Para o Inmetro, não precisa muito para uma marca poder vender seu carro como SUV. Basta uma medida mínima em relação ao solo e de ângulos de entrada e saída. A JAC é mais uma que aproveita essa definição para dizer que o novo T40 é um SUV compacto, mas basta chegar perto dele para perceber que se trata de um hatch elevado. Por isso que, além de levar o chinês para a pista de testes, resolvemos colocá-lo lado a lado com um conhecido hatch aventureiro, o Chevrolet Onix Activ - derivação topo de linha do carro mais vendido do país.
O T40 é um carro muito importante para a JAC Motors, representada no Brasil pelo Grupo SHC do empresário Sergio Habib. É um projeto que surgiu lá atrás, em 2011, quando a marca começou a operar em nosso mercado. Nasceu como um hatchback e, com o crescimento dos crossovers compactos, foi ajustado para que entrasse neste segmento. É vendido por R$ 56.990, chegando a R$ 58.990 com o pacote de opcionais. Por enquanto, é oferecido somente com motor 1.5 flex de 127 cv e câmbio manual de 5 marchas. A versão CVT chega em fevereiro do ano que vem.
A Chevrolet tem seu legítimo crossover compacto, o Tracker. Mas para quem não quer (ou não pode) gastar R$ 83 mil num carro, existe o Onix Activ, versão do hatch com alguns detalhes de plástico no acabamento externo e altura do solo elevada. Custa R$ 59.990 na versão manual, subindo para R$ 65.290 na versão automática. Usa o mesmo motor 1.4 flex de 106 cv que o Onix normal.
O T40 larga com vantagem neste ponto. Mede 4,14 metros de comprimento (grande para um compacto) e tem 2,49 m de entre-eixos. Garante área generosa para os passageiros e ainda deixa o porta-malas ter capacidade para 450 litros – mais do que muito SUV por aí. Como mede 1,75 m de largura, ganha também em espaço lateral. Dá para levar três pessoas no banco traseiro sem muito aperto.
O Onix aproveita melhor seu entre-eixos mais comprido, de 2,53 m, 4 centímetros maior que o chinês. Mas tem a carroceria bem mais curta, de 3,96 m de comprimento - 18 centímetros a menos que o T40. Na prática, o hatch da GM oferece espaço interno bem próximo de seu rival (falta encosto de cabeça para o quinto ocupante). Só que o porta-malas perde bastante, com apenas 280 litros.
Os assentos do T40 são bem cômodos e exemplificam a evolução da marca. “Levei dezenas de bancos e interiores para a Itália”, revelou Habib na apresentação do T40. “Dava amostras de materiais e de como poderíamos montar o interior.” Gerou um dos pontos fortes do T40. A qualidade de construção é a melhor que já vimos num JAC até o momento. Essa melhoria é notada logo ao fechar a porta, que bate de modo suave. Parece pouca coisa, mas quem andou nos outros modelos da marca nota bem essa diferença.
A ergonomia do Onix melhorou na versão reestilizada, lançada no ano passado. Resolveram o problema do puxador de porta, antes posicionado muito baixo. Sabiam que o pessoal sempre deixa o celular a mão e ampliaram os porta-objetos. O ponto negativo é o banco mais alto do que o normal. Ao sentar pela primeira vez, parece que ajustaram na altura máxima, mas é o normal do Onix - fato reforçado, nesta versão, pelo maior vão livre do solo.
O interior é outra prova de que a JAC está melhorando. Ainda usa muito plástico rígido, é verdade, só que isso é minimizado pela grande peça de couro na parte central do painel. Fizeram a ótima escolha de não abusar dos cromados – algo que os chineses adoram. A maior parte das peças cinzas é fosca, deixando o cromado somente para o contorno das saídas de ar e para a barra que atravessa a lateral das portas. Tudo muito bem encaixado e sem pontas aparentes.
Em comparação, o Onix utiliza materiais melhores no acabamento. O plástico é mais agradável ao toque, embora não seja exatamente macio. Segue o padrão de qualidade dos outros GM. A maior diferença está na coloração do painel, que ganha pintura alaranjada exclusiva para o Activ. Divide opiniões. Algumas pessoas da redação acharam legal, outras consideraram brega. Como tons diferentes para a cabine estão em alta, pode ser argumento para algumas pessoas comprarem o Activ.
