteiros podem ter o assento alongado (eletricamente) para melhor suporte das coxas. Como no rival, há opção de esquentar ou resfriar os bancos da frente (os de trás só esquentam). Atrás, há uma tomada 110V para ligar aparelhos eletrônicos. O ar-condicionado é digital com 4 zonas, como no Land. O sistema de infoentretenimento é bastante prático de usar, com os principais menus divididos em três telas, bastando correr a tela para o lado com os dedos, como num smartphone. Permite controlar diversas funções do carro, como navegação, telefonia, música, etc. O destaque fica por conta do som da Bowers & Wilkins que simula a sala de concerto de Gotemburgo.
No Discovery somos recebidos em meio a couro windsor, placas de alumínio com cartografia (mapa de onde o carro passou em testes na Inglaterra) e bancos do tipo poltronas - sim, os do Volvo são bons, mas não chegam ao aconchego do Land. Ganha pontos pelo ajuste elétrico da direção (manual no XC90) e pela posição dos comandos das janelas/retrovisores elétricos, no alto da porta, como já é tradição no Discovery. A multimídia tem interface amigável e, embora não seja tão acessível quanto a do Volvo, é fácil de usar e concentra basicamente os mesmos recursos. Já o sistema de som é da Meridian, de alta definição.
A mudança de estrutura do Discovery significou uma redução de peso de até 480 kg, graças ao farto uso de alumínio. É como se os seis passageiros tivessem descido do carro, e com as bagagens. Mas, ainda assim, o SUV da Land acusa 2.230 kg na balança. Para mover toda essa massa, o motor 3.0 turbodiesel de 6 cilindros é praticamente uma usina de força: gera 258 cv de potência e parrudos 61,2 kgfm de torque, entregues ao câmbio automático de 8 marchas e distribuídos pela tração integral Terrain Response.
O Volvo é um pouco mais leve, com 2.171 kg, e a marca optou pelo downsizing na hora de motorizar o XC90 D5. Trata-se de um 2.0 turbodiesel de 4 cilindros que entrega 235 cv de potência e 48,9 kgfm de torque, também gerenciados por um câmbio automático de 8 marchas e tração integral.
A julgar pelos números, você pode achar que o Discovery se impôs nas provas de desempenho, mas a verdade é que os dois andaram praticamente juntos, até com pequena vantagem para o XC90 nas acelerações (9,1 segundos contra 9,4 s de 0 a 100 km/h). No campo das sensações, porém, o Land Rover impressiona melhor. Além de parecer mais forte nas ultrapassagens, seu maior torque faz com que o câmbio realize menos reduções de marcha e deixe a condução mais suave. No Volvo, podemos perceber a transmissão fazendo as reduções para manter o motor "acordado", ainda que as trocas sejam suaves.
Outra coisa que chama a atenção no Discovery é que ele, definitivamente, não tem barulho de motor a diesel. Mesmo com as janelas abertas, é preciso ficar atento para ouvir as "castanholas". Com os vidros fechados, nada... Já o XC90 é silencioso, mas ainda é um diesel, com ruído característico nas acelerações.
Em compensação, o menor peso e os dois cilindros a menos do Volvo fizeram diferença no consumo. Na média entre nossos circuitos urbano e rodoviário, o sueco cravou bons 11,9 km/l, contra 10,3 km/h do inglês. Para compensar na autonomia, o Discovery oferece um tanque de 85 litros, ou 14 litros maior que o do rival.
Na cidade, a maior largura do Land Rover requer uma condução mais cautelosa em avenidas estreitas e manobras de estacionamento. Mas a (elevada) altura em que viaja o motorista dá uma sensação de domínio absoluto do trânsito, olhando de cima mesmo os que dirigem outros SUVs. Já o Volvo se revela mais ágil e fica mais à vontade em ambiente urbano, mas não iguala o conforto do rival. O Discovery é sempre mais silencioso e suave no rodar, mesmo nesta versão com gigantescas rodas aro 22" (o XC90 tem aros 20"). Ambos são equipados com suspensão pneumática, com molas a ar, mas com efeitos diferentes. O Volvo é suficientemente macio, mas não isola os passageiros do mundo como o Land Rover. No Discovery, passar numa rua esburacada é como passar um ferro quente sobre uma camisa amarrotada.
Embora não seja primordial num carro de R$ 500 mil (quem vai jogá-lo na lama?), o Discovery ainda é um legítimo Land Rover, ou seja, não escolhe caminho. Tem suspensão com ajuste de altura, caixa de transferência com reduzida, controle de descidas e o sistema Terrain Response, que permite ao condutor escolher o tipo de piso escolhido para adaptar o carro ao desafio. Ele ainda é capaz de enfrentar alagados de até 900 mm. Já o Volvo possui o modo off-road entre suas opções de condução, mas apenas com o controle de descidas como recurso extra. Se a ideia é levar a família para uma aventura além do asfalto, o Discovery segue como a escolha definitiva neste segmento.