O Onix parece mais avançado tecnologicamente. O painel de instrumentos é digital, com um único contador analógico para o conta-giros, enquanto o T40 utiliza dois mostradores analógicos e uma diminuta tela para o computador de bordo. Falando nele, ambos têm sistemas bem simples, que mostram consumo e autonomia. Porém, a tela do T40 é muito pequena, tem luminosidade baixa e é controlada por botões localizados perto do painel, enquanto no Onix pode ser controlado pela haste da seta.
Ambos oferecem central multimídia. No Onix Activ, o sistema MyLink vem de série e mede 7”, enquanto o T40 oferece tela de 8” como opcional. A do chinês é maior, porém a Chevrolet oferece conexão ao Android Auto e Apple CarPlay. Essa integração com o smartphone permite o uso de sistemas de GPS, o que falta ao T40 – não tem GPS nativo e nem espelha imagem dos celulares. Outro ponto negativo é o software do chinês, com respostas lentas e que travou algumas vezes no teste.
Na segurança, o T40 traz assistente de partida em rampa e controle eletrônico de estabilidade e tração de série, itens que não aparecem sequer como opcionais no Onix. Por outro lado, o Chevrolet conta com o OnStar, com rastreamento e outros serviços, embora exija uma mensalidade após o período grátis de um ano. O T40 tem uma exclusividade interessante: câmera frontal instalada no retrovisor interno, que grava as imagens em um cartão. A JAC acredita que vai ajudar no valor do seguro, pois é possível provar se um acidente foi culpa do motorista ou de um terceiro.
Se por pacote de equipamentos e preço o T40 estava mostrando ser melhor negócio, é em movimento que o Onix mostra suas qualidades. Vale deixar registrado que usamos como base os números de teste do Onix Effect 1.4 manual, mais leve do que o Activ - portanto, são somente valores de referência. Infelizmente, a GM não conta mais com o aventureiro com câmbio manual em sua frota de imprensa e emprestaram a versão automática.
O maior senão do JAC está na parte mecânica. Acelerou de 0 a 100 km/h em 12,2 segundos, marca muito próxima de outros crossovers. A frenagem também foi satisfatória, atravessando 44,5 metros enquanto reduzia de 100 km/h à imobilidade (com a pista molhada).
Se o desempenho é OK, então qual o problema da motorização? Falta de calibração. O conjunto mecânico é o mesmo do T5 manual, com motor 1.5 de 127 cv e 15,7 kgfm de torque, acomplado ao câmbio manual de 5 marchas. No entanto, faltou ajuste fino. Notamos isso em baixa rotação, quando o carro dá coices nas retomadas. Isso irrita quando estamos em congestionamentos, já que acontece com frequência.
O desempenho do Onix é semelhante, com pequena vantagem principalmente por conta de seu peso inferior. Porém, o hatch da GM roda lisinho, já que não tem o problema do T40 em baixa rotação. Pisar no acelerador não faz nada além de deixar o carro mais rápido. Não há trancos, não há pulos.
Ambos têm boas transmissões manuais, de 5 marchas no T40 e de 6 posições no Onix. Em uso, são bem similares, já que propiciam engates curtos, precisos e jutos. O ponto positivo vai para a Chevrolet pela marcha extra, dando mais elasticidade ao motor e deixando as retomadas mais espertas, tanto na cidade quanto em ultrapassagens na estrada.
A sexta marcha também favorece o consumo do GM. Abastecido com etanol, o JAC marcou 7,5 km/l enquanto rodava pela cidade. O Onix fez 8,8 km/l. A distância no rendimento aumentou ao andar na estrada, com 10,1 km/l para o T40, contra 12 km/l do Chevrolet.
Muitos reclamavam que os carros da JAC tinham a suspensão mole demais. O T40 é o contrário, com ajuste mais firme. Melhorou para fazer curvas e andar na estrada, segurando a carroceria no lugar. O contraponto é que pula bastante na cidade e, aliado ao curso curto, faz com que a suspensão dê pancadas secas na maioria das lombadas. Felizmente, tem 18 cm em relação ao solo, o suficiente para não raspar. O Onix é mais confortável no geral, sem comprometer a estabilidade. Como é 30 mm mais alto do que o hatch normal, reduz o repasse das irregularidades do asfalto para a cabine.
É neste ponto que o T40 se destaca. Como a maioria dos chineses, oferece pacote mais completo que o rival. Mesmo a versão mais em conta, por R$ 56.990, vem com ar-condicionado, direção elétrica, assistente de partida em rampas, controle de estabilidade e tração, acabamento em couro no volante e painel, computador de bordo, controle de cruzeiro, volante com ajuste de altura, faróis com luzes diurnas em LED, sensor de estacionamento traseiro, rodas de liga leve de 16” e bancos com ajuste de altura. Por R$ 2 mil, ganha central multimídia, câmera de ré e a câmera frontal no retrovisor interno.
O Onix tem lista inferior. Fica sem a câmera frontal, assistente de partida em rampa e controle estabilidade e tração. Seu trunfo é o OnStar, serviço de assistência com rastreamento do carro, e a central multimídia MyLink 2. Como opcional, oferece câmbio automático de 6 marchas, enquanto o T40 é só manual.
A JAC vende o T40 com 6 anos de garantia sem limite de quilometragem. A primeira revisão, de 3.000 km, é grátis. As demais são feitas a cada 10.000 km, começando por R$ 465 e subindo até R$ 710 na revisão de 50.000 km. Todas podem ser parceladas em 5x sem juros. Já na Chevrolet, o Onix paga R$ 220 na primeira revisão e tem valores crescentes. A mais cara é a de 60.000 km, por R$ 1.404. As revisões podem ser parceladas em 4x. E a garantia é de 3 anos.
A evolução da JAC é visível a cada carro que lançam. Ainda cometem erros em cada um, como acontece no T40. Para quem gosta de uma experiência mais rica ao dirigir, o crossover pode ser decepcionante. Porém, é uma boa escolha para quem não pode gastar muito e quer um carro altinho e com cara de SUV. Só espere um pouco caso faça questão de um modelo automático, já que a versão com câmbio CVT chega em fevereiro.
Se seu negócio é dirigir, o Onix Activ ainda é mais indicado. Anda mais, bebe menos, a suspensão tem bom ajuste e não sofre dos problemas de acerto do T40. É uma boa opção para quem foca na direção, já que é menor – afinal, é um hatchback com roupa de carro off-road. Tem a seu favor a imensa rede de concessionários da Chevrolet e a boa fama do Onix no mercado de usados. E já oferece descanso ao pé esquerdo.
Fotos: Paulo Henrique Trindade
JAC T40 | Chevrolet Onix Activ | |
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.499 cm3, comando variável, flex | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 8 válvulas, 1.389 cm3, comando simples, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 125/137 cv a 6.000 rpm / 15,5/15,7 kgfm a 4.000 rpm | 98/106 cv a 6.000 rpm; Torque: 13,0/13,9 kgfm a 4.800 rpm |
TRANSMISSÃO | manual de cinco marchas; tração dianteira | câmbio manual/automática de seis marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO |
independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 16" com pneus 205/55 R16 | alumínio aro 15, com pneus 185/65 R15 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira com ABS e EBD | discos na dianteira e tambores na traseira, com ABS |
PESO | 1.155 kg em ordem de marcha | 1.062 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.135 mm, largura 1.750 mm, altura 1.568 mm, entreeixos 2.490 mm | comprimento 3.958 mm, largura 1.737 mm, altura 1.554 mm, entreeixos 2.528 mm |
CAPACIDADES | tanque 42 litros; porta-malas 450 litros | tanque 54 litros; porta-malas 280 litros |
PREÇO |
R$ 56.990 (versão testada: R$ 58.990) |
R$ 59.990 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | |||
---|---|---|---|
JAC T40 1.5* | Chevrolet Onix 1.4** | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 5,7 s | 5,1 s | |
0 a 80 km/h | 8,4 s | 8,0 s | |
0 a 100 km/h |
12,2 s |
11,6 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em 3ª | 12,4 s | 10,5 s | |
80 a 120 km/h em 4ª | 14,4 s | 11,4 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 |
44,5 m |
43,2 m | |
80 km/h a 0 | 28,4 m | 27,1 m | |
60 km/h a 0 | 16,2 m | 15,5 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 7,5 km/l | 8,8 km/l | |
Ciclo estrada | 10,1 km/l | 12,0 km/l |
* Pista molhada
**Dados do Onix 1.4 normal, 41 kg mais leve do que o Activ. A GM não tem o Onix Activ com câmbio manual na frota.
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