A coisa muda de figura, porém, no comportamento dinâmico. Mais alto e pesado, o Discovery não mostra a mesma desenvoltura do XC90 nas curvas, embora a direção do Volvo seja um tanto artificial em seu peso. Nas frenagens, novamente o modelo sueco se saiu melhor, ainda que as marcas do Land Rover também tenham sido de respeito. Por fim, o Volvo dá a seu proprietário um gostinho de futuro com a condução semi-autônoma, que inclui o piloto automático adaptativo (Pilot Assist) e o sensor de manutenção de faixa de rodagem. O sistema permite ao condutor apenas ficar de leve com as mãos no volante enquanto o carro "se dirige" na estrada a até 130 km/h.
Quando estávamos para concluir este comparativo, a Volvo anunciou a linha 2018 do XC90 com novos itens para algumas versões e novo layout para a central multimídia. O problema é que, até então, o modelo tinha uma boa vantagem de preço sobre o Discovery. Custava R$ 419.950 contra R$ 469.000 do Land Rover, uma diferença difícil de justificar mesmo levando-se em conta que o inglês tem mais equipamentos.
Acontece que agora o XC90 D5 Inscription passou a custar R$ 479.950, um aumento de R$ 60 mil que não só azedou a melhor relação custo-benefício do modelo como ainda o deixou R$ 10.950 mais caro que o Discovery TD6 First Edition, a versão de topo do Land Rover com motor a diesel.
Não bastasse entregar um SUV mais completo como produto (on e off-road), a marca inglesa oferece ainda um programa de manutenção com custos mais baixos. Cobra R$ 5.990 pelas cinco primeiras revisões, sendo que esse pacote acompanha o carro (mesmo que ele seja vendido, estará com as revisões pagas para o segundo proprietário). Já a Volvo cobra um total de R$ 7.395 para as revisões do mesmo período. Quanto ao seguro, infelizmente por se tratarem de carros com um público bastante específico, não conseguimos obter a cotação para esses modelos.
Nesta gerra dos tronos, então, a Volvo pode ter conseguido avançar um bom terreno enquanto a nova geração do Discovery não chegava. Mas, com este novo Disco, a Land Rover retoma a coroa do segmento com méritos.
Fotos: Mario Villaescusa
Land Rover Discovery TD6 | Volvo XC90 D5 | |
MOTOR |
dianteiro, longitudinal, 6 cilindros em V, 24 válvulas, 2.993 cm3, injeção direta, turbo de geometria variável, diesel |
dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.969 cm³, duplo comando variável, injeção direta, turbo de geometria variável, diesel |
POTÊNCIA/TORQUE | 258 cv a 3.750 rpm/ 61,2 kgfm de 1.750 a 2.250 rpm | 235 cv a 4.000 rpm/ 48,9 kgfm de 1.500 a 2.250 rpm |
TRANSMISSÃO | automática de 8 marchas; tração integral com reduzida | automática de 8 marchas; tração integral |
SUSPENSÃO |
independente, braços sobrepostos na dianteira e multilink traseira, com molas pneumáticas |
independente, braços sobrepostos na dianteira e multilink traseira, com molas pneumáticas |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 22" com pneus 255/40 R22 | liga-leve aro 20" com pneus 275/45 R20 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e traseira com ABS e EBD | discos ventilados na dianteira e traseira com ABS e EBD |
PESO | 2.230 kg em ordem de marcha | 2.171 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.970 mm, largura 2.073 mm, altura 1.846 mm, entre-eixos 2.923 mm | comprimento 4.950 mm, largura 1.923 mm, altura 1.776 mm, entre-eixos 2.984 mm |
CAPACIDADES | tanque 85 litros; porta-malas 629/258 litros | tanque 71 litros; porta-malas 692/314 litros |
PREÇO |
R$ 469.000 |
R$ 479.950 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (diesel) | |||
---|---|---|---|
Discovery | XC90 | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 4,2 s | 4,0 s | |
0 a 80 km/h | 6,5 s | 6,3 s | |
0 a 100 km/h |
9,4 s |
9,1 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em S | 7,2 s | 7,3 s | |
80 a 120 km/h em S | 7,1 s | 7,0 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 |
39,7 m |
36,0 m | |
80 km/h a 0 | 25,2 m | 22,8 m | |
60 km/h a 0 | 14,2 m | 12,7 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 7,6 km/l | 8,9 km/l | |
Ciclo estrada | 13,0 km/l | 14,9 km/l |
